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Novo Código Florestal: implicações sobre as propriedades rurais

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RODRIGO DE BARROS

NOVO CÓDIGO FLORESTAL: Implicações sobre as propriedades rurais

Ijuí (RS) 2019

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RODRIGO DE BARROS

NOVO CÓDIGO FLORESTAL: implicações sobre as propriedades rurais

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Rubens Cenci

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este trabalho a minha família e companheira por todo incentivo durante essa jornada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente aos meus pais, Rosane e Leonel de Barros e, em especial, a minha companheira, Ana Amália Mafalda Fiorin, por nesta jornada contar com o seu apoio incondicional, acreditando nos meus ideais e a compreensão para suportar todos os dias de ausência.

Ao Prof. Orientador, Dr. Daniel Rubens Cenci, por sua genialidade e dedicação para que isso fosse possível de se materializar.

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“Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de

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RESUMO

Este trabalho está baseado no estudo do Direito Ambiental Brasileiro em seus aspectos jurídicos, legais e sociais, bem como seus impactos sobre as propriedades rurais, o berço da economia da região sul brasileira. O objetivo foi realizar uma análise sobre a nova legislação florestal vigente no país para entender seus impactos ambientais para com as propriedades rurais, observando o aspecto prático de sua aplicação à dimensão das principais alterações, bem como verificar como as medidas governamentais afetam o desempenho da implantação desta normatização. Ao considerar a aplicação da metodologia hermenêutica, com o intuito de interpretação das normas jurídicas, estabelecendo formas para sua compreensão e aplicação ao ambiente rural, ensejou-se um caráter qualitativo, sustentado pela pesquisa bibliográfica e documental, por meio físico e eletrônico, a fim de enriquecer a coleta de dados. A discussão interminável entre os ambientalistas e os ruralistas fez com que fosse desenvolvido um novo Código Florestal, com uma legislação prevalecendo os interesses econômicos com o viés ambiental. Mesmo parecendo claros os princípios em favor da manutenção e preservação dos recursos naturais, em detrimento da sociedade e das gerações futuras, o que fica implícito, com a análise dos artigos, é a prevalência dos interesses econômicos e individuais das propriedades rurais privadas.

Palavras-chave: Novo Código Florestal. Lei 12.651/2012. Direito Ambiental. Propriedade Rural e o Meio Ambiente.

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ABSTRACT

This work is based on the study of Brazilian Environmental Law in its legal, legal and social aspects, as well as its impacts on rural properties, the cradle of the economy of the southern Brazilian region. The objective was to carry out an analysis of the new forest legislation in force in the country to understand its environmental impacts on rural properties, observing the practical aspect of its application to the size of the main changes, as well as to verify how governmental measures affect the implementation performance. of this standardization. Considering the application of the hermeneutic methodology, with the intention of interpreting the legal norms, establishing ways for its comprehension and application to the rural environment, a qualitative character was supported, supported by the bibliographical and documentary research, through physical and electronic means, in order to to enrich data collection. The endless discussion between environmentalists and ruralists led to the development of a new Forest Code, with legislation prevailing economic interests with environmental bias. Although it seems clear the principles in favor of the maintenance and preservation of natural resources, to the detriment of society and future generations, what is implicit, with the analysis of the articles, is the prevalence of economic and individual interests of private rural properties.

Keywords: New Forest Code. Law 12,651 / 2012. Environmental law. Rural Property and the Environment.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 DO DIREITO AMBIENTAL ... 9

1.1 Contextualização histórica ... 12

1.2 Objetivos do Direito Ambiental ... 14

1.3 Política ambiental ... 15

1.4 Política Nacional do Meio Ambiente ... 18

1.5 Zoneamento ambiental ... 22

1.6 Política agrícola e proteção ambiental ... 24

2 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E O NOVO CÓDIGO FLORESTAL ... 28

2.1 Algumas medidas polêmicas do Código Florestal Lei 12.651/2012 ... 29

2.2 Sobre as áreas de preservação permanente - APP ... 30

2.3 Sobre a reserva legal - RL ... 31

2.4 Sobre o cadastro ambiental rural - CAR ... 38

CONCLUSÃO ... 46

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INTRODUÇÃO

A motivação deste trabalho se deu diante do descompasso entre as visões dos ruralistas e dos ambientalistas, bem como toda a controvérsia e anseios sociais diante da natureza jurídica do Direito Ambiental e sua real figuração sobre a sociedade. Ao realizar este trabalho de conclusão de curso se considerou a aplicação da metodologia hermenêutica, adotando um caráter qualitativo sustentado pela pesquisa bibliográfica e documental, sejam elas por meio físico ou por meio eletrônico, a fim de enriquecer a coleta de dados e informações pertinentes.

No primeiro capítulo, possui uma abordagem do direito ambiental em seu conceito e desenvolvimento histórico, desde a sua introdução no ordenamento jurídico positivado brasileiro, passando para sua aplicação social, bem como também a situação legal atual, esta última, com o Estado brasileiro regulando sua forma de implantação das principais medidas adotadas no Novo Código Florestal, ao meio turbulento agrossilvipastoril, ao ponto que foram consideradas “exageradas” na visão dos ruralistas e brandas pelos ambientalistas.

Ao desenvolvimento do segundo capítulo, é analisado o direito ambiental com fator regulador na expansão econômica do Agronegócio, abordando o conceito do código florestal, realizando uma análise entre os artigos considerados de maior polêmica, pelo seu impacto socioeconômico em sua implantação, bem como as expectativas geradas para as gerações futuras na recuperação das degradações ambientais sobre as áreas de preservação permanente e as reservas legais.

