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Os Sujeitos da Pesquisa

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3 CAPÍTULO III O CORDEL E A ESCOLA: O VERSO NO MEIO DO

3.1 Os Sujeitos da Pesquisa

A seleção do curso de Agropecuária foi determinada pelo fato de que, historicamente, os alunos deste curso têm, em sua maioria, uma origem campesina. Esta opção se deveu à Literatura de Cordel predominar mais no âmbito rural, onde assume uma diversidade de papéis culturais, dos quais destacamos o informativo e o entretenimento.

A escolha do IFPE campus Vitória de Santo Antão como locus da investigação, como já foi esclarecido, deu-se pelo fato de ser professor de Língua Portuguesa da instituição. Assim, a proximidade do investigador com os sujeitos investigados, com a instituição e com a própria temática do Cordel, pareceu-nos um elemento facilitador da investigação, numa abordagem qualitativa.

Ao longo dos anos, atuando como professor no curso e na instituição, observei que tal perfil de aluno possuía uma maior proximidade, interesse e mesmo afinidade com a Literatura de Cordel, quando em algumas aulas eram abordados temas de literatura popular. Entretanto, tal observação carecia de uma maior comprovação, e levava à questão de qual seria o papel do Cordel na construção da identidade cultural desses jovens, e como estes percebiam o Cordel, se eram de fato leitores ou apreciadores desta literatura e qual a importância que atribuíam a esta manifestação. Citando Mark Curran (2000), o Cordel funciona como o retrato do tempo para o seu leitor, cabendo ao cordelista transformar o mundo em que vive em versos, na função de transmitir, informar e divertir.

Assim, para a realização da pesquisa, 147 alunos da 1ª série do Ensino Médio integrado ao Curso de Agropecuária, que ingressaram em 2010, responderam a um questionário, no próprio Campus. Estes 147 alunos estavam distribuídos em 4 turmas, que possuíam entre 35 e 38 alunos cada. No ano seguinte, 2011, 10 alunos selecionados neste grupo maior foram entrevistados após terem vivenciado o Cordel em sala de aula. A escolha desses alunos foi realizada de forma aleatória, oriundos eles de uma das turmas (1ª série C, hoje 2ª série C) que responderam ao questionário, que também foi escolhida de forma aleatória. Este procedimento, o de entrevista, foi tomado apenas no ano corrente para termos uma amostragem de como o Cordel vivenciado em sala, é visto por parte dos estudantes.

Julgando ser importante verificar a origem dos estudantes, se oriundos do meio rural ou urbano, procuramos sistematizar os dados em gráficos para melhor visualização, sendo um gráfico para cada turma analisada.

Os alunos da 1ª série do Ensino Médio integrado ao Curso de Agropecuária, do IFPE Campus Vitória de Santo Antão do ano de 2010, estão divididos em 4 turmas, que podem ser melhor visualizadas nos gráficos que seguem: 1ª série A, com 38 alunos (Gráfico 1), 1ª série C, também com 38 alunos (Gráfico 2), 1ª série D, com 36 alunos (Gráfico 3) e 1ª série F (Gráfico 4) com 35 alunos.

Assim, os gráficos a seguir indicam os quantitativos destes jovens por região que suas cidades de origem estão localizada. Assim, os alunos provenientes de cidades da Região Metropolitana do Recife (cor vermelha), da Zona Mata Pernambucana (cor azul) e do Agreste Pernambucano (cor verde), são visualizados a nos gráficos 1, 2, 3 e 4.

Gráfico 1. Quantitativo de alunos da 1ª série A, e suas cidades de origem, localizadas nas mesorregiões pernambucanas da Região Metropolitana do Recife (em vermelho), Zona da Mata (em azul) e Agreste (em verde).

Gráfico 2. Quantitativo de alunos da 1ª série C, e suas cidades de origem, localizadas nas mesorregiões pernambucanas da Região Metropolitana do Recife (em vermelho), Zona da Mata (em azul) e Agreste (em verde).

Gráfico 3. Quantitativo de alunos da 1ª série D, e suas cidades de origem, localizadas nas mesorregiões pernambucanas da Região Metropolitana do Recife (em vermelho), Zona da Mata (em azul) e Agreste (em verde).

Gráfico 4. Quantitativo de alunos da 1ª série F, e suas cidades de origem, localizadas nas mesorregiões pernambucanas da Região Metropolitana do Recife (em vermelho), Zona da Mata (em azul) e Agreste (em verde).

