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3. Burnout

3.2. Stress e Exaustão Profissional (Burnout)

Alvarez (1993) consideram que o burnout e o stress têm sido confundidos indevidamente, argumentando que cada um se centra numa resposta especificamente diferenciada em situações e estímulos diversos.

Em inglês, a palavra stress designa, no sentido literal, a torção máxima a que se pode submeter um cabo metálico antes de este se romper. Daqui surge a ideia de resistência. Em francês, o termo aproxima-se do latim stringere que significa apertar. Evoca, portanto, a pressão, o abafamento, a compressão.

Stress é definido por Selye, segundo Pines (1993), como resposta inespecífica,

resultante de qualquer solicitação no organismo, podendo ocorrer em variadíssimas situações (guerra, catástrofes naturais, doença, desemprego), incluindo situações ligadas ao trabalho. A formulação desta definição é baseada em indicadores objectivos mensuráveis, tais como secreções hormonais, traduzindo mudanças físicas e químicas responsáveis pelas nossas reacções ao stress, alterações essas que ocorrem ao nível somático funcional e orgânico.

O stress é utilizado vulgarmente, tendo invadido a vida de qualquer ser humano. Talvez devido a isto, este termo tornou-se numa área extremamente profunda de investigação que ajuda a compreender a fronteira entre o normal e o patológico, a interligação entre o biológico, o psicológico e o social (Serra, 1999).

O stress, na perspectiva de Loff (2003), pode ser caracterizado segundo três variáveis: a intensidade, a duração e a absorção. A primeira significa que quanto maior é a intensidade do stress, mais exigente é a reacção de adaptação biológica, psicológica e física do sujeito. A duração e o tempo de exposição ao stress têm repercussões na capacidade de resistência do organismo. E, por último, o grau de absorção, que varia de indivíduo para indivíduo, na medida em que a capacidade de adaptação aos estímulos pode ter limites diferentes.

Loff (2003, p.13) aponta no mesmo sentido, ao afirmar que

O stress só é negativo quando ultrapassa as capacidades de absorção do indivíduo. Quanto mais uma pessoa está em harmonia consigo mesmo, mais capacidades têm de

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enfrentar o stress, havendo quem defenda a teoria de que deverá existir um treino progressivo a situações capazes de produzirem stress, para criar níveis de resistência ao mesmo.

Calhoum (citado por Mcintyre, 1994, p.194) identificou agentes específicos de stress relacionados com as reacções adversas, considerando assim, os diferentes factores “a sobrecarga de trabalho (física e mental); insegurança do trabalho; inadequação das capacidades do indivíduo ao trabalho; ambiguidade de papéis (o que é esperado e por quem); servir uma população que vive no medo e ansiedade (...), entre outros”.

Os sinais de stress no trabalho são desde a falta de concentração, má gestão do tempo, baixa produtividade, uma certa ausência e vazio interior, irritabilidade, tendência para cometer erros, entre outros. Por isso, não é de surpreender que o stress nos técnicos de saúde exerça efeitos adversos na assistência ao doente.

O stress mal controlado pode dar origem ao esgotamento (burnout). Esta é uma situação que se desenvolve quando um indivíduo trabalha demasiado, durante muito tempo num ambiente de elevada tensão. Contudo, o nível de stress vivenciado depende não só das situações, mas também da forma como o indivíduo reage. O stress em excesso pode levar a desorganizações de raciocínio, o que pode culminar em pontos de enfermidade e dar origem a doenças. Torna-se assim necessário saber geri-lo e controlá-lo, de forma a evitar este tipo de situações.

O stress, para Guerreiro (1990), pode ser originário de estímulos agradáveis. Neste caso fala-se de distress. O distress é desadaptativo para o indivíduo, conduzindo à sensação de mal-estar e doença. Neste contexto, o burnout será resultante de um stress crónico experimentado no contexto do trabalho, conduzindo ao desajustamento do indivíduo em contexto laboral.

Em 1984, Lazarus (citado por Pines, 1993), também faz uma diferenciação entre os dois conceitos, distinguindo-os numa perspectiva motivacional, além de fazer uma distinção de três tipos básicos de stress, que são eles o stress sistémico, referente aos distúrbios ocorridos nos tecidos; o stress psicológico, referente aos factores cognitivos que conduzem à avaliação da ameaça e o stress social, que diz respeito à ruptura da unidade ou sistema social.

Enquanto que cada pessoa pode experienciar stress relativamente aos três níveis apresentados, o burnout apenas pode ser experienciado por pessoas com grandes objectivos, expectativas e motivações, esperando grande sentido significativo do seu trabalho. Um indivíduo que não apresente esta motivação inicial, pode experienciar stress no trabalho, mas não burnout.

Relativamente à distinção entre stress no trabalho e burnout, ela só pode ser feita de um modo retrospectivo, quando a adaptação tenha surgido ou a quebra na adaptação tenha ocorrido, não podendo, assim, ser distinguidos pela sua sintomatologia, mas apenas pelos seus processos básicos.

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Brill (citado por Maslach & Shaufeli, 1993) argumenta que enquanto o stress se refere a um processo de adaptação temporário, sendo acompanhado por sintomas físicos e mentais, o burnout reporta-se a uma quebra na adaptação, acompanhada de um mau funcionamento crónico. Já Shirom (citado por Cordes & Daugherty, 1993) refere que o

burnout é um aspecto distinto do stress, sendo uma resposta padrão aos stressores no

trabalho, representando um tipo particular de stress no trabalho.

Dos vários autores referidos, verifica-se uma especificidade do burnout ligado às condições laborais, ao contrário do stress, que representa uma resposta inespecífica a qualquer solicitação. As expectativas do indivíduo têm um papel importante, pois o burnout apenas pode ser experienciado por pessoas altamente motivadas, esperando grande sentido do trabalho que realizam. Também ressaltam o facto de o stress ser uma forma de adaptação que ocorre de forma temporária, enquanto o burnout se apresenta como uma quebra de adaptação e reflecte um mau funcionamento crónico.