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1 DO DIREITO AMBIENTAL

Tem como premissa a defesa de interesses difusos, ou seja, prevenção e manutenção do meio ambiente. Como se pronuncia por interesse difuso, por si só se demonstra como matéria abstrata, sendo o destinatário indeterminado, impossível identificar quem será o beneficiário desta política de prevenção ambiental. Demonstrando ligações com o direito constitucional, penal, civil e administrativo.

Como previsto em na Carta Magna de 1988, em seu artigo 225, caput, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Como já mencionado, o Direito Ambiental se trata de interesses difusos, sendo destinatário indeterminado, e isso que materializa quando se observa os “pontos chave” do artigo constitucional acima descrito, se fazendo necessário esclarecer para a melhor compreensão da matéria.

“Todos têm direito (...)”.

Podendo ser referendada a uma cláusula pétrea, o “todos” vai ao encontro do artigo 5º da Carta Magna, em que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...].” (BRASIL, 1988).

Os cidadãos, da presente e futuras gerações, sejam brasileiros e estrangeiros residentes no País, estarão com seu meio ambiente juridicamente protegido e normatizado. Mas, o que seria “meio ambiente”, disposto na passagem do artigo? Para isso, é necessário buscar apoio na legislação infraconstitucional.

A Lei Federal nº 6.938, de 1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, conceitua legalmente o saber em seu artigo 3º, inciso I, tratando como um

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conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

“(…) ecologicamente equilibrado (…)”.

Em primeira leitura aparentemente se demonstra vago, amplo e com certa dificuldade para mensurar o que se trata o “ecologicamente equilibrado”, mas o viés mais adequado e escolhido entre os doutrinadores seria do desenvolvimento da sociedade econômica vs sustentabilidade.

A melhoria contínua da qualidade de vida na atualidade está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento econômico e social, por outro lado, para que este desenvolvimento se apresente de forma sadia socialmente e não comprometa a qualidade de vida das gerações futuras, a proteção ambiental se faz necessário e deve integrar este crescimento como sendo base fundamental para a progresso deste desenvolvimento.

O artigo 170, da Constituição Federal de 1988, apresenta entre os fundamentos da ordem econômica, da valorização do trabalho humano e na livre iniciativa intuito de assegurar a todos existência digna, e podendo ser ressaltado o que seu inciso VI acrescenta como princípio a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Esta previsão de preservação do meio ambiente, frente ao desenvolvimento econômico já estava prevista na Lei 6.938/1981, anteriormente a Constituição Federal/1988, junto ao artigo 4º, inciso I, ao tratar da Política Nacional do Meio Ambiente, do qual visará à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.

A presente Lei Federal já regulamentava que o desenvolvimento econômico deveria ocorrer sem prejuízo aos recursos naturais, devendo assim se estabelecer uma conexão respeitosa ao sócio ambiental no intuito de preservação, sendo que o desenvolvimento econômico deveria se dar sem agressão ao meio ambiente.

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“(...) bem de uso comum do povo (...)”

A passagem acima em destaque do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 deve ser cuidadosamente atentada quanto à sua distinção da divisão feita pelo Código Civil, de 2002, em seu artigo 99:

Art. 99. São bens públicos:

I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;

III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. (BRASIL, 2002).

É importante ressaltar esta distinção que se apresenta entre o que está previsto no Art. 225 da CF/1988, “bem de uso comum do povo” e o disposto pelo direito administrativo através do Código Civil de 2002, em seu Art. 99, “bens públicos de uso comum do povo”. A distinção está basicamente na palavra “público”, ou seja, bem público, e seria um erro grosseiro não perceber esta distinção, visto que existem diversas propriedades particulares que estão à luz de restrições ambientais, sendo limitações administrativas, onerando aos seus proprietários restrições ao uso, e mesmo assim não desconfiguram sua característica de propriedade privada.

Em seu livro Direito Ambiental Constitucional, Silva (2010) afirma que o Art. 225 criou em sua redação um bem de interesse público, sendo que o direito administrativo chamou a atenção para este detalhe mencionando que os tipos de bem público estão relacionados no Art. 99 do Código Civil/02, sendo que ao lado deles possui bens de interesse público, que no entanto possuem característica de propriedade privada. Podendo assim haver interesses público, para o bem da coletividade social, sendo gravado de restrições administrativas, para preservar o meio ambiente, imposto por lei restrições no seu uso, e continuarem com a característica de propriedade privada.

Mesmo sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito público e difuso, considerado como direito fundamental e constitucional de todo cidadão

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brasileiro ou estrangeiro em território nacional, não possui elementos por si só suficientes para se ingresse alegando ser um bem de uso comum.

1.1 Contextualização histórica

Foi na década de oitenta que a evolução do direito ambiental ganhou força e começou sua ascensão. De forma cronológica, pode ser mensurado pela publicação da Lei Federal da Política Nacional do Meio Ambiente nº 6.938, em 31.08.1981, poucos anos após a Lei da Ação Civil Pública nº 7.347, em 24.7.1985, e então vigora a nova Constituição Federal em 05.10.1988. Ainda no tocante a evolução legislativa, é importante mencionar a criação da Lei n° 6.803, de 2.07.1980, determinando as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas de poluição, introduzindo pela primeira vez no direito ambiental o estudo de impacto.

Um dos pontos na evolução histórica do direito ambiental está o Decreto nº 88.351, de 1.06.1983, do qual criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que possui previsão legal no inciso 11 do art. 6° da Política Nacional do Meio Ambiente. Em 23.01.1986, o CONAMA edita a Resolução n° 01, que traz em seu artigo 5° o conceito do que seria “impacto ambiental”.

