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O inciso III, do artigo 3º do novo código florestal, suscita sobre a reserva legal, conceituando como:

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa; (BRASIL, 2012).

A reserva legal - RL tem por característica definir uma área mínima que deve ser mantida com cobertura vegetal, em uma propriedade rural, com os padrões estabelecidos pelo artigo 12 da presente Lei:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

I - localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). (BRASIL, 2012).

Devido à grandiosidade do território brasileiro e toda a sua diversidade ambiental, foi substituído o termo “floresta”, por “vegetação nativa”, pois nem em todo

o território possui formação de florestas, como por exemplo os campos naturais, as planícies inundáveis da região pantaneira.

Uma forte divergência dentro do próprio inciso III do artigo 3º está dentro da sua redação em que incluiu a função do “uso econômico” para a reserva legal - RL, pelo qual vai ao contra ponto da função estabelecida para a RL que é de “auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa” (BRASIL, 2012I). Este “uso econômico” incluído ao inciso III do artigo 3º vai possuir explicação junto ao artigo 17, parágrafo 1º do presente código, que admite a exploração econômica da reserva legal mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de acordo com as modalidades previstas no art. 20.

O manejo sustentável poderá ser constituído de duas formas, sendo a primeira sem propósito comercial, conforme previsão no artigo 20, mencionado na letra da lei:

Art. 20. No manejo sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal, serão adotadas práticas de exploração seletiva nas modalidades de manejo sustentável sem propósito comercial para consumo na propriedade e manejo sustentável para exploração florestal com propósito comercial. (BRASIL, 2012).

Este consumo não comercial, com intuito de suprimento interno da propriedade rural estaria relacionado com o cultivo de arvores frutíferas, captura de sementes, cipós e folhas, dentre outras possibilidades, desde que observadas as orientações legais permitidas, quanto aos períodos e épocas, sem que coloque em risco as espécies que ali habitam, como previsto no artigo 21:

Art. 21. É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar:

I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver;

II - a época de maturação dos frutos e sementes;

III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes. (BRASIL, 2012).

E como se não bastasse a possibilidade de manejo para uso não comercial, o artigo 22 da referida Lei florestal, abre uma nova “brecha”, vejamos:

Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de autorização do órgão competente e deverá atender as seguintes diretrizes e orientações:

I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área;

II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;

III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas. (BRASIL, 2012).

Esta segunda modalidade, com finalidade comercial, irá demandar o “manejo sustentável”, pelo qual não poderá descaracterizar a cobertura vegetal, não prejudicar a conservação da vegetação nativa, assegurar a manutenção da diversidade das espécies, e, conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

Estas alternativas que e apresentam ao uso econômico da reserva legal, demonstram como existem pontos contraditórios e necessários ainda de estudo e adequação dentro desta nova legislação, pois a forma mais clara de uma propriedade rural cumprir com o princípio da função social e ambiental qual se propõe é realizar a manutenção da reserva legal, sem intervenção humana com intuído econômico, seja para uso interno da propriedade, seja para uso comercial, do qual desvirtua o verdadeiro sentido para o qual a função da reserva está enquadrada.

Ainda na discussão dos pontos controvertidos das mudanças previstas na Lei Florestal, agora em relação à continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas consolidadas em APP até 22 de julho de 2008, o art. 61 – A, parágrafos 1º, 2º, 3º, 4º, 5º e 6º, apresentam uma divergência no entendimento prático, em que as áreas de APP inferiores as descritas no artigo 4º, das quais devem ser recuperadas ou autorizadas a continuidade das infraestruturas construídas. Para compreender de forma mais clara a diferença de interpretação, faz necessário compreender que as faixas de APPs exigidas continuam como APPs, no entanto, á exceções em poder haver sua exploração e/ou manutenção da infraestrutura, para àquelas atividades ou infraestruturas consolidadas antes de 22 de julho de 2008, salientando que o status jurídico permaneceram como APPs. O principal entendimento que deve haver entre os proprietários rurais, é que a faixa de APP não se alterou, mas que a sua utilização em casos especiais é permitido, e como ponto fundamental é que a faixa de reconstituição da vegetação nativa não

corresponde com a faixa de APP exigida no artigo 4º. Estas faixas de reconstituição variam conforme tamanho da área da propriedade e a largura mínima, vejamos:

Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.

§ 1º Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

§ 2º Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

§ 3º Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d’água.

§ 4º Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais:

II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.

§ 5º Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros.

§ 6º Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal com largura mínima de:

I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal; II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais;

III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais; e

IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais. (BRASIL, 2012).

Como este é um ponto que suscita dúvidas, voltamos a frisar que a área de APP continua a mesma conforme exigido no artigo 4º:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; (BRASIL, 2012).

