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4 EAD E MUDANÇA ORGANIZACIONAL NA FAG: APRESENTAÇÃO E

4.4 SOBRE A GESTÃO DA EAD

Para o grupo pesquisado, os modelos de gestão de ambas as modalidades seriam mesmo diferentes. O grupo compreende, em princípio, que é necessário que a IES que oferta a EaD tenha uma dinâmica de atendimento, abordagem, canais de comunicação, contato com os alunos, acompanhamento diferenciado da evasão, porque são “alunos virtuais”, em certo sentido do termo.

Para o entrevistado A 01 e A 06, existem aproximações em relação à gestão, pois a dificuldade mais evidente que há é a proximidade do aluno. No ensino presencial, as IES têm mais facilidade para isso; na EaD, as IES devem criar as condições para que isso aconteça. Não se trata apenas de transmitir conhecimentos de forma eficaz; não se trata apenas de produzir aprendizagem de forma eficaz. O aluno tem outras necessidades que também precisam ser atendidas. Então, estar próximo dele é fundamental. As pessoas não têm só dúvidas em relação ao conteúdo das disciplinas. Muitas vezes, elas possuem dúvidas em relação a essa nova área escolhida; muitas vezes, aspiram questionar alguma coisa que foge ao âmbito conteudista. As pessoas têm necessidades psicológicas; elas querem, muitas vezes, ser ouvidas. Diante disso, é preciso criar alguns canais para que essas pessoas possam ter uma resposta a todas essas necessidades. E como é que as instituições estão fazendo isso? Para os entrevistados, é necessária uma pesquisa em outras IES, para estabelecer parâmetros nesta relação.

A demonstração de confiança na gestão pode ser um ponto positivo, mas nunca deve se transformar em uma “zona de conforto”, pois, toda mudança provoca o grupo de colaboradores de um modo ou de outro. Mesmo com o reconhecimento tácito de que os entrevistados têm confiança na capacidade de gestão da IES pesquisada, e considerando ainda que não existem focos de resistência na amostragem, é preciso considerar:

A mudança incremental é quase evidente por si mesma e abrange as centenas de situações com que os gerentes se defrontam ao longo da carreira. Compreende mudanças de: métodos de trabalho e processos, layout da fábrica; lançamento de produtos; e outras situações em que a maioria das pessoas veria a continuidade entre a condição antiga e a nova. Ela se dá por meio da evolução, em vez de revolução, e mesmo que, após um longo período, um observador pudesse notar uma grande diferença entre a empresa como era e como ficou, ninguém sente que a empresa como um todo mudou muito. Isso não sugere que essas mudanças sejam todas fáceis de implementar, tampouco que não encontrarão, em algum momento, resistência. (HUSSEY,1995, p. 14).

Segundo o grupo, em especial os entrevistados A 01, A 05, A 08 e A 09, na maioria dos casos, prepara-se muito bem o tutor, que é a pessoa que está mais diretamente ligada ao aluno. A preparação satisfatória desse profissional e a promoção de encontros presenciais, além de darem conta das atividades pedagógicas acadêmicas, também propiciam o encontro humano. As IES precisam atender a essas dimensões humanas da amizade, conhecer um ao outro, saber quem é o futuro colega ou o futuro profissional com o qual cada um irá concorrer, dentro do mercado de trabalho. Por isso, na proposta pedagógica dos cursos da IES pesquisada, existem espaços para fóruns de debates e encontros online para a composição desta importante rede de relacionamento.

Com certeza, é um posicionamento estratégico importante, porque é uma forma de você atrair aquele aluno que muitas vezes está excluído desse ciclo, desse desejo de estudar, mas eu não tenho tempo de frequentar a faculdade, ou eu estou muito tempo sem né, terminei o ensino médio e eu estou muito tempo ali parado, acho que eu não vou me adaptar, ou eu já me considero velho, não vou conseguir dar conta de acompanhar os mais novos, eu tenho vergonha. Então, essa é a forma de buscar essas pessoas que estão fora da universidade. Com certeza é uma estratégia muito forte das instituições hoje. (Entrevistado A 02 ).

Para parte dos entrevistados, especificamente P 04, P 06, A 04 , A 05 e A 01, a IES pesquisada precisa criar um sistema de gestão capaz de suprir as novas demandas gerenciais, para o atendimento do corpo docente e discente dos cursos de EaD. Não se pode esquecer as necessidades pedagógicas, humanas, financeiras, psicológicas, administrativas, burocráticas, legais e outras mais que possam surgir durante o processo.

