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1.2. Composição corporal

1.2.4. Somatótipo

A caracterização morfológica de um indivíduo ou grupo de indivíduos poderá ser enquadrada num sistema classificativo que facilita a comparação entre grupos – o somatótipo (Carter & Heath, 1990). Este sistema foi inicialmente proposto por Sheldon, Stevens e Tucker, em 1940, mas foi progressivamente alterado pelos investigadores Carter e Heath (Carter & Heath, 1990). Atendendo às suas características morfológicas, um determinado indivíduo pode ser classificado através da combinação de três tipos morfológicos fundamentais: endo, meso e ectomorfos, através de medidas antropométricas. Cada um destes tipos tem características peculiares. O indivíduo predominantemente endomorfo é volumoso, caracterizado pela sua capacidade de acumulação de gordura, apresentando predomínio das formas arredondadas e grande concentração de massa na cintura pélvica (um grande volume dos órgãos digestivos e do tecido adiposo na cintura pélvica). O endomorfo é denominado desta forma uma vez que o sistema digestivo tem origem embriológica no folheto germinativo endodérmico. Por sua vez, o mesomorfo apresenta robustez física, com músculos abdominais definidos e cintura pélvica estreita, sendo visíveis os relevos musculares e as projeções ósseas. A sua denominação deve-se ao folheto germinativo mesodérmico que dá origem aos ossos, músculos, tecido conjuntivo e vasos sanguíneos, predominantes neste morfotipo. Por último, o indivíduo predominantemente ectomorfo é caracterizado pela sua linearidade e fragilidade, pela predominância de medidas de comprimento em detrimento de diâmetros e perímetros, apresentando um desenvolvimento muscular e acumulação de gordura mínimos. Neste caso, o folheto germinativo ectodérmico dá

A classificação do indivíduo através da combinação de uma série de três dígitos (ou o predomínio de um em relação aos outros) permite uma fácil compreensão das suas características morfológicas pois o primeiro algarismo diz respeito ao grau de desenvolvimento de adiposidade relativa (endomorfismo), o segundo diz respeito ao grau de desenvolvimento músculo-esquelético relativo (endomorfismo) e o terceiro diz respeito ao grau de desenvolvimento da linearidade (ectomorfismo) (Vieira & Fragoso, 2006). Se uma componente é inferior a 2,5, considera-se ser baixa, de 3,0 a 5,0 é média e de 5,5 a 7,0 é considerada elevada. Valores superiores a 7,5 numa determinada componente são considerados como extremos. Os três números calculados, correspondentes a cada uma das componentes do somatótipo, são aplicados a um triângulo esférico (um somatograma) em que os picos correspondem aos tipos somatotópicos marginais e o centro corresponde aos tipos equilibrados (Tóth, Michalíková, Bednarcíková, Zivcák & Kneppo, 2014).

Considerando a plasticidade da morfologia humana e o dimorfismo sexual, as três componentes do somatótipo podem variar no sexo masculino e no sexo feminino, na população adulta (Carter & Heath, 1990). Atendendo aos dados de Carter e Heath (1990) relativos a diversas populações, verifica-se que no sexo masculino os somatótipos situam-se entre as categorias de mesomorfo equilibrado (Papua Nova Guiné, Checoslováquia e África do Sul) e endo-mesomorfo (Canadá, Estados Unidos da América e Hungria). No sexo feminino, os somatótipos situam-se sobretudo entre as categorias de endo-mesomorfo (Papua Nova Guiné), meso-endomorfo (Checoslováquia, África do Sul, Canadá, Estados Unidos da América e Hungria) e endomorfo-mesomorfo (Portugal) (Carter & Heath, 1990; Sobral, Brito, Alves, Fragoso & Rodrigues, 1986).

