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Sociedade preconceituosa

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CAPÍTULO 3 HISTÓRIAS DE VIDA E DA VIOLÊNCIA POLICIAL

4.1 Sentidos e Significados de sociedade

4.1.2 Sociedade preconceituosa

Este núcleo de significação, trata dos sentidos e significados que os jovens atribuíram aos preconceitos existentes na sociedade e que foram identificados nas falas deles, apresentados a seguir.

125 Os jovens Pedro, Wagner e Marcelo, evidenciaram que vivenciam o preconceito racial, econômico e pela forma como se vestem, como pontuaram:

a nossa sociedade é muita preconceituosa, principalmente, no sentido racial e a condição financeira (...). Se você entrar em alguns lugares, tipo assim, para comprar alguma coisa, muitos vendedores te olham de mau jeito, não te respeitam. (...) tem pessoas quando chegam para comprar alguma coisa onde trabalho, ficam me olhando, achando que não trabalho lá, é que vou roubar alguma coisa, só porque sou negro, visto essas roupas largas, isso é discriminação (Pedro).

as pessoas tinham que ter mais respeito com os outros, tinham que aceitar as pessoas do jeito que elas são, sem julgamentos, sem preconceitos: pela cor, dinheiro. Tipo assim, respeitar cada um do jeito que ele é. (...) sou um ser humano, tenho que ser respeitado pelo jeito que sou, pelo jeito que me visto, a roupa que visto é o meu eu (...) muitas pessoas aqui em Goiânia, ficam pré-julgando, que nem eu assim, a maioria das pessoas olha para mim de um jeito estranho, falam que eu sou adorador do demônio, só por causa das roupas que visto. Por que, eles falam isso? Se nem me conhecem (Wagner).

a sociedade é puro preconceito, tipo assim, pelo jeito que você se veste, é que muitas te julgam, isso é puro preconceito. (...) quantas vezes amigos meus, chegaram a um lugar e as pessoas ficam com medo, saem de perto. E o cara como fica? Na realidade, fica é na revolta, tipo, o que pensam que são? Tipo, melhores que todo mundo, só porque estão com roupas da moda, tênis da moda, tipo, tem dinheiro na carteira (...) se uma pessoa olha para minha cara e eu estou arrumadinho, tênis da moda, roupa de marca, ele vai julgar uma pessoa boa. Mas, tipo.se ele vê toda desarrumado, boné abaixado, eles já falam esse é bandido, quer roubar, usa droga, muitos falam assim (Marcelo).

Por outro lado, os jovens Fábio e Rodrigo evidenciaram que vivenciam o preconceito da sociedade pelas suas passagens pela polícia, como relataram:

a sociedade é muita preconceituosa, ninguém dá oportunidade para quem tem passagem na polícia (...) como eu, muitos sofrem discriminações, por um dia ter sido preso, ter uma passagem na polícia (...) quem tem passagem na polícia, fica marcado como bandido (Fábio).

a sociedade tem o maior preconceito, principalmente, com quem tem passagem pela polícia”, (...)“muitas pessoas discrimina a gente, logo perguntam se estou metido em alguma coisa errada (...) outras pessoas, tipo assim quando sabem que tenho passagem pela polícia, tipo assim, se afastam, pensam que a gente é bandido (Rodrigo).

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Já o jovem Luiz, evidenciou a preconceito da sociedade pela sua classe social, localidade de sua moradia e pelos seus gostos musicais, como afirmou:

de forma em geral, é puro preconceito, discriminam a gente pela classe social nossa e pela música que a gente gosta, por exemplo, as pessoas que gostam de rap sofrem muita discriminação, muitos falam, tipo assim, que são músicas de malandros, bandido, (...) te discriminam pelo lugar onde você mora (...) se você mora em um bairro rico, ah! Então é gente boa. (...) mas aí, um exemplo, se você fala que mora em um bairro pobre, como o [nome do bairro], é bandido. Tem gente, tipo que pensa que no bairro, só porque é pobre, só tem tráfico.

As falas dos jovens apontam os vários preconceitos presentes na sociedade que, de acordo com Pinheiro (2011), podem ser apreendidos como: “valores diversos, que consistem

126 em juízos preconceituosos mediante representações que o sujeito tem sobre a realidade. Tais representações, no entanto, não são frutos apenas de construções individuais, logo que a cultura exerce papel fundamental para a sua elaboração” (p.218). E que, muitas vezes, são velados, mas, como constatamos pelas falas dos jovens, eles vivenciam, cotidianamente, estes diversos preconceitos, sejam eles: racial (cor da pele), econômico (condição financeira),vestuário (jeito de se vestir/aparência), localidade da moradia (periferia), ter sido preso (ter passagem na polícia) gostos / músicas (marginalização do rap) e classe social.

Nesse sentido, Crochík (2006) nos alerta que os preconceitos se sustentam no processo de exclusão existente na sociedade, “ainda que velada, daqueles que não seguem seus ditames, sem que esses correspondam às necessidades individuais racionais, e sem que lhes proporcione uma vida sem ameaças, gera continuamente a necessidade do estabelecimento de preconceitos” (p. 36). Acerca da questão da exclusão, completa Crochik (2006): “Se a cultura é expressão da natureza humana, a exclusão contida no preconceito torna esta cultura tão ameaçadora quanto à própria natureza da qual ela se propõe defender os homens” (p. 59).

E, adicionalmente a estes preconceitos, se juntam os vários estereótipos, como relataram os jovens, como: “ladrões” “bandidos”, “traficantes”, que os marcam. Dessa forma, são sempre suspeitos de alguma coisa. Assim, segundo Crochik (1996) “o preconceito se caracteriza por um conteúdo específico dirigido ao seu objeto e por um determinado tipo de reação frente a ele, em geral, de estranhamento ou de hostilidade. Ao conteúdo podemos chamar de estereótipo,(...) que passou a ganhar o sentido também daquilo que é fixo, imutável” (p.49). E, estes estereótipos, muitos com caráter pejorativo, como relataram os jovens, determinam a maneira como são tratados e/ou vistos na sociedade. E, segundo o jovem Wagner: “estes julgamentos incomodam e machucam pra caramba, tanto a mim, quanto a meus amigos. Não nos respeitam, pensam o quê?”.

Este cenário de preconceitos, apontado pelos jovens, é consequência do modelo de uma sociedade em que o poder econômico, político e cultural, normatizam as relações sociais, coisificando as pessoas, como revelam as falas dos jovens, no núcleo de significações que trataremos a seguir.

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