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2. Stress

2.3. Factores de Stress

2.3.2. Stress em diferentes áreas profissionais

2.3.2.3. Stress em Polícias de Segurança Pública

A actividade policial exige determinadas competências do profissional, como controlo emocional, controle de agressividade, relacionamento interpessoal adequado, controle de ansiedade, ausência de sinais fóbicos, impulsividade controlada, capacidade de improvisação adequada entre outras (Albuquerque, 2009).

Vários autores, como Brown e colaboradores (1996), afirmam que a actividade policial é considerada uma profissão de risco de elevado stress profissional. Seabra (2008) aponta no mesmo sentido, referindo ainda que este stress pode condicionar a saúde física e psíquica dos agentes e, segundo Dowler (2008), este facto tem maior probabilidade de acontecer no género feminino.

De acordo com Violanti & Marshal (1983 cit. por Seabra, 2008), o processo de stress nas forças policiais deve ser analisado segundo: os stressores da actividade policial, a experiência individual de stress e as estratégias de coping policiais.

Relativamente aos stressores da actividade policial, os mesmos autores defendem que as exigências profissionais que estão relacionadas com as diferentes fontes de stress são múltiplas, e que há duas que se encontram associadas ao trabalho específico da organização policial, nomeadamente a despersonalização e o autoritarismo. A primeira refere-se a um sentimento de distância emocional, que exige aos agentes uma objectividade das emoções, quando lidam com situações desagradáveis. O autoritarismo decorre da cultura e estrutura policial, tornando-se uma fonte de stress.

Relativamente à experiência individual de stress, esta surge quando a percepção das exigências com que o agente se depara, ultrapassam a capacidade de lidar com as mesmas, o que condiciona a uma percepção de incapacidade de resposta.

No que se refere às estratégias de coping, específicas, para lidar com o stress, os autores defendem que o cinismo modifica o significado dos stressores levando o agente a distanciar-se destes. Outra estratégia de coping é o afastamento e o desvio policial, que emergem no contexto das funções policiais através da fuga às normas e regras do sistema.

Segundo Albuquerque (2009), a pressão no trabalho dos polícias é constituída pela aceleração do ritmo de trabalho e pela imposição de maior responsabilidade, factores em condições desfavoráveis são significativos no desencadeamento de stress, uma vez que aumentam o grau de sensibilidade do policial, levando-o a irritação fácil, reacções extremadas e impulsivas e muitas vezes violentas.

No estudo de Costa et. al. (2007), a sintomatologia do stress em forças policiais manifestou-se, principalmente, por meio de sintomas psicológicos, com baixos níveis de sintomas físicos e com predominância na fase de resistência. Ainda no mesmo estudo, os níveis de stress e de sintomas não indicaram, necessariamente, a presença de um quadro de fadiga crítico, apontando a ausência de um risco ocupacional iminente.

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Nesta profissão há uma permanente imprevisibilidade, de presenciar cenas chocantes quando há uma ocorrência. É um trabalho que obriga a um estado de alerta constante do polícia a sua segurança, e segurança do seu colega e da população. É comum quando o polícia recebe o diagnóstico de “Transtorno de Stress Pós-traumático” observar os primeiros sinais de alerta no seu relato como: distúrbios do sono (insónia ou pesadelos), ansiedade, perturbações da memória, com um constante reviver dos acontecimentos. Os sintomas gerais que se seguem pós-trauma são: mal-estar no posto de trabalho; desequilíbrio, confusão, desorientação; Ideação suicida; relaxamento com os cuidados pessoais; vivência desconfortável nas relações interpessoais no trabalho e na família; pensamento acerca dos riscos do seu trabalho, entre outros.

Para o bom desenvolvimento da função, o polícia deve estar atento aos factores psicológicos, uma vez que utiliza a sua arma sob circunstâncias de grande stress, originado pelo real temor em perder a vida. O ser humano tende a perder o seu raciocínio intelectual em situação de stress agudo. Assim, é comum que o polícia experimente sintomas diversos, tais como paralisação, choque, tremores, choro, náuseas, hiperventilação, entre outros. Com o tempo, pode readaptar-se, compreendendo a necessidade de se reajustar emocionalmente. O estado psíquico a ser alcançado é da aceitação e a volta à normalidade, porém é muito relativo o tempo necessário para a superação, podendo variar de acordo com a gravidade da situação, bem como a característica de cada policial e o apoio psicológico recebido (Albuquerque, 2009). É recomendável que, após vivenciar um evento potencialmente traumático, ameaça e risco de morte, o polícia seja observado rapidamente numa consulta psicológica, uma vez que, caso não seja tratado, o stress agudo poderá degenerar no transtorno do stress pós-traumático, uma perturbação com sintomas semelhantes, porém mais profunda e prolongada no tempo (Monteiro, 2007 cit. por Albuquerque, 2009).