A Lei nº 7.804, de 1989, alterou a Lei n° 6.938/1981, em seu art. 3°, substituindo nos dispositivos das Leis 6.803/1980, 6.902/1981, e 6.938/1981, mudando a expressão Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) por Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Pode ainda ser relacionado o direito ambiental positivado dentro desta evolução, direcionando para o tema de interesse, legislações infraconstitucionais que seguem:

a) Lei Federal nº 4.771, de 15.09.1965, Código Florestal que revogou o decreto federal nº 23.793/1934, passando a legislar as normas relativas à preservação do meio ambiente em propriedades privadas, onde o proprietário rural deveria conservar parte de sua terra, com a finalidade de preservação da vegetação natural através de dois estatutos: áreas de preservação permanente (APP’s) e reserva legal (RL). Os proprietários que não cumprissem as normas de APP’s e RL, teriam que recompor as áreas desmatadas.

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b) Decreto n° 89.336, de 31.01.1984, dispõe sobre as reservas ecológicas e áreas de relevante interesse ecológico;

c) Lei nº 7.735, de 22.02.1989, criando o IBAMA e dos Recursos Naturais Renováveis;

d) Decreto n° 97.946, de 11.07.1989, dispôs sobre a estrutura básica do IBAMA; e) Lei n° 7.803, de 18.7.1989, determinou a obrigatoriedade de licença para a

comercialização ou utilização de moto-serra;

f) Decreto n° 99.274, de 6.06.1990, regulamentando a criação de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental e a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente;

g) Decreto n° 96.944, de 12.10.1988, criou o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazônia Legal;

h) Lei n° 7.802, de 11.07.1989, dispôs sobre a pesquisa, experimentação, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a implantação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a infração e a fiscalização de agrotóxicos;

i) Decreto n° 98.816, de 11.01.1990, regulamentou a Lei n° 7.802/1989, que dispõe sobre agrotóxicos.

j) O novo Código Florestal, Lei nº 12.651, de 25.04.2012, com sua principal mudança sobre o Cadastro Ambiental Rural - CAR.

k) Lei nº 12.727, de 17.10.2012, que dispõe sobre alterações da Lei nº 12.651/2012.

Como instrumento normativo principal, tivemos a Constituição Federal de 1988, que tratou o tema ambiental de forma direta, tema este ausente nas constituições anteriores. Ressaltando ao artigo 170, inciso VI, assegurando o princípio da defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação, bem como o artigo 225, aonde prevê que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-defendê-lo para as presentes e futuras gerações, concedendo um direito

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subjetivo, equiparando aos bens de uso comum do povo, obrigando o Poder Público e a coletividade a defendê-lo.

Atualmente, o Direito Ambiental está em um momento em que passa pela concretização mais real desse Direito, se destacando o papel do Ministério Público, com as ações civis públicas, em que de forma atuante, trava batalhas importantes por todo o país. É importante destacar que as legislações existentes vêm passando por momento de reapreciação, no intuito de regularizarem lacunas deixadas descobertas pela atual Constituição Federal.

1.2 Objetivos do Direito Ambiental

O Direito Ambiental Brasileiro está para além da matéria especificamente da preservação ambiental, mais integrada ao intuito do desenvolvimento econômico e social, não sendo criado apenas para proteger e preservar como grande parte da sociedade capitalista o reconhece, se demonstrando assim uma visão equivocada, pois o direito ambiental brasileiro quer a associação entre o preservar e o desenvolvimento sócio econômico, sem que haja agressão ao meio ambiente para que isso ocorra, sendo que o ditado popular em que “não existe progresso sem o desmatamento” seria uma inversão de valores sociais, a medida em que exaurimos recursos naturais para o desenvolvimento econômico sem mensurar as consequências para as gerações futuras.

Preocupar-se com o meio ambiente é preocupar-se com a figura do homem. É possível destacar o aspecto social do Direito Ambiental através do artigo 200, inciso VIII, da Constituição Federal/88, em que ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei, a colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Quando o inciso VIII, do Art.200, da CF/1988, menciona que ao Sistema Único de Saúde - SUS compete além de outras atribuições, colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho, realiza uma conexão entre o direito do trabalho e o direito ambiental.

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A preocupação com o ser humano é tida como foco principal e não é de hoje, visto que na Lei Federal 6.938/1981, no caput do artigo 2º, já destacava que:

[...].

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios. (BRASIL, 1981).

Sob o aspecto e objetivo de preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia a vida, com intuito para a proteção da dignidade da vida humana, toda a política ambiental terá seu lastro baseado em dois princípios fundamentais.

1.3 Política ambiental

A política ambiental é o desenvolvimento de atividades voltadas diretamente para o meio ambiente, sejam elas por parte do governo, das empresas ou pelos próprios cidadãos, visando à conservação ambiental. É estabelecido pelos princípios que considera a importância para a preservação natural, harmonizando com a sustentabilidade, que, se devidamente preservada, vai engendrar a manutenção das regras essenciais para a conservação do meio ambiente, evitando a degradação ambiental.

Para a sustentação de um sistema sobre a atitude referente à conservação da natureza, deve-se desenvolver uma política voltada para este interesse, onde a conservação do meio ambiente, vai nos dar condição de continuarmos vivendo em um mundo racional, cujo, equilíbrio mantenha a sustentabilidade.

Os célebres princípios em matéria ambiental nomeadamente, os princípios da prevenção e precaução, do desenvolvimento sustentável, do poluidor pagador, da globalidade e da solidariedade entre gerações, são formalizados em diversas constituições e tratados, adquirindo notória importância na ordem jurídica e nas agendas políticas governamentais.

A política ambiental brasileira toma como base dois princípios entre os diversos existentes. Estes irão de certa forma conduzir quase em toda sua plenitude os temas sobre o direito ambiental, possuindo basicamente estes dois fundamentos: o princípio da preservação e o princípio do poluidor pagador.

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Está se dando ênfase a estes dois princípios, pois a legislação ambiental brasileira apresenta dois aspectos fundamentais: o primeiro em seu direito positivado de prevenir ou precaver, se tratando de ações das quais antecedem ao dano ambiental, com interesse de agir mediante o risco ou possível dano; e em segundo sobre o dano já ocorrido, aplicando sanções sobre o ato lesivo.

