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CAPÍTULO II – ASPECTOS GERAIS DO ICMS

3.3. Espécies de Substituição

3.3.3. Substituição Tributária Progressiva (para frente)

Pelo regime da substituição tributária progressiva, fatos geradores ainda não ocorridos são antecipados pela presunção de sua ocorrência e, para isso, é eleito um substituto tributário que se responsabiliza pelo recolhimento do imposto (devido pelo substituído) que irá incidir em toda a cadeia mercantil.

Carraza (2012, p. 373) entende que “na substituição tributária para frente parte-se do pressuposto de que o fato imponível ocorrerá no futuro e que, portanto, é válida a cobrança antecipada do tributo”.

Complementa o autor seu raciocínio:

É sempre bom termos presente que, se não ocorreram os pressupostos necessários ao surgimento da própria obrigação tributária – e, portanto, não se pode falar, ainda, em tributo – por muito maior razão não se há de cogitar da substituição de um sujeito passivo que ainda nem existe. Eis aqui um limite lógico: somente se pode substituir pessoa certa, perfeitamente identificada. Ora, se ainda não surgiu a obrigação tributária, seu sujeito passivo não existe e, deste modo, presumi-lo afronta os postulados constitucionais, mormente o da não confiscatoriedade. (CARRAZA, 2012, p.373).

O autor é totalmente contra, e entende-se que com razão, o pagamento por presunção, uma vez que deve ocorrer a hipótese de incidência para efetivo pagamento do imposto. Entretanto, conforme visto anteriormente, a aprovação da EC 3/1993 permitiu o estabelecimento do mecanismo de substituição tributária.

Dessa forma, a substituição tributária progressiva, assim, constituiu-se numa sistemática utilizada no ICMS, por meio da qual é atribuída a uma pessoa que se situa no início do ciclo de produção-circulação da mercadoria, a obrigação de recolher o imposto que possivelmente será devido nas etapas subsequentes e, para tanto, presume-se pela adoção dos critérios estabelecidos em lei, o valor da base de cálculo.

Com base nessa premissa, todo o tributo é pago de uma só vez, sendo calculado sobre o valor pelo qual se presume que a mercadoria será vendida ao consumidor final. Os valores constam de uma pauta fiscal, ou seja, o cálculo do tributo é feito por meio de um arbitramento, pois não há certeza do valor exato de uma operação futura.

Utilizar-se-á o mesmo exemplo aplicado para a substituição tributária regressiva, aplicando-se os critérios da substituição tributária progressiva para demonstração da sistemática do cálculo do ICMS-ST.

Fabricante Distribuidor Atacadista Varejista

Preço R$ 200,00 R$ 280,00 R$ 380,00 R$ 450,00 Débito ICMS R$ 36,00 R$ 50,40 R$ 68,40 R$ 81,00 Crédito ICMS R$ 0,00 R$ 36,00 R$ 50,40 R$ 68,40 ICMS recolhido R$ 36,00 R$ 14,40 R$ 18,00 R$ 12,60 Total recolhido = R$ 81,00

Fabricante Distribuidor Varejista

Preço R$ 200,00 R$ 280,00 R$ 450,00 Débito ICMS R$ 36,00 R$ 50,40 R$ 81,00 Crédito ICMS R$ 0,00 R$ 36,00 R$ 50,40 ICMS recolhido R$ 36,00 R$ 14,40 R$ 30,60 Total recolhido = R$ 81,00 Fabricante Varejista Preço R$ 200,00 R$ 450,00 Débito ICMS R$ 36,00 R$ 81,00 Crédito ICMS R$ 0,00 R$ 36,00 ICMS recolhido R$ 36,00 R$ 45,00 Total recolhido = R$ 81,00

Conforme se pode interpretar, os exemplos apresentados pretendem demonstrar que o total de ICMS recolhido na cadeia é sempre o mesmo, desde que mantido o preço final de venda da mercadoria. A rigor, sequer seria necessária a tributação de qualquer outra operação, bastando que somente a última delas fosse tributada. Assim, caso o ICMS fosse monofásico e desde que incidisse apenas na operação de consumo, não haveria qualquer afetação na carga tributária.

No entanto, a tributação não funciona dessa forma, principalmente em razão da divisão de receitas entre os Estados, já que um imposto com incidência única no consumo destina-se todo ao Estado em que se dê a última operação em detrimento dos demais, em especial daqueles nos quais se localizam industriais e produtores.

Kalume (2014, p.443) coaduna com o explicitado ao afirmar:

O objetivo do regime resume-se a concentrar a arrecadação de toda a cadeia econômica em um único sujeito passivo, reduzindo a possibilidade de evasão, os custos de fiscalização e arrecadação, bem como, simplificando para os substituídos, a tarefa de apuração do ICMS.

Comumente, aos fabricantes é atribuída a responsabilidade pelo recolhimento do ICMS devido nas operações subsequentes com as mercadorias. Eventualmente, tal atribuição recai sobre distribuidores ou atacadistas.

No exemplo anterior, verificou-se a apuração do ICMS em cada etapa das operações subsequentes. Os valores a serem recolhidos eram:

Fabricante Distribuidor Atacadista Varejista

ICMS

recolhido R$ 36,00 R$ 14,40 R$ 18,00 R$ 12,60

Nesta situação, em que o fabricante é eleito como substituto tributário, caberá a ele o dever de recolher o imposto que seria devido pelo distribuidor, pelo atacadista e pelo varejista. É importante salientar que além dos impostos devidos por substituição, existe, simultaneamente, a própria operação praticada pelo fabricante.

Dentro desta ótica destaca-se o seguinte exemplo hipotético:

Fabricante Distribuidor Atacadista Varejista

Preço R$ 200,00 R$ 280,00 R$ 380,00 R$ 450,00

Débito ICMS R$ 36,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Crédito ICMS R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

ICMS

recolhido R$ 36,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

Base de cálculo da substituição tributária R$ 450,00

ICMS debitado pela substituição R$ 81,00

Dedução (ICMS da operação própria) R$ 36,00

ICMS devido por substituição R$ 45,00

Algumas observações se fazem necessárias para a correta interpretação das informações demonstradas nesse exemplo apresentado.

Os R$ 45,00 relacionados com o imposto retido são exatamente a soma de R$ 14,40 + R$ 18,00 + 12,60, devidos pelo distribuidor, pelo atacadista e pelo varejista, ou seja, de fato houve a substituição.

A dedução de R$ 36,00 da operação própria dos R$ 81,00 debitados inicialmente pela substituição, atende ao comando da não cumulatividade, sob pena de ser cobrado em duplicidade o ICMS sobre a base de cálculo inicial de R$ 200,00. Indispensável destacar, para bem entender o abatimento, que a operação do fabricante (substituto) é anterior a dos substituídos. Assim, o valor devido das operações subsequentes corresponde ao débito calculado sobre a última operação deduzido do valor que efetivamente incidiu na operação do fabricante, anterior às demais, como determina a Constituição Federal.

Conclui-se que, em razão desta antecipação dos fatos geradores, os substituídos não creditam o imposto sobre a entrada das próprias mercadorias sujeitas à substituição tributária, mas, também, não lançam débitos quando elas saem, porquanto, o imposto sobre toda a cadeia já foi antecipadamente recolhido pelo substituto.

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