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Suporte legislativo à Empregabilidade dos Jovens com NEE

Existe um conjunto de princípios constitucionais relativos ao trabalho que defendem os direitos e deveres das pessoas com deficiência e incapacidade, dos quais se podem destacar a Declaração Universal dos Direitos do Homem (art. 23º), a Constituição da República Portuguesa (art. 71º), as Regras Gerais sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência (art. 7.º) e leis como a Lei n.º 46/2006 de 28 de Agosto, cujo art.º 5 é específico quanto à discriminação no trabalho e no emprego.

A necessidade de promover o emprego e a empregabilidade enquanto estratégias ao serviço da inclusão desta população é também partilhada pela Estratégia Europeia para a Deficiência da Comissão Europeia, nomeadamente através do seu Plano de Acção Europeu para a Deficiência, no qual as questões relativas ao acesso ao mercado de trabalho, integração profissional, aprendizagem ao longo da vida e a acessibilidade do espaço físico, se constituem como factores a priorizar e/ou recomendações chave a ter em conta na concepção das políticas de reabilitação (Gonçalves & Nogueira, 2012).

Esta afirmação dos direitos das pessoas com deficiências e incapacidades está também plasmadas no I Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiência ou Incapacidades 2006–2009 (PAIPDI), nomeadamente no eixo n.º 2,

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«Educação, qualificação e promoção da inclusão laboral» (DL 290/2009 de 12 de Outubro). A implementação do PAIPDI contribuiu para a definição de planos sectoriais, de que é exemplo o Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade, e criou também mecanismos de articulação com outros planos estruturantes como o Plano Nacional de Acção para a Inclusão, o Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais e o Plano Nacional de Emprego (Gonçalves & Nogueira, 2012).

No seguimento desta estratégia de planeamento, em 2010 foi instituída a Estratégia Nacional para a Deficiência 2011-2013 (ENDEF). A ENDEF pretende consolidar o investimento intersectorial iniciado com o PAIPDI, definindo para o efeito, um conjunto de medidas plurianuais distribuídas por cinco eixos estratégicos (Gonçalves & Nogueira, 2012). Ao nível do eixo «Autonomia e qualidade de vida» as medidas introduzidas espelham a necessidade de continuar o investimento nos processos de habilitação e de consolidação das respostas de apoio social às pessoas com deficiências e incapacidades e às suas famílias com o objectivo de promover a conciliação da vida pessoal, familiar e