Princípio da prevenção

É notório e de conhecimento geral que, ao ocorrer um dano ambiental, a sua recuperação é extremamente longa, e com poucas chances de ocorrer em sua plenitude. O intuito da política do meio ambiente é de sempre evitar o dano, sendo que, desde a primeira legislação vigente sobre o tema, ponderava já sobre este viés, na tentativa de evitar o dano ao invés de remediá-lo. Nessa lógica, o princípio da prevenção vai orientar toda a matéria do direito ambiental. Devido a este aspecto de prevenção, permeia as licenças ambientais, uma maneira de se evitar o dano ambiental, e por este motivo tão especial que as licenças estão amparadas por regras específicas dentro do direito ambiental.

O combate ao dano ambiental possui a informação como um fator inibidor para a regulação do desenvolvimento sócio econômico ambiental descontrolado, e por este motivo o licenciamento ambiental está munido de um rigoroso e complexo sistema de procedimentos a serem seguidos.

O que vem ao encontro do princípio da prevenção por haver uma similaridade, mas não se confunde, é o princípio de precaução. Mas como dito anteriormente, a legislação brasileira está alicerçada sobre o princípio da prevenção, com intuito de evitar o dano.

O princípio da precaução tem em seu fundamento base do princípio da prevenção, conforme expõe Canotilho e Leite (2008, p. 42):

O princípio da precaução funciona como uma espécie de princípio “in dubio

pro ambiente”: na dúvida sobre a perigosidade de uma certa atividade para o

ambiente, decide-se a favor do ambiente e contra o potencial poluidor, isto é, o ônus da prova da inocuidade de uma ação em relação ao ambiente é transferido do Estado ou do potencial poluído para o potencial poluidor. Ou

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seja, por força do princípio, é o potencial poluidor que tem o ônus da prova de que um acidente ecológico não vai ocorrer e de que adotou medidas de precaução específicas.

Desta forma, o princípio da precaução vem ao encontro da ação mesmo sem a certeza da real potencialidade do dano ambiental, agindo de forma antecedente para evitar a ocorrência ao menor sinal do risco.

Princípio do Poluidor Pagador

Tendo toda uma política de prevenção ao meio ambiente e criando mecanismos de defesa das quais dificultam a ação de um potencial poluidor, criando mecanismos de defesa como se apresentam através da cadeia complexa para se alcançar os licenciamentos ambientais, mesmo assim vier a surgir o dano ambiental, é necessário uma forma de “punição”, a isso, se atribui o princípio do poluidor pagador, do qual se apresenta na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, parágrafo 3º, mencionando que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Como observado, a CF/1988 conecta o infrator ao dano causado, responsabilizando-o as sanções penais e administrativas, mas se demonstra vaga quanto a que penalidades seriam aplicadas ao infrator, sendo assim, a legislação infra constitucional, em sua teoria objetiva responsabiliza o poluidor como previsto na Lei 6.938/1981, no artigo 14, parágrafo 1º:

Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

[...]

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. (BRASIL, 1981).

O artigo 14 da presente Lei menciona em “o poluidor”, para que a interpretação da letra da lei não fique de forma vaga e sem definição, em próprio texto normativo,

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junto ao artigo 3º, inciso IV, o conceitua em pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

A proposta de Canotilho e Leite (2015, p. 50) é de que:

[...] os pagamentos decorrentes do princípio do poluidor-pagador devem ser proporcionais aos custos estimados, para os agentes económicos, de precaver ou de prevenir a poluição. Só assim os poluidores são “motivados” a escolher entre poluir e pagar ao estado, ou pagar para não poluir investindo em processos produtivos ou matérias primas menos poluentes, ou em investigação de novas técnicas e produtos alternativos. (grifo dos autores).

Na conjectura dos autores, se os poluidores investissem de maneira proporcional aos custos necessários dos agentes fiscalizadores no intuito da prevenção do dano ambiental, não haveria mais poluidores pagadores, ou poderia se chegar a um nível aceitável, de forma a fortalecer o poder público competente para o setor a trabalhar de forma efetiva sem que este custo seja apresentando para a sociedade na forma de carga tributária.

1.4 Política Nacional do Meio Ambiente

Referendada como a Lei ambiental mais importante após a Constituição Federal, tanto a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, como o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, estão regulados nela, a Lei nº 6.938/1981. Focada em ser uma realidade o que possuímos disposto no artigo 225, caput da CF/1988, assegurar a todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado, dando efetividade para esta norma constitucional.

Nas palavras de Sirvinskas (2005, p. 60), em que a política nacional do meio ambiente “deve ser compreendida como um conjunto de instrumentos legais, técnicos, científicos, políticos e econômicos destinados à promoção do desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira.”

Estas medidas de que tratam a política nacional do meio ambiente visam assegurar para o país condições de desenvolvimento socioeconômico sem demérito

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à proteção da dignidade do cidadão ao direito a um ambiente ecologicamente saudável. A qualidade ambiental propícia à vida é o objeto de estudo da política nacional do meio ambiente, para as presentes e futuras gerações. Isso só poderá ser uma realidade social caso haja cumprimento dos objetivos descritos no artigo 4º da Lei n.6.938/1981.

Objetivos

O escopo central dos objetivos da política nacional do meio ambiente está no desenvolvimento sustentável, podendo harmonizar a proteção ambiental com o desenvolvimento socioeconômico, assim possibilitando que as cadeias produtivas agreguem riqueza econômica e tecnológica para o país sem afetar o meio ambiente.

Ao encontro deste desenvolvimento, o artigo 4º da Lei 6.938/1981 estabelece alguns objetivos para que sejam alcançados e se torne viável este entendimento:

Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

I - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. (BRASIL, 1981).

