• Nenhum resultado encontrado

4.   TRATAMENTO NACIONAL LIBERAL: ALGUMAS LEGISLAÇÕES 99

4.3.   Suíça: inovação com equilíbrio 110

A Suíça reformou sua legislação arbitral em 1987, a qual entrou em vigor em 1º de janeiro de 1989 e está inserida no Estatuto de Direito Privado Internacional.

Optou pelo tratamento diferenciado da arbitragem internacional no capítulo 12 e em algumas disposições do capítulo 13. O artigo 176 prevê que as disposições desse artigo 12

207

VERBIST, Herman. Reform of the Belgian Arbitration Law (The Law of 19 May 1998). Revue de Droit des Affaires Internationales – International Businnes Law Journal – RDAI/IBLJ, nº 7, 1998, p. 843: “It flows from the statistics of the International Court of Arbitration of the International Chamber of Commerce (‘ICC’) in Paris, that only very few arbitral proceedings took place in Belgium. With respect to the ICC arbitrations introduced in 1992 and 1993, in only 4 cases each year the place of arbitration was fixed in Belgium either by the parties or by the ICC Court. As regards the ICC introduced in 1994, in only 6 cases parties fixed a place o arbitration in Belgium, whereas the Court did fix not once the place of arbitration in Belgium. Also, in recent years there was no increase of cases where the place of arbitration was fixed in Belgium, neither by the parties nor by the ICC Court”.

208

se aplicarão a arbitragens se a sede for na Suíça e desde que ao menos uma parte não tenha domicílio ou residência na Suíça quando da celebração da convenção arbitral. Diferentemente da França, que optou pelo critério econômico para definir a internacionalidade, a Suíça optou pelo do domicílio.

As partes podem excluir a aplicação do Estatuto de Direito Privado, caso optem pela

aplicação do direito cantonal (“Concordat”), o que é raro209.

A Suíça segue a linha moderada de não impor a exclusão do recurso de anulação caso a sede seja na Suíça, permitindo que as partes o façam, caso seja uma arbitragem que não

envolva nacionais suíços, conforme dispõe o artigo 192210. Essa inovação acabou sendo

seguida pela Bélgica, Suécia, entre outros países.

As condições para anulação do laudo na Suíça (cuja ação deve ser proposta em 30 dias),

nos termos do artigo 190, são bastante brandas211. A esse respeito:

« Artigo 190. IX. Caractère définitiv. Recours. 1.Principe

1. La sentence est définitive dès sa communication

2. Elle ne peut être attaquée que:

a. Lorsque l'arbitre unique a été irrégulièrement désigné ou le tribunal

arbitral irrégulièrement composé;

b. Lorsque le tribunal arbitral s'est déclaré à tort compétent ou

incompétent;

209

BRINER, Robert. Switzerland. International Handbook on Commercial Arbitration, suplemento 27, outubro de 1998, p. 2.

210

Art. 192. 1. “Si deux parties n’ont ni domicile, ni residence habituelle, ni établissement en Suisse, ells peuvent, par une declaration expresse dans la convention d’arbitrage ou un accord écrit ultérieur, exclure tout recours contre les sentences du tribunal arbitral ; ells peuvent aussi n’exclure le recours que pour l’un ou l’autre des motifs énumérés à l’article 190, 2e alinéa.2. Lorsque les parties on exclu tout recours contre les sentences et que celles-ci doivent être exécutées en Suisse, le convention de New York du 10 juin 1958 pour la reconnaissance et l’exécution des sentences arbitrales étrangères s’applique par analogie”.

211

Até então, a Suíça era muito criticada por permitir uma revisão no mérito baseada na “arbitriness”. Ver: POUDRET, Jean-François. Challenge and Enforcement of Arbitral Awards in Switzerland. Arbitration International, vol. 4, nº 4 (1988), p. 278.

c. Lorsque le tribunal arbitral a statué au-delà des demandes dont il était saisi ou lorsqu'il a omis de se prononcer sur un des chefs de la demande;

d. Lorsque l'égalité des parties ou leur droit d'être entendues en

procédure contradictoire n'a pas été respecté;

e. Lorsque la sentence est incompatible avec l’ordre public.

