• Nenhum resultado encontrado

OS SUJEITOS E O LUGAR DA PESQUISA: OS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA DIANTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL

CONCEPÇÕES E VISÕES SOBRE CRIANÇA, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: ANTES E DEPOIS DE ENTRAR NO CURSO

3.1. OS SUJEITOS E O LUGAR DA PESQUISA: OS ESTUDANTES DE PEDAGOGIA DIANTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Paralelo às leituras, formações e transformações conceituais vivenciadas pelos estudantes de pedagogia, adquire-se uma nova visão e compreensão sobre muitos temas da área da educação, como é o caso da formação para a educação infantil, que busca fundamentar no campo científico e profissional com as noções básicas de criança e infância, vinculadas às abordagens pedagógicas e à organização didática. Esse processo de mudança na formação do professor da Educação Infantil pode ser melhor compreendido se for feita uma análise comparativa entre as concepções prévias, antes do ingresso no curso e as novas visões adquiridas após cursar pedagogia, com referência às noções de criança e infância. Nessa ótica, adotamos essas noções como objetivo de análise para um momento empírico, incluindo a gravação dos relatos dos estudantes, o que permitiu compilar as informações sobre a compreensão desses estudantes em formação do referido curso.

A partir de uma seleção de trechos e fragmentos significativos das falas, eventualmente, os indícios encontrados nesses termos, considerando-os como componentes de uma análise de conteúdo, foram as bases para a definição de categorias e consequentemente para as interpretações dos entendimentos dos estudantes entrevistados sobre infância, criança, socialização escolar na Educação Infantil e atuação observada das professoras com as crianças. Sobre isso, o tema de estudo teve como suporte interpretativo as contribuições originadas da entrevista presencial com os alunos avançados na experiência acadêmica do currículo de pedagogia, matriculados no 5º e no 6º semestre do curso. A partir de

114

suas falas, chegou-se a sucessivas organizações e seleções dos dados, expressos através de tabulações, categorizações e interpretações dos resultados das entrevistas.

O critério específico para a escolha dos sujeitos entrevistados, foi o de que eles estivessem cursando ou já tivessem cursado a disciplina do Estágio Supervisionado na Educação Infantil, por justamente ser a disciplina que proporciona um maior contato com as crianças nesse ambiente, onde elas estabelecem uma socialização. Supôs-se igualmente que esses estudantes seriam aqueles que já tivessem assimilado as discussões das disciplinas de fundamentos da educação, como história, sociologia e psicologia, as quais têm importantes contribuições para um melhor esclarecimento sobre a educação infantil.

A escolha dos estudantes aconteceu após visitas às salas de aula do curso de pedagogia, no momento em que apresentei o tema e os objetivos da pesquisa e convidei-os a participar como entrevistados. Nove estudantes se declararam interessados em participar do processo dessas entrevistas. Três deles estavam cursando o 5º período, que é quando geralmente a disciplina de Estágio Supervisionado na Educação Infantil é oferecida na matriz curricular do curso de pedagogia. Os outros seis sujeitos entrevistados estavam no 6º período e já haviam cursado essa disciplina. Os estudantes que estão cursando esses períodos podem ser considerados veteranos na graduação, pois já estão inseridos no meio acadêmico de formação tendo de dois a três anos de experiência universitária. E podemos esperar destes estudantes o domínio das bases referenciais do que é estudado no curso de Pedagogia, especialmente de fundamentos da psicologia e sociologia da educação.

Quanto ao gênero dos sujeitos entrevistados, apenas um deles era do gênero masculino e os outros oito do gêneros feminino. Quanto à faixa etária, as idades variaram de 20 anos até 50 anos. O principal critério de escolha foi o de estarem vinculados às atividades curriculares de estágio relacionadas com a educação infantil, atuando ou já tendo atuado nos estabelecimentos escolares. Assim, no momento das entrevistas, direta ou indiretamente, eles puderam relacionar nos seus relatos a sua formação teórica com as práticas desenvolvidas na Educação Infantil durante o período de estágio nas escolas.

115

Com a realização dessas entrevistas, feitas em encontros únicos, com a gravação digital e posterior transcrição, obtivemos um material rico a partir do qual foi possível depreender inferências que se aproximam de muitos dos argumentos usados pelos sociólogos da infância em suas discussões sobre a visão sociológica da infância e da criança na sociedade atual (PINTO, SARMENTO, 1997; QVORTRUP, 2011; SIROTA, 2001). A partir desse ponto, pudemos começar a analisar as possibilidades e as contribuições que essa perspectiva recente da sociologia tem para o processo de formação dos professores que irão atuar diretamente com as crianças, ajudando-os a terem uma nova compreensão sobre a importância e aos significados educativos atribuídos à socialização, na perspectiva da Sociologia da Infância.

Sobre a metodologia utilizada nesse estudo, tentamos utilizar as orientações gerais de diferentes abordagens do método qualitativo que poderiam ser aplicadas à pesquisa científica em educação. Especificamente sobre a entrevista, consideramos essa abordagem de aproximação dos sujeitos tanto como técnica de coleta de dados quanto momento de produção do discurso (ROSA, ARNOLDI, 2006). De forma empírica foram observados igualmente critérios científicos da prática de entrevistas na pesquisa educacional, como consentimento informado, anonimato na divulgação, cenário confortável, estímulo à conversação e a ampliar entendimentos, cuidado com as transcrições, etc. (POWNEY, WATTS, 1987). Além desses aspectos procedimentais e heurísticos, é preciso ressaltar que a pesquisa científica nas ciências humanas tem dois principais objetivos intrínsecos: a crítica e a contestação do senso comum; e, a transgressão dos conhecimentos já estabelecidos (VAN DER MAREN, 1995).

Mas, no caso da educação, estes objetivos geralmente não se contentam apenas com a pesquisa abstrata e teórica, buscando também a mudança de práticas em suas dimensões pedagógicas e microssociológicas. Por isso, pretendemos ter feito do momento da entrevista um espaço de extrair, observar e analisar as ideias e motivações dos sujeitos sobre sua compreensão e saberes difundidos do fenômeno da socialização na Educação Infantil. Na perspectiva da pesquisa qualitativa, preferencialmente utilizei-me de técnicas e instrumentos como a entrevista estruturada, a categorização temática, a análise de conteúdo e exame crítico da legislação.

116

A apresentação e interpretação dos dados se baseou nos resultados dessas entrevistas semiestruturadas com os alunos do curso de pedagogia, investigando- se especialmente o tema da concepção prévia e visão atual sobre criança e infância, assim como sobre o entendimento da importância da educação infantil para a criança. Os sujeitos entrevistados, nos tópicos perguntados, responderam com várias ideias ou expressões. Assim, a quantidade de respostas, apresentadas como ideias distinguíveis ou expressões chaves discerníveis, variaram para cada tópico, sem correspondência com o número dos entrevistados. Os trechos, ou fragmentos de textos (eventualmente com a escrita reconstruída), devem ser vistos como recortes e seleções representativas, tendo sido considerados como expressões de ideias e formulações de linguagens, que mostram os conteúdos implícitos e os entendimentos tácitos dos entrevistados. Revelam, dessa forma, indícios significantes das noções do pensamento e da prática em educação relacionado à infância, à criança e à educação infantil, em geral ou particular, como experiência da formação no curso de pedagogia.

3.2. CONCEPÇÕES DE CRIANÇA E INFÂNCIA, E IMPORTÂNCIA DA