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SOLICITA à Comissão a cooperar com agrupamentos regionais

No documento MESTRADO EM HISTÓRIA São Paulo 2013 (páginas 92-97)

I.III União Africana entre “uma outra globalização” e seus “rumores”

8. SOLICITA à Comissão a cooperar com agrupamentos regionais

da Diáspora, com vista a ajudá-los a organizarem-se em redes regionais que facilitarão a sua representação como “Observadores” nas Cimeiras da UA, e, eventualmente no futuro, como sexta região do continente, o que contribuiria de forma substancial para implementação das políticas e programas. (UNIÃO AFRICANA)7. Por estas e outras evidências, procuramos reiterar e problematizar qual o lugar da África. Não sabemos a resposta imediata, mas entendemos que ideias pan- africanistas, mesmo que se mostrem problemáticas devido suas características diversificadas, centenárias e transcontinentais, ainda não está datada para ser abandonada como projeto, pois resiste aos novos desafios, se mostraram como lutas para transformação, como apontado por Appiah (1997) e se adaptam ao tempo presente.

Assim imprimimos em nossa proposta um compromisso não apenas intelectual e historiográfico, mas contribuindo para pensarmos a história da África como parte especial da história humana e sua imbricada relação com as realidades sociais dos seus diversos povos, que se apresentam como protagonistas desta mesma história.

Neste sentido, se faz necessário olhar o presente e voltar ao passado, olhar para o passado e refletir o presente. Assim antes que pudéssemos encerrar (esta

7 UNIÃO AFRICANA, 19ª. sessão ordinária da Conferência da União, 15 e 16 de Jul. 2012, Adis

escrita ou narrativa), olhamos o presente das páginas da Panapress e nos deparamos com a seguinte notícia:

Addis-Abeba, Etiópia (PANA) – O novo presidente em exercício da União Africana (UA), o primeiro-ministro etíope Hailemarian Dessalegn, deu em Addis Abeba o arranque das celebrações do Jubileu de Ouro da organização pan-africana, sublinhando que o evento "tem um significado particular" para o povo e o Governo do seu país. « Enquanto anfitriã da sede da Organização de Unidade Africana (OUA), predecessora da UA, a Etiópia prepara-se há dois anos para marcar este evento histórico com entusiasmo e compromisso », declarou o líder etíope.

[...] « Através destas atividades, preconizamos um processo participativo de reflexão sobre os esforços dos últimos 50 anos a favor da unidade africana, com vista a demonstrar a importância que atribuímos ao panafricanismo, no interesse das gerações futuras em conformidade com a decisão da cimeira da UA», afirmou o primeiro-ministro etíope.

Estas atividades serão marcadas por uma cimeira extraordinária dos chefes de Estado e de Governo da UA prevista para 25 de maio em Addis Abeba, na capital etíope. – (PANAPRESS, 2013)8.

Neste sentido, sabemos que a Panapress, a Etópia como nação que detém a sede da organização, e a própria UA, procuram constituir e preservar memórias, o periódico com seus registros diários, da história da organização, mas promovendo também a sua própria história, como testemunhas destes processos, a UA resguarda e conserva a memória panafricana em sua diversidade em todos os aspectos, mas quer construir esta memória de promotora, vanguardista e de continuadora do projeto de integração, mesmo em seu aspecto institucional, como podemos observar em notícia recente:

São Tomé, São Tomé e Príncipe (PANA) - A União Africana (UA) vai lançar em maio próximo na capital etíope, Addis Abeba, um livro sobre memórias do continente com declarações dos atuais 53 chefes de Estado e dos membros fundadores da organização, soube-se de fonte oficial em São Tomé [...] a obra será lançada por ocasião da próxima cimeira extraordinária da organização pan-africana [...].

Para o efeito, explicou, os chefes de Estado africanos foram convidados a entregar, até março deste ano, uma declaração sobre o pan-africanismo e o

8 PANAPRESS (28 Jan. 2013). Etiópia lança celebração do jubileu de ouro da União

Africana,.Disponível em: http://www.panapress.com/Etiopia-lanca-celebracao-do-jubileu-de-ouro-da- Uniao-Africana--12-860279-96-lang4-index.html. Acesso em: 19 Mar. 2013.

renascimento de África, refletindo a vida da organização 50 anos após a sua fundação.

[...] Realizada de 27 a 28 de janeiro passado em Addis Abeba sob o lema "Pan-africanismo e Renascimento de África", a XX cimeira da União Africana debateu, entre outros temas, a situação dos conflitos em África, particularmente no leste da República Democrática do Congo (RDC), na Guiné-Bissau, no Mali, em Madagáscar e entre o Sudão e o Sudão do Sul. [...] – (PANAPRESS, 2013)9

Vem-nos à memória esta grata coincidência que ocorre entre a finalização desta nossa dissertação (e futura defesa pública) e a comemoração pelos etíopes, africanos e suas diásporas dos 50 anos de história desta iniciativa de integração continental panafricana, os quais serão completos no dia 25 de maio de 2013, atualmente, considerado “dia da África” em diversos países africanos e de suas diásporas, pelos movimentos negros e seus ativistas, como por exemplo, o Brasil.

Olhando para todas estas complexas relações e discussões me fez pensar em três perspectivas que se relacionam, se confrontam e algumas podem sugerir mais convergências. A primeira a difícil interpretação de a história tem seu fim, e ainda a partir de um pensamento hegemônico e único em uma espacialidade planetária (e é esta perspectiva que se confronta).

A segunda desmente esta e se refere aquilo que Milton Santos nos deixou para refletir, sem mencionar explicitamente, algum diálogo com perspectivas africanas ou do Sul mundial:

A história apenas começa/ Ao contrário do que tanto se disse, a

história não acabou; ela apenas começa. Antes o que havia era uma história de lugares, regiões, países. As histórias podiam ser, no máximo, continentais, em função dos impérios que se estabeleceram a uma escala mais ampla. O que até então se chamava de história universal era a visão pretensiosa de um país ou continente sobre os outros, considerados bárbaros ou irrelevantes. Chegava-se a dizer de tal ou tal povo que ele era sem história... - (SANTOS, 2002, pp. 169-170).

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PANAPRESS (03 fev. 2013). União Africana lança livro sobre memórias de África. 03 Fevereiro 2013 08:40:11. Disponível em: http://www.panapress.com/Uniao-Africana-lanca-livro-sobre-memorias-de- %C3%81frica---12-861033-96-lang4-index.html. Acesso em: 20 de Fev. 2013.

Sabemos muito bem que o continente africano e seus descendentes que carregaram o “fardo” de fato, tendo negado até suas histórias e culturas através do pouco conhecimento das mentes iluminadas ocidentais que nas idas e vindas da história procuram apagar as diversidades locais pela totalizante ideia universal, mas que não apagará tão facilmente estas memórias e estas perspectivas críticas nos fazem perseverar (esta visão é a que se relaciona).

E a terceira composta por Mogobe B. Ramose de que “(...) ainda não estamos em posição para confirmar a veracidade da ‘globalização’. Como consequência estamos a lidar apenas com os rumores da globalização” (RAMOSE, 2010, pp. 139), enquanto os encontros culturais e políticos se estabelecerem apenas na ótica da dominação hegemônica e a permanência das relações hierárquicas e verticalizadas entre Norte-Sul, não podemos conferir a plenitude do processo da globalização, nem tão pouco acreditar que há um pensamento vencedor único, assim esta ideia dos “rumores” nos traz de volta ao centro das mudanças e transformações que estamos vivenciando, neste sentido a “história apenas começa”, como mencionou Milton Santos.

Para nós este trabalho então recebe mais uma razão, de fazer parte deste processo, não apenas em comemorar e rememorar, no sentido de euforias e festas, mas no sentido de origem destas palavras, os quais nos faz lembrarmos juntos, além de procurar nos fazer lembrar sempre uma vez mais guardando, resgatando e construindo memórias.

Terminamos esta parte com algumas palavras que nos vem em lembranças, de Ecléa Bosi, quando reflete que “o passado não é o antecedente do presente, é a sua fonte”, nestes termos, estabelecemos uma relação de movimento contínuo entre passado e presente, um ir e vir no tempo, avessos aos determinismos imobilistas,

promovendo diálogos e as vivas memórias das diversas tramas históricas desta África ainda recente.

CAPÍTULO II

No documento MESTRADO EM HISTÓRIA São Paulo 2013 (páginas 92-97)