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Sobre os Principais Agentes Sociais Envolvidos

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CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO COMO O ALICERCE DO ESTUDO

1.2. Sobre os Principais Agentes Sociais Envolvidos

É bastante vasta a bibliografia existente que percorre o processo histórico agrário do Brasil, recuperando a trajetória de formação e consolidação do latifúndio, das relações de força e poder estabelecidas, da organização social e sindical, do surgimento dos movimentos de luta pela terra, ou temas diretamente relacionados, em maior volume, sob a óptica política, econômica e social12.

12 Sobre o assunto ler autores como: Afrânio Garcia, Alberto Passos Guimarães, Ciro Cardoso, Fernando

Antônio Azevedo, Isaac Akcelrud, José de Souza Martins, Luís Flávio Carvalho Costa, Nelson G. Delgado, Maria de Nazareth Wanderley, Sue Brandford, entre outros.

Neste sentido, não parece interessante debruçarmos sobre assuntos já tratados e repetirmos análises outrora discutidas. Contudo, torna-se importante citarmos dois dos principais agentes que participam e estão envolvidos nas questões diretamente tratadas neste estudo, o MST e o Incra.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST, hoje maior movimento social da América Latina, é fruto de um complexo processo histórico de concentração fundiária, exploração do trabalho e expropriação social, que se deu ao longo da história da propriedade da terra no Brasil, principalmente no decorrer do século XX.

A direção na qual a política econômica nacional norteou seus investimentos, os mecanismos de desenvolvimento adotados pelo país, em busca do crescimento econômico, somados aos focos de resistência popular, às mobilizações e às lutas pela abertura política do país etc., contribuíram para criar uma conjuntura temporal, propícia e necessária, na qual insurgiu um movimento social que, até hoje, se empenha em reafirmar a necessidade da ocupação da terra como ferramenta legítima das trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra, organizados, que lutam não somente pela Reforma Agrária, mas, sobretudo, pela construção de um projeto popular para o Brasil, baseado na justiça social e na dignidade humana.

É dentro do “mundo” particular dos acampamentos e assentamentos rurais de reforma agrária, ligados ao MST, que este trabalho se desenvolve.

Sobre o entendimento de trabalhadores rurais sem terra, utilizado neste trabalho, acionamos Medeiros & Leite, em seu estudo “Assentamentos Rurais – Mudança Social e Dinâmica Regional”. Segundo os autores:

“Os trabalhadores rurais sem terra, beneficiários diretos das políticas públicas que criam os assentamentos rurais, e que se tornam os moradores titulares efetivos de tais assentamentos, são, em suas origens, de diversos tipos: posseiros, com longa história de permanência no campo, embora sem o título formal de propriedade; filhos de produtores familiares pauperizados que, diante das dificuldades financeiras para o acesso à terra, optaram pelos acampamentos e ocupações como caminho possível para se perpetuarem na tradição de produtores autônomos; parceiros em busca de terra própria; pequenos produtores, proprietários ou não, atingidos pela construção de hidrelétricas; seringueiros que passaram a resistir ao desmatamento que ameaçava o seu modo de vida; assalariados rurais, muitas vezes completamente integrados no mercado de trabalho; populações de periferia urbana, com empregos estáveis ou não, eventualmente com remota origem rural, mas que havendo condições políticas favoráveis, se dispuseram à ocupação; aposentados que viram no acesso à terra a possibilidade de um complemento de renda, entre outros.” (Medeiros & Leite, 2004)

E João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, durante entrevista13:

“Os acampamentos rurais são formados por famílias de trabalhadores rurais pobres, que recebem os salários mais baixos da sociedade brasileira e percebem que a terra deve ser daqueles que trabalham nela, não daqueles que fazem reserva de patrimônio ou produzem para exportação. São pobres que vivem como arrendatários, bóias-frias, meeiros, e querem ter a própria terra para plantar. Tem também famílias pobres, que foram expulsas do campo e mudaram para a periferia das cidades, mas querem retornar ao campo e enxergam no MST uma alternativa de conquista da terra para melhorar a sua condição de vida, ter sua casa, uma horta para plantar e trabalhar, dar educação, lazer e garantir saúde para a família”. (Stédile)

Em outra esfera deste processo encontra-se o Governo Federal, que se faz responsável através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra. Este, vinculado diretamente ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), é uma autarquia federal criada pelo Decreto n. 1.110 de 9 de julho de 1970, e possui como missão prioritária, realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Encontra-se implantado em todo o território nacional por meio de 30

Superintendências Regionais, responsáveis pela coordenação e execução das ações nos respectivos estados.

Cabe a essas unidades coordenar e executar, na sua área de atuação, as atividades homólogas às dos órgãos seccionais e específicos, relacionadas a planejamento, programação, orçamento, informática e modernização administrativa. Também devem garantir a manutenção, fidedignidade, atualização e disseminação de dados do cadastro de imóveis rurais e sistemas de informações do Incra.

Nos últimos anos, o Incra vem buscando incorporar entre suas ações a implantação de um modelo de assentamento com a concepção de desenvolvimento territorial. O objetivo é implantar modelos compatíveis com as potencialidades e biomas de cada região do País e fomentar a integração espacial dos projetos. Outra tarefa importante no trabalho da autarquia é o equacionamento do passivo ambiental existente, a recuperação da infra-estrutura e o desenvolvimento sustentável dos mais de cinco mil assentamentos existentes no País.

A Constituição Federal define que a propriedade da terra está subordinada ao cumprimento da sua função social. O Estatuto da Terra, Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964, já considerava que o acesso a terra devesse ser para quem nela vive e trabalha, sendo um direito do trabalhador rural e uma obrigação do Estado de promovê-la.

O modelo predominante de intervenção no campo fundiário se baseia na desapropriação por interesse social de latifúndios improdutivos. Seu fundamento está na concepção de que a redistribuição de terras tem um caráter necessariamente conflitivo e, portanto o instrumento da desapropriação constitui a forma de realizar transferências forçadas dos latifúndios para os trabalhadores rurais sem-terra.

Outra questão associada ao modelo da desapropriação é que as terras são, sempre, incorporadas ao patrimônio público e seu retorno ao patrimônio privado envolve, necessariamente, custos adicionais. Em termos práticos, isso significa a criação de vínculos de dependência entre o assentado e o Incra até que a titulação definitiva seja expedida e o pagamento quitado, sem a contrapartida da participação dos beneficiários na decisão sobre o preço da terra que, no fim das contas, terão de pagar.

O Título de Propriedade é um documento com valor legal, expedido pelo Incra, que concede ao assentado o direito de propriedade sobre a sua parcela no assentamento.

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