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7. Alguns aspectos do modo de vida do operário metalúrgico em Pirapora

7.4 Sobre o sindicato e o lazer no sindicato

Apesar das divergências existentes, a compreensão comum dos entrevistados define o sindicato como uma ferramenta necessária para defender os direitos dos trabalhadores. Essa

compreensão geral da função social da entidade classista, no entanto, está longe de dirimir as diferenças sobre como se deve ser a atuação do sindicato nas questões econômicas cotidianas.

Duas razões diferentes foram utilizadas para justificar o fato de alguns dos entrevistados não serem filiados: uma porque a empresa vê com desconfiança e persegue quem é sindicalizado e, pela necessidade do emprego, resolveu não se filiar e outra que não se filiou por não concordar com a forma de atuação da diretoria do sindicato e por essa não ter uma “política eficiente”. Os críticos do sindicato colocaram como principal problemática a forma supostamente agressiva dos diretores em sua atuação sindical cotidiana. Segundo eles, o sindicato perde a credibilidade, está distante da base e não sabe dialogar com os patrões, o que tem ocasionado derrotas nas campanhas salariais.

“O sindicato pra mim é uma necessidade do trabalhador. O trabalhador necessita da existência de um sindicato. Ainda que ele não seja eficiente, que não tenha uma política eficiente. Mas, o trabalhador necessita da existência dele, porque o empresário como controlador da única coisa que tem o trabalhador, que é a mão-de- obra dele, se deixar, ele faz do trabalhador um escravo”. (Richard, operário do setor administrativo da LIASA).

“(...) não sou filiado ao sindicato porque nunca ninguém me procurou, (...) nunca me propôs uma política eficiente” (Richard, operário do setor administrativo da LIASA).

“Ter um sindicato é muito bom, e o papel dele é tá tratando os nossos interesses com o nosso patrão e tá lutando pela classe. Porém, hoje eu

Ilustração 17. Participação de representante do Sindicato dos Metalúrgicos de Pirapora em manifestação contra

Ilustração 18. Momentos de confraternização entre diretores do sindicato e festa na sede social do sindicato. Foto:

Acervo do sindicato.

vejo que em Pirapora, (...) são pessoas despreparadas. (...) aqui eles são muito brigões, poderiam dialogar mais (....)” (Johnnatan, operário da Inonibrás).

“(...) eu não sou contra o sindicato não, só não sou filiado porque a Inonibrás ela, eles não admitem isso, mas ela parece que tem medo de que as pessoas filiar e querer entrar lá dentro, da diretoria. Tem caso lá que a pessoa filiou e no outro dia ela foi demitida” (Johnnatan, operário da Inonibrás).

Para justificar essa crítica, avalia que a última campanha salarial não foi fechada e a empresa adiantou um reajuste abaixo do que a categoria reivindicava e simplesmente não houve convenção coletiva, prejudicando o acordo coletivo do ano seguinte. Conseqüentes com essas críticas consideram o boletim do sindicato “Boca de Forno”, em particular a coluna de denúncias “Boca Maldita”, muito ofensiva com os chefes e encarregados e, sob a ótica desses operários, esses são trabalhadores muitas vezes sindicalizados e que necessitam ser defendidos e não desmoralizados ou agredidos verbalmente e em público. Por último, avalia que os diretores são despreparados e necessitam de “treinamento” e capacitação técnica.

“Vamos supor, você é um supervisor de um setor. E você tem uma metodologia de trabalho lá, aí o sindicato não aceita aquela metodologia de trabalho. Eu acho que o sindicato tinha que chegar em você e pedir pra você mudar a metodologia de trabalho e não expor o cara no panfleto.” (Richard, setor administrativo da LIASA).

Outros entrevistados, reconhecendo da mesma forma a importância da entidade de classe, mas criticam a atuação do sindicato e dos diretores no marco da aprovação geral do método e da forma como age a diretoria da entidade. As divergências existentes no interior dessa diretoria têm se expressado com freqüência. Existe, de certo modo, uma avaliação geral de que é necessário melhorar a atuação dos diretores do sindicato no interior da fábrica e uma opinião de que é necessário ter preparo e formação para enfrentar o patrão, e não apenas desejo de ser uma liderança sindical.

