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1.2 A TEORIA HOLÍSTICA DA ATIVIDADE (THA)

2.1.3 O sujeito e o contexto da pesquisa

O caso único desta pesquisa é uma estagiária cursando a disciplina de Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II no ano de 2015, antes de explanarmos como se deu a escolha pelo sujeito da pesquisa, veremos os passos anteriores da pesquisa-ação.

A pesquisa foi idealizada em 2014, neste período foi realizado o acompanhamento de um estagiário a partir de uma orientação supervisiva planejada conforme o rumo desta investigação, ou seja, com uma escuta sensível que contemplasse as ações linguísticas baseadas conceitualmente na THA, em específico nos conceitos que estavam sendo amadurecidos na época de base segura. Desta experiência, foi possível perceber a insustentabilidade supervisiva que partisse somente da Universidade. Pela própria natureza da pesquisa-ação, em que um resultado conduz a novas ações, desenvolveu-se um novo conceito, que após estudos e discussões tornou-se essencial para o favorecimento do ingresso do acadêmico de Letras ao sistema social do educador linguístico, o conceito de Desenvolvimento Profissional Corresponsável (DPC), viabilizado pela aliança didática. A partir disso, reorganizou-se a pesquisa com a inclusão das escolas fins como participantes deste processo e sujeitos ativos na construção da identidade docente do acadêmico.

No início de 2015, iniciou-se o contato com as escolas da região, verificou-se quem das professoras regentes optaria por estabelecer encontros de discussões conjuntas referentes aos aspectos que envolvessem as ações do educador linguístico. No primeiro semestre do ano, a disciplina do Curso que estava em andamento era Estágio Curricular Supervisionado de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental I, tal disciplina tem o objetivo de possibilitar o ingresso no ambiente escolar, a observação e o planejamento das atividades docentes que serão efetivadas no semestre seguinte. Enquanto que na escola o estagiário fica como observador do contexto e das nuances típicas do espaço educativo, na Universidade, o estagiário vai discutindo conceitualmente aspectos referentes às interações e ao objeto de ensino de Língua Portuguesa (ensino de leitura, de produção oral e escrita e ensino de gramática), culminando no projeto de estágio baseado na demanda da escola.

A opção da escola foi realizada pela estagiária, sujeito desta pesquisa, por motivo de proximidade da residência e de ter estudado nela todo o Ensino Fundamental, conhecendo assim professores e funcionários da escola. No ano de

2015, a estagiária estava com 20 anos completos no início de outubro e não tinha nenhuma experiência anterior com regência em sala de aula. Na escola, foi destinada a ela uma turma de 6º ano do Ensino Fundamental, com 23 alunos, média de idade entre 10 a 12 anos. Na mesma escola, uma colega e amiga de infância, que já havia feito magistério, realizou o estágio no outro 6º ano com a mesma regente. Esse fator foi motivo de comparação por parte da estagiária ao longo da experiência. Para a inclusão no sistema, a presença da colega foi um fator social importante no processo. A estagiária, sujeito desta investigação, apresentava expansividade social, desinibição e um bom tom de voz. No tempo de inserção na escola, as atividades de sondagem, diagnóstico da turma, relacionamento interpessoal com a regente e demais integrantes da escola, indicaram um processo natural e harmônico. A escolha pelo sujeito foi realizada considerando o aceite da regente da escola em participar dos encontros da aliança didática e o desejo da estagiária em ser uma futura profissional da área. Abaixo trago a voz da estagiária a partir de um instrumento diagnóstico realizado na turma antes da regência:

a) O que você acha que um professor precisa saber para poder ensinar e para que seu ensino possa efetivar a aprendizagem de seus alunos?

