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3. A HISTÓRIA DO LUGAR: A Tessitura do Espaço APABG

3.2 A História da APABG

3.2.1 Sujeitos da tessitura

Os relatos desses protagonistas foram colhidos a partir de entrevistas semi- estruturadas, algumas realizadas presencialmente e outras virtualmente e com a intenção de resgatar, através dos depoimentos, fatos desencadeadores e modos de articulação que contribuíram à criação da APABG. Foram cinco entrevistados, sujeitos que se inserem ativamente, mas em diferentes momentos da história da APABG.

Dois participam dessa história mesmo antes de sua criação, mantendo-se até os dias atuais nas ações que envolvem a unidade. Um deles se envolve como ativista do movimento participando de reuniões e mobilizações. O outro, como técnico, pesquisador da UFRGS, estudioso e interessado na causa.

Os outros dois se inseriram nos anos 2000 através de envolvimento técnico, ambientalista, representação institucional e interesse na efetivação da APABG. Recebem, conforme os relatos a serem expostos na narrativa, a denominação de o Grupo de Viamão. São aqueles com envolvimento ambientalista e técnico, vinculados à prefeitura e comunidade de Viamão. Ambos reacenderam o movimento e fortaleceram o desejo pela efetivação da UC, permaneceram neste enredo por alguns anos, mas hoje não atuam na UC. Agrega-se a esse grupo um quinto entrevistado, o presidente fundador da ONG Grupo Maricá que de forma mais indireta participa da história da APABG e das ações ambientais em Viamão.

Como característica principal de cada um dos sujeitos da tessitura APABG, o primeiro entrevistado, professor e pesquisador da universidade federal da região, engenheiro agrônomo, Mestre e Doutor em recursos hídricos do IPH da UFRGS, que representou esta instituição no Comitê Gravataí e hoje faz parte do conselho gestor da APABG. Doravante identificado como entrevistado um (ou professor da UFRGS). Conhecedor de sua história, além de participar de projetos junto ao Assentamento Filhos de Sepé, situado dentro da APABG e em parte do RVS Banhado dos Pachecos.

A segunda entrevistada, que será identificada como entrevistada dois (ou representante da APN-VG), é uma professora da região de Gravataí, hoje aposentada, ecologista e ativista em diferentes causas sociais e ambientais, que traz em sua trajetória de vida o viés socialista herdado dos pais. Em seus relatos expõe ter sido criada “[...] à sombra desse ideal de respeitar os direitos humanos, a vida, a preocupação, a solidariedade, e tudo isso foi incutido na minha alma desde criança [...]”. Essa professora tornou-se membro atuante da ONG APN-VG desde sua fundação.

A Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí – APN-VG surgiu nos anos 1970, por influência de Lutzemberg e com a função de reprimir a drenagem do Banhado Grande. A entrevistada relata que a ONG surgiu da emergência da destruição do Rio Gravataí, em função dos canais do DNOS. “[...] A ideia da fundação da APN-VG nasceu para impedir a drenagem do Banhado Grande”. A APN-VG desempenhou papéis importantes na história da APABG, mesmo antes de sua existência. A ONG ocupa, até hoje, um assento no conselho da UC e no Comitê Gravataí.

O terceiro entrevistado é um geólogo graduado pela UFRGS, identificado como o entrevistado três (ou representante da SAALVE). Este se envolveu com a APABG em decorrência de seu estudo de pós-graduação na mesma instituição, em 2001. Por ter estudado numa universidade federal, ele relatou que sentia a necessidade de dar algum retorno à sociedade. Em seu trabalho de pesquisa descobriu na região onde morava uma grande paleoduna, a Coxilha das Lombas85. Seu professor orientador o questionou se este ambiente não se encontrava situado numa área protegida. Ao investigar mais detalhes deparou-se com a APABG, uma unidade de conservação ainda não consolidada. Com isso, definiu seu objeto, apropriou-se de mais informações e acabou por se envolver na busca pela efetivação da APABG. Com a colaboração de outro colega, criou a ONG SAALVE, uma instituição atuante na UC e em educação ambiental na região e na APABG.

A ONG SAALVE foi criada em 2005, em função da luta pela efetivação da APABG. Segundo o entrevistado a ideia de formar uma ONG partiu da necessidade de “[...] poder ter uma pessoa jurídica, pra poder nos defender, porque tu, como indivíduo, tu não ganha nada, tem que ter uma instituição [...]”. A instituição pertence ao município de Viamão, mais precisamente à região de Águas Claras, local onde fica parcialmente a APABG e todo o RVS Banhado dos Pachecos. A ONG não existe mais, mas teve atuação significativa na articulação para a efetivação da UC e de seu referido conselho, onde permaneceu até 2010.

O quarto entrevistado foi um biólogo do Departamento de Meio Ambiente (DEMAM), o entrevistado quatro (ou biólogo do DEMAM/Viamão). Concursado para este cargo na prefeitura do município de Viamão, passou a atuar também nos anos 2000, além de desempenhar, até 2012 a função de conselheiro no Conselho Deliberativo da APABG.

Há também outros informantes que devido a algumas dificuldades de acesso ou contato direto, fizeram seus depoimentos por escrito. Um deles foi o presidente fundador da ONG Grupo Maricá, que será identificado como o entrevistado cinco (ou representante do Grupo Maricá). Técnico agrícola, biólogo de formação e Mestre em Educação, na época atuava como estagiário no Departamento de Meio Ambiente de Viamão – DEMAM.

O Grupo Maricá foi fundado em 2004 em Viamão, pela reunião de vários sujeitos que tinham afinidade com a causa ecológica e educacional e atuavam também no município de Mostardas. Nessa época, a Educação Ambiental (EA) emergia em Viamão em diferentes ações. Uma delas foi a construção da Agenda 21 Escolar, processo participativo iniciado em 1999. Este agregou vários segmentos da comunidade de Viamão, em especial as escolas. Outros eventos envolveram EA, escolas, Secretaria Municipal de Educação, projeto revitalização do Arroio Feijó, dentre outros. Nessa confluência de ações e ideias, um grupo de jovens educadores e estudantes se reuniu e fundou o Grupo Transdisciplinar de Estudos Ambientais – Grupo Maricá.

A instituição também se tornou membro atuante junto às causas relacionadas à APABG, fortalecendo a ONG SAALVE e as ações pela efetivação da UC, ocupando um assento no conselho da unidade até hoje.

Além desses depoimentos, têm-se os dos gestores das duas unidades de conservação a APABG. Quanto à APABG, os relatos foram colhidos com a primeira gestora efetiva da UC em 2009, que será identificada como a entrevistada seis (ou gestora da APABG). Esta se consolidou como gestora, após vários técnicos terem passado por este cargo. Recém concursada na SEMA/RS, é uma bióloga que se tornou peça importante na gestão e coordenação do Conselho Deliberativo da UC.

Quanto ao gestor do RVS Banhado dos Pachecos (RVSBP), biólogo de formação, que assumiu este cargo por concurso em 2009. Antes dele, o Refúgio ficou anos com uma gestão compartilhada com a APABG. Este gestor assumiu dando um maior ordenamento a essa UC. Ele será denominado de entrevistado sete (ou gestor do Refúgio).