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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Evolução e diferenciação dos Sistemas Produtivos Pesqueiros SPP

4.1.3 SPP estruturado na pesca profissional – de 1981 até

Até 1990, a organização da Colônia Z-16 era insipiente: as reuniões eram muito raras, a filiação não gerava os benefícios esperados, nem mesmo junto ao sistema previdenciário. As eleições para presidente eram realizadas de 2 em 2 anos, mas o cargo era ocupado por um funcionário público aposentado, que geralmente não tinha nenhuma ligação com a pesca, por vezes eram fornecedores de canoas aos pescadores, ou seja, esse dirigentes não representavam os interesses dos pescadores. Nesta mesma época, a colônia administrou uma loja de materiais de pesca, que foi desativada, pois grande parte do estoque foi vendido

para comércios locais que revenderam mais caro aos pescadores (IBAMA, 1990).

A pesca continuava mantendo um baixo nível tecnológico e desconhecia a eficiência dos apetrechos, retratado pela dificuldade de se capturar peixes como o tambaqui e o tucunaré, além disso, não se sabia sobre o esforço de pesca predatória pelo uso de redes com malhas de diâmetros inferiores ao permitido.

Na década de 90, o açude contava com mais de 3.000 pescadores. Destes, apenas 300 eram filiados à Colônia, os motivos são vários, um deles é que a maioria dos pescadores também praticam atividades agropecuárias e se filiam ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Porém, muitos destes agricultores que ficaram, tiveram suas residências indenizadas e construídas após a inauguração do açude, passando assim a pescar filiados a colônia, sem abandonar a agricultura e a criação de animais, estão inseridos em diversos sistemas produtivos, estes são geralmente os filhos de agricultores que praticavam a pesca fluvial doméstica de subsistência. Embora nessa época a agricultura só garantisse a subsistência, a criação de pequenos rebanhos de bovino, era um suporte às diversas vulnerabilidades da

pesca, que apesar de parecer estabilizada com maiores embarcações e mais acesso aos apetrechos, traz ainda muitos desafios. Com o declínio da agricultura, a pesca tornou-se a principal atividade destes agricultores (IBAMA 1990).

Foram identificados sete grupos envolvidos na peca do açude Pereira de Miranda. São eles: pescadores, ajudantes, atravessadores, geladores, tecedeiras, entralhadores e fabricantes de canoa. Destes, todos permanecem até os dias atuais, exceto as tecedeiras e os entralhadores que aos poucos, com o surgimento dos apetrechos industrializados que custam menos que os artesanais, foram desaparecendo, restando poucos ainda que confeccionam por encomenda ou apenas repõem o material utilizado na unidade familiar (IBAMA 1990).

Desde 2003, a colônia vem passando por uma fase de transformação devido ao benefício do seguro defeso estendido aos pescadores durante a piracema; outro fator é que o cargo da presidência é ocupado por um pescador que realiza reuniões mensais para discutir a realidade pesqueira local. A colônia tem solicitado junto ao DNOCS que se realizem constantes peixamentos, cerca de 200.000 alevinos são colocados no açude anualmente.

A conservação do pescado é feita através do resfriamento, com raros casos de salaga, utilizando-se cerca de 50 toneladas de gelo por mês, na maioria das vezes esse gelo é comprado em Fortaleza. Cada barra de gelo pesa 25kg. A proporção de uso de gelo é geralmente 1kg de gelo para cada 2kg de pescado.

Em relação à agricultura, poucos continuaram com um pequeno roçado para subsistência e pequenas criações destinadas ao consumo e ao mercado, tornando-se a pesca como principal atividade da unidade familiar. Entretanto, segundo informação do site5 da atual prefeitura de Pentecoste, a economia da cidade funciona com base na agricultura e na fábrica de calçados, a pesca nem sequer é citada.

Após completar um século de existência, o DNOCS ainda tem dificuldade de monitorar os açudes do Ceará, pois é feito de forma muito elementar por falta de recursos. Por conta de uma administração e gestão centralizada e setorizada, os recursos pesqueiros são vistos pontualmente, ou seja, as múltiplas dimensões de uso da água são reguladas independentemente, em uma visão fragmentada, não levando em conta a complexa rede de problemas ambientais e sociais que emergiam a partir de suas intervenções. A fiscalização por parte do IBAMA também é comprometida pela falta de recursos, ocorrendo apenas no período da piracema.

Apesar da dificuldade histórica de obter dados primários sobre a pesca artesanal pelo fato de que a agricultura sempre foi privilegiada quanto atividade exportadora e a pesca sempre apresentou esse caráter de subsistência (SILVA, 1988), apresentaremos os valores médios de produção anual de pescado no açude Pereira de Miranda (figura 9) e os dados de registro anual de pescadores (figura 10) utilizando dados estatísticos coletados pela Divisão do desenvolvimento da Pesca da Diretoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS desde a inauguração do açude até os dias atuais, correspondendo a 52 anos de produção.

Após a construção do açude, a pesca declinou e a queda de produção coincide com a ocorrência de secas como as de 1958, 1966. Durante a década de 70, houve grandes mudanças, como a criação da colônia e a instalação do Centro de Pesquisa Ictiológicas que alavancaram de fato o desenvolvimento da pesca no açude, tão certo que notamos o aumento bastante significativo da produção pesqueira em 1975. A partir da década de 80, o efeito foi inverso, com o declínio da agricultura, a pesca foi pouco a pouco se tornando a principal atividade. Fato comprovado em 1981 onde ocorreu a maior safra registrada em toda a história de pesca do açude. Contudo, foi nessa fase que teve fim os PFPs, fato que comprometeu o controle estatístico de pesca, pois os pescadores não tinham mais obrigação de registrarem suas capturas na administração do DNOCS, apenas de forma voluntária poucos pescadores ainda o faziam, além disso, neste momento começou a transição da competência de fiscalização para o IBAMA, acelerando assim o livre acesso de grande quantidade de pescadores no açude que provocou uma sobrepesca que resultou na redução da produção pesqueira até 1990. No início da década de 90, houve um pequeno aumento de produção estimulado pelo projeto PAPEC do IBAMA, apesar disso a produção continuou baixa até 2002, quando começou a crescer abruptamente, fato que se deve à grande procura de pescadores em se cadastrarem no DNOCS para receberem o direito do beneficio do seguro defeso a partir de 2003. Porém esta produção logo tornou a decrescer até os dias atuais, fato confirmado quando verificamos as mesmas tendências no registro anual de pescadores. Por outro lado, ano de 2000, pisciculturas particulares começaram a se instalar nas margens do açude.

Podemos confrontar os fatos ocorridos ao longo do tempo que causaram transformações no quadro síntese da evolução e diferenciação (anexo F). Entretanto, é importante lembrar que esta reconstituição da evolução dos sistemas pesqueiros, em nível local, colocou ênfase em processos mais gerais e nos sistemas de produção da pesca artesanal que foram mais característicos dos diferentes momentos históricos.