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CAPÍTULO 4: TRILHA METODOLÓGICA

4.3 SUJEITOS DA PESQUISA

Escolhemos os professores como os principais interlocutores da pesquisa. Isto porque é na sala de aula que a inclusão e a ludicidade se concretizam ou não. Os professores estão interligados ao contexto escolar e desde a formação inicial, até o encontro cotidiano com os estudantes, as identidades docentes vão sendo construídas, e as práticas pedagógicas delineadas. (VEIGA, 2006; D‘ÁVILA, 2008; VEIGA; D‘ÁVILA, 2008)

Por sua vez, os contextos inclusivos têm desafiado sobremaneira os professores que se ressentem dos fracassos observados nesse aspecto. Assim, configura-se uma busca por culpados, enquanto os docentes responsabilizam ―a falta de base‖ ou o pouco empenho do estudante e/ou não comprometimento familiar e institucional, ―os alunos apontam a falta de didática dos professores e insegurança demonstrada por alguns docentes.‖ Diante desse quadro descrito por Lira (2015) nós concordamos com o autor quando diz que ―não é atribuindo culpas que a problemática será resolvida.‖ (LIRA, 2015, p. 17) A nossa estratégia, principal, foi, pois, disponibilizar escuta para que juntos pudéssemos identificar, pela voz docente, aspectos relevantes que indiquem barreiras frente à prática pedagógica inclusiva e lúdica, e, por conseguinte, fosse possível imaginar alternativas para o seu enfrentamento.

Dez professores se disponibilizaram a contribuir com a pesquisa, cuja participação se deu por adesão voluntária e cada um escolheu o nome fictício que foi aqui utilizado. No entanto, até alcançarmos esse momento, necessitamos de tempo e cautela para conseguir maior aproximação e conquistar a confiança necessária para a realização das entrevistas. Esse percurso está descrito mais adiante quando descrevemos o contexto pautado no diário de campo.

A formação do grupo de interlocutores seguiu alguns critérios de seleção, pois o professor precisaria ter experiência com inclusão escolar do estudante com deficiência, mesmo que não no ano da entrevista que foi 2017; como, também, as disciplinas que ministravam deveriam ser diferentes entre eles, pois pretendíamos saber de que maneira os professores relacionavam as suas possíveis iniciativas para incluir e para gerar ludicidade, com os conteúdos que ensinavam.

Cada docente assinou o termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO D)36, e respondeu a um total de 15 perguntas durante entrevista semiestruturada, gravada e transcrita posteriormente. Antes, porém, o roteiro com as perguntas foi socializado com cada participante e nele constava um breve resumo da pesquisa para que eles pudessem ter mais detalhes sobre o que havia modificado ao longo do período de campo. Pois, a observação iniciou-se em outubro de 2015, mas as entrevistas só aconteceram em março de 2017. (APÊNDICE A)

A primeira parte do roteiro destinava-se a identificar o perfil profissional e de formação dos entrevistados, assim como a sua rotina de trabalho. Era preciso discriminar, com mais clareza, o contexto que cada docente estava inserido e as possíveis ressonâncias no desenvolvimento de sua prática pedagógica. As respectivas respostas constam do quadro 2, abaixo.

QUADRO 2: Perfil dos docentes entrevistados

Profs. Idade Tempo docência Nível esc. Turnos Trab. Campos Atuação Tempo escola Total turmas Total estud. Estud. Inclusão 2017

Brena 44 16 Mest. 2 Fund.II 4 a. 6 180 1

Flor de Lis 68 43 Esp. 1 Fund.II 36 a. 5 190 0***

Gabriel 50 26 Esp. 3 Fund.II 18 a. 16 420 3

Hort 65 42 Esp. 2 Fund.II 20 a. 13 390* 2

JN 47 15 Esp. 3 Fund.II 3 a. 10 405** 5****

Jô 46 22 Esp. 3 Fund.I-II 4 a. 23 1000 5

Mara 50 18 Mest. 2 Fund.II 9 a. 7 185 1

Nina 42 19 Esp. 3 Fund.II

EJA

4 a. 15 414 2

Perseverança 48 22 Esp. 2 Fund.II 19 a. 7 240 1

Plutão 40 17 Esp. 2 Fund.II 13 a. 13 400 1

Fonte: Pesquisa da autora

Obs. * não soube responder, mas disse que tinha uma média de 30 estudantes por turma. ** incluiu também nesse valor, 15 estudantes de aula particular que ministra.

*** já atuou em turmas inclusivas

****falou em uma média. O total não foi preciso.

36

A gestora também assinou, de acordo com a autoridade do cargo, termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a pesquisa na escola. (ANEXO E)

Pelas informações coletadas, todos os professores possuem tanto experiência formativa, com no mínimo pós-graduação, até prática de ensino. Os professores entrevistados estão inseridos numa faixa etária considerada madura, o que agrega também experiência de vida à sua atuação profissional. Todos atuam no segmento fundamental II, o qual é constituído por turmas que vão do 6º ao 9º ano.

A escola pesquisada, por sua vez possui um quadro estável de professores com baixa rotatividade dos profissionais, o que favorece, em alguns casos, a construção de vínculos e estabilidade nas rotinas de trabalho estabelecidas na instituição. No entanto, é preciso ressaltar que o referido segmento, em sua estrutura administrativo-pedagógica, já representa entraves para a dinâmica dos professores, conforme discutido na introdução e nos capítulos teóricos, intensificado pela quantidade alta de turmas e de estudantes. A organização disciplinar do segmento em questão, por exemplo, e a grande quantidade de estudante por professor, reduzem a condição de ambos fazerem uso do tempo de modo ajustado à necessidade e condição de aprendizagem, dificultando, assim, a atenção às singularidades dos processos educacionais, como também a busca por meios de ensino mais diversificados.

Outro aspecto que torna essa condição docente ainda mais complexa diz respeito a carga horária de trabalho. Nesse caso, é preciso uma explicação preliminar. Os professores licenciados têm a montagem dos seus turnos de trabalho distribuídos em hora aula. Assim, ter 40h de trabalho não significa, necessariamente, trabalhar todos os dias da semana, dois turnos por dia. Mas, esse tempo está distribuído entre as aulas que precisam ministrar ao longo da semana, nas diferentes turmas e séries. Assim, mesmo os professores que relataram trabalhar os três turnos, possuem janelas de folga ao longo da semana, assim como nessa carga horária está incluso, também, o turno destinado ao planejamento e, por isso, fora da sala de aula.

Portanto, essas janelas de folga representam os possíveis tempos livres dos docentes para ele utilizar como melhor lhe prouver. Os professores entrevistados geralmente utilizam esse tempo para resolver assuntos pessoais como cuidados com a saúde, atenção aos filhos, como também em muitos momentos utilizam para organizar o próprio trabalho com correção, construindo materiais, atividades, avaliações ou participando de cursos.

Um aspecto que particularmente chamou a atenção foi o contingente reduzido de estudantes com deficiência não somente nessa escola, mas também em outras escolas de alguns dos professores. Isso, mais uma vez, reforça a constatação que quanto maior o segmento menos inclusivo e lúdico ele é. Por sua vez, este aspecto reafirma que a trajetória escolar dos estudantes com deficiência não é contínua, e o mesmo não tem garantia de finalizá-la, e isso está muito atrelado ao modo como a escola está organizada nos seus tempos, conteúdos e métodos.