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DIMENSÕES

4. Discussão

4.2. Sobre a Utilização

- 73 - 4.2.1. A utilização de métodos anticoncepcionais

Como prerrogativa inicial, considerou-se que acesso aos métodos contraceptivos única e simplesmente não representa para as mulheres a garantia da percepção de si mesmas como pessoas portadoras de desejos e de direitos.

Entretanto, muitas vezes, o acesso ao contraceptivo pode ser condição para que elass possam ter alternativas para suas vidas (Arilha, 1994).

A proporção de mulheres que utilizam métodos anticoncepcionais no Brasil vem crescendo desde a década de 1990, com isso, diferenças em sua utilização por faixas etárias. Garantir o acesso da população aos medicamentos, com as novas estratégias de dispensação, é uma das principais metas do Ministério da Saúde (Temporão, 2007). Na Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde (Bemfam, 1997), 55,4% das mulheres utilizavam algum método anticoncepcional, com destaque para a laqueadura e a pílula. Diversos autores já apresentaram essa concentração elevada de mulheres utilizando a pílula no Brasil e geralmente usadas sem prescrição (Vieira, 1994, Berquó, 1999, Giffin, 2002, Mora, 2003) (Quadro 11).

Quadro 11 – Parâmetros na literatura sobre utilização de métodos anticoncepcionais

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados Soranz & Giovanella

(2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres

entre 15 e 49 anos 68,0% das mulheres utilizam algum método anticoncepcional

Costa et al.,(1989), Rio

de Janeiro/RJ, Brasil. Inquérito domiciliar com 1.783 mulheres

entre 15 e 49 anos 66,8% das mulheres utilizam algum método anticoncepcional

Lacerda, et al. (2005), Belo Horizonte/MG, Recife/PE, Brasil

Inquérito domiciliar com 2.408 mulheres, entre 15 e 59 anos, em Belo Horizonte e Recife.

70,67% das mulheres de Belo Horizonte utilizam algum método anticoncepcional 71,86 das mulheres de Recife utilizam algum método anticoncepcional

UNFPA (2005), Mundo Estimativas 55% das mulheres utilizam algum método

anticoncepcional (estimativas para o mundo)

70% das mulheres utilizam algum método anticoncepcional (estimativas para o Brasil)

Bemfam (1997), Rio de

Janeiro e Brasil Entrevistas domiciliares com n=14.579,

PNAD, 1996 55,4% utilizam algum método (Brasil)

83,0% (Rio de Janeiro) Palavras-chave utilizadas na busca: utilização de métodos anticoncepcionais.

Na população estudada, 68,0% das mulheres relataram usar algum método anticoncepcional; dentre essas, o método principal relatado foi a pílula (42,3%), seguido da camisinha (28,1%) e da laqueadura (21,7%).

Comparando o estudo de Costa et al (1989) com este estudo, percebe-se a semelhança no padrão de utilização dos métodos, com exceção para a camisinha, que passou de 1,4%, em 1989, para 27,7%, em 2007.

Quando compara-se o perfil de utilização de Manguinhos (1989 e 2007) com perfil de utilização do restante do Rio de Janeiro, fica evidente a desigualdade social expressa no padrão de utilização dos métodos, ao longo dos últimos 20 anos.

Entretanto, considerando o padrão de desejo de utilização apesar da limitação de acesso, verifica-se uma semelhança com a distribuição para o município e o país. Ou seja, o desejo de utilização dos métodos das mulheres que vivem nas favelas do Rio de Janeiro é próximo à utilização da cidade, porém o acesso aos métodos é bem diferente. (Quadro 12).

