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2. AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO E A INTERFACE COM

2.3. A Socioeducação

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei Federal nº. 8.069 de 13 de julho de 1990 – baseado na Doutrina de Proteção Integral, vem para romper com as práticas historicamente vinculadas ao assistencialismo, à correção, punição e repressão no trato à infância e juventude brasileira. Conforme Lima e Veronese (2008, p. 14), “A historiografia sócio-jurídica da infância e adolescência revela que esses grupos vulneráveis sempre foram alvos de toda forma de negligência, violência e opressão”.

O Estatuto da Criança e do Adolescente ao ter recepcionado a Doutrina da

Proteção Integral, além de considerar a criança e o adolescente como

sujeito – pessoa em condição peculiar de desenvolvimento – contempla, ainda, a questão da prioridade absoluta. A infância e a adolescência, admitidas enquanto prioridade imediata e absoluta exige uma consideração

especial e isto significa que a sua proteção deve sobrepor-se às medidas de

ajustes econômicos, com o objetivo de serem resguardados os seus direitos fundamentais (LIMA; VERONESE, 2008, p. 7).

O novo paradigma introduzido pela Doutrina de Proteção Integral e que embasa o ECA, concebe crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, que necessitam de proteção especial, visto que se encontram em estágio peculiar de desenvolvimento. Para Almeida (2007, p. 107),

o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) inaugurou uma nova fase na infância e juventude brasileiras, pois transformou o olhar e o tratamento dados à criança e ao adolescente, os quais passaram a ser, socialmente, percebidos como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento, necessitando, portanto, da proteção integral do Estado, da família e da sociedade, cuja responsabilidade consiste em promover ações voltadas para a garantia de todos os direitos humanos fundamentais. Pode-se afirmar que a doutrina da proteção integral, regulamentada pelo Estatuto, foi o marco diferencial na construção de uma nova percepção dessa fase da vida marcada por fortes transformações de ordem biológica, mental, emocional, física, social e espiritual. Hoje, a infância e a adolescência são focos de atenção da sociedade que, por meio de uma mobilização social, compreendeu e definiu que criança e adolescente não possuem maturidade suficiente para suprir suas necessidades básicas ou para garantir seus direitos com mecanismos próprios, devendo ser prioridade absoluta em diversos aspectos, principalmente no que concerne à formulação de políticas públicas.

Os Ordenamentos Jurídicos brasileiros, dentre eles, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e o ECA definiram importantes conquistas no que diz respeito à política de atendimento a crianças e adolescentes no Brasil,

nas mais diversas situações em que possam ser encontrados: na família ou fora dela, em conflito com a lei ou não. O ECA, ao inaugurar o Sistema de Garantia de Direitos (SGD)2, apresenta uma proposta de atenção incondicional à criança e ao adolescente definindo dois eixos de intervenção: o primeiro eixo diz respeito à medida protetiva, para situações de risco social e pessoal, e o segundo eixo refere- se à medida socioeducativa, para situações de prática de atos infracionais (BRASIL, 2009).

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, juntamente com o Estatuto da Criança e do Adolescente representam em termos normativos um verdadeiro avanço da luta por direitos e melhores condições de vida à criança e ao adolescente. A Doutrina da Proteção Integral os coloca na condição de sujeitos de direitos e, além disso, reconhece o período especial que se encontram enquanto seres em desenvolvimento (LIMA; VERONESE, 2008, p. 14).

As medidas socioeducativas, aplicadas, por ordem judicial, a adolescentes que tenham praticado ato infracional, têm por objetivos a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional; a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais; e a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei (BRASIL, 2012).

O ECA (BRASIL, 1990) define o ato infracional como sendo “a conduta descrita como crime ou contravenção penal” praticada por criança ou adolescente. Estes, respondem pelos atos infracionais cometidos por meio das medidas protetivas e/ou socioeducativas, dentro de um procedimento legal específico.

As medidas socioeducativas, enquanto resposta do Estado, consistem em sanções aplicadas aos adolescentes que cometem atos infracionais. Saraiva (2006, p. 66) discorre que: “a Medida Socioeducativa é uma resposta do Estado diante de um fato a que a Lei define como crime ou contravenção”.

