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2.2 A CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS

2.2.2 Sobre Educação a Distância

Como vimos no tópico anterior, a EaD tem características próprias, que a diferenciam da educação na presencialidade. Estas diferenças são, principalmente, a distância temporal e espacial entre professor e aluno; uma população de alunos dispersa geograficamente; população predominantemente adulta; mediatização por tecnologias de informação e comunicação; flexibilidade de tempo e espaço de estudo; comunicação bidirecional; estudo individual; cursos pré-produzidos para massas de alunos; entre outras.

Uma das características nodais da EaD, e que traz dificuldades e entraves para a avaliação da aprendizagem online, é o distanciamento (físico e temporal) entre professor e aluno. Este distanciamento acaba gerando desconfianças quanto à credibilidade da avaliação por não ser completamente seguro afirmar quem realiza as tarefas, testes ou responde às questões de uma prova aplicada a distância.

Moore, no ano de 1972, apresentou uma teoria da EaD chamada teoria da distância transacional ou teoria transacional. Nesta teoria, Moore diferencia a distância geográfica vivenciada pelos sujeitos de cursos na modalidade EaD da distância transacional. A “distância transacional” é uma lacuna de ordem psicológica e comunicacional que se estabelece quando alunos e professores estão separados geograficamente. Esta lacuna gera distorções no comportamento dos sujeitos, nas relações afetivas e de comunicação e de interação professor/aluno, e precisa de meios eficientes para ser transposta ou, pelo menos, diminuída (MOORE, 2002).

Antes de continuar a falar sobre avaliação da aprendizagem em EaD online seria pertinente esclarecer um pouco melhor o conceito de distância transacional, e como a mesma afeta os processos de ensino/aprendizagem e, como consequência, a avaliação.

Na modalidade EaD (seja online ou não), os estudantes não têm uma conexão estreita com os colegas, com os tutores e nem com o professor, portanto é fácil imaginar os desafios envolvidos no processo de avaliar a aprendizagem neste contexto. A distância transacional, que segundo Rumble (1986) se estabelece em algum grau também na educação presencial, traz implicações para os processos de comunicação, para os relacionamentos de empatia e amizade e para a interação entre os participantes de cursos a distância.

Moore (2002), definiu que na EaD, a distância transacional pode ser medida através do estudo de três variáveis principais, quais sejam: a presença ou não de diálogo educacional entre os participantes, a estrutura do curso (se é mais rígida ou mais flexível) e a autonomia do aluno no seu processo de aprendizagem.

A ideia central da teoria da distância transacional é reconhecer a existência desta lacuna psicológica e de comunicação e tentar diminuí-la. E de que forma se pode aproximar alunos e professores que estão distantes? Para que isso ocorra é necessária a implementação de canais cada vez mais abertos e efetivos de comunicação, a proposição de trabalhos em grupo, a criação de espaços de convivência (mesmo que virtuais), a criação de mecanismos através dos quais os alunos e professores possam conhecer seus pares. Moore (2002, p. 4) afirma que: “[...] meios de teleconferência eletrônica altamente interativos, especialmente meios que utilizam computadores pessoais e audioconferência, permitem um diálogo mais

intenso, pessoal, individual e dinâmico”. Como reforçamos repetidamente quando falamos sobre a importância da tecnologia em EaD, a tecnologia por si só não proporciona comunicação efetiva. Ela é um meio e não um fim. Não tem valor por si mesma e, portanto, depende de trabalho pedagógico intencional do professor para que a comunicação realmente aconteça através dela. Na esteira deste raciocínio, vale ressaltar as palavras de Moore (2002, p. 4) sobre esta questão:

[...] Não se pode dizer com certeza que qualquer meio, não importa quão interativo seu potencial, proporcionará um programa altamente dialógico, uma vez que ele será controlado por professores que podem, por boas ou más razões, decidir não aproveitar sua interatividade, e uma vez que será usado por alunos que podem ou não desejar entrar em diálogo com seus professores.

O autor complementa que há fatores ambientais importantes que influenciam na qualidade do diálogo educacional. Entre estes fatores estão: a) o número de alunos por turma; b) frequência da comunicação (determinadas pelas limitações financeiras e administrativas; c) ambiente físico/emocional onde os alunos estudam; d) ambiente físico/emocional onde o professor ensina; e) personalidade do professor e também do aluno; e f) conteúdo.

Moore (2002) afirma que utilizar ambientes de aprendizagem mais abertos e menos diretivos, colabora para diminuir a distância transacional. Ambientes mais flexíveis, nos quais haja alguma possibilidade de reestruturação em virtude das necessidades dos educandos e nos quais os recursos comunicacionais sejam pensados para servir ao diálogo (bidirecional) e não há “entrega” (unidirecional) de conteúdos pelo professor, são ambientes nos quais a distância transacional é menor.

A autonomia do aluno é outro fator que influencia numa maior ou menor distância transacional. Cursos nos quais os alunos podem participar da decisão sobre a estrutura do programa, como por exemplo, decidir que objetivos deverão ser trabalhados, apresentariam menor distância transacional do que cursos nos quais os professores (ou a instituição) definem à priori todos os objetivos, atividades que serão desenvolvidas ao longo do curso e a forma de avaliação dos alunos (MOORE, 2002).

Estratégias bastante difundidas e utilizadas por professores em cursos online é solicitar aos alunos que criem perfis com o nome, foto e uma breve descrição das suas competências acadêmicas e profissionais. Há, em alguns Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), espaços nos quais o aluno pode apresentar suas preferências pessoais em aspectos variados como música, cinema, literatura, hobbies, entre outros. Todos os participantes do curso tem acesso a estas informações sobre seus pares e sobre os professores quando estes disponibilizam estas informações. Esta é uma estratégia básica e fundamental para permitir uma primeira aproximação entre os sujeitos e para iniciar a criação de empatia entre os participantes. O objetivo aqui é construir e estreitar laços, através de uma aproximação cada vez maior entre os sujeitos, diminuindo assim a distância transacional.

Mattar (2009) afirma que um AVA, quando bem programado e quando bem utilizado pelo professor, pode gerar aproximações qualitativas que vão influenciar o processo de aprendizagem. Segundo o autor:

[...] A possibilidade de criar locais de aprendizagem mais lúdicos e ricos, em várias dimensões, provoca nos alunos uma interação mais intensa e prazerosa com seus colegas, com o professor, com o conteúdo e principalmente com os objetos e o próprio ambiente, no seu caminho para o conhecimento (MATTAR, 2009, p. 118).

No mesmo sentido, Maraschi (2000) afirma que as tecnologias têm a função de diminuir a distância entre os participantes e/ou construir outras forma de interações diferentes da que normalmente desenvolvemos na educação presencial. Da mesma forma, aos olhos de Azevedo (2002, p. 69),

Em Educação a Distância foi-se destilando, ao longo dos anos, um conjunto de técnicas e abordagens metodológicas que, com uso de tecnologias da informação e da comunicação, podem contribuir para a redução da distância transacional e a promoção da proximidade afetiva, relacional e comunicacional tão necessária à aprendizagem.

É importante ressaltar que o uso de tecnologias de comunicação e interação (TIC) com um trabalho pedagógico intencional e fundamentado num modelo teórico adequado aos propósitos que se tem, serve para diminuir a distância entre os participantes. Quando falamos em TIC estamos nos referindo a convergência entre tecnologia informática com a tecnologia das telecomunicações. A Internet pode ser

considerada um exemplo de TIC, ela utiliza de sistemas informáticos e de telecomunicações.

No intuito de diminuir a distância transacional, o papel do professor é estruturar o curso, ou as aulas, utilizando-se das ferramentas de comunicação disponíveis para estabelecer “[...] uma sensação de presença on-line” (PALLOFF; PRATT, 2002, p. 34). Esta “sensação de presença on-line” é a personalização de sua comunicação ajuda a construir uma comunidade de alunos que pode colaborar entre si na reconstrução e reelaboração pessoal do conhecimento.