Segundo Anshel (2000), a cultura policial reforça a negação das emoções, mesmo na presença da morte e do sofrimento. Há muitos profissionais em sofrimento que não procuram ajuda com receio de serem rotulados de fracos ou incapazes para lidar com a actividade profissional. Segundo Gersons (1989) muitos polícias admitem que a manifestação de sintomas associados ao stress é contraditória com a identidade e cultura policial.

A revisão bibliográfica acerca da realidade portuguesa dos polícias permitiu constatar, através de estudos sobre os guardas prisionais em contexto laboral elaborados por Schaufeli e Peeters (2000), Keinan e Malach-Pines (2007), que as principais reacções ao stress são: a alienação, cinismo, tédio e o Burnout.

Neste contexto, alguns autores mostram que as funções exercidas são indutoras de

stress (Hernández-Martin, Fernades-Calvo, Ramos & Contador, 2006; Schaufeli & Peeters,

2000), concretamente Schaufeli e Peeters (2000), salientam que a sobrecarga de trabalho, os contactos sociais exigentes e um baixo estatuto social são agentes stressores na profissão de guarda prisional. De facto, factores como conflito de papéis, o risco de perigo físico percebidos, o elevado grau de responsabilidade, factores extrínsecos à instituição e

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intrínsecos ao indivíduo, são contados por diversos investigadores como os principais responsáveis pela indução de stress ( Keinan & Malach-Pines, 2007; Lambert & Paoline, 2008). Hernández-Martin e colaboradores (2006) salientam que os agentes stressores da

profissão de guarda prisional influenciam os guardas prisionais a nível emocional, cognitivo e

comportamental, de forma diferente dos outros profissionais, sendo passível distinguir alguns factores característicos associados como: a violência e hostilidade por parte dos reclusos (Hernández-Martín, Fernández- Calvo, Ramos, & Contador, 2006); entre conflitos gerados pela dualidade dos papéis laborais (Lopez & Coira, 1992) e sua relação com função educativa e socializadora do recluso, como vista à reinserção social, como determinado no Decreto-Lei 33/2001 (Cantissano & Dominguez, 2005b; Lopez-Coira, 1992; Schaufeli & Peeters, 2000); a sobrecarga laboral (Farrinton & Nuttall, 1980; Silva & Gonçalves, 1999); a conotação negativa por parte da sociedade e média, associada ao guarda prisional como determinante na vivência laboral negativa (Keinan & Malach-Pines, 2007), a necessidade do profissional se encontrar sempre em situação de alerta de forma a reagir a distintos problemas característicos do contexto que possam surgir, como fugas, comportamentos violentos geram um estado de tensão difícil de ultrapassar (Cantissano & Dominguez, 2005b; Gonçalves & Vieira, 2005; Lopez-Coira, 1992); os contactos sociais exigentes, intensos e com grande carga emocional, incerteza constante no que concerne ao risco para a integridade e segurança física pessoal (Schufeli & Peeters, 2000) e a relação interpessoal entre recluso e o guarda, a falta de respeito e disciplina que constitui um dos principais agentes de burnout (Cantissano & Dominguez, 2005b; Gonçalves & Vieira, 2005; Keinan & Machach-Pines, 2007), são factores que permitem sustentar a existência de uma vulnerabilidade característica da profissão dos agentes policiais às manifestações emocionais e psíquicas, apontada por Aguiar (2007), que expõem o profissional ao stress ocupacional e consecutivamente ao Burnout.

Em relação à Polícia de Segurança Pública, desde 1992 que esta participa em Missões Internacionais de Paz. Cada um desses cenários tem uma especificidade própria que está relacionada não só com a localização geográfica da Missão, mas também com condições de saúde, de vida, de política e sociais. Cada missão tem um mandato específico e o papel dos elementos policiais é orientado por essas regras e a possibilidade de exposição a eventos ou acontecimentos considerados críticos é mais elevada em elementos que têm funções activas ou designadas de operacionais.

Castanho (2009) estudou as percepções de stress em agentes da PSP que integraram missões de paz nas Nações Unidas e defende que os polícias que trabalham nestes ambientes estão mais expostos a eventos traumáticos e têm maior probabilidade de desenvolver distúrbios relacionados com o stress. Os resultados do estudo referido indicaram que a maioria dos polícias foi exposta a, pelo menos, uma situação que constituiu ameaça para a vida e lhe causou um medo intenso, sensação de desespero ou horror associada à função policial.

Os resultados do estudo de Castanho (2009) contribuíram para que se levantassem questões importantes acerca da necessidade de um acompanhamento/triagem a todos os

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elementos da PSP que regressam de Missões Internacionais. Neste sentido, o autor da investigação fez algumas sugestões:

A criação de estratégias de alerta para sintomatologia e vulnerabilidades decorrentes da exposição a incidentes críticos durante a missão”; “a redução do estigma associado à necessidade de procurar ajuda e aconselhamento clínico quando existe sofrimento psicológico”; “ a criação de estratégias de coping adequadas para lidar com o

stress, nomeadamente ao nível da prática de desporto, do treino policial, do aumento das

competências interpessoais; dessensibilização pós-retorno e acompanhamento psicológico (cit. por Castanho, 2009, p.25).