Estes objetivos traçados pela lei infraconstitucional estabelecem uma diretriz para que o desenvolvimento sustentável seja possível de ser alcançado sem afetar a dignidade da vida humana.

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Princípios

Quanto aos princípios, Silva (2010, p. 213) auxilia nesta elucidação ao dizer que:

[...] os princípios são ordenações que irradiam e imantam um sistema, [...], é uma proposição que se toma como ponto de partida para derivar dela outras proposições cujo valor está referido ao daquela. Quando a Lei 6.938, de 1981 (art.5º) diz que as diretrizes hão que observar os princípios estabelecidos no art. 2º, está afirmando que as proposições-diretrizes (art.5º) hão que se fundamentar nas proposições-princípios (art.2º) e que só valem enquanto se aferirem com estas.

Os princípios da política ambiental orientam as ações do Poder Público, no intuito de preservar, melhorar e recuperar o equilíbrio ecológico ambiental, que estão previstos nos incisos de I a X do artigo 2º da Lei 6.938/1981.

O inciso I do referido artigo sobressalta uma das principais características que é de fundamental importância ser sucessivamente reiterado, o meio ambiente se trata de um bem de interesse público, protegido por lei e de interesse coletivo da sociedade, sendo assim sua proteção não sendo obrigação somente meramente governamental, mas também de toda a sociedade, mesmo estando em domínio privado.

Instrumentos

Com previsão entre os artigos 9º a 18º, da Lei 6.938/1981, os instrumentos são os meios e procedimentos aos quais serão adotados pelo Poder Público para realizar a execução da Política Ambiental, com intuito de alcançar os objetivos de preservação, melhoria e recuperação do equilíbrio ecológico no meio ambiente.

Silva (2010) classifica estes instrumentos em 3 (três) formas, de variada natureza, podendo ser agrupados em instrumentos de intervenção ambiental, instrumentos de controle ambiental e instrumentos de controle repressivo.

Os instrumentos de intervenção ambiental se tratam de mecanismos normatizados dos quais o Poder Público se utilizará para condicionar a atividade de

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iniciativa privada, bem como a pública, dos quais se encontram no artigo 9º da Lei 6.938/1981:

Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

I - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. (BRASIL, 1981).

Já os instrumentos de controle ambiental são medidas e atos adotados pelo Poder Público ou pelo particular, com a finalidade de verificar a observância das normas e planos que visem à defesa e recuperação da qualidade do meio ambiente, podendo ser divididos em 3 (três) subcategorias:

1ª) Dito como controle prévio, previsto antes da ação suscetível de dano ambiental, que se desencadeia pelo Estudo e Avaliação de Impacto Ambiental e Licenciamento Prévio de obras ou atividades efetivas ou potencial poluidoras, previsto pelos incisos III e IV do Art. 9º da referida Lei.

2ª) Referido como controle concomitante, que ocorre durante a ação potencialmente danosa e que se efetiva com a inspeção, fiscalização, produção de Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado pelo IBAMA. Vislumbrado nos incisos VII, VIII, X e XI do Art. 9º da referida Lei.

3ª) E o controle sucessivo ou a posteriori, que ocorre depois da ação prejudicial, sendo necessário vistoria e exames podendo ser relacionada como auditoria ambiental, para averiguar se a ação incorreu em alguma ação danosa ao meio ambiente ou se realizou conforme os ditames legais.

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Por último, mas não menos importante, o instrumento de controle repressivo, bem como seu nome nos arremete, visa corrigir as ilegalidades ambientais com a aplicação de sanções administrativas, civis e/ou penais, que estão ligadas a reparação do dano ecológico, com previsão legal no inciso IX, do Art. 9º da Lei 6.938/1981.

1.5 Zoneamento ambiental

Com fulcro no artigo 9º, inciso II, da Lei 6.938/1981, o zoneamento ambiental se trata de uma das mais importantes ferramentas da política do meio ambiente dentro do Direito Ambiental, devia sua capilaridade. Seu objetivo principal é evitar a ocupação do solo desordenadamente, seja ela urbana ou rural. Esta diretriz, ao qual atribui o Poder Público, neste caso, União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a responsabilidade de delimitação do solo, está prevista constitucionalmente em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso III, ao qual os responsabilizam em definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.

Conceito de zoneamento

Nas palavras de Sirvinskas (2005), o zoneamento se trata de procedimento urbanístico, que tem por objetivo regular o uso da propriedade de solo e dos edifícios em áreas homogêneas no interesse coletivo do bem-estar da população.

Pode-se observar, com o conceito, que o Poder Público deverá estabelecer leis e regulamentos para a ocupação do solo, sendo assim, uma limitação administrativa, restringindo o direito de propriedade, devendo ser enfatizado que o solo possui princípio constitucional a função social, conforme previsão constitucional do artigo 5º, inciso XXIII.

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Competência constitucional do poder público

Visto de forma breve anteriormente, o zoneamento é uma forma de limitação administrativa ao direito de propriedade, fundada como a mais importante dos instrumentos da política do meio ambiente, com expectativa de regular a relação espaço versus produção.

Pela competência atribuída à União, constitucionalmente, para administrativamente realizar o planejamento dos planos nacionais e regionais de ordenação dos territórios e de desenvolvimento econômico e social (artigo 21, inciso IX, CF/1988), e poderá vincular ações de contexto geoeconômico e social, para associativamente entre eles busque por uma diminuição das desigualdades sociais e regionais (artigo 3º, inciso III, CF/1988).

Para os Estados, o que compete? Vejamos o que o artigo 25º, parágrafo 3º, da Carta Magna, relata que os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Visando o uso e a ocupação do solo, com intuito de proteger o cidadão, os Estados poderão, através de lei complementar, estabelecer tais regiões.