O professor precisa saber “como” levar os alunos ao conhecimento. Acredito que estar seguro de si, confiante e otimista pode possibilitar ao professor um bom desempenho em sala de aula. Contudo, somente isto não é capaz de levar os alunos ao caminho da aprendizagem. É preciso que o professor estude com afinco seu objeto de estudo (no meu caso a Língua Portuguesa) para que possa estar seguro ao transmitir seus conhecimentos aos educandos. Conhecer, fazer uma análise prévia das especificidades dos alunos e turma, também se julga necessário para a aprendizagem do educando. O professor precisa ter a sensibilidade para perceber se os alunos estão ou não aprendendo. Observar e planejar são atitudes fundamentais para o educador, assim como “ouvir o que o aluno tem a dizer”. Todos os fatores aqui citados, os julgo importantes e pretendo os desenvolver ao longo deste estágio: para isso, preciso estar comprometida com meu papel de educadora e com o meu alvo da aprendizagem, isto é, o aluno.

b) Dos elementos citados na questão anterior, quais deles você acredita já possuir e quais deles você considera necessário desenvolver/buscar?

Dos elementos citados na questão anterior, acredito que eu já possuo o otimismo e o comprometimento com meus alunos e a educação. Acredito que é necessário buscar e desenvolver a capacidade de ensinar conteúdos com clareza e precisão para os alunos. A prática e a vivência de sala de aula pode contribuir positivamente para o “domínio de conteúdo”.

No 2º semestre de 2015, iniciamos a disciplina de Estágio Curricular Supervisionado de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II, nesse momento, a estagiária já estava dando andamento na primeira sequência didática planejada e já avaliada no semestre anterior, inserida na dinâmica de dois contextos formativos: o da academia, com as orientações individuais, e o da escola com a aliança didática, em reuniões de uma hora a cada 15 dias ao longo do estágio. O tempo de duração do contato entre estagiária, professora supervisora/orientadora da academia e professora regente da escola foi o mesmo tempo em que a estagiária estava realizando a regência com a turma, três meses. Totalizaram sete encontros de orientação na academia intercalando com sete encontros da aliança didática na escola.

No contexto acadêmico, a dinâmica se dava da seguinte maneira: utilizava-se o instrumento de avaliação - ficha de orientação (em anexo), o preenchimento da ficha se dava ao longo do encontro, com orientações pontuais e abertura para as questões subjetivas da estagiária. Os encontros não seguiam uma ordem fixa, ora a estagiária iniciava a interlocução com temas considerados relevantes para ela, ora iniciávamos com a retomada das ações didáticas realizadas naquela semana, ora íamos respondendo à ficha de orientação. Essa dinâmica favorecia a rotação dos quatro discursos da atividade situada. A escuta supervisiva pautava-se na base segura e nos conceitos de empatia, congruência e aceitação incondicional, com uma abertura interlocutiva que favorecesse o dialogismo para reflexões, sensações e percepções da estagiária ao longo da regência.

No espaço escolar, operacionalizou-se o Desenvolvimento Profissional Corresponsável, com a vivência da aliança didática em si. A regente da escola, foi formada no ano de 2010 pela UFSM, tendo mais de 6 anos de experiência em escolas no Ensino Fundamental e recentemente concursada no Ensino Médio com um ano de atuação em outra escola. Trabalho de 60h semanais. Mostrou-se solícita e comprometida com a proposta da aliança. Desse modo, foi possível observar a

viabilidade e a importância da participação da regente na constituição identitária da estagiária, com as seguintes ações:

No primeiro momento, explanação da intenção do encontro, ora com terminologia da THA, ora com questões pendentes dos encontros anteriores, ora com a abordagem de uma questão a ser desenvolvida, por qualquer integrante do grupo, ou que fosse necessário algum aprofundamento (ao longo dos encontros surgiram temas como “o que se deve ensinar em LP?”, “Como é possível administrar o fator tempo na escola?”, “Qual a relevância do ensino da nomenclatura gramatical e quais os principais aspectos necessários de ensino de gramática para idade/6º Ano escolar?”; “Como se trabalha as características significativas do bom escritor para o 6º ano do Ensino Fundamental?”, etc.) . No segundo momento, a escuta e a discussão da questão destacada, bem como a avaliação da natureza da questão, considerando os termos do enquadramento. E num terceiro momento, a retomada das discussões postas e os encaminhamentos para o próximo encontro. Visto o contexto, vejamos a seguir como se deu a análise dos dados.