Quadro 12 – Parâmetros na literatura sobre a distribuição de utilização de métodos anticoncepcionais

Utiliza Método

Autor /Ano/ Local

Camisinha Pílula Injeção DIU Laqueadura Vasectomia Métodos Naturais Diafragma Implante hormonal Não utiliza Método Soranz & Giovanella

(2008) (Atual),

Rio de Janeiro/RJ 19,1 28,8 2,7 1,7 14,8 0,6 0,4 0,0 0,0 32,0

Soranz & Giovanella (2008) (Atual+Desejo), Rio de Janeiro/RJ

60,1 12,9 1,4 9,2 30,2 0,5 1,8 0,5*- 0,5* 18,8 Costa et al., (1989)

(Manguinhos),

Rio de Janeiro/RJ 1,4 35,6 0,0 1,2 21,9 0,0 5,0 0,0 0,0 33,2

Bemfam (1997),

Rio de Janeiro 4,7 22,5 1,1 0,6 46,3 0,8 6,6 0,2 0,0 17,0

Bemfam (1997),

Brasil 4,4 20,7 1,2 1,1 40,1 2,6 6,1 0,1 0,0 23,3

Nota: Estimativas considerando recomendações mínimas de utilização diversificada de métodos.

(*) Apesar de não aparecer no questionário respostas com o desejo de utilização de diafragma e implante hormonal, foi considerado o percentual recomendado de 0,5% pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2002).

Para considerar a necessidade não satisfeita de anticoncepcionais, utilizou-se dois métodos de cálculo:

para o primeiro12, apresentado por Tavares (2007), de mulheres que não utilizam método algum e que gostariam de utilizar, a taxa foi de 5,6%, próxima à relatada por Tavares (7,3%). Porém, considerando o segundo método13, a proporção de mulheres que não consegue obter o método desejado, como demonstra Ross (1997), no Brasil, é de 27,9%.

Comparando-se o resultado do perfil de utilização na década de 1990 (Bemfam, 1997) aos resultados do estudo em Manguinhos, constata-se diferença de utilização de métodos contraceptivos em todas as faixas etárias (Tabela 33).

12Número de mulheres que desejariam utilizar métodos contraceptivos dentre as mulheres que não utilizam método algum, sobre o total de mulheres unidas (casadas ou com parceiros fixos).

- 75 - Tabela 33 - Proporção da população feminina em idade fértil por uso de métodos anticoncepcionais

segundo faixa etária, Brasil - 1996 versus comunidades de Manguinhos, Rio de Janeiro, 2007

Algum método

Esterilização

feminina Pílula Camisinha

Demais métodos Faixas

etárias Bemfam (1997)

POC/MP (2007)

Bemfam (1997)

POC/MP (2007)

Bemfam (1997)

POC/MP (2007)

Bemfam (1997)

POC/MP (2007)

Bemfam (1997)

POC/MP (2007)

15-19 14,7 45,7 0,1 0,0 8,8 13,2 3,3 29,8 2,5 2,8

20-24 43,8 71,8 5,9 0,0 26,1 42,8 5,2 19,1 6,6 9,9

25-29 64,7 76,5 21,1 9,6 27,0 39,9 6,5 17,3 10,1 9,6

30-34 75,4 71,6 37,6 9,1 21,4 38,4 4,7 20,8 11,7 3,3

35-39 75,3 62,3 49,0 23,4 11,9 21,1 3,8 14,9 10,6 2,9

40-44 71,2 75,7 53,4 36,2 6,7 27,6 3,6 9,9 7,5 2,1

45-49 61,7 74,2 47,6 40,6 3,3 9,4 2,6 19,7 8,2 4,5

Total 55,4 68,0 27,3 14,8 15,8 28,8 4,3 19,1 8,0 5,3

Fonte: Bemfam, Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, 1997, e trabalho de campo realizado em entrevistas domiciliares nas Comunidades de Parque Oswaldo Cruz (POC) e de Mandela de Pedra (MP), em Manguinhos, Rio de Janeiro, no período de julho a setembro de 2007.