De acordo com a distribuição constitucional de competências, temos a dos Municípios em promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. Art.30, inc.VIII, CF/1988.

Ao encontro da competência Municipal, Sirvinskas (2005, p. 72) complementa que:

[...] o município que exerce a tarefa mais importante quanto ao uso e ocupação do solo, objetivando a ordenação do desenvolvimento da cidade e garantindo o bem-estar social. Por outro lado, o plano diretor é o instrumento

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adequado para se estabelecer os critérios gerais de ordenamento dos espaços urbanos.

O artigo 182 da CF/1988 é claro quanto ao plano diretor e a ligação da propriedade e sua função social:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.

§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. (BRASIL, 1988).

Este instrumento de elaboração municipal irá definir sem prejudicar as expansões territoriais criadas pelo Poder Público, para onde a cidade deverá crescer.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preimpondo-servá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...]

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; [...]. (BRASIL, 1988).

O inciso III acima mencionado demonstra que o Poder Público Federal poderá determinar Áreas para Preservação Ambiental, das quais tomarão o aspecto de “intocáveis”, mesmo havendo interesse do Poder Público Municipal pelo viés da ampliação urbana, editando seu plano diretor. Esta obediência hierárquica está garantida constitucionalmente.

1.6 Política agrícola e proteção ambiental

O conceito de política agrícola se encontra logo no parágrafo 2º da Lei 4.504, de 1964, chamado de Estatuto da Terra, que entende por Política Agrícola o conjunto de providências de amparo à propriedade da terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido de

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garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização do país.

“[...]. No sentido de garantir-lhes o pleno emprego, [...]”, esta passagem do parágrafo acima descrito, não condiz mais com a realidade habitual, conforme se demonstra os índices de desemprego e evasão rural. E esta passagem não é a única desconexa da realidade, quando seguimos na leitura do artigo 2º da referida Lei, ao mencionar que é assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. Art.2º, Lei 4.504/1964.

Uma afirmação escassa de sentido e eficácia, o acesso à terra aos tempos de hoje, não está disponível para acesso de todos, e ao ver econômico, este distanciamento só aumentará visto a concentração. Mas, e o que a Constituição Federal traz sobre o planejamento desta política agrícola? A resposta para esta pergunta podemos encontrar junto ao artigo 187 da Constituição Federal/1988, que nos evidencia que “a política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, [...]”. Trata-se de atividades das quais exploram recursos naturais, de transformação da natureza, e nas palavras de Silva (2010, p. 222), este elo de ligação fica mais clarividente:

‘Não se vê outra atividade laboral humana, como a agrária, na qual a relação com a Natureza seja tão estrita.’ Por esta razão, se a política agrícola há que se preocupar com a produtividade rural, não há de olvidar que a terra é um bem de todos, há de ser preservada para as presentes e futuras gerações. Isso é uma atividade de ordem econômica, e está informada por vários princípios, entre os quais o da defesa do meio ambiente.

E dentro da função social exercida pela propriedade rural, com valorização do trabalho humano, se encontra o respeito ao meio ambiente, que vai ao encontro defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação (Art.170, inc. VI, CF/1988), do qual sua função social se cumprirá quando da utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente (Art.186, inc.II, CF/1988).

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Este resguardo pelo meio ambiente, protegendo e garantindo o seu uso racional, para que de forma efetiva tenhamos sustentabilidade ambiental para as gerações futuras, a política agrícola traz como um dos seus objetivos esta perspectiva de cuidado ambiental, implementada pelo artigo 3º, inciso IV, da Lei 8.171, de 1991, ao proteger o meio ambiente, garantir o seu uso racional e estimular a recuperação dos recursos naturais;

Este círculo virtuoso de proteção ao meio ambiente, com garantia de uso racional e adequado de forma harmoniosa entre Natureza e interferência humana, faz ser necessário as sábias palavras de Silva (2010, p. 223):

Buscar a fertilização do solo, realizar a reposição de seus naturais nutrientes, manter matas, nativas ou não, que permitam a harmonia entre a interferência humana e a Natureza, utilizar técnicas e métodos adequados à situação do imóvel rural, assegurar e resguardar seus mananciais, colocar fora de risco os espécimes mais valiosos dos reinos vegetal e animal ali existentes, são apenas alguns dos inúmeros cuidados que deve ter em mente o executor da atividade agrária, para que sua tarefa atinja a dupla finalidade emanada: produza os bens necessários à sobrevivência da espécie humana, mas respeite o meio que admite a consecução desta primeira finalidade, na intenção e esperança que continue a admiti-la, por meio do trabalho e controle das populações do futuro.

Como visto, o autor demonstra a preocupação com a forma produtiva realizada no país, salientando a necessidade de preservação da flora e da fauna, e como está interligada a atividade rural com a preservação ambiental.

Proteção ambiental e propriedade rural

A função social da propriedade rural se cumpre quando consegue alcançar os seguintes requisitos constitucionais, dentro dos limites ambientais:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; (BRASIL, 1988).

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Esta previsão constitucional sobre a função social, descrito no Art.186 e seus incisos, evidenciam que o aproveitamento racional e adequado da propriedade rural deve ser realizado com práticas de manejo agrícola a qual preservem o solo como patrimônio nacional que é para as futuras gerações. Para que isso ocorra, é necessário do homem junto a terra para seu manejo adequado, respeitando as disposições que regulam as relações de trabalho, ou seja, o bem-estar do proprietário da propriedade rural, como seus trabalhadores, gerando a partir desta relação uma boa qualidade de vida. A falta de atendimento a estes requisitos mínimos, estará sujeito a perda de sua propriedade para fins de reforma agrária.

