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Segundo Panizza (2004), comum é o entendimento de método e metodologia como sinônimos. Porém, como ensina Holanda, metodologia é o "tratado dos métodos, a arte de dirigir o espírito na investigação da verdade" enquanto o método, a

ordem que se segue na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar um fim determinado; marcha racional da

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inteligência para chegar ao conhecimento ou à demonstração de uma verdade; processo ou técnica de ensino; modo de proceder; tratado elementar; prudência, circunspeção; modo judicioso de proceder (HOLANDA, 2009)

Para Panizza, como não há no desenvolvimento do design, um método específico que, uma vez aplicado, possa preencher todas as necessidades dos mais diversos tipos de projetos, cada autor sugere um modelo de método que, a seu ver, servirá como guia ou auxiliará o desenvolvimento de outros métodos. Mesmo assim é comum à maioria dos autores e profissionais a opinião de que, independente do grau de sucesso de um método em um projeto anterior, não existe garantias de que esse mesmo método possa ser aplicado a um próximo projeto afinal pois cada trabalho desenvolvido pede uma solução personalizada e que leve em consideração suas caracterísitcas peculiares (PANIZZA, 2004).

Segundo André Neves (2010), o modus operandi do design é ainda objeto de muitos debates e envolve pelo menos uma grande dicotomia: de um lado um grupo de pesquisadores que defende uma abordagem racionalista, onde o fazer design pode ser descrito como uma série de tarefas que se completam; e em contradição, outro grupo que defende o fazer design como um fenômeno sistêmico, portanto, não necessariamente possível de ser segmentado.

No primeiro caso, fortemente influenciada por pesquisadores vindos das ciências exatas, há um processo explícito de concepção que assume uma racionalidade objetiva cujo método pode ser descrito como "método de tarefas", sendo estas: a) chegada do problema; b) exploração de informações acerca do problema, dos sujeitos e dos objetos; c) geração de alternativas para solucionar o oroblema (por convergência e por convergência); d) avaliação das alternativas geradas (análise e seleção); e) evolução da alternativa selecionada (fase da prototipagem); f) descrição da alternativa solucionada (para a equipe, para a produção e para o cliente); g) saída do artefato.

Já na abordagem sistêmica, cuja origem está nas escolas de design (que, por sua vez tiveram origem a partir de, ou como parte de centros de estudos das artes), acredita-se que não há parâmetros suficientes para descrever o fenômeno central do design, a criação de fato do artefato e propõe uma postura mais subjetivista, aproximada das artes.

Sendo assim, nessa abordagem, o processo de concepção assume uma postura subjetiva cujo método pode ser descrito como "método integrado de tarefas" onde o processo criativo é uma atividade complexa, não sequencial e que vai acontecendo sem que se possa descrevê-la formalmente.

Desta forma, na abordagem sistêmica, as ações do processo de concepção, enquanto atividade por si integrada, são mais amplas e os métodos, mais complexos, pois tratam o processo criativo como uma tarefa única.

Portanto, tendo em vista as duas abordagens apresentadas, podemos dizer que o método projetual serve como um guia de referência na busca de soluções para um determinado problema47.

Como os problemas para o desenvolvimento de produtos estão se tornando cada dia mais complexos, mais inadequado se torna querer resolvê-los de forma intuitiva, agindo a metodologia como um organizador das idéias e da cronologia do projeto, possibilitando a visualizacão de prazos e cumprimento dos mesmos (CARDOSO e PICOLI, 2013).

Sendo assim, o artefato brasileiro contemporâneo, analisado nesta pesquisa frente à possibilidade de proteção pelo registro de desenho industrial será, como veremos a seguir, sempre e obrigatoriamente, desenvolvido através de uma metodologia de design, seja ela de abordagem sistêmica ou racionalista.

47 Segundo Munari (1984), se um problema não tem solução então não é um problema e, se

tem, também não o é pois para se falar em problema é preciso que este seja passível de solução. Sendo assim, o problema nada mais é que o objeto de estudo do profissional de design, que buscará pela melhor resposta; e a melhor resposta não necessariamente é a mais inovadora ou aquela que pretende ser o estandarte de um movimento sócio-cultural, tampouco é aquela mais simples de implantar.

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5 O ARTEFATO

Ao longo dos tempos o homem sempre observou e admirou a natureza e nela encontrou o material primeiro de suas criações intelectuais. Pedras, galhos de árvores, restos de animais e outras coisas foram, através de suas mãos, transformando-se em objetos48 úteis para sua sobreviência e deleite.

Para Milton Santos (1998), as coisas só se elevam à condição de objetos quando o sujeito as utiliza mediante um conjunto de desígnios sociais. Assim, condicionado a um sistema de ações49, o homem foi criando o ambiente artifical em que vive até hoje e onde o objeto é o grande mediador entre ele próprio, e suas ações (figura 23).

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Segundo Els Lagrou, professora de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da IFCS/UFRJ, os objetos cristalizam ações, valores e idéias; provocam apreciacões valorativas da categoria dos tradicionais conceitos de beleza e perfeição formal (LAGROU, 2013)

49 Segundo Santos (1998), os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as

ações e o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes.

Como pôde-se notar, o ambiente natural é formado por diversas coisas. Quando o homem toma uma dessas coisas e à ela dá utilidade, esta se transforma em um objeto que, pelos desígnios da sociedade passa a fazer parte de um ambiente artifical onde o seu uso ditará as ações daquele que o criou50 e ao qual, a partir daí passa a se chamar artefato.

Segundo Fernando Zuben (2013), uma parte significativa do ambiente à nossa volta é constituída de símbolos (objetos abstratos), afinal, o mundo em que vivemos hoje é muito mais um mundo feito pelo ser humano (mundo artificial51), do que um mundo natural e quase tudo nos mostra as evidências de artefatos humanos.

Para o cientista e filósofo Hugo Dingles (1881-1954), o artefato é o centro ao redor do qual gira toda civilização e ciências, desempenhando papel essencial no processo científico. Assim, enquanto para ele, artefato é uma coisa suscetível para um determinado uso ou elaborada para servir a uma determinada necessidade, para Lagrou (2013), artefatos são objetos que condensam ações, relações, emoções e sentidos, porque é através deles que as pessoas agem, se relacionam, se produzem e existem no mundo.

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