As exceções não se estendem para toda a área da propriedade nos locais que não houve a supressão da vegetação e não existe atividade consolidada e/ou residência e infraestrutura construída antes de 22 de julho de 2008, o que irá ocorrer é recortes na área de preservação permanente devido às exceções, não possibilitando novas supressões de áreas dentro dos limites da Área de Preservação descritas pelo artigo 4º. De forma ilustrativa, o entendimento se demonstra lúdico:

Figura 1: Mapa de imóvel rural com APP e reserva legal demarcada

A figura 1 apresenta uma propriedade rural inferior a 02 (dois) módulos fiscais do qual se beneficia do art. 61 – A, §2º, da Lei 12.727/2012, os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em áreas de preservação permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

Observando a figura 1, percebemos que existe uma linha de cor azul e uma faixa de cor azul mais transparente hachurada que segue a linha azul. Esta faixa azul hachurada representa a área de preservação permanente do artigo 4º, e a linha azul corresponde à faixa obrigatória de recomposição nos casos de supressão da vegetação antes de 22 de julho de 2008 do artigo 61-A, respeitando-se as exceções conforme já explicado anteriormente relativos aos parágrafos do mesmo artigo.

A parte assinalada em vermelho, que está sobre a linha azul, representa aonde é obrigatório a recomposição da vegetação nativa devido sua supressão. É possível observar que ao longo da faixa azul hachurada, possui áreas de vegetação nativa, identificadas pelo verde mais escuro, e áreas constituídas de atividades agrossilvipastoril, pelo verde claro. Para o código Florestal, estas áreas consolidadas antes de 22 de julho de 2008, em área de 2 módulos fiscais, não terão de fazer a recomposição da vegetação nativa, conforme era exigido no antigo código florestal, mas ao proprietário é vedado realizar novas supressões da vegetação para uso alternativo, consoante ao artigo 61-A, §11, da Lei 12.727/2012, que a realização das atividades previstas no caput observará critérios técnicos de conservação do solo e da água indicados no PRA previsto nesta Lei, sendo vedada a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo nesses locais.

Mesmo as áreas que estão fora da área de preservação permanente não poderão ser suprimidas e que foi destacada pela cor rosa junto ao mapa. Toda área com atividade consolidada dentro da zona de APP, representado em verde clara dentro do azul hachurada, se estivéssemos sobre a vigência do código florestal de 1965, existiriam sanções decorrentes das infrações relativas á supressão irregular de

vegetação, que, pelo novo código florestal, além da remissão da infração, existirá a conversão da multa que deverá ser aplicada pelo Governo Federal se transformará em um Programa de Recuperação Ambiental - PRA. Para que ocorra a remissão, se exige alguns condicionantes, para que assim a propriedade rural venha se adequar conforme as premissas da nova legislação. Desta forma, podemos observar que a nova legislação vem prestigiar aos que descumpriram a legislação anteriormente. E se aplicarmos o artigo 61 – B ao exemplo do mapa:

Art. 61-B. Aos proprietários e possuidores dos imóveis rurais que, em 22 de julho de 2008, detinham até 10 (dez) módulos fiscais e desenvolviam atividades agrossilvipastoris nas áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente é garantido que a exigência de recomposição, nos termos desta Lei, somadas todas as Áreas de Preservação Permanente do imóvel, não ultrapassará: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

I - 10% (dez por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais com área de até 2 (dois) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012). II - 20% (vinte por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) e de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012). (BRASIL, 2012).

Dependendo dos cálculos entre a área total do imóvel versus a área existente de área de preservação permanente, existe grande possibilidade de conflito com as recomposições exigidas aos estabelecidos nos §§ 1º ao 7º do art. 61-A. O que se evidencia que este artigo criará um cenário bastante adverso para as funções ambientais exercidos por uma APP com diferentes faixas de proteção nos mananciais, gerando controvérsias entre os analistas dos órgãos ambientais e os proprietários rurais.

As propriedades rurais ainda deverão atender à regularização da reserva legal, previsto pelo artigo 12 dessa Lei, aonde os tamanhos em área variam conforme a localização geográfica e o bioma em que se localiza a propriedade, vejamos:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

I - localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento) (BRASIL, 2012).

Mesmo havendo esta determinação prevista pelo artigo 12, existe um perdão legal para propriedades rurais iguais ou inferiores a 4 módulos fiscais que detinham área de vegetação nativa inferior à exigida na Lei em até 22 de julho de 2008. Dos quais serão considerados percentuais inferiores ao previsto no artigo 12, pois a reserva legal poderá ser constituída apenas da área ocupada com vegetação nativa remanescente conforme artigo 67:

Art. 67. Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso alternativo do solo. (BRASIL, 2012).

Na hipótese da figura 1, a área de reserva legal foi representada na cor rosa, que sendo aplicado o artigo 67, representou menos de 3% da área total. Este benefício previsto no artigo 67, se enquadra para as propriedades rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 módulos fiscais e que possuam remanescentes de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a reserva legal, sendo assim, será constituída a reserva legal com área ocupada com vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, sendo proibido novas conversões para uso alternativo do solo. Ao beneficiar as propriedades rurais menores que 4 módulos fiscais, se criou uma discussão no viés legal deste artigo, devido à redução da reserva legal correspondente à vegetação nativa remanescente em área menor que a exigida no artigo 12. Para se compreender melhor, se faz necessário conceituar o que seria “remanescente de vegetação nativa” reafirmada no artigo.

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