2 Constitui-se na nova gestão dos direitos específicos e gerais de crianças e adolescentes proposta pelo ECA, onde a política de atendimento a estes sujeitos é realizada por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. O SGD baseia-se em três grandes eixos, são eles: Promoção, Defesa e Controle Social. Cada eixo é articulado por espaços públicos, instrumentos/mecanismos e atores que, de modo ordenado, e formando uma teia de relações entrelaçadas são mobilizados e contribuem para o alcance dos objetivos do atendimento, da vigilância e da responsabilização (CABRAL, 1999).

A natureza jurídica da medida socioeducativa tem dividido opiniões. De um lado, há os que sustentam que a medida socioeducativa é despida do caráter sancionatório, e, por assim dizer, punitivo. De outro, os que afirmam que as medidas socioeducativas comportam “aspectos de natureza coercitiva, vez que são punitivas aos infratores, e aspectos educativos no sentido da proteção integral e de disponibilizar o acesso à formação e informação, sendo que, em cada medida, esses elementos apresentam graduação, de acordo com a gravidade do delito cometido e/ou sua reiteração” (LIBERATI, 2006, p. 368-369).

Estas sanções não são as mesmas aplicadas a pessoas maiores de 18 (dezoito) anos de idade. O ECA obriga e responsabiliza condutas contrárias, adversas ao ordenamento jurídico através das medidas socioeducativas. Estas além se serem sociais, possuem finalidades especificamente educativas e pedagógicas.

Em se tratando da normatização das condutas humanas, o Estatuto reservou as crianças e adolescentes o que chamamos de responsabilização estatutária sempre que ocorrer a prática de ato infracional, e essa responsabilização se materializa no cumprimento pelos adolescentes das medidas socioeducativas (LIMA; VERONESE, 2008, p. 14).

O tratamento dado pelo Estado é diferenciado, já que o adolescente ainda está formando sua personalidade e necessita de cuidados especiais. Por isso as medidas socioeducativas são aplicadas considerando-se a vulnerabilidade do público a qual se destina, devendo ser levada em conta a capacidade do adolescente em cumprir determinada medida, as circunstâncias que sucedeu o suposto ato infracional e a gravidade deste.

Para Lima e Veronese (2008, p. 13-14), o estado de vulnerabilidade é inerente à fase de vida a qual se encontram os adolescentes pois,

o ser adolescente representa o ser que ainda não está completo, pois ainda transita entre a infância e a fase adulta que terá de trilhar. Portando a adolescência, deveras vezes, caracteriza-se pela busca incessante de autonomia, de liberdade, de emancipação, de formação, etc. [...] nessa fase da vida a pessoa está em busca das suas necessidades psicossociais de formação da sua identidade pessoal e em busca da sua emancipação, e que por vezes durante esse processo percebe-se manifestações de violência por parte do jovem – atos infracionais - e, no entanto, não raras vezes podemos relacionar esses atos atrelados pela incapacidade da família, da sociedade e do Estado que deixa de garantir uma proteção integral ao adolescente.

Desta forma, a aplicação das medidas socioeducativas representa a intervenção do Estado frente aos atos infracionais praticados por adolescentes, sem deixar de serem observados os direitos que são garantidos a estes sujeitos, os quais

se encontram em situação peculiar de desenvolvimento e que gozam de absoluta prioridade na efetivação de seus direitos fundamentais (BRASIL, 2009).

[...] A medida socioeducativa em sua natureza jurídica implica na sanção aplicada como punição ou como reparação por uma ação julgada repreensível. Sua execução, no entanto, deve ser instrumento pedagógico [...] sob o prisma da prevenção especial voltada para o futuro (LIBERATI, 2006, p. 371).

A sanção aplicada ao adolescente em conflito com a lei refere-se a uma medida social, o que implica entender o mesmo não como um portador de patologia que deveria ser objeto de um tratamento, mas como um ser social. O adolescente envolvido ou não na prática do ato infracional, deve ser reconhecido por sua própria existência humana, pois apenas assim será possível a superação emancipatória de sua dignidade enquanto ser humano.