Procedimentos da Pesquisa

Ao analisar os quatro gráficos anteriores, vemos que a maioria dos alunos procede da Zona da Mata, mais especificamente de Vitória de Santo Antão, residindo portanto no entorno da escola ou em municípios circunvizinhos. Em segundo lugar, em termos quantitativos, temos os alunos provenientes da Região Metropolitana do Recife, seguido da região do agreste pernambucano. Vemos assim, que historicamente processou-se uma mudança de perfil nos alunos do curso, que agora provêm de áreas urbanas e não mais como no passado do meio rural.

Para a coleta de dados desta investigação foram utilizados os seguintes procedimentos: questionário estruturado em perguntas abertas (anexo 1) aplicado aos 147 sujeitos-participantes, e entrevista semiestruturada realizada com 10 sujeitos- participantes (gravação em áudio-visual), da 1ª série C (atualmente 2ª série C), que vivenciaram a Literatura de Cordel durante duas aulas, num total de 100 minutos. Tanto o questionário quanto a entrevista, e as duas aulas, foram realizadas no próprio Campus.

Os questionários (anexo 1) foram aplicados por professores diversos em uma aula de seu horário, sem a presença do pesquisador. Os alunos tiveram cerca de 50 minutos para responder ao questionário. Entretanto, segundo alguns professores, muitos alunos responderam às pressas ou sem mostrar algum interesse sobre a pesquisa. Essa atitude de descaso por parte dos alunos, talvez justifique o grande número de respostas mal elaboradas por parte dos sujeitos-participantes. Esta forma aligeirada e sem maior interesse por parte de alguns alunos é um dado que merece relevância, ainda que possamos atribuir a certo comportamento juvenil.

Já as entrevistas, realizadas no mês de março de 2011, aconteceram em duas tardes. A 2ª série C foi selecionada de forma aleatória para o trabalho da vivência do Cordel em sala de aula. O pesquisador, inicialmente, apresentou material didático (anexo 2), elaborado por ele mesmo, contendo um pouco sobre a história do Cordel, fragmentos de folhetos, capas de folhetos, e dois textos musicados por artistas nordestinos atuais.

O início da vivência deu-se com um dos textos musicados, uma explanação histórica do Cordel quanto às suas origens portuguesa e brasileira e a algumas

informações sobre os cordelistas, inclusive que muitos deles eram contemporâneos dos alunos. Inicialmente a vivência não pareceu despertar o interesse dos jovens.

Entretanto, quando os folhetos foram distribuídos entre os alunos, divididos em grupos de dois participantes, percebemos que os mesmos tornaram-se mais atentos e interessados no material apresentado. Os pares liam entre si, alternando o narrador entre as estrofes. Depois, percebeu-se que as duplas passaram a trocar os folhetos lidos, a fim de conhecerem outros folhetos. A sala de aula, durante aqueles 40 minutos de leitura, estipulados para esse fim, pareceu transformada em uma feira de Cordel, com alunos lendo e debatendo os textos, observando os desenhos das capas, perguntando algo mais sobre os autores dos folhetos. Contudo, cabe destacar que uma pequena minoria permaneceu sonolenta ou desinteressada.

Os folhetos de Cordel lidos em sala foram:

 A chegada da prostituta no céu, de J. Borges19;

 A mulher que botou o diabo na garrafa; de J. Borges;

 O valor que o peido tem, de José de Souza;

 O rapaz que se casou com a porca, de José Soares20;

 Futebol no inferno, de José Soares;

 Os projetos de seu Lunga para quando for prefeito, de Jotabê;

 O homem que lutou com um cabaço até ficar isdrope e não fez o babizôco, de Arievaldo Viana e Klévisson Viana;

 A professora indecente e as respostas de João Grilo, de Arievaldo Viana;

 Ode ao peido, de Rafael de Oliveira ou Dom Pirrito II;

 Juvenal e o Dragão, de Leandro Gomes de Barros;

 Romance do pavão misterioso, de José Camelo de Melo Resende;

 A história do peru gigante, de João Perón;

 As proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima;

 A chegada de Lampião no inferno, de José Pacheco;

 Chica Bananinha, a sapatão barbuda de lá da Paraíba, de K. Gay Nawara;

 Mulher doida, moça quente, corno, bicha e sapatão, de José Costa Leite;

 História de Jesus, o ferreiro e a macaca, de José Costa Leite;

 A Morte de Raimundo Jacó e a missa do vaqueiro, de José Costa Leite. Após a vivência, dez alunos foram escolhidos de forma aleatória para participar de uma entrevista filmada, convidados a participar e o fizeram com naturalidade, respondendo às questões propostas de forma eloquente.

19

Ou José Francisco Borges. 20

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