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Para análise das respostas do questionário, fizemos uso de procedimentos associados à Análise de Conteúdo. Laurence Bardin define análise de conteúdo como: “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.” E sua intenção é “a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção) inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (BARDIN, 1977, p. 40).

Dentre as técnicas de análise de conteúdo descritas por Bardin, a Análise Categorial é a mais utilizada. Em tal técnica, o texto é desmembrado em unidades (categorias), segundo

reagrupamentos analógicos. O procedimento pode ser dividido em três partes: a pré-análise, a exploração do material e tratamento dos resultados e interpretação.

Na pré-análise ocorre a organização da pesquisa e do material a ser analisado. Corresponde a um período de intuições, de “leituras flutuantes”, mas, tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as idéias iniciais, de maneira a conduzir a um plano de desenvolvimento das operações que se sucederão. A fase de exploração do material não é mais do que a administração sistemática das escolhas tomadas na fase anterior. Esta fase é fastidiosa e consiste em procedimentos de codificações e enumerações, tendo em vista as regras previamente elaboradas. Na última parte, os resultados são tratados de modo a serem válidos e significativos, de maneira a permitir que se tomem interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou que reflitam outras descobertas inusitadas (BARDIN, 1977, p.101).

4.5.1 Crítica sobre a Análise Categorial

Pode-se questionar se diferenças individuais e culturais não enviesam a notação de carga avaliativa que são feitas de certas asserções (por exemplo, quando qualificaremos na categorização como favoráveis ou desfavoráveis as asserções dos licenciandos, como realizado em (III-) e (III+), como veremos a seguir). Essa é uma consideração importante, embora também seja possível defender tal método afirmando que esta dificuldade não é específica desta técnica: nunca estamos seguros da possibilidade de projeção de um sistema de valores pessoais no texto que se está a examinar.

4.5.2 Sobre as categorias formadas

Destacaram-se, nas respostas dos licenciandos, cinco (5) grandes categorias temáticas. Desta forma, agrupamos e analisamos as asserções dos licenciandos tendo em vista estas cinco grandes categorias principais. Deste modo, a referência aos temas das categorias foi a unidade de registro sobre a qual separamos as asserções dos licenciandos. Dentro destas cinco categorias, foram analisadas categorias menores (relacionadas com a temática maior), cujas temáticas foram levantadas por apenas alguns grupos de licenciandos. As cinco grandes categorias são as seguintes:

I) Relação Ciência e Fé

Aqui foram elencadas as colocações dos licenciandos que indicaram ideias e concepções que eles têm sobre ciência, fé, e a relação que pode existir entre ambas.

Dentro desta categoria, assinalamos duas subcategorias: Sobre dogmatismo na ciência e Sobre a convivência de percepções religiosas e científicas.

II) Valor das idéias religiosas e de sua manifestação pelos alunos.

Nesta parte selecionamos asserções dos licenciandos que indicaram suas convicções sobre o valor da manifestação de idéias de origem religiosa, especialmente as que os alunos trazem para a aula. Dentro desta categoria, assinalamos a subcategoria O ensino do modelo científico: responsabilidade do professor.

III) Tolerância frente a posicionamentos de origem religiosa

Nesta categoria estão as afirmações que revelaram tolerância ou respeito para com as manifestações de idéias religiosas.

IV) Atitude frente às manifestações de opiniões religiosas em sala de aula.

Dentro desta categoria elencamos as afirmações que indicaram as atitudes que os futuros professores tomariam frente às manifestações de alunos religiosos, nas quais eles tentassem comentar o assunto tratado em sala de aula recobrando, para isso, sua bagagem religiosa. Tendo em vista as proposições teóricas que adotamos, subdividimos estas afirmações em duas subcategorias: associamos ao signo (III-) as afirmações nas quais houve um distanciamento da opinião do futuro professor em relação às posições adotadas neste trabalho (ex.: o futuro professor demonstrou tolher a manifestação das ideias de origem religiosa de seus alunos). Analogamente, categorizamos em (III+) as afirmações nas quais houve uma aproximação da asserção do licenciando com as proposições defendidas pelo referencial teórico (diálogo, inter-reflexão, busca de tradução, etc.).

Dentro desta categoria, também elencamos mais três subcategorias: Relação entre as posturas comunicativas e a categorização de Barbour; Dificuldade associada ao trato de temas que envolvam religiosidade e Argumentos usados para sustentação da própria prática comunicativa.

V) Como a licenciatura influenciou sua posição quanto a essas questões

Nesta categoria se encontram afirmações dos licenciandos sobre como o curso de licenciatura, que estavam concluindo, influenciou nas respostas que deram sobre o tema. A subcategoria aqui presente foi Análise do Projeto Pedagógico e da ementa das disciplinas.

5 Apresentação e Discussão dos Resultados

Apresentaremos nesta seção a análise das entrevistas. A transcrição completa das respostas dos licenciandos encontra-se no Anexo C.

Como forma de se identificar possíveis ideologias, julgamos pertinente conhecer a posição religiosa professada pelos alunos, de modo que a todos eles foi (ao final do questionário) apresentada a seguinte pergunta: “Você frequenta alguma igreja ou professa alguma religião? Qual?”. Na tabela abaixo apresentamos as respostas.

Quadro 2: Orientação religiosa dos entrevistados

Entrevistado12

Você frequenta alguma igreja ou professa alguma

religião? Qual?

Camila Sim Evangélica

Carol Sim Católica não praticante

Danilo Sim Católico não praticante

Erasmo Sim Católico não praticante

Josias Sim Católico

Laura Sim Evangélica

Onássis Sim Espiritualista1

Rodolfo Sim Católico não praticante

Wagner Não2 ---

1- Simpatizante da filosofia Espírita.

2- Já frequentou igreja, mas no momento não está vinculado a nenhuma.

12

Os nomes aqui apresentados são fictícios: foi assegurado aos licenciandos, no ato da entrevista, que tal cuidado seria tomado, preservando suas identidades e permitindo total liberdade a eles para revelar suas opiniões religiosas e avaliar seu curso de graduação.

Iniciaremos nossa análise observando, dentro de cada categoria, as afirmações dos licenciandos. As siglas após cada declaração se referem à questão na qual é possível encontrar tal declaração do licenciando (exemplo: ‘Q.3’ indica ‘questão 3’). As colocações entre colchetes são explicações do autor.