4.2.2. Satisfação com o método anticoncepcional escolhido

Este estudo observou a distribuição das entrevistadas segundo quatro subcategorias relacionadas à sua auto-percepção de satisfação com o método anticoncepcional escolhido, registrando 71,1% das mulheres muito satisfeitas/satisfeitas com o método (20,8% muito satisfeitas e 50,3% satisfeitas) 10,7% pouco satisfeitas e 7,9% insatisfeitas. Já Osis (2004), ao analisar os dados de uma amostra de mulheres em Campinas, São Paulo, encontrou 85,0% nessa mesma categoria. O estudo de Osis (2004) também analisou as razões de insatisfação, dentre as quais se destacaram: os efeitos colaterais, a baixa eficácia do método anticoncepcional oral e a dificuldade de acesso.

A satisfação da usuária com o método utilizado foi próxima da satisfação em relação à unidade de saúde:

76,8% afirmaram estar muito satisfeitas/satisfeitas com o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (Quadro 13).

Quadro 13 – Parâmetros na literatura sobre a satisfação com a utilização do método anticoncepcional escolhido

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados

Soranz & Giovanella (2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre

15 e 49 anos 71,1% das mulheres estão satisfeitas /

muito satisfeitas com o método atual escolhido.

Osis (2004), Campinas/

SP, Brasil 250 mulheres que chegaram ao Ambulatório de Planejamento Familiar do CAISM em busca de um MAC

85,0% satisfeitas / muito satisfeitas

Costa et al. (1989), Rio

de Janeiro/RJ, Brasil. Inquérito domiciliar com 1.783 mulheres entre

15 e 49 anos 74% das mulheres estão satisfeitas

com o método atual escolhido.

Palavras-chave utilizadas na busca: método anticoncepcional satisfação.

4.2.3. Realização de consulta médica antes da utilização do método escolhido

É importante destacar que a escolha para utilizar um método anticoncepcional não exclui a necessidade de realização de uma consulta médica para avaliação dos aspectos clínicos que podem limitar essa escolha por parte da mulher. No estudo, para a soma das duas comunidades, 57,7% das mulheres afirmaram ter realizado essa primeira consulta antes da utilização do método, com diferença estatisticamente significante entre Mandela de Pedra (50,3%) e Parque Oswaldo Cruz (66,3%) (p-valor < 0,0001).

Bahamnodes (2006) observou que essa consulta médica antes da utilização de pílula anticoncepcional foi feita para a metade das mulheres (Quadro 14).

Quadro 14 – Parâmetros na literatura sobre a realização de consulta médica antes da utilização do método anticoncepcional escolhido

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados

Soranz & Giovanella (2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre

15 e 49 anos 57,7% das mulheres realizaram uma

consulta médica antes da utilização do método escolhido

Costa et al. (1989), Rio de Janeiro/RJ,

Brasil.

Inquérito domiciliar com 1.783 mulheres entre

15 e 49 anos 64% das mulheres realizaram uma

consulta médica antes da utilização do método escolhido.

Souza et.al. (2006),

Maringa/PR, Brasil Inquérito domiciliar com 384 mulheres entre

10 e 49 anos 35,9% das entrevistadas iniciaram o

uso da pílula após consulta prévia Ramos et al. (1975),

Brasil. Inquérito nas farmácias com 675 mulheres 27% das entrevistadas iniciaram o uso da pílula após consulta prévia Bahamondes (2006),

Campinas/SP, Brasil Entrevista com 284 mulheres atendidas pelo Programa Saúde da Família no estado do Paraná

50,0% receberam anticoncepcional após consulta médica

Palavras-chave utilizadas na busca: consulta médica antes da utilização do método anticoncepcional.

Quanto à questão da acessibilidade econômica para utilização de um método anticoncepcional, apenas 70,9% das mulheres afirmaram ter recorrido ao serviço público para a primeira consulta médica antes da utilização do método (Mandela de Pedra = 84,0%, Parque Oswaldo Cruz = 59,6%). Esses percentuais de procura aos serviços do SUS são baixos se consideradas as características socioeconômicas dessas

- 77 - comunidades, onde necessidades básicas de saúde, educação, emprego, renda e saneamento são visivelmente expressadas.

Chama a atenção que uma parte das mulheres deste estudo (16,3%) mencionou que a primeira consulta médica, realizada antes da utilização de um método anticoncepcional, tenha ocorrido com o pagamento mediante dinheiro do próprio bolso. E, ainda, no caso do Parque Oswaldo Cruz, 17,8% pagaram do próprio bolso e 22,6% das mulheres tiveram essa consulta custeada pelo plano de saúde.

4.2.4. Utilização de método anticoncepcional com contra-indicação clínica

Existem diversas contra-indicações clínicas para a utilização de cada um dos métodos anticoncepcionais.

Por isso, há necessidade de um acompanhamento médico, tanto na consulta inicial quanto ao longo do tempo. Para definir o número total de mulheres que utilizam um método anticoncepcional com contra-indicação clínica, foram somadas as mulheres com esse atributo em cada um dos três métodos, a partir das variáveis demográficas e de morbidade referidas no instrumento de campo. Nesse cálculo, foram considerados os anticoncepcionais hormonais (oral e injetável), o DIU e a laqueadura.

Para o cálculo das mulheres em uso de anticoncepcionais hormonais com contra-indicação, selecionaram-se as mulheres que relataram utilizar pílula ou injeção e referiram apreselecionaram-sentar pressão alta, doença cardíaca, dor de cabeça freqüente, algum tipo de câncer, diabetes, hábito de fumar e, de acordo com a observação realizada, obesidade (Quadro 15).

Quadro 15 – Definindo a variável ‘no de mulheres com contra-indicação clínica para uso de métodos anticoncepcionais (1) Regra para cálculo das contra-indicações de anticoncepcionais hormonais

Variável 21 (‘Pílula’ + ‘Injeção’, então em pelo menos uma das variáveis 8,9,10,11,17,18 = (‘sim’) (2) Para o DIU:

Variável 21 (‘DIU’), então, variáveis 13,14,15 = (‘sim’) e Variável 16 (‘>1’) (3) Para laqueadura:

Variável 21 (‘Laqueadura’), então, Variável 41 (‘<25 anos’) e Variável 65 (‘<3 filhos’)

+ Variável 36 (=’sim’) – Variável 40 (=´3.recomendação médica’ + Variável 37 (‘=2. Realizou por vontade alheia a sua vontade’

Itens= (1) +(2) + (3) (sem dupla contagem) Fonte: Elaboração própria.

No estudo, tanto as mulheres que utilizavam pílula ou injeção, como as mulheres que afirmaram ser laqueadas, apresentaram contra-indicação clínica relativa, totalizando 573 mulheres para as duas comunidades (52,3%), ou seja, entre as mulheres que utilizavam esses métodos, a metade apresentava contra-indicação clínica, com diferenças entre Mandela de Pedra (57,4%) e Parque Oswaldo Cruz (47,6%). Dias da Costa (2002) encontrou freqüência relativa percentual de 22,2% de contra-indicação entre mulheres do Rio de Janeiro que utilizaram pílula. Estudando o PSF de Maringá, Bahamondes (2006) estimou em 50,0% essa característica (Quadro 16).

Quadro 16 – Parâmetros na literatura sobre a utilização de algum método anticoncepcional com contra-indicação clínica

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados

Soranz & Giovanella (2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre

15 e 49 anos 52,3% das mulheres possuem

contra-indicação clínica para uso de pelo menos um método anticoncepcional Espejo (2003),

Campinas/SP, Brasil Entrevista com 472 mulheres 52,4% não alcançaram um escore maior que seis, classificado como adequado

Bahamondes (2006),

Campinas/ SP, Brasil Entrevista com 284 mulheres atendidas pelo Programa Saúde da Família no estado do Paraná

50,0% possuem alguma contra-indicação clínica

Soranz & Giovanella (2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre

15 e 49 anos 49,7% das mulheres utilizando pílula

com contra-indicação clínica relativa, para esse uso

Costa et al. (1989), Rio

de Janeiro/RJ, Brasil Inquérito domiciliar com 1.783 mulheres entre

15 e 49 anos 68,8% das mulheres utilizando pílula

com contra-indicação clínica relativa, para este uso

Dias da Costa (2002),

Rio de Janeiro/RJ, Brasil Entrevista com 766 mulheres entre 20 e 49

anos 22,2% das mulheres utilizando pílula

com contra-indicação clínica para esse uso

Souza et al. (2006),

Maringá/PR, Brasil Entrevista com 284 mulheres selecionadas

entre as 62 equipes do PSF em Maringá, PR 25,1% das mulheres utilizando pílula com contra-indicação clínica para esse uso

Costa et al. (1996),

Pelotas/RS, Brasil Entrevista com 677 mulheres de 20 a 49

incluídas 18% das mulheres utilizando pílula

com contra-indicação clínica para esse uso

Palavras-chave utilizadas na busca: anticoncepcional com contra-indicação clínica.

4.2.5. O pagamento de consulta médica para utilização de método anticoncepcional

Quanto à questão da acessibilidade econômica para utilização de um método anticoncepcional, 16,3% das mulheres afirmaram ter feito o pagamento em dinheiro para a consulta médica (Quadro 17).

Quadro 17 – Parâmetros na literatura sobre o pagamento de consulta médica antes da utilização de método anticoncepcional

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados Soranz & Giovanella

(2008)

Rio de Janeiro/RJ Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre 15 e 49 anos

16,3% das mulheres pagaram com dinheiro do próprio bolso a consulta médica

12,8% fizeram pelo plano de saúde

70,9% tiveram a consulta médica no serviço público.

Palavras-chave utilizadas na busca: pagamento de consultas de planejamento familiar.

- 79 - 4.2.6. Disponibilidade no setor público para utilização do método anticoncepcional escolhido

Outro indicador para mensurar a acessibilidade econômica ao método escolhido foi elaborado a partir da combinação de diversas questões apuradas para: (i) pílula ou injeção anticoncepcional (se quem utiliza sempre conseguiu pegar as pílulas no setor público); (ii) laqueadura tubária (se quem é laqueada pagou pela cirurgia); (iii) DIU (se quem utiliza o DIU pagou por ele); (iv) camisinha (se quem utiliza sempre conseguiu obter as camisinhas no setor público). Do total de 1.488 pessoas que utilizam pelo menos um método anticoncepcional, 716 (48,1%) afirmaram a disponibilidade do mesmo de forma gratuita, no setor público (Mandela de Pedra = 58,9%,, Parque Oswaldo Cruz = 35,7%).

Costa, em 1989, aponta que, em Manguinhos, 85,6% das mulheres obtinham a pílula por meio de compra direta e 95%, sem receita médica. Quase vinte anos após, somente 28,1% afirmaram sempre conseguir obter a pílula no sistema público.

4.2.7. Utilização de camisinha

Um indicador de utilização foi elaborado especificamente para a utilização da camisinha. Nesse caso, a proporção de mulheres cujos parceiros utilizam camisinha em todas as relações sexuais pode revelar a prática do sexo seguro, uma vez que previne contra as DST e a taxa de falhas apresentada pela literatura é baixa. Para o total das duas comunidades, estima-se em apenas 38,9% esse indicador (Mandela de Pedra = 42,2%, Parque Oswaldo Cruz = 33,5%, p-valor < 0,0001) (Quadro 18).

Quadro 18 – Parâmetros na literatura sobre a utilização de camisinhas em todas as relações sexuais

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados Soranz & Giovanella

(2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre 15 e 49 anos

38,9% afirmaram utilizar camisinha em todas as relações sexuais

79,5% afirmaram utilizar camisinha regularmente

Costa et al. (1989), Rio de

Janeiro/RJ, Brasil. Inquérito domiciliar com 1.783 mulheres

entre 15 e 49 anos 1,4% afirmaram utilizar camisinha Bemfam (1997), Rio de

Janeiro e Brasil

Entrevistas domiciliares com n=14.579, PNAD, 1996

4,3% afirmaram utilizar atualmente a camisinha

Sanches (1999), Rio de

Janeiro/RJ, Brasil Aplicação de 600 questionários em

Jovens de 16 a 25 anos 43,3% usam regularmente a

camisinha como método

contraceptivo Trindade (2001), Rio de

Janeiro/RJ, Brasil Aplicação de 300 questionários a mulheres

sexualmente ativas 77% das mulheres da amostra não usm camisinhas regularmente Siroma (2004),

Brasília/DF, Brasil

Entrevista com 146 alunas de escolas públicas e 123 de escolas particulares sobre o uso de métodos contraceptivos regularmente

81% das alunas de escolas públicas utilizam regularmente, 75% das alunas de escolas particulares utilizam regularmente.

Moreira (2004),

Florianópolis/SC, Brasil Entrevistas com 83 usuárias que colocaram

DIU em Florianópolis 9,6% utilizam camisinhas em todas as relações antes da colocação do DIU Palavras-chave utilizadas na busca: camisinha, planejamento familiar.

Quanto à distribuição do número de camisinhas que a mulher referiu como usadas pelo parceiro por semana, a dispersão variou de 1 a 30, com média = sete e mediana = quatro para Parque Oswaldo Cruz e média = quatro e mediana = três para Mandela de Pedra, revelando, nos dois casos, presença de um grupo de mulheres com 20 ou mais camisinhas por semana e distribuição heterogênea nas duas comunidades (Gráfico 10).

Gráfico 10 – Distribuição do número de camisinhas utilizadas por semana por idade, Parque Oswaldo Cruz e Mandela de Pedra, Manguinhos, Rio de Janeiro, 2007

0 5 10 15 20 25 30 35

15 20 25 30 35 40 45 50

MANDELA POC

Fonte: Trabalho de campo realizado em entrevistas domiciliares nas comunidades de Parque Oswaldo Cruz e de Mandela de Pedra, em Manguinhos, Rio de Janeiro, no período de julho a setembro de 2007.

Nota: A freqüência discrepante para a utilização de um número de 20 camisinhas por semana pode sugerir uma proteção constante, com uso desse método, eventualmente por profissionais do sexo.

Numero de camisinhas utilizadas por semana (n)

Idade (anos)

- 81 - 4.2.8. Participação de mulheres em reuniões educativas/atividades de grupo de planejamento familiar na unidade de saúde

Do total de mulheres em idade fértil pesquisadas que freqüentam o Saúde da Família, apenas 33,9%

afirmaram já ter participado de alguma atividade de grupo de planejamento familiar na unidade de saúde.

Essa participação é bem inferior àquela observada pelos estudos de Codes (2006) e Carvalho (2006), que registraram uma participação, respectivamente, de 41,4% e 60,5% (Quadro 19).

Quadro 19 – Parâmetros na literatura sobre a participação de mulheres em atividades de grupo de planejamento familiar na unidade de saúde

Autor / Ano / Local Desenho do Estudo Parâmetros Encontrados

Soranz & Giovanella (2008), Rio de Janeiro/RJ, Brasil

Inquérito domiciliar com 388 mulheres entre

15 e 49 anos 33,9% das mulheres participavam de

atividades de grupo de planejamento familiar na unidade de saúde

Codes (2006), Rio de

Janeiro/RJ, Brasil Entrevista com 487 mulheres na cidade de

Salvador para rastreamento de DST 41,4% participavam de algum grupo de planejamento familiar

Carvalho (2006),

Londrina/PR, Brasil Entrevista com 210 mulheres atendidas com diagnóstico de abortamento no Hospital Universitário

60,5% tinham participado de grupo de planejamento familiar

Palavras-chaves: grupos educativos de saúde / planejamento familiar.