3. En cas de décision incidente, seul le recours pour les motifs prévus au 2e alinéa, lettres a et b, est ouvert; le délai court dès la communication de la décision.

Por outro lado, optou a Suíça por fazer parte do sistema internacional de controle do laudo arbitral concebido na Convenção de Nova Iorque, na medida em que, para o reconhecimento e execução de laudos estrangeiros, expressamente determinou a aplicação

dessa respectiva Convenção, nos termos do artigo 194212.

Para que não fosse exeqüível um laudo sem controle de condições mínimas, inclusive ordem pública, a Suíça regulou que, caso tenha havido renúncia à ação de anulação, mas o laudo for executado no próprio país, os requisitos da Convenção de Nova Iorque serão utilizados por analogia. É uma forma inteligente de evitar fraudes, apesar de certa contradição, já que os requisitos de Nova Iorque são mais abrangentes do que os da legislação interna.

Outra das várias inovações da Suíça foi designar a Corte Federal como única instância competente para analisar pedidos de anulação de laudo, salvo acordo diverso das partes escolhendo a Corte Cantonal do lugar da arbitragem. A vantagem da centralização na Corte Federal é a consolidação da análise em um único Tribunal, de forma rápida e a uniformizar a jurisprudência sobre o tema.

Em suma, a Suíça: reduziu as hipóteses de anulação, manteve coerência com o sistema internacional de controle ao reconhecer laudos com base em Nova Iorque, permitiu a

212

Art. 194. “La reconnaissance et l’exécution des sentences arbitrales étrangères sont régies par la convention de New York du 10 Juin 1958 pour la reconnaissance et l’exécution des sentences arbitrales étrangères”.

renúncia ao controle primário e centralizou as anulações na sua principal Corte, evitando a interposição de outros recursos.

A Suíça, pois, coloca-se como uma ótima opção de sede no contexto internacional. Gaillard comenta que, ao promulgar uma lei simples e garantidora da ampla autonomia da vontade, as partes sentem-se tão confortáveis com uma arbitragem na Suíça quanto se

sentiriam, caso tivessem escolhido a sede em seus próprios países213.

* * *

Selecionei os países acima, já que são reconhecidamente desenvolvidos em arbitragens internacionais e procuraram, com novas legislações a partir da década de 80, atrair mais arbitragens e, de alguma forma, responder aos constantes anseios de descolamento da influência do Judiciário.

Apesar da originalidade francesa, vimos que tem posição isolada e autocentrada, ou seja, despreza o controle primário realizado em qualquer outro país e analisa o laudo per se, já que o laudo flutua até ser localizado no momento da execução. Se o exemplo francês se populariza, não haverá nenhuma coordenação do sistema, já que não há um Tribunal supranacional ou outra forma de controle centralizado.

A Bélgica, no afã de tentar atrair arbitragens internacionais para o seu território com a eliminação da ação de anulação, acabou por demonstrar que o controle primário é de interesse da comunidade empresarial, na medida em que restabelecido em 1998.

A Suíça, no meu modo de ver, foi o país que melhor utilizou o binômio originalidade e coordenação: o controle de um laudo proferido no seu território será mínimo, mas haverá respeito à coordenação do sistema, consolidada na Convenção de Nova Iorque. Acho que ambas as características respondem aos atuais anseios da sociedade internacional.

213

GAILLARD, Emmanuel. A Foreign View of the New Swiss Law on International Arbitration. Arbitration International, vol. 4, nº 1 (1988), p. 25.

5. A TEORIA DA DESLOCALIZAÇÃO E AS MAIS

Documentos relacionados