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1. Introdução

2.3. Solos

Os solos, como se referiu anteriormente, possuem inúmeras funções, mas sem dúvida que a mais importante é o facto de permitir a vida na Terra. Ao longo dos anos e com a crescente evolução do Homem, a composição dos solos começou a alterar-se, aumentando a quantidade e diversidade dos contaminantes. Assim, surgiu a necessidade de legislar os solos com o intuito de os salvaguardar. No entanto, esta perceção do Homem interferir no bem-estar e qualidade dos solos é algo recente, pelo que ainda há muito a fazer para proteger os solos da pressão antrópica e até mesmo da própria natureza.

2.3.1. Legislação

Em Portugal, a legislação referente aos solos é ainda muito primitiva em grande parte devido à recente preocupação do Homem com este substrato. Neste sentido, construiu-se uma linha temporal da legislação referente aos solos e sua proteção, cuja amplitude varia desde a primeira classificação dos solos (2009) até aos dias de hoje (2019). Assim, a linha temporal do quadro legislativo aplicável aos solos pode ser observada na Figura 9.

Na Lei-Base dos recursos geológicos (Decreto-Lei n.º 90/90), referida anteriormente aquando do quadro normativo aplicável aos recursos hídricos, surge a primeira norma que, de modo breve e simplista, sugere a proteção dos solos. Esta refere no número 3 do seu artigo n.º 33 as obrigações das entidades licenciadas, uma das quais consiste na recuperação ambiental do local explorado, incluindo se aplicável “a reconstituição do solo e do coberto vegetal”.

O Decreto Regulamentar n.º 11/2009, de 29 de maio estabelece para o território nacional os critérios para a classificação e reclassificação dos solos, assim como, os critérios e categorias de qualificação do solo rural e urbano. Este foi posteriormente

Decreto Regulamentar n.º 11/2009, de 29 de maio Decreto Regulamentar n.º 15/2015, de 19 de agosto Lei n.º 31/2014, de 30 de maio Lei n.º 74/2017, de 16 de agosto 2009 2014 2015 2017 2019

revogado pelo Decreto Regulamentar n.º 15/2015, de 19 de agosto que estabelece os critérios para a classificação e reclassificação dos solos, bem como, os critérios e categorias de qualificação do solo rústico e urbano em função do uso dominante.

A primeira lei geral sobre solos e, consequentemente, sobre a sua proteção surge com a Lei n.º 31/2014, de 30 de maio que consiste na Lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo. Esta sofreu a sua primeira alteração em 2017 pela Lei nº 74/2017, de 16 de agosto.

Assim, facilmente se compreende que ainda existe um longo e árduo caminho para legislar os solos, bem como fiscalizar o seu cumprimento, cujo intuito final é apenas a preservação e conservação dos solos. No entanto é de referir que em Portugal, a ProSolos, uma proposta de legislação sobre prevenção da contaminação e remediação dos solos está em consulta pública há mais de 3 anos.

2.3.2. Solos em Portugal

Segundo o Mapa de Solos Mundial da FAO/UNESCO, os tipos de solo em Portugal são os (Figura 10):

→ Cambissolos; → Fluvissolos; → Litossolos; → Luvissolos; → Planossolos; → Podzóis; → Rankers; → Regossolos; → Solonchaks; → Vertissolos.

Como podemos observar na figura, em Portugal Continental, os Cambissolos são a unidade que representa a maioria dos solos. De um modo geral, estes são solos jovens que se desenvolvem sobre uma rocha mãe pouco a moderadamente meteorizada

(Ferreira, 2000; FAO-UNESCO, 1981). Para além disto, não apresentam grandes quantidades de argila, matéria orgânica e compostos de alumínio ou ferro (Ferreira, Figura 10. Mapa de Solos de Portugal Continental. Elaborado em ArcGis com recurso ao Mapa de Solos Mundial da FAO/UNESCO.

2000). Os Cambissolos dominam nas áreas mais húmidas e com relevo mais acentuado, quer no norte do país cuja rocha mãe é granítica como no centro no maciço calcário estremenho (Ferreira, 2000).

No concelho de Terras de Bouro, o tipo de solo mais predominante é o Cambissolo, ocorrendo também Rankers no limite este do concelho (Figura 11). Os Rankers ocorrem em cinturões montanhosos com precipitações elevadas, na ordem dos 1000 a 2000 mm/ano (FAO-UNESCO, 1981). Estes solos são normalmente utilizados para silvicultura, pastagem e produção de gado (FAO-UNESCO, 1981).

Figura 11. Mapa de solos do concelho de Terras de Bouro. Elaborado em ArcGis com recurso à CAOP de 2017 e ao Mapa de Solos Mundial da FAO/UNESCO.

2.4. Poluição ambiental

A poluição ambiental é um dos maiores problemas deste século, quer porque ao afetar um dos subsistemas terrestres pode ter repercussões nos restantes como pelo facto desta poder estar oculta na natureza devido a não exibir as suas consequências. Resumidamente, a contaminação consiste na adição de uma substância ou energia ao meio ambiente a uma taxa superior à sua dispersão, diluição, decomposição, reciclagem ou armazenamento numa forma inofensiva.

A poluição ambiental tanto pode ser pontual se tem apenas uma fonte identificável ou difusa se tiver diferentes fontes e localizações podendo algumas ser desconhecidas. A concentração de poluentes por poluição difusa é inferior à por poluição pontual, contudo a quantidade de poluentes proveniente de poluição difusa pode ser muito maior porque esta pode ter diferentes fontes e localizações.

Na poluição difusa, o transporte dos poluentes pode ocorrer em qualquer um dos sistemas ar-solo-água, pelo que é difícil quer a sua análise como a delimitação da sua extensão espacial (Rodríguez-Eugenio et al., 2018). Em grande parte, a dificuldade em controlar a poluição difusa encontra-se no facto de esta provir de diferentes locais e de variar consoante o fluxo e o tipo de poluente. Acresce ainda que os contaminantes que provocam poluição pontual podem estar envolvidos na poluição difusa (Grathwohl e Halm, 2003).

Os quatro principais tipos de poluição são a poluição atmosférica, poluição hídrica, poluição dos solos e poluição sonora. Neste trabalho apenas são relevantes a poluição hídrica e a poluição dos solos.

2.4.1. Poluição hídrica

As caraterísticas de uma água e, consequentemente, a sua qualidade pode ser alterada devido às atividades do Homem. Assim, é fundamental caraterizar a origem, o tipo de descarga e o tipo de poluente associado a esse fenómeno de poluição (Lobo- Ferreira et al., 2009).

No caso de poluição pontual, a descarga para o meio hídrico é efetuada através de um único local identificável, gerando-se uma pluma de contaminação que se desloca e dispersa pelo meio hídrico (Lobo-Ferreira et al., 2009). Deste modo, na proximidade da fonte de poluição, as concentrações do poluente são mais elevadas. Alguns exemplos de fontes de poluição hídrica pontual são as descargas de indústrias ou de ETAR (Lobo-Ferreira et al., 2009). É de salientar que, a ETAR apenas poderá constituir uma fonte deste tipo, porque alguns poluentes não fazem parte das listas de parâmetros

analisados ou de tratamento. Contudo, estas são eficazes no tratamento de uma série de poluentes ambientais.

Por outro lado, a poluição hídrica difusa ocorre quando a água, ao percolar à superfície ou através do solo, retira substâncias poluentes que podem ser transportadas e depositadas no meio hídrico, como lagos, albufeiras, rios, zonas costeiras ou águas subterrâneas (Lobo-Ferreira et al., 2009). Este tipo de poluição dispersa-se quer naturalmente, através da precipitação ou de neve em fusão como antropogenicamente pela irrigação de culturas e de zonas verdes. Acresce ainda que, a descarga é espacialmente dispersa em áreas com uma extensão variável. Alguns exemplos de fontes de poluição hídrica difusa são as áreas agrícolas e agropecuárias, áreas urbanizadas, lixiviados de aterros e lixeiras, efluentes de fossas séticas e drenagem de minas abandonadas (Lobo-Ferreira et al., 2009).

Em Portugal, as principais causas de problemas na qualidade da água são (Lobo-Ferreira et al., 2009):

➢ a insuficiência de sistemas de tratamento de águas residuais urbanas e industriais, assim como, o mau funcionamento desses sistemas;

➢ a poluição difusa pela agropecuária, suinicultura, aviários e lixeiras; ➢ as escorrências e infiltrações das áreas mineiras abandonadas e antigas

lixeiras;

➢ as fugas de combustíveis nos postos de abastecimento.

2.4.2. Poluição de solos

Os solos podem ter na sua composição substâncias que não fazem parte da sua constituição ou que se encontram em concentrações anormais, provocando impactes negativos nos meios e organismos que interagem com estes (FAO-ITPS, 2015). Estes poluentes têm na sua maioria origem nas atividades do Homem, podendo alguns ocorrer naturalmente (Rodríguez-Eugenio et al., 2018). Os poluentes de origem natural estão normalmente relacionados com os minerais, uma vez que, algumas das substâncias que os constituem podem ser tóxicas em concentrações elevadas.

A poluição do solo apresenta elevada perigosidade, porque não pode ser avaliada diretamente ou visualmente. Assim, esta pode permanecer oculta durante longos períodos (Rodríguez-Eugenio et al., 2018).

No caso da poluição pontual do solo, os contaminantes são libertados no solo numa área circunscrita devido a um fenómeno específico ou a uma série de eventos (Rodríguez-Eugenio et al., 2018). Neste tipo de poluição é facilmente identificável o tipo de poluente e a fonte de poluição que, na sua maioria resulta de atividades antropogénicas. Alguns exemplos de fontes de poluição pontual de solos são antigas

fábricas, o descarte inadequado de efluentes e águas residuais, os aterros não controlados, a aplicação excessiva de agroquímicos, os derramamentos de vários tipos, como de tanques de petróleo, as explorações mineiras e fundições que libertam metais pesados e outras substâncias (Rodríguez-Eugenio et al., 2018). Para além disto, nas áreas urbanas este tipo de poluição de solos é muito comum, visto que os solos na proximidade das estradas apresentam quantidades elevadas de metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, entre outros (Kim et al., 2017; Kumar e Kothiyal, 2016; Venuti et al., 2016; Zhang et al., 2015).

Por sua vez, na poluição difusa do solo, os contaminantes estão dispersos por extensas áreas, acumulando-se no solo. Deste modo, este tipo de poluição não possui uma única fonte e esta não é facilmente identificável. Alguns exemplos de fontes de poluição difusa de solos são inundações que dispersam lateralmente e verticalmente os poluentes no solo, o uso agrícola de pesticidas e fertilizantes que adicionam metais pesados, poluentes orgânicos persistentes, excesso de nutrientes e agroquímicos que são transportados pelo escoamento superficial, entre outros.

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