Estes dados permitem constatar que as mulheres são mais endomorfas e menos mesomorfas comparativamente ao sexo masculino. Para a componente ectomorfismo, essas diferenças não são tão visíveis. A relação negativa entre o ectomorfismo e as componentes de endomorfismo e de mesomorfismo será explicada na medida em que estas duas componentes descrevem as massas relativas do indivíduo e aquela componente diminui à medida que as massas aumentam. Neste sentido, elevadas quantidades de endomorfismo ou mesomorfismo relacionam-se com baixos valores de ectomorfismo. Por sua vez, as relações entre o endomorfismo e o mesomorfismo são variáveis (Carter & Heath, 1990; Vieira & Fragoso, 2006).

indivíduos dentro de uma determinada modalidade, com o intuito de relacionar a tipologia morfológica dos atletas com os resultados obtidos e, assim, conhecer o modelo somático e de padrão físico ligado ao rendimento (Collazos, Marodan & Gutierrez, 1996; da Silva, de Sousa & De Rose, 2003; Devi, 2006; Keogh, Hume, Pearson & Mellow, 2007; Sterkowicz-Przybycień, 2010; Sterkowicz‐Przybycień, Sterkowicz & Zarów, 2011; Carter & Heath, 1990; Poblano- Alcalá & Braun-Zawosnik, 2014; Busko, Lewandowska, Lipinska, Michalski & Pastuszak, 2013). O estudo do somatótipo também tem sido utilizado em populações ou grupos populacionais específicos, associados ao aparecimento de doença, como a obesidade (Fett, Fett, Oyma & Marchini, 2006; Maia et al., 2007; Singh, 2007).

1.2.5. Caracterização morfológica da população adulta

As variáveis antropométricas como, por exemplo, a estatura, são diferentes se considerarmos a idade, o estatuto socioeconómico, o país e a etnia, o que implica alguma contenção nas inferências associadas aos resultados dos estudos desenvolvidos (Baumgartner, 2005; Caninas, 2002; Malina, 2005).

O padrão de distribuição de gordura relaciona-se com diversos fatores como a idade, o dimorfismo sexual, o tipo morfológico e a idade de desenvolvimento da obesidade (Fragoso & Vieira, 2014; Al-Sendi, Shetty & Musaiger, 2003; Barrigas & Fragoso, 2012). No geral, há uma tendência secular para o aumento da %MG advinda das condições socioeconómicas e do estilo de vida experimentado pela maioria da população do mundo industrializado. O sedentarismo, as posturas adotadas em atividades maioritariamente sentadas e os hábitos alimentares inadequados são algumas das condições responsáveis pelas alterações da composição corporal, em particular pelo aumento dos valores da MG, e possivelmente também pelo desequilíbrio da postura corporal (Barrigas & Fragoso, 2012; Fragoso & Vieira, 2014). Este estilo de vida terá efeitos na qualidade de vida dos indivíduos, ou seja, na maior incidência de doença. Segundo a World

Health Organization (2014), o aumento do IMC, associado à obesidade e ao excesso de peso,

aumenta o fator de risco para a ocorrência de doenças não transmissíveis, incluindo alterações músculo-esqueléticas e doenças cardiovasculares.

O depósito e a acumulação de gordura apresentam diferenças sexuais (Malina, 2005; Slyper, 1998), apresentando os homens menor quantidade de MG do que as mulheres (Hattori, Numata, Ikoma, Motsuzaka & Danielson, 1990). Essas diferenças são normalmente estabelecidas na puberdade (Malina, 2005; Slyper, 1998).

2000). Estudos longitudinais revelam que existe um aumento progressivo da %MG dos 15 aos 98 anos (Baumgartner, 2005; Kyle, Grenion, Slosman & Pichard, 2001).

Sabe-se, também, que a MLG e de osso, nomeadamente a massa muscular e o conteúdo mineral ósseo (a quantidade de massa óssea), se mantêm constantes na idade adulta até aos 40 anos, diminuindo depois desta idade, mais nas mulheres do que nos homens (Ito et al., 2001).

Janssen, Heymsfield, Wang e Ross (2000) afirmam que os homens possuem maior quantidade de massa muscular que as mulheres, e que a massa muscular diminui a partir dos 40 anos de idade. Sabe-se, ainda, que o conteúdo mineral ósseo está correlacionado positivamente com a idade até aos 29 anos, mas a partir dessa altura verifica-se uma diminuição na ordem dos 0,23% de massa óssea por cada ano de vida (Rico, Revilla, Gonzalez-Riola, Villa & Buergo, 1993).