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Subjetivação do trabalho: prazer, libertação, reconhecimento, entre outros

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3. CATEGORIAS DE ANÁLISE

4.3.3. Categoria de Análise: Simbologia e Subjetivação do Trabalho

4.3.3.3. Subjetivação do trabalho: prazer, libertação, reconhecimento, entre outros

Nesta seção, os entrevistados expressaram por meio do discurso (verbal) os sentidos do trabalho. As particularidades e a dimensão subjetiva de cada um interferiu de forma singular na descoberta de si e com relação ao que fazem (LHUILIER, 2005). Como pode-se notar nas verbalizações a seguir:

(102) o meu trabalho (pausa) pra mim é é muito importante, né? eu construir a minha vida com base no que eu trabalhei aqui. Então não vou falar que é 50%, porque tem a família, né? tem outras coisas e a gente tem que priorizar, mas pra mim é é essencial, se eu ficar sem trabalhar eu acho que eu fico louca, né? (Entrevistada 11).

(103) nesses últimos 6 meses, ele foi libertador (risos), mas eu acho que ele é, ele dignifica, me dar prazer e para a instituição, ele tem um notoriedade, sabe? a instituição reconhece o trabalho que eu desempenho, reconhece a função de [nome do cargo] como [nome do cargo], como gestão mesmo. (Entrevistada 05).

(104) esse reconhecimento, éhhh ele é mais, éhhh pelas pessoas que estão diariamente comigo do que pelooosss superiores. Ainda essa semana passada eu tive um exemplo claro disso, desse reconhecimento, desse carinho que as pessoas tem comigo. (Entrevistada 03).

(105) então é muito agradável sabe, é muito gostoso, você não vê a vida passando, você não envelhece, porque todo dia é um dia novo, de fato é um dia novo, com pessoas novas, com problemas diferentes, né? com possibilidades de poder né? Atuar na vida dessas pessoas é muito legal. (Entrevistado 01).

(106) o que mais me agrada, é entregar o canudo pra eles, pros alunos no momento da colação, aquele momento pra mim é muito gratificante, né? éhhh formar mesmo, formar pessoas. Isso isso me conquistou de uma forma muito forte, eu sou apaixonado por formar [nome da profissão]. Então é o que eu mais gosto é formar, formar pessoas. (Entrevistado 07).

(107) porque eu éhhh eu vi também essa possibilidade assim, de me realizar como pessoa, me realizo na vida dos alunos, eu eu sinto isso entendeu? Toda vez que eu formo, que eu faço a colação de grau, porque eu FAÇO a colação de grau eu me sinto muito emocionado, eu, num tem uma que eu num choro, porque eu me sinto, assim também realizado. (Entrevistado 02).

A entrevistada 11 no trecho (102), afirma que construiu a vida com base no seu trabalho na Instituição de Ensino - “eu construir a minha vida com base no que eu trabalhei aqui”. No quadro 11, é informado que ela trabalha na Instituição de Ensino de 10 a 19 anos, ou seja, um tempo considerável na Instituição de Ensino que lhe permitiu “construir a vida”. Subentende-se que esse “construir a vida” remete-se às conquistas materiais (objetivas) que o salário lhe proporcionou, como também às conquistas pessoais e interpessoais (subjetivas). Chama atenção o que diz: “se eu ficar sem trabalhar, eu acho que eu fico louca, né?”. O trabalho, nesse caso, é colocado como uma condição para não ficar louca. Isso vai ao encontro do pensamento de Enriquez (2001) quando o autor diz que o trabalho é o melhor método para vencer a loucura.

No trecho (103), a entrevistada 05 subjetiva o trabalho como “libertador”. Há particularidades na sua vida que foram ditas na entrevista e que não serão mencionadas aqui, que justificam o porquê do trabalho ter recebido esse sentido. Percebe-se que o reconhecimento da Instituição de Ensino sobre o seu trabalho é importante para ela - “a instituição reconhece o trabalho que eu desempenho”. Nesse momento, não fala sobre o trabalho desempenhado em equipe, mas fala do trabalho que desempenha individualmente e que é reconhecido. Esse excerto rememora o pensamento de Dejours (2006), no qual o ser humano também necessita do trabalho como um meio que lhe proporcione reconhecimento como ser social.

Por outro lado, a entrevistada 03 no trecho (104) diz que “esse reconhecimento, éhhh ele é mais, éhhh pelas pessoas que estão diariamente comigo do que pelooosss superiores”. Nesse caso, pode-se dizer que houve uma validação por outro, a partir da ligação dela com esse outro, ocasionando a produção de algo útil para ambos (LHUILIER, 2005). Desde modo, a gerente se constituiu como sujeito ativo na sua relação com o outro (ARDOINO; BARUS- MICHEL, 2005).

