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O desenvolvimento da competência funcional, o saber-fazer cotidiano com Diabetes Mellitus tipo 2 tem sido amplamente discutido nas Redes de apoio a diabéticos pelos estudiosos da área há muito tempo. O trabalho realizado por Cyrino (2005) em São Paulo serviu como fonte teórica de inspiração ao Ministério da Saúde na implantação das Políticas Públicas depois da promulgação da Lei nº. 11347. O autor se fez presente, como Consultor, desde as primeiras discussões acerca do tema e trouxe à tona aspectos, de fato, muito importantes em relação ao acompanhamento de diabéticos usuários do SUS.

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As competências na pesquisa realizada por Cyrino (2005:90) foram definidas como sendo “a capacidade do indivíduo mobilizar distintos saberes para dominar situações problemáticas concretas com que se defrontam no cotidiano, desenvolvendo-se atitudes e práticas relativas ao autocuidado e autocontrole no diabetes”. Ele chama a atenção dos leitores para que não entendam “competência” enquanto “um campo de ‘possibilidades de ação’ que se realizam ou não, mas um conjunto de saberes ‘em ação’ que se efetivam provocados por uma situação real”.

A classificação entre competências “requeridas”– enunciadas por especialistas em Diabetes, tidas como obrigatórias ao autocuidado e ao autocontrole a as “efetivas” – enunciadas pelos próprios pacientes entrevistados, que correspondiam “ao que os indivíduos efetivamente detêm ao viverem a doença” também foi apresentada pelo autor (2005:89), que afirma:

muito menos que uma oposição entre conhecimento técnico-científico e saberes da experiência, trataremos de reconhecer e valorizar este último como um verdadeiro pólo de conhecimento, apontando para as possibilidades que se abrem seja para fortalecer o diálogo entre profissionais – com seus conhecimentos técnico-científicos – e portadores, com a riqueza dos saberes provenientes de sua experiência cotidiana, seja para instaurar outros e inexplorados usos deste saber no interior do novo campo da inteligência coletiva

Esta noção nos enseja a todos – enquanto profissionais que trabalham com Educação em Saúde em Diabetes Mellitus – a articulação entre saberes e ação de uma outra ordem que não aquela centrada na mera transmissão de informações para a mudança de comportamento – usualmente adotada nos programas universalizantes que acabam, inevitavelmente, gerando a não-adesão dos pacientes.

Moreira e cols. (2009:116) relatam, após vasta revisão bibliográfica sobre aspectos das ações educativas que facilitam e/ou complicam a adesão de pacientes idosos ao tratamento de Diabetes Mellitus 2, que os facilitadores e complicadores da adesão às atividades educativas eram muitas vezes oriundos da falta de preparo dos profissionais de saúde para lidar com esses pacientes. Os autores citam:

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o tratamento da diabetes depende, dentre outros fatores, da aprendizagem sobre a doença. [...] os processos "educativos” que se limitaram apenas à transmissão de informações sobre diabetes aos idosos, com educadores sem habilidades didático-andragógicas, não promoveram mudança de atitudes. Estudos sobre programas educativos referem- se às limitações de intervenções que se restringem a um elenco de conferências, com informações a respeito da doença, suas complicações e os cuidados que elas demandam

Eles demonstram, claramente, a diferença entre “saber” e “saber- fazer” citada por Cyrino (2005), ao tempo em que ressaltam a necessidade de constante capacitação para os profissionais envolvidos neste trabalho de Educação em Saúde em Diabetes Mellitus. Eles afirmam (2009:116):

porém, alguns trabalhos demonstram que aumentar o nível de conhecimento e consciência a respeito da doença não se traduz, necessariamente, em aplicação dos conhecimentos adquiridos, sendo preciso um trabalho permanente para causar a mudança de comportamento almejada. Para realizar ações educativas com idosos diabéticos, a equipe multiprofissional de saúde deve ser andragogicamente capacitada, considerando as diversas características relacionadas à doença, sua fisiologia e tratamento e ao processo de envelhecimento, além dos aspectos sociais, psicológicos, econômicos, culturais e religiosos do indivíduo

As competências identificadas no discurso dos pacientes aqui apresentados traduzem um saber-fazer, pois foram referidas à vivência de uma situação-problema, enquanto uma situação cotidiana que representou um obstáculo ou uma dificuldade à realização do cuidado-de-si, tal como citado por Cyrino (2005).

O mesmo autor (2005:92) faz a distinção entre as competências que exprimem dois tipos de conhecimento: o “saber” – conhecimento que expressa a compreensão e o entendimento mais técnico da doença, exemplificado como “conhecer valores de glicemia”; e o “saber-fazer” – habilidade ou destreza para executar uma determinada tarefa necessária ao cuidado; um saber mais prático, mais relacionado ao cotidiano, do tipo: “saber usar o glicosímetro”. Os resultados apresentados pelo autor citaram as barreiras de natureza psicológica e social como atenuantes presentes no desenvolvimento dessas competências.

Por fim, Cyrino (2005:127) retoma a importância das redes de apoio aos portadores de Diabetes Mellitus e o enorme potencial humano de aprender

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sempre: “a capacidade dos homens produzirem saberes em sua vivência cotidiana pode ser ampliada se pudermos identificar, disponibilizar, partilhar esses saberes e competências entre coletivos mediante o estabelecimento de espaços de cooperação mútua”.

O autor assume a relevância de ter, no seu estudo, se aproximado de um outro modo de pensar a ação humana ao superar a “mecânica articulação conhecimento-comportamento” (2005:231). A apreensão desse saber advindo da prática, da vivência cotidiana a partir de um problema experimentado permitiu ao referido autor retomar pressupostos aqui também achados. Ele escreve (2005:232):

esta relação problema-saber-ação, tratada sob outra perspectiva desde os seminais estudos de Paulo Freire, foi essencial para que pudéssemos explorar o reconhecimento de saberes e competências, advindas da experiência cotidiana dos diabéticos, incitados por seus campos problemáticos. Foi, sobretudo, a construção desta cartografia dos diferentes saberes (...) nosso resultado mais relevante, por expor a rica diversidade e singularidade destas riquezas humanas

Ele retoma a importância de se reconhecer, valorizar, disponibilizar e partilhar saberes e competências; cita esses verbos como tendo guiado a sua investigação ética, técnica e epistemologicamente a buscar um outro modo de articular a Comunicação e Educação nas práticas de Saúde: palavras e exemplo por nós tomados como referências nesta pesquisa.

OBJETIVOS

GERAL: O presente trabalho analisou relatos verbais de pacientes diabéticos tipo 1 acerca do cotidiano com a doença a fim de que estes possam ser utilizados nos contextos de Educação em Saúde em Diabetes Mellitus.

ESPECÍFICOS:

1. Identificar nas narrativas de pacientes DM1 o saber constituído e construído com a doença;

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2. Avaliar como esse saber e experiência interferem no relacionamento dos pacientes com a própria condição, seus cuidados e com aspectos sociais na busca por aceitação, nas expectativas em relação à vida própria e do coletivo em que vivem;

3. Oferecer alternativas de uso deste saber em Programas de Educação em Saúde em DM.

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CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS