• Nenhum resultado encontrado

Sociedad Española Proteccion y Beneficencia

Capítulo III – IMPLANTAÇÃO DO ASSOCIATIVISMO MUTUALISTA EM L ISBOA NA SEGUNDA

2. Estrangeiros no movimento associativo mutualistas de Lisboa em finais do século XIX

2.1 Sociedad Española Proteccion y Beneficencia

A Sociedad Española Proteccion y Beneficencia182 surge na sequência de uma reunião de “súbditos Españoles” realizada a 3 de Setembro de 1871, em Lisboa, no bairro de S. Pedro de Alcântara. Por ocasião da sua fundação, esta associação elabora um projeto de estatutos aprovados por alvará de 26 de Fevereiro de 1871, pelos quais se passa a reger e onde se afirma que é condição expressa desta associação que toda a sua documentação e expediente sejam escritas em espanhol. Os estatutos determinam que a sociedade é constituída por todos os indivíduos de nacionalidade espanhola domiciliados na cidade de Lisboa e arredores e por todos os concidadãos e outras pessoas de qualquer localidade que pretendam auxiliar a associação, estendendo-se esta admissão a indivíduos de ambos sexos. Porém, as mulheres e os “varões” menores de 18 anos não se podem pronunciar, nem tem direito de voto nas deliberações da associação. Deste modo, vemos que também no seio destas associações a mulher se vê privada do direito de voto.

Para corresponder ao tratamento fraterno que as associações portuguesas da cidade de Lisboa têm dispensado aos “súbditos espanhóis”, a admissão de sócios é alargada a “súbditos portugueses” que pretendam associar-se à mesma e que reúnam as condições impostas nos

181

Veiga, Teresa Rodrigues, “As Realidades Demográficas”, in Portugal e a Regeneração, Vol. X da

Nova História de Portugal, dir. por Sousa, Fernando de e Marques, A.H. de Oliveira, Lisboa, Editorial

Presença, 2004, p. 17.

182

Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Cota: DGCI/RCI/1- S/Mutualismo.

93

estatutos. No entanto, o número de sócios portugueses não pode ultrapassar a terça parte do número de sócios espanhóis para que esta associação mantenha o seu carácter de associação espanhola. É imposto também nos estatutos que não possam ser incluídos nas suas atividades assuntos religiosos ou políticos, pelo que são admitidos os sócios independentemente do seu credo ou opinião política.

Como associação de socorros mútuos, a Sociedad Española Proteccion y Beneficencia propõe-se promover o auxílio mútuo, tendo como fins socorrer os seus sócios na doença, através de visitas de facultativos da associação que lhes fornece medicamentos; quando necessário sustentar os sócios em situação de velhice, inabilidade, acidente e qualquer outra causa considerada justa; no caso dos sócios se encontrarem em situação de não poderem efetivamente trabalhar; auxiliar os sócios em caso de prisão, fornecendo-lhes alimentos até que sejam julgados e sentenciados e ainda, caso sejam presos injustamente e não tendo recursos, a associação ajuda- os a pagar a sua defesa; ajudar os sócios em caso de saída de Portugal por necessidade imperiosa; pagar um funeral “decente” aos sócios e atribuir uma pensão mensal às respetivas viúvas ou órfãos, de acordo com os recursos pecuniários que a associação disponha na altura.

Define-se ainda que quando a associação apresentar fundos suficientes, será proposta a criação de uma enfermaria com todas as condições de higiene exigidas por lei, onde se prestará assistência aos seus sócios e onde os sócios doentes deverão ser tratados se o facultativo que os visitar decidir que os doentes não têm condições no domicílio para um rápido restabelecimento.

A instrução dos sócios e dos seus filhos é também considerada uma prioridade para a Sociedad Española Proteccion y Beneficencia, afirmando-se nos seus estatutos que tem como fim moral, difundir o ensino elementar, promover o aperfeiçoamento moral e intelectual dos sócios que pertencem às classes trabalhadoras, e ainda complementar a formação dos sócios, divulgando-lhes conhecimentos de economia industrial e doméstica, explicar-lhes as leis que os regem, para que as possam cumprir e tenham conhecimento dos seus direitos. Para esse efeito, propõe-se criar, desde logo, uma escola ou aula noturna, uma biblioteca e um gabinete de leitura. Contempla também os órfãos espanhóis que estiverem interessados naquela valência, admitindo- os mesmo que os seus pais não sejam sócios da associação. Esta associação alarga o acesso à sala de leitura a indivíduos não sócios, mediante o pagamento de uma pequena quota, onde os mesmos podem consultar livros.

94

O apoio aos sócios nas questões do trabalho é também objeto importante da associação, determinando-se que os seus corpos gerentes nomeiem comissões a fim de procurar, por todos os meios que lhe for possível, trabalho para os sócios desempregados, inspecionar se as faltas de trabalho são justas e se são cometidas injustiças e abusos contra os mesmos, dando conhecimento à direção da associação para que esta interceda por eles de acordo com as leis vigentes. Propõe-se também averiguar a vida dos sócios com procedimentos de má conduta, informando a direção se estes não são dignos de continuar a pertencer à associação.

Deste modo, está implícito no projeto de estatutos desta associação que esta adquire um carácter híbrido, pois é nítido que conjuga características inerentes às associações de socorros mútuos, com características inerentes às associações de classe.

Quanto ao valor da quota a pagar pelos sócios, é a assembleia-geral que o decide. Todavia, é determinado que o seu valor deve ser o mais baixo possível para que os associados mais pobres a possam pagar. Tendo em conta os baixos recursos económicos da maioria dos sócios, os fundadores, afirmando-se conscientes da benéfica mas consequente difícil missão a desempenhar, determinam que a direção daquela assembleia está autorizada, com licença da autoridade competente, em qualquer altura, a promover iniciativas (bazares, subscrições, etc.) para angariar fundos pecuniários a fim de auxiliar a associação.