Para Silva (2010, p. 224),

[...] o tratamento de um, sem considerar-se o outro - prossegue -, estará incompleto. A terra é o traço comum entre ambas as preocupações juspolíticas; para a agricultura é a fonte de riqueza e para a ecologia é a fonte da vida. Bem como a ninguém interessa a preservação sem progresso, mas, tampouco, a ninguém pode interessar o progresso sem futuro.

Em virtude deste elo de ligação entre o desenvolvimento agrossilvipostoril e a preservação ambiental, foi necessário a reedição do Código Florestal Brasileiro, publicado em 2012, do qual trouxe diversos aspectos que implicam sobre as propriedades rurais e sua produção agrícola.

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2 A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E O NOVO CÓDIGO FLORESTAL

É notório que a perda progressiva da biodiversidade tem afetado a terra como um todo, apresentando mudanças climáticas severas. A atribuição para estas alterações severas está intimamente ligada às ações provocadas pelos seres humanos. Suas formas produtivas, o consumo desenfreado, as ambições tecnológicas e a forma de se relacionar com os grandes biomas e o ecossistema, exaurindo a estrutura ecológica, podendo se dizer que está ocorrendo em larga escala pelos cinco continentes.

Canotilho e Leite (2015, p. 7) remontam a questão ambiental posta em evidência na Conferência Internacional da ONU, a RIO +20:

No tripé do desenvolvimento sustentável, foram relembrados e postos em relevo os requisitos da sustentabilidade: o economicamente viável, o

socialmente justo e o ecologicamente prudente. O “ambiental”, que é o

resultante da interação do homem com a natureza, compreende esses três requisitos, não é um requisito a mais. Ele é abrangente, holístico. Essa clareza conceitual nos leva a questionar formulação hoje corrente: econômico, social e ambiental, porquanto ela deforma o “ambiental” e omite o ecológico, que é básico. (grifo dos autores).

Os autores ainda fazem uma consideração preponderante entre a produção e o meio ambiente:

Sob o prisma macroeconômico, e diante da conjuntura dos recursos naturais, não se pode rejeitar a afirmação de que a floresta em pé vale muito mais do que a floresta derrubada. Em outro ângulo de visão, não se pode privilegiar cultura e pecuária extensivas com o sacrifício desproporcional da cobertura florestal, porque o desequilíbrio ecológico redundará fatalmente em desequilíbrios econômicos. (CANOTILHO; LEITE, 2015, p. 8).

Afastando-se das diferenças entre ruralistas e ambientalistas, a análise sobre o texto legislativo do novo código florestal, n.12.651, em 25 de maio de 2012, e suas alterações geradas pela Lei 12.727, em 17 de outubro de 2012, quer demonstrar as implicações econômicas, sociais e ecológicas trazidas por esta nova roupagem legal e que possuem interferência direta ao desenvolvimento sustentável.

Na sequência analisa-se as medidas polêmicas do novo código florestal sobre as áreas de preservação permanente – APP, reserva legal – RL, e o cadastro

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ambiental rural – CAR, institutos importantes para o Direito Ambiental e para a aplicação do ambiental do código florestal.

2.1 Algumas medidas polêmicas do Código Florestal Lei 12.651/2012

Após anos de incansáveis discussões, ajustes e um longo período de tramitação junto ao Poder Legislativo, com incrementos participativos por cientistas e técnicos da área, um novo compêndio legislativo foi aprovado, com normativas mais atualizadas, mesmo que não sendo perfeitas, estão mais adequadas com as necessidades apresentadas a muito tempo pela política florestal e ambiental do país.

Como se pode observar, a nova legislação florestal se preocupou em trazer mais clareza de definições e conceitos. Com melhor definição, o artigo 3º da Lei trouxe conceitos bem definidos, preocupando-se com o entendimento de expressões técnicas e jurídicas, com interesse de reduzir possíveis distorções na sua aplicação diária.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13º S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44º W, do Estado do Maranhão;

II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

IV - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio;

V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006;

VI - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana; VII - manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os

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mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços;

[...]. (BRASIL: 2012).

O artigo 3º da Lei acima citado possui o inciso II, como de grande relevância por assim dizer, e de impacto significativo para a atividade agrícola do país, pois que as técnicas dos processos produtivos tiveram pouca evolução na prática, quando comparado ao formato aplicado pelos primórdios que aqui iniciaram suas atividades agropastoris, e o impacto causados por eles junto as APP’s, o presente inciso apresenta o conceito das áreas de preservação permanente – APP, como, área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

2.2 Sobre as áreas de preservação permanente - APP

O inciso II do artigo 3º trata da definição de APP como área protegida, “coberta ou não por vegetação nativa”, sendo necessário esclarecer este intento, principalmente a parte disposta sobre a parte “ou não”, e isso se refere as áreas já desmatadas, para que mesmo a vegetação não estando ali mais presente, sendo aquele local classificado no passado como APP, estaria protegido pela Lei. Para além deste entendimento, as áreas rochosas também foram incluídas nestas áreas, tendo em sua característica apenas a vegetação esparsa emergido de falhas ou frestas, mas atendendo assim mesmo os requisitos dispostos para o enquadramento.

Trazendo em seu contexto a explicação para a finalidade das áreas de preservação permanente, que seria: preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Sobre as APP´s, temos a função ambiental, disposta no inciso II do art.3º, estando de forma explicita em alguns de seus dispositivos. Junto ao inciso VIII, possui a definição de atividades consideradas de utilidade pública, logo no inciso IX, os de

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interesse social, e por conseguinte, no inciso X, alíneas i e j, as de baixo impacto ambiental, dos quais agora possibilitam o uso ou intervenção das áreas de APP, desde que não prejudiquem sua função ambiental.

As novas disposições sobre as áreas de preservação permanente, bem como as de reserva legal na nova legislação florestal vieram a elucidar circunstâncias rotineiras dentro das propriedades rurais para que de certa forma sejam disciplinadas ao intuito de buscar uma consciência ambiental, de maneira que sejam preservadas as características mínimas necessárias para a conservação da flora nativa e fauna silvestre, possibilitando mesmo sendo áreas de proteção, seu manejo.