[...] toda medida socioeducativa cuja essência, conteúdo e natureza jurídica – educativo-pedagógico – devem ensejar, qual seja: um projeto de vida responsável. E um projeto de vida responsável é fundamentalmente um processo de conscientização do próprio jovem acerca de suas capacidades e potencialidades – isto é, sua educação (RAMIDOFF, 2008, p. 104).

O atual sistema de medidas socioeducativas prevê a superação das antigas concepções autoritárias de defesa social e de caráter retributivo, visto que, a melhor alternativa para a superação da violência é a emancipação humana e somente a promoção de alternativas educativas e sociais são capazes de apresentar novos horizontes. Segundo Prates (2002, p. 35): “[...] as medidas socioeducativas se bem aplicadas, ou seja, não com o escopo exclusivamente punitivo e sim com o objetivo pedagógico, poderão auxiliar sensivelmente na ressocialização e inibição à reincidência do jovem infrator”.

O ECA tratou da questão do ato infracional, chamando a atenção para um atendimento diferenciado, sem qualquer forma de repressão, sem descaracterizar, contudo, o processo de responsabilização que emerge das práticas delituosas. Pois, o Estatuto acredita que a melhor forma de intervir nesse adolescente em conflito com a lei é incidir positivamente na sua formação, servindo-se, para tanto, do processo pedagógico, como um mecanismo efetivo, que possibilite o convívio cidadão desse adolescente autor de ato infracional em sua comunidade. Pretendem, pois, tais medidas, educar para a vida social (LIMA; VERONESE, 2008, p. 8).

Compreendem o conjunto de medidas socioeducativas: a advertência, a obrigação de reparar o dano, a prestação de serviços à comunidade (PSC), a liberdade assistida (LA), a inserção em regime de semiliberdade, a internação em estabelecimento educacional e qualquer uma das medidas previstas no art. 101 – I a VI – do ECA (BRASIL, 1990). Conforme Lima e Veronese (2008, p. 5),

as seis medidas socioeducativas previstas no Estatuto devem ser aplicadas em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana e observar o estado peculiar que se encontram os adolescentes enquanto pessoas em desenvolvimento. A aplicação das medidas socioeducativas deve ter caráter pedagógico e promover o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.

A política de atendimento socioeducativo delineou-se a partir do ECA por meio de um conjunto de parâmetros, normativas e proposições, sendo-lhe acrescida, posteriormente, maiores detalhamentos e especificações por meio da Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que editou o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) – Resolução nº. 119, de 11 de dezembro de 2006, do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), assim como pela nova Lei do SINASE - Lei 12.594/12.

Passados seis anos da vigência da Resolução do CONANDA, é sancionada em 18 de janeiro de 2012, a Lei 12.594, que institui o SINASE e regulamenta a execução das medidas socioeducativas. Esta nova lei apresenta elementos que reforçam os princípios e diretrizes já elencados na Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) sobre a natureza, finalidade e execução das medidas socioeducativas, introduzindo, para, além disto, novos elementos para a socioeducação.

O SINASE, política pública que visa o atendimento socioeducativo do adolescente em conflito com a lei, se constitui num conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração do ato infracional, até a execução da medida socioeducativa (BRASIL, 2006).

O SINASE busca fortalecer e complementar os dispositivos elencados no ECA, com vistas ao desenvolvimento de uma ação socioeducativa baseada nos princípios dos direitos humanos (BRASIL, 2006). “Realizar a aplicação e execução dessas medidas é sempre ter a certeza do respeito aos direitos humanos” (HAMOY,

2007, p. 39). Correlaciona-se com os mais diferentes sistemas e políticas públicas e sociais, que devem permear a prática dos serviços de execução de medidas socioeducativas e as redes de serviço. Dentre estas estão a educação, a saúde, o trabalho, a assistência social, a cultura, o esporte, o lazer, entre outras.