Para os entrevistados A 04 e A 10, é necessário criar um nono modelo de atendimento, mais completo e capaz de compreender as necessidades deste novo cliente, pois a IES pesquisada está estruturada em atendimento habitual ao aluno diário e presencial. O entrevistado A 14 complementa que:

[...] a IES tem culturalmente incorporado o pensamento de suas ações para os alunos de graduação que comparecem ao campus diariamente, e se esquece daqueles que cursam as especializações que, comparecem presencialmente, mas com um espaçamento de tempo maior, (quinzenal ou mensal). Isso exige, por parte dos serviços que prestam aporte ao setor, um atendimento diferenciado, até mesmo por coisas simples, como o empréstimo de livros ou uso do estacionamento. (Entrevistado A 14).

Este posicionamento vem de encontro com o que preconiza Wood Jr. (1995) em seus estudos organizacionais, em que destaca:

O policentrismo implica uma postura oposta à do etnocentrismo. Parte da ideia de que o país que hospeda a multinacional conhece melhor os procedimentos e métodos mais adequados a seu ambiente. A subsidiária de uma organização multinacional com esta postura, ao vir operar no Brasil, por exemplo, levada ao extremo, poderia fazer com que o indivíduo ou a organização fossem esmagados pelas diferenças culturais, reais e imaginárias (estereotipadas), ao irem trabalhar no exterior. Uma

empresa excessivamente preocupada com a adaptação a culturas locais pode perder sua identidade e seus valores de origem. (WOOD JR., 1995, p. 37).

A referência vem de encontro com a preocupação de alguns entrevistados em preparar a IES pesquisada para operar em outro circuito cultural, ou seja, manter os ideais e valores institucionais, porém inseridos em outro método de trabalho, no caso a EaD. Há uma dificuldade grande em compreender as diferenças dos modelos. Os entrevistados, naturalmente, estão propensos a levar as experiências do ensino presencial para a EaD. Isso deve ser monitorado pelo gestor, pois algumas práticas podem não funcionar, dependendo do público que se pretende atingir. É necessário muito treinamento (capacitação) do corpo de colaboradores envolvidos, para que seja construído um método de trabalho diferente do vivenciado no ensino presencial. A socialização do método de trabalho é importante em casos como o desse estudo. Contudo, criar os parâmetros de trabalho, ou seja, a forma como a EaD da IES pesquisada se manifestará será uma construção a posteriori desta pesquisa.

[...] o treinamento, à medida que desenvolve as habilidades e técnicas ligadas de modo direto a tarefas para o desempenho de funções, facilita a mudança de comportamento, em termos de atividades diretamente funcionais. O treinamento também age sobre a mudança de autoimagem, sobre a criação de novos relacionamentos de novos valores; isto é, no desenvolvimento de habilidades normalmente chamadas de adaptativas. (WOOD JR., 1995, p. 127).

Segundo o entrevistado A 04, a gestão presencial é mais difícil. Para este participante, será muito mais fácil gerenciar os alunos da EaD, desde que seja criado um sistema integrado entre os setores, bem como uma tecnologia de fácil acesso. Em um viés bem próximo, estão os entrevistados A07, A03, P01, A12, A13 e P 06, que apostam na criação de uma comunicação mais eficiente, para facilitar a gestão da EaD. O grupo como um todo não vê grandes barreiras em programar modelos gerenciais. Os participantes demonstram segurança na capacidade gestora da IES pesquisada, e essa é mais uma evidência da necessidade de treinamento e preparação da equipe como pondera a citação supracitada.

No processo de mudança organizacional, é necessário contar com a base eficiente da gestão da organização, seja no que se refere ao negócio que já está ocorrendo, seja no tocante a uma atividade nova. A gestão deve ser um elemento de segurança para o grupo que passar pela transformação. Portanto, é preciso gerenciar o processo de transformação:

Todas as organizações dispõem de processos de monitorização e de controle, mas esses podem mostrar-se inadequados para monitorar o programa de mudança. Uma das ações da fase de implementação poderia, portanto, consistir no estabelecimento de controles suplementares, para disponibilizar regularmente informações do

processo de mudança, gerando satisfação e segurança nas equipes. (HUSSEY, 1995, p.71).

Para o entrevistado P 03, é preciso adotar uma postura de gestão que aprove uma campanha publicitária diferenciada, que coloque os diferenciais de gestão enquanto suporte ao aluno como elementos estratégicos da IES pesquisada, fazendo com que o acadêmico tenha segurança em participar da EaD da IES pesquisada, porque poderá contar com uma estrutura de serviços que, na prática, a IES pesquisada já possui, em sua dinâmica presencial.

