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Esta pesquisa teve como sujeitos uma professora de Educação Física e um grupo de alunos da 3ª série18 do ensino fundamental de uma escola pública da rede estadual paulista de ensino, localizada na zona leste da cidade de São Paulo.

A professora Laura19 tem 29 anos e reside no mesmo bairro em que a escola está situada. Ela concluiu o curso de licenciatura em Educação Física no ano de 2005, numa instituição particular de ensino superior, e, logo em seguida, foi aprovada em um concurso público promovido pela rede estadual paulista de ensino, onde atua desde 2006. Durante todo esse período, Laura sempre trabalhou nessa mesma escola, lecionando para alunos das séries iniciais do ensino fundamental. Atualmente, ela complementa sua jornada em outra instituição de ensino da rede estadual, localizada na mesma região, e sua carga horária semanal de trabalho é de 40 horas, sendo 32 horas dedicadas às aulas e 8 horas às atividades pedagógicas realizadas sem os alunos, as quais incluem trabalhos coletivos e individuais.

Ainda durante a graduação, Laura teve algumas outras experiências de trabalho, atuando principalmente em projetos sociais. Ela declara que, já nessa época, se identificava com o contexto educacional e com as questões pedagógicas da Educação Física. Embora a formação nessa área ofereça a possibilidade de que o profissional atue em outros âmbitos, como em clubes e academias, Laura afirma não se identificar com eles e preferir se dedicar à educação básica.

Após concluir o curso de Educação Física e começar a trabalhar no ensino público, Laura passou a fazer parte de um grupo de estudos sem vínculo institucional. Trata-se de um grupo formado por professores de Educação Física que trabalham em diferentes escolas (públicas e particulares), com diferentes etapas da escolarização básica, e que pesquisam a sua própria experiência pedagógica, reunindo-se sistematicamente para refletir e planejar

18 No ano em que a pesquisa foi realizada, a rede estadual paulista de ensino encontrava-se em um período de transição no que se refere à organização do ensino fundamental e à nomenclatura de suas respectivas séries, buscando adequar-se às alterações da legislação educacional brasileira, que estabelecem o ensino fundamental de 9 anos. Portanto, a 3ª série, que abrange alunos com a idade média de 9 anos e constitui, ainda, o ensino fundamental estruturado em 8 anos, corresponderá, em breve, ao 4º ano do ensino fundamental de 9 anos. 19 Para preservar o sigilo quanto à identificação dos sujeitos, seus nomes foram substituídos. Portanto, todos os nomes mencionados neste relatório são fictícios.

coletivamente a sua intervenção. Laura é uma professora extremamente preocupada com a sua formação e, além de participar desse grupo, estuda continuamente as produções da área da Educação Física e da educação, produz registros que a auxiliam a refletir sobre a sua própria prática e participa de eventos em que pode expor e discutir as suas experiências. Ela também cursou, em 2008, uma especialização em Pedagogia do Esporte Escolar, oferecida por uma universidade pública do estado de São Paulo.

A professora Laura foi intencionalmente selecionada para participar deste estudo, em função das características do trabalho que desenvolve com seus alunos. Eu já a conhecia, pois frequentei com ela o mesmo curso de especialização. Na ocasião, eu também trabalhava na rede estadual paulista, porém não na mesma cidade que Laura. Após a conclusão do curso, acabamos perdendo o contato. Ainda assim, as discussões que tivemos oportunidade de realizar anteriormente forneceram-me indícios a respeito dos princípios democráticos e críticos que norteavam a sua prática pedagógica. Quando os propósitos desta pesquisa começaram a ser delineados, pareceu-me, portanto, pertinente analisar o trabalho de Laura.

No final do ano de 2009, o projeto da pesquisa lhe foi apresentado e ela foi consultada a respeito do seu interesse em dela participar, o que aceitou prontamente. No início do ano letivo de 2010, iniciou-se, por seu intermédio, o processo de aproximação da escola e a seleção da turma cujas aulas seriam observadas.

A 3ª série F foi aleatoriamente escolhida entre as classes que tinham aula com a professora Laura, independentemente da idade dos alunos. Essa escolha foi norteada pelo pressuposto, corroborado pelos fundamentos teóricos que orientam este trabalho, de que a autonomia não está subordinada a níveis maturacionais de desenvolvimento, ou, em outras palavras, ela não se manifesta apenas a partir de uma certa idade. É claro que existem diferentes formas e possibilidades de ação autônoma decorrentes das características dos alunos, mas elas são possíveis em qualquer etapa da escolarização.

A escola Azul20, em que Laura trabalha e onde a pesquisa foi realizada, está localizada em um bairro da periferia de São Paulo. Ela se situa em um conjunto habitacional da COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo), na zona leste da cidade. Esses conjuntos habitacionais, que começaram a ser construídos na década de 1960, foram projetados para acolher a população de baixa renda, caracterizando-se como núcleos populares de habitação.

20 Nome fictício.

As famílias dos alunos pertencem às classes populares e, de acordo com o projeto político-pedagógico da escola, a maioria delas é constituída por trabalhadores da indústria e do comércio, autônomos e funcionários públicos.

A escola atende exclusivamente a alunos das séries iniciais do ensino fundamental (1ª à 4ª série ou 1º ao 5º ano), etapa que na rede estadual paulista é chamada de Ciclo I. Ela possui 34 turmas, divididas entre o período da manhã e o da tarde. Sua estrutura física é “razoável”. Trata-se de uma escola grande, com diferentes espaços destinados às atividades pedagógicas. Entretanto, identificam-se alguns problemas: o espaço onde antes ficava a biblioteca teve que ser convertido em sala de aula; a sala de informática atualmente está sem condições de uso; a quadra não possui cobertura, o que dificulta muito a realização das atividades, em função das circunstâncias climáticas; o prédio tem muitas escadas e degraus, inviabilizando o trânsito de pessoas com deficiência.

Como mencionado anteriormente, a direção da escola foi contatada com o auxílio da professora Laura. A diretora foi então informada sobre os objetivos e os procedimentos da pesquisa e solicitada a permitir a sua realização na escola. Ao consentir, ela assinou um documento que autorizava a coleta de dados e a presença da pesquisadora nas dependências da instituição, como consta no apêndice A. A professora e os pais dos alunos, por sua vez, foram solicitados a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (apêndices B, C e D), pelo qual foram formalmente informados a respeito das finalidades e circunstâncias do estudo e requeridos a confirmar a sua participação (ou a participação de seus filhos, no caso dos pais dos alunos).