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Mapa 05: Área de atuação do Programa Ruanda

4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AÇÕES SOCIAIS NA CONFIGURAÇÃO

4.2 Sociedade: como os campinenses “encaram” esta problemática social

Existe um problema social que ocorre no espaço urbano, das médias e grandes cidades, que se refere à presença constante de crianças e adolescentes em áreas de risco, e isso já foi exaustivamente mencionado ao longo do estudo. Portanto, ao elaborarmos este

subitem,direcionar-nos-emos para uma análise dos cidadãos campinenses, frente a essas frequentes presenças, as quaisse podem identificar em várias áreas da cidade. Questionamo- nos desta maneira: até que ponto precisamos nos insensibilizarmos diante de tais fatos? Um dos grandes teóricos brasileiros, Paulo Freire (1989, p.26), discorre sobre a necessidade de objetivarmos o objeto, para compreendermos a realidade e a problemática referente à presença dessas crianças e adolescentes em situação de risco, em especial, ao afirmar que:

Por isso, precisamente, por causa disso é que há uma diferença fundamental entre darmo-nos conta e procurar conhecer os fatos, as coisas. Quando se procura conhecê-los, se toma distância dos fatos e das coisas, se pergunta sobre eles. E isso que, em linguagem mais técnica se chama de OBJETIVAR O OBJETO. Isto é, a pessoa se detém diante dele e diz: o que é a caneta? Nesse momento, a mente muda de atitude, muda de postura, muda de posição com relação ao comportamento da mente no normal, no cotidiano. Quer dizer, a mente se enquadra numa posição de quem quer conhecer. A mente se prepara toda na “curiosidade” diante do objeto. Ela “se arrepia”, se “emociona” diante do objeto. Ela pergunta. Ela indaga. Esta não é a posição normal da mente na cotidianidade. Se o fosse não tinha quem aguentasse. Destarte, ao objetivarmos o objeto, ou seja, ao direcionarmos os olhos para esta população infanto-juvenil que encontra-se marginalizada por um sistema que garante os direitos a uma minoria, estaríamos dando o primeiro passo para transformamos esta situação. Transformaríamos a insensibilidade dos fatos em sensibilidade e, através desta sensibilidade, elaboraríamos ações que poderiam ser efetivadas e, se não solucionassem os fatos, poderiam amenizá-los. Portanto, direcionar o olhar para esses indivíduos como sujeitos que estão sendo vitimados por um sistema seletivo/excludente, e não como “merecedores” desta situação, dar- se-ia um passo decisivo, para, por exemplo, elaborações de políticas públicas objetivando solucionar esta problemática (fotografias 23 e 24). Estaríamos, portanto, diante de uma sociedade humanista, ou seja, que busca melhorias para o mundo, e não diante de uma sociedade humanitarista, que realiza algum “beneficio”, pois será beneficiado, também, pelo Estado ou pela sociedade, como ressalta Freire (1989).

Fotografias 23 e 24: Adultos “ignoram” a presença dessas crianças e adolescentes, que frequentam e fazem uso de substâncias psicoativas nas praças.

Fonte: Renata da Silva Barbosa, 2013.

Na pesquisa realizada “in loco”, onde foram aplicados 440 questionários, alguns questionamentos foram direcionados para a percepção desta problemática. E o resultado obtido foi algo surpreendente de modo positivo, visto que, se partimos da análise de Freire (1989), no qual o primeiro passo seria objetivar o objeto, a sociedade campinense, “parece” já ter consciência deste problema social, pois 59% evidenciaram que a mais de três anos têm percebido a presença dessas crianças em áreas de risco, 18% corresponde aos que acreditam que faz em média dois a três anos que tem notado constantemente a presença desses e 23% dos entrevistados tem notado a menos de um ano a presença dessas crianças e adolescentes em situação de risco. Podemos, a partir dessas informações, desenvolver duas linhas de raciocínio, que poderão esclarecer esta crescente percepção dos cidadãos de Campina Grande diante desta problemática.

Uma primeira linha de investigação direciona-se para uma preocupação, seguida de uma informação que a sociedade possui, na qual essas crianças e adolescentes que encontram- se nas ruas, praças, parques e semáforos da referida cidade são sujeitos de direitos. Destarte, encontrar esses indivíduos nessas áreas de risco, vai de encontro à política-legislativa, elaborada até então, para proteção integral dessa população infanto-juvenil. Há uma conscientização que esses espaços não são apropriados para esses indivíduos, estando estes em constante risco social e pessoal. Desta maneira, e corroborando para a ideia acima

descrita, no último ponto do questionário, no qual são instigados a pensarem sobre de quem a responsabilidade da retirada dessa população dessas áreas de risco, 72% da população, que participou de forma aleatória da pesquisa, evidenciou que cabe a família, a sociedade e aos Governantes elaborarem políticas públicas que garantam efetivamente os direitos desses indivíduos que encontram-se a margem da sociedade.

Uma segunda linha de investigação que correlaciona para os resultados obtidos, parte do pressuposto dos riscos que essa população infanto-juvenil pode oferecer para a sociedade como um todo. O Jornal da Paraíba, um dos maiores meios de comunicação do Estado (impresso), de forma agressiva, explana sobre esta problemática, tendo trazido como matéria de capa (02/06/2013), o seguinte título: “Adolescentes ameaçam população em Campina: grupos assaltam quem está com veículo parado nos semáforos ou nos pontos de ônibus”. Na matéria, são relatados alguns atos infracionais referentes a essa população infanto-juvenil que encontra-se em situação de risco, ressaltando a preocupação dos comerciantes, já que muitos desses menores praticam pequenos furtos. Desta maneira, a preocupação da sociedade campinense não se direciona ao bem-estar desses indivíduos marginalizados ou a uma preocupação de garantir os seus direitos, mas aos problemas, medos e violência que essas crianças e adolescentes podem causar. Essa situação descrita, infelizmente, não se restringe apenas a Campina Grande, porém, temos um aparato político-legislativo quematerializa-se em programas, que podem amenizar essas situações de descaso social.

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