2.3 Sobre a reserva legal - RL

O inciso III, do artigo 3º do novo código florestal, suscita sobre a reserva legal, conceituando como:

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa; (BRASIL, 2012).

A reserva legal - RL tem por característica definir uma área mínima que deve ser mantida com cobertura vegetal, em uma propriedade rural, com os padrões estabelecidos pelo artigo 12 da presente Lei:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

I - localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). (BRASIL, 2012).

Devido à grandiosidade do território brasileiro e toda a sua diversidade ambiental, foi substituído o termo “floresta”, por “vegetação nativa”, pois nem em todo

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o território possui formação de florestas, como por exemplo os campos naturais, as planícies inundáveis da região pantaneira.

Uma forte divergência dentro do próprio inciso III do artigo 3º está dentro da sua redação em que incluiu a função do “uso econômico” para a reserva legal - RL, pelo qual vai ao contra ponto da função estabelecida para a RL que é de “auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa” (BRASIL, 2012I). Este “uso econômico” incluído ao inciso III do artigo 3º vai possuir explicação junto ao artigo 17, parágrafo 1º do presente código, que admite a exploração econômica da reserva legal mediante manejo sustentável, previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de acordo com as modalidades previstas no art. 20.

O manejo sustentável poderá ser constituído de duas formas, sendo a primeira sem propósito comercial, conforme previsão no artigo 20, mencionado na letra da lei:

Art. 20. No manejo sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal, serão adotadas práticas de exploração seletiva nas modalidades de manejo sustentável sem propósito comercial para consumo na propriedade e manejo sustentável para exploração florestal com propósito comercial. (BRASIL, 2012).

Este consumo não comercial, com intuito de suprimento interno da propriedade rural estaria relacionado com o cultivo de arvores frutíferas, captura de sementes, cipós e folhas, dentre outras possibilidades, desde que observadas as orientações legais permitidas, quanto aos períodos e épocas, sem que coloque em risco as espécies que ali habitam, como previsto no artigo 21:

Art. 21. É livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes, devendo-se observar:

I - os períodos de coleta e volumes fixados em regulamentos específicos, quando houver;

II - a época de maturação dos frutos e sementes;

III - técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência de indivíduos e da espécie coletada no caso de coleta de flores, folhas, cascas, óleos, resinas, cipós, bulbos, bambus e raízes. (BRASIL, 2012).

E como se não bastasse a possibilidade de manejo para uso não comercial, o artigo 22 da referida Lei florestal, abre uma nova “brecha”, vejamos:

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Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de autorização do órgão competente e deverá atender as seguintes diretrizes e orientações:

I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área;

II - assegurar a manutenção da diversidade das espécies;

III - conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas. (BRASIL, 2012).

Esta segunda modalidade, com finalidade comercial, irá demandar o “manejo sustentável”, pelo qual não poderá descaracterizar a cobertura vegetal, não prejudicar a conservação da vegetação nativa, assegurar a manutenção da diversidade das espécies, e, conduzir o manejo de espécies exóticas com a adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

Estas alternativas que e apresentam ao uso econômico da reserva legal, demonstram como existem pontos contraditórios e necessários ainda de estudo e adequação dentro desta nova legislação, pois a forma mais clara de uma propriedade rural cumprir com o princípio da função social e ambiental qual se propõe é realizar a manutenção da reserva legal, sem intervenção humana com intuído econômico, seja para uso interno da propriedade, seja para uso comercial, do qual desvirtua o verdadeiro sentido para o qual a função da reserva está enquadrada.

Ainda na discussão dos pontos controvertidos das mudanças previstas na Lei Florestal, agora em relação à continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas consolidadas em APP até 22 de julho de 2008, o art. 61 – A, parágrafos 1º, 2º, 3º, 4º, 5º e 6º, apresentam uma divergência no entendimento prático, em que as áreas de APP inferiores as descritas no artigo 4º, das quais devem ser recuperadas ou autorizadas a continuidade das infraestruturas construídas. Para compreender de forma mais clara a diferença de interpretação, faz necessário compreender que as faixas de APPs exigidas continuam como APPs, no entanto, á exceções em poder haver sua exploração e/ou manutenção da infraestrutura, para àquelas atividades ou infraestruturas consolidadas antes de 22 de julho de 2008, salientando que o status jurídico permaneceram como APPs. O principal entendimento que deve haver entre os proprietários rurais, é que a faixa de APP não se alterou, mas que a sua utilização em casos especiais é permitido, e como ponto fundamental é que a faixa de reconstituição da vegetação nativa não

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corresponde com a faixa de APP exigida no artigo 4º. Estas faixas de reconstituição variam conforme tamanho da área da propriedade e a largura mínima, vejamos:

Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.

§ 1º Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

§ 2º Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

§ 3º Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d’água.

§ 4º Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais:

II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.

§ 5º Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros.

§ 6º Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal com largura mínima de:

I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal; II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais;

III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais; e

IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais. (BRASIL, 2012).

Como este é um ponto que suscita dúvidas, voltamos a frisar que a área de APP continua a mesma conforme exigido no artigo 4º:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

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I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; (BRASIL, 2012).

As exceções não se estendem para toda a área da propriedade nos locais que não houve a supressão da vegetação e não existe atividade consolidada e/ou residência e infraestrutura construída antes de 22 de julho de 2008, o que irá ocorrer é recortes na área de preservação permanente devido às exceções, não possibilitando novas supressões de áreas dentro dos limites da Área de Preservação descritas pelo artigo 4º. De forma ilustrativa, o entendimento se demonstra lúdico:

Figura 1: Mapa de imóvel rural com APP e reserva legal demarcada

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