O entrevistado 01 no trecho (105) afirma que a partir do trabalho “você não vê a vida passando, você não envelhece, porque todo dia é um dia novo, de fato é um dia novo, com pessoas novas, com problemas diferentes, né?”. Nesse excerto, utiliza-se da negação para afirmar que a vida passa sem que se perceba e que há uma juventude eterna como dita por Freitas (2000), na qual a empresa apresenta-se como um lugar de rejuvenescimento permanente, diante das “pessoas novas” e dos “problemas diferentes” que exigem cada vez mais agilidade, rapidez e força (GAULEJAC, 2007). “Atuar na vida dessas pessoas” também é algo que dá sentido ao trabalho exercido enquanto gerente, uma vez que essa relação interpessoal é também uma relação de poder.

Isso também é expresso na fala dos entrevistados 07 e 02 em relação ao prazer de atuar na vida das pessoas quanto à formação - “o que mais me agrada, é entregar o canudo pra eles, pros alunos no momento da colação, aquele momento pra mim é muito gratificante, né? éhhh formar mesmo, formar pessoas”; “então é o que eu mais gosto é formar, formar pessoas”; “porque eu éhhh eu vi também essa possibilidade assim, de me realizar como pessoa, me realizo na vida dos alunos, eu eu sinto isso entendeu?”. Nessas formações discursivas (106) e (107), há sinais de envolvimento pessoal dos gerentes no momento da colação de grau - “isso isso me conquistou de uma forma muito forte”; “porque eu FAÇO a colação de grau eu me sinto muito emocionado, eu, num tem uma que eu num choro, porque eu me sinto, assim também realizado”. A colação de grau possui uma simbologia tão especial para os gerentes a ponto de emocioná-los. É também um momento de resgate de memória pelo que já vivenciaram nas suas formações. Desse modo, a experiência de conquista dos alunos é vista como uma fonte de prazer para os (as) gerentes.

Alguns gerentes - workaholic - tentaram expressar primeiro a quantidade em horas de trabalho e as atividades rotineiras específicas da função gerencial para posteriormente sinalizarem características mais subjetivas ao trabalho:

(108) eu trabalho de segunda à sexta, mais de 10 horas por dia, chega ser 11 horas, 12 horas por dia. E sábado e domingo é é é é é, aí é família, sábado e domingo. Que que acontece? eu tô numa fase que meus filhos cresceram e bateram asas. Então o trabalho preenche pra mim essa pra pra eu num ficar triste, né? e não ter aquela questão do síndrome do ninho vazio. (Entrevistada 06).

(109) 40 horas na carteira, mas assim(risos), eu fico na faculdade muito mais do que isso, porque é aquilo que eu falei, é minha energia, eu amo isso aqui, eu amo tá aqui. (Entrevistado 07).

Desse modo, a entrevistada 06 no trecho (108) afirma trabalhar “mais de 10 horas por dia, chega ser 11 horas, 12 horas por dia”, quer dizer, passa a maior parte do seu tempo diário na Instituição de Ensino. Separa o sábado e o domingo para a família. Para a entrevistada 06, os filhos metaforicamente “cresceram e bateram asas”, ou seja, saíram de casa para seguirem seus caminhos. Conclusivamente - “então” - acredita que “o trabalho preenche pra mim essa pra pra eu num ficar triste, né?”. Não deixa claro o que o trabalho preenche nessa oração, já na oração que segue, clarifica que trabalho é uma fuga para “não ter aquela questão do síndrome do ninho vazio”, que pode afetar os pais de modo depressivo quando os filhos se tornam independentes e saem de casa.

Nesse excerto, pode-se inferir que a entrevistada dedica-se ao trabalho com afinco durante muitas horas, como uma forma de abstrair-se da solidão, do lar vazio e sem a presença dos filhos. Esse enunciado discursivo da entrevistada pode ser um indicativo de que na sua prática social, ela exerce a função gerencial como uma workaholic - viciada em trabalho. A fala do entrevistado 07 no trecho (109), também está alinhada com esse pensamento acerca de exercer a função gerencial como um workaholic, uma vez que o entrevistado 07 afirma ficar na faculdade muito mais do que “40 horas”, justificando que o seu trabalho é a sua “energia” e que “ama” estar na Instituição de Ensino.

Nesta seção, constatou-se que os sentidos do trabalho foram subjetivados de forma bem diferente pelos (as) gerentes, a partir da singularidade de cada um (a). Ora o trabalho auxilia a construir a vida, escapar da loucura como também é sinônimo de libertação. Ora a importância está no reconhecimento recebido da instituição e/ou das pessoas sobre trabalho exercido, o que faz os (as) gerentes se sentirem como sujeitos ativos. Existem também momentos que “você não vê a vida passando, você não envelhece” por estar trabalhando. Como também existem momentos, nos quais o trabalho permite “atuar na vida dessas pessoas”, se realizar “na vida dos alunos”, na “formação”, na “colação de grau” dos alunos. Por hora, o trabalho também é escape para o “ninho vazio” como também energia para os que “amam” trabalhar, ou melhor, são workaholic - viciados em trabalho.

Essas constatações supracitadas são expressões da singularidade de cada gerente, uma vez que o sentido do trabalho se altera conforme o contexto, o resgate da memória, a experiência subjetiva de cada um, entre outros.