“O sindicato pra mim é uma entidade que foi construída e constituída por uma classe de trabalhadores, com o objetivo de defender e ampliar os direitos, os interesses da classe trabalhadora.” (Orlando Silva, operário da LIASA).

“Infelizmente não é todo mundo que pensa igual e nem pode ser também, né? (...) mas eu falo que tem três tipos de diretor: tem aquele que é combativo, tem aquele que tá ali, que não serve nem pra uma coisa nem pra outra, que não ajuda, mas também não atrapalha e aquele que atrapalha. Nós já tivemos muitos problemas com diretores, eu já tive que, infelizmente, que tirar alguns diretores que só traziam problemas”. (Orlando Silva, operário da LIASA).

“O sindicato é a principal ferramenta de luta do trabalhador, é a única coisa que o trabalhador tem pra se defender do patrão” (Roger, operário da Minasligas).

(...) essa gestão é muito, aconteceram coisas nas empresas que nunca tinha acontecido do tempo que eu tava lá. (...) os trabalhadores pararam na porta, o negócio mais doido, nunca tinha visto aquilo. Polícia, patrão passando debaixo da cerca. Cara, a gente olha assim, pô, os caras tão lutando pela gente. O aumento, seu eu for falar que o aumento foi espetacular você não vai acreditar!”(Roger, operário da Minasligas).

A relação do lazer com o sindicato apareceu em algumas entrevistas e evidenciou que há demanda para que a entidade promova mais atividades de lazer aos trabalhadores para que não ficassem reféns dos clubes de fábrica. O sindicato promove atividades de lazer, principalmente jogos de futebol, churrascos e festas de fim de ano, posses de diretoria, mas realiza com pouca freqüência. Surgiu nas entrevistas também o desejo de que o sindicato pudesse ter uma sede social para ter um espaço bom para atrair os filiados e operários em geral, aumentando assim o número de associados e fortalecendo a entidade.

“Infelizmente o sindicato não tem, e eu acho que tem condições de ter, é um clube. Um lugar onde possa ter uma piscina, um campinho de futebol, porque se você vai no clube da empresa, está sujeito as leis da empresa, e eu já ouvi relato de companheiros que forma mandados embora porque brigou no clube. Então, se tiver um clube no sindicato na vai ter ninguém te olhando, pode brincar a vontade” (Roger, operário da Minasligas).

As assembléias da categoria são realizadas nos portões de entrada das fábricas, local onde ocorre a maior parte do diálogo do sindicato com a categoria, através de informes e panfletagens do boletim “Boca de Forno” na entrada e saída dos turnos e no interior dos ônibus que transportam os operários. Os trabalhadores não participam das assembléias na sede do sindicato e não existe comissão de fábrica em nenhuma das três empresas, mas há Comissão de Incêndio e Proteção a Acidentes (CIPAS) em todas elas, sendo que o presidente é indicado pela empresa e o vice é eleito pelos trabalhadores. Um dos entrevistados relatou que os cipeiros são importantes para a segurança dos trabalhadores, mas que existem limites impostos pelos patrões que constrangem os cipeiros que exercerem uma fiscalização mais

rígida no interior da fábrica. Segundo ele, em algumas questões os cipeiros sucumbem aos interesses da empresa por causa do medo de perder o emprego por enfrentar o patrão. Por mais que para um dos diretores, o papel da entidade classista não é de assistência social, o sindicato busca oferecer benefícios aos trabalhadores de sua base de representação.

Segundo ele, a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) possui quase 100 cláusulas que beneficiam o operário metalúrgico. Além disso, os benefícios sociais que o sindicato oferece são: convênio odontológico, aulas de computação, assessoria jurídica, as campanhas salariais,

por reajuste do vale refeição e o valor da PLR (Participação nos Lucros e Rendimentos).