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3. Soccer, samba and outsourcing 56

3.2 A diversidade de vínculos de trabalho nas empresas de desenvolvimento de software:

3.2.3 Socioempresário 88

Entrevistamos três empresários que mantinham sociedade em microempresas de TI com outras pessoas. Duas empresas localizadas em São Carlos, a Integração Tec, formada desde 2004, possui além dos dois sócios, cinco estagiários e presta serviços de desenvolvimento de software apenas para UFSCar. A segunda empresa, Soluções em Software para Administração Municipal, criada em 1994, possui além dos dois sócios, quatro trabalhadores contratados sob regime CLT. A terceira empresa, localizada em Araraquara, existe desde janeiro de 2008 e é composta pelos três sócios e dois free-lance.

As percepções desse grupo sobre as vantagens e desvantagens em ser socioempresários passam, sobretudo, pela negação ao trabalho subordinado. O motivo que os levaram a preferir um “negócio próprio” está relacionado à satisfação em “acompanhar o crescimento e o desenvolvimento” de um empreendimento em que são os únicos responsáveis. Trata-se de um pequeno empreendimento que os obriga a uma intensa carga de trabalho que é aceitável por ser patrimônio próprio.

(...) as vantagens que eu enxergo é que a gente tem a oportunidade de estar crescendo junto com a empresa, que é uma empresa pequena, que ainda está começando. Que, na época em 2005, pra quem estava começando como eu, sem experiência de trabalho foi muito bom. Então, eu tive a oportunidade de crescer junto com essa empresa (IRINEU. Socioempresário na Integração Tec.).

Como são poucas pessoas e nós temos que fazer tudo o que aparece, temos que resolver todos os problemas... Pode ser ruim por um lado, mas pode ser bom, por outro, porque você acaba aprendendo um pouco de cada coisa n/é? E férias não têm. Porque nós estamos começando, então nós queremos fazer tudo que podemos. Então, não temos tanto descanso, mas faz parte eu acho (IRINEU. Socioempresário na Integração Tec).

Acreditam que suas ações e seus investimentos nos negócios são orientados segundo suas vontades e necessidades. Assim, o fato de serem, ao mesmo tempo o trabalhador e o empregador da empresa, desperta uma sensação de liberdade e autonomia. Essas características são extremamente valorizadas por esse grupo, avesso à subordinação do trabalho assalariado, restando, porém observar de que forma essa autonomia se apresenta.

O bom de você ter o seu negócio, de ter a sua empresa é trabalhar para você. É o seu negócio, você o vê crescer, não tem nada melhor. Você vai lá trabalha, empreende. Você vai fazer cursos por conta própria, porque quer. Você vai correr atrás das coisas porque você precisa, para você. E tem mais, se você não acordar de manhã pra trabalhar o problema é seu! Aqui não [no trabalho atual]. O problema é do seu chefe, se eu não vier trabalhar pela manhã, porque estava doente, e acontecer algum “pepino”, o problema é do seu chefe, não é meu. Então, é o outro lado da moeda, lá

você é teu funcionário e o teu chefe. (RÔMULO. Servidor Público na USP/ICMC).

Mesmo que trabalhem mais que a jornada de trabalho regular dos assalariados ou em outra forma de contrato, os entrevistados apontaram de maneira positiva a sua condição de socioempresários. O fato de ser um “negócio seu” é compensador, ainda que vá trabalhar doente, que não retire rendimentos no fim do mês, ainda assim, é melhor que trabalhar como assalariado, porque não existe a pressão do chefe no ambiente de trabalho. A pressão nesta condição é maior, o controle sobre o quê e como o trabalhador realiza suas atividades causa constrangimentos que são motivos de críticas e descontentamentos por parte dos trabalhadores. A subordinação entre trabalhadores e empregadores não está dada, porque esses papéis confundem-se e, por isso, não conseguem perceber que a ausência de controle nas relações do trabalho no cotidiano está metamorfoseada, sobretudo, nos prazos de entrega que estão expirando. O trecho seguinte ilustra os significados atribuídos por um sócio quanto às “horas extras”.

Cada profissional é o responsável por realizar as tarefas a que se comprometeram desenvolver, nesse sentido cada um faz as atividades quando quiser desde que entregue no prazo combinado. (...) se alguém tem que trabalhar horas a mais é

porque está atrasado e se está atrasado a culpa é dele, por isso não há hora extra, há que trabalhar para fazer o trabalho atrasado (HENRIQUE. Socioempresário na ASTI Soluções em TI. Grifo Nosso).

Outra modalidade de contrato presente nesse estudo foi a do trabalhador free-lance/por conta própria. Não é específica só desse segmento produtivo, outras profissões como, por exemplo, o trabalho no jornalismo tem adotado esse tipo de contrato. No caso desse estudo, tivemos um entrevistado que se definiu como trabalhador por conta própria e que só exercia a profissão por meio dessa modalidade de contrato. Alguns entrevistados de outras modalidades de contrato afirmaram realizar atividades de trabalho nas horas vagas. Pegavam alguns “trabalhos por fora” de desenvolvimento, de programação de sistemas. Nesse caso, a atividade secundária significava um “free” e que lhes rendiam um “dinheiro a mais”. Estagiários que vivenciavam essa situação compararam os dois tipos de vínculo e apontaram que, do ponto de vista do rendimento, a condição de free é mais vantajosa. Os trabalhos de free-lance que são realizados em São Paulo, chegam a ser pago até R$ 30,00 por hora, enquanto que a hora de um estagiário, em São Paulo, é de aproximadamente R$ 15,00 e em São Carlos, é, em média, R$ 6,00.

Os contratos pela CLT, estágio e no sistema de PJ (socioempresários) foram os principais tipos de vínculos encontrados nessa pesquisa e, segundo Salatti (2005) são os tipos

de vínculos mais frequentes no mercado de trabalho de TI. Na busca pela compreensão sobre os significados atribuídos aos variados contratos de trabalho notamos que, no caso dos estagiários a possibilidade de aprendizado compensa os baixos rendimentos característicos do cargo, principalmente quando é realizado fora das grandes cidades. Os trabalhadores com registro apresentam o ambíguo desejo de manter a estabilidade em um contexto de trabalho flexível, que não é muito diferente para os contratados como servidor público e como free- lance. Por fim, os socioempresários, anseiam pela autonomia que julgam possível na condição de proprietário, porém não percebem que essa autonomia está encoberta pela dinâmica da concorrência que sofrem entre as outras empresas e pelos prazos de entrega.

4. A qualificação dos trabalhadores de desenvolvimento de