Para Veronese e Lima (2009, p. 41),

o SINASE é um instrumento jurídico-político que complementa o Estatuto da Criança e do Adolescente em matéria de ato infracional e medidas socioeducativas. É um documento que impõe obrigações e a corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado para a efetivação dos direitos fundamentais dos adolescentes autores de ato infracional. E ao Estado, principalmente, cabe a função de investir em políticas sociais que facilitem a concretização desse importante instrumento normativo.

Conforme disposto no artigo 35 desta nova lei, a execução das medidas socioeducativas reger-se-á por meio dos seguintes princípios: legalidade; excepcionalidade; prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas; proporcionalidade em relação à ofensa cometida; brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe o art. 122 do ECA; individualização; mínima intervenção; não discriminação do adolescente; e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo (BRASIL, 2012).

Esta política, que tem como parâmetros legais os dispositivos da Constituição Federal de 1988 e do ECA, além de respeitar os tratados e convenções internacionais, reafirma a natureza pedagógica e educativa da medida socioeducativa e prioriza a implantação de medidas socioeducativas em meio aberto, como a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA), em detrimento das medidas privativas de liberdade (semiliberdade e internação), visto que as últimas estão sujeitas aos princípios de excepcionalidade e brevidade.

A Medida Socioeducativa em Meio Aberto de PSC diz respeito à realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos semelhantes, assim como em programas comunitários ou governamentais. Volpi afirma que “[...] o envolvimento da comunidade por intermédio de órgãos governamentais, clubes de serviços, entidades sociais e outros, é fundamental na operacionalização desta medida” (1999, p. 24). A inserção do adolescente nestas instituições oportuniza a

reconquista de sua cidadania, provocando sentimentos de responsabilidade e valorização da vida social e comunitária.

Segundo o ECA (BRASIL,1990), as tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de maneira que não prejudique a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. A aplicação desta Medida Socioeducativa depende exclusivamente da Justiça da Infância e Juventude.

Na sua operacionalização, é recomendada a utilização de um programa que estabeleça parcerias com órgãos públicos e organizações não governamentais. Esta, ainda, terá maior efetividade na medida em que houver um adequado acompanhamento do adolescente pelo órgão executor, o apoio da entidade que o recebe, e a utilidade real da dimensão social do trabalho realizado.

Pela própria natureza executiva a medida representa uma alternativa à medida de privação de liberdade, “permitindo que o infrator cumpra-a junto à sua família, no emprego e na comunidade, as imposições restritivas aos seus direitos” (LIBERATI, 2006, p. 372).

A Medida Socioeducativa em Meio Aberto de LA será aplicada sempre que configurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Será aplicada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo ser a qualquer tempo, prorrogada, revogada ou substituída por outra medida socioeducativa. Volpi (1999, p. 24) refere que a LA

constitui-se numa medida coercitiva quando se verifica a necessidade de acompanhamento da vida social do adolescente (escola, trabalho e família). Sua intervenção educativa manifesta-se no acompanhamento personalizado, garantindo-se os aspectos de: proteção, inserção comunitária, cotidiano, manutenção de vínculos familiares, frequência à escola, e inserção no mercado de trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos.

Esta medida requer a supervisão de um orientador qualificado e possibilita o acompanhamento do adolescente sem afastá-lo do lar, da escola e do trabalho. Conforme Costa (2005, p. 85), “[...] o adolescente permanece no contexto de sua comunidade, no entanto sujeito a determinadas regras, as quais têm por objetivo

auxiliá-lo na construção de um outro projeto de vida diferente da ‘carreira infracional’”.

O orientador judiciário deve participar da vida do adolescente, com visitas domiciliares, verificação de sua condição de escolaridade e de trabalho. Deve, ainda, exercer um referencial positivo, capaz de impor limite, noção de autoridade e afeto, e proporcionar alternativas frente aos obstáculos próprios de sua realidade social, familiar e econômica.

O Programa de Liberdade Assistida visa atender não apenas o adolescente incluído nessa medida, mas toda a sua família, uma vez que esta, não raras vezes se constitui no núcleo delinquencial. Este programa deve ser estruturado em nível municipal, localizado, de preferência, na comunidade de origem do adolescente.

A liberdade assistida constitui-se naquela que se poderia dizer “medida de ouro”. De todas as medidas socioeducativas em meio aberto propostas pelo Estatuto, é aquela que guarda maior complexidade, a reclamar a existência de uma estrutura de atendimento no programa de Liberdade Assistida apta a cumprir as metas estabelecidas no art. 119 do Estatuto. Ao mesmo tempo se constitui na medida mais eficaz quando adequadamente executada, haja vista sua efetiva capacidade de intervenção na dinâmica de vida do adolescente e de sua família (SARAIVA, 2006, p. 160).

Busca-se, por meio das medidas socioeducativas em meio aberto, reverter a tendência crescente de internação dos adolescentes, assim como confrontar a sua eficácia invertida. Pois constata-se que a elevação do rigor das medidas não tem melhorado a inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo (BRASIL, 2009).

Ao adolescente, a submissão a uma medida socioeducativa, para além de uma mera responsabilização, deve ser fundamentada não só no ato a ele atribuído, mas também no respeito à equidade (no sentido de dar o tratamento adequado e individualizado a cada adolescente a quem se atribua um ato infracional), bem como considerar as necessidades sociais, psicológicas e pedagógicas do adolescente. O objetivo da medida é possibilitar a inclusão social de modo mais célere possível e, principalmente, o seu pleno desenvolvimento como pessoa (BRASIL, 2006, p. 30).

O SINASE aponta para a municipalização dos programas de execução de medidas socioeducativas em meio aberto, mediante a articulação de políticas intersetoriais em nível local, e a constituição de redes de apoio nas comunidades. A municipalização determina que as práticas de atendimento socioeducativo em meio

aberto sejam realizadas no âmbito municipal. É da competência desta esfera a criação e a manutenção de programas de atendimento para execução dessas medidas, de modo a fortalecer o contato e o protagonismo da comunidade e das respectivas famílias (BRASIL, 2006).

Neste sentido, a execução das medidas socioeducativas em meio aberto será realizada no âmbito da Política de Assistência Social3, em consonância com a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, bem como com a Norma Operacional Básica (NOB) - SUAS e NOB-Recursos Humanos. Organizar-se-á por meio de um serviço de proteção especial a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto.

Este serviço, que compreende no âmbito da Política de Assistência Social a Proteção Social Especial de Média Complexidade, é ofertado pelo SUAS4 e desenvolvido no CREAS, unidade pública estatal que realiza atendimento dirigido às situações de violação de direitos, e que visa a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário (BRASIL, 2004).

Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, resolução nº. 109, de 11 de novembro de 2009, documento que explicita os termos utilizados para denominar, de forma padronizada, os serviços ofertados pelo SUAS, o serviço de proteção social a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto destina-se a

[...] prover atenção socioassistencial e acompanhamento a adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, determinadas judicialmente. Deve contribuir para o acesso a direitos e para a ressignificação de valores na vida pessoal e social dos adolescentes e jovens. Para a oferta do serviço faz-se necessário a observância da responsabilização face ao ato infracional praticado, cujos direitos e obrigações devem ser assegurados de acordo com as legislações e

3 A Assistência Social constitui-se numa Política de Proteção Social que visa garantir o atendimento das necessidades sociais dos que dela necessitam, ou seja, cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e risco social3. Refere-se ao conjunto de ações, cuidados, atenções, benefícios e auxílios ofertados pelo Sistema único de Assistência Social (SUAS) para redução e prevenção do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida, à dignidade humana e à família como núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e relacional (BRASIL, 2004).

4 O SUAS constitui-se como um sistema público que articula a execução e financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), Este sistema, responsável pela organização, de forma descentralizada, dos serviços socioassistenciais, é hierarquizado em dois tipos de proteção social: a proteção social básica e a proteção social especial, possuindo, ainda, níveis de complexidade - alta e média complexidade (BRASIL, 2004).

normativas específicas para o cumprimento da medida (BRASIL, 2009, p.