Para os entrevistados P 05 e A 14, a IES aumenta sua responsabilidade em relação ao atendimento aos alunos, professores, tutores e funcionários da EaD, na medida em que precisa desenhar um movo modelo que, ao mesmo tempo, aproveite a estrutura existente e ofereça um serviço diferenciado aos alunos que estão cursando outra modalidade de ensino. Todavia, ressaltam que não há grandes desafios nesta adaptação, enquanto concepção ideológica do modelo de gestão a ser adotado.

Em relação ao posicionamento estratégico da IES, salienta-se a posição do entrevistado A 06, pois foi o único no grupo que não observou a EaD como uma tomada de decisão estratégica. Segundo o entrevistado, o processo de EaD ocorrerá naturalmente, como uma evolução da tecnologia, assim como ocorre em outros segmentos da sociedade que sofreram a revolução tecnológica. Ou seja, para o entrevistado, a IES pesquisada somente está se enquadrando no paradigma da tecnologia.

As contradições reveladas nas entrevistas são acolhidas pela pesquisadora com um olhar diferenciado, no sentido de que elas fornecem subsídios pontuais para o planejamento estratégico da IES pesquisada. Não há espaço para juízos negativos. Segundo Severino (2007), as pesquisas qualitativas fornecem variedades de informações que podem se desdobrar em temas individualizados de estudos.

Os demais entrevistados relatam que, para a IES pesquisada, é estrategicamente importante adotar a EaD. O entrevistado A 01 ressalta que “a EaD é irreversível e chegou para ficar”. Nestes termos, a IES estudada toma uma decisão estratégica e precisa cuidar e estudar todos os passos para que o projeto de EaD seja um sucesso. Segundo o grupo, as IES da região já estão trabalhando nesta linha. Contudo, aguardam os movimentos da IES pesquisada, porque ela sempre dá o “tom” de comportamento das IES concorrentes.

Diante do exposto acerca da gestão e da estratégia organizacional, vinculadas à EaD, deve-se pontuar:

• Não há grandes dificuldades em criar modelos de gestão eficazes. As dificuldades estão em fazer os modelos funcionarem, porque todo modelo, enquanto arquétipo, é perfeito. Todavia, conta-se com pessoas, as quais têm cultura, valores. Então, é preciso investir neste prisma. Convém ressaltar ainda que sendo os entrevistados empregados da IES, cuja Direção é representada pela pesquisadora, dificilmente neste tipo de questão surgiriam críticas ou analogias a respeito do modelo de gestão. Essa é uma variável natural, mas que a maturidade intelectual e as expertises de gestão não podem deixar de considerar.

• Com relação à criação de modelos e à postura de comunicação, acredita-se esta última ainda é um desafio, sobretudo se quando se irá atuar com um público não presencial. A comunicação organizacional é indispensável para o sucesso de qualquer modelo de gestão e ficou claro, na presente pesquisa, que para o trabalho com este público diferenciado, a IES pesquisada precisa aperfeiçoar seus mecanismos de comunicação.

• Destaca-se ainda o posicionamento do entrevistado A 06. Contudo, isso não exime a IES pesquisada dos devidos cuidados e planejamentos de estrutura, tecnologias e pessoal. A naturalidade, a que se refere o pesquisado, aplica-se no universo do avanço tecnológico, enquanto o prisma macro científico, mas as pessoas e as organizações precisam preparar-se para receber as transformações. • De modo geral, os indivíduos entrevistados compreendem que a implantação da

EaD é uma questão estratégica, pois se trata de ampliar a IES estudada e agregar valor aos serviços já prestados à comunidade.

Corroborando a análise da categoria de gestão, Soares et al (2014) destacam que é necessário integrar sistemas de conhecimento, conhecimentos explícitos, experiências do grupo de profissionais envolvidos por diferentes processos sociais, com base na troca de informações, criando um ambiente de gestão de informações e conhecimentos capazes de dar subsídios à gestão da EaD. Partindo ainda do pressuposto de compartilhamento tácito, inserido em processos de socialização, que consideram importante as narrativas e percepções históricas dos indivíduos envolvidos, o grupo de pesquisados, vivenciou parte da teorização do autor em tela, porque relatou que os encontros e cursos desenvolvidos criaram condições de socialização.

De acordo com as pesquisas de Soares et al (2014), a gestão da EaD, ocorre com qualidade e eficiência, na medida em que houver socialização da cultura, dos documentos institucionais, dos saberes, das informações, dos conhecimentos já existentes e gerado pelo próprio grupo. Neste sentido, percebeu-se nas entrevistas que a IES pesquisada apresentou falhas em seu sistema de comunicação, criando obstáculos no processo de gestão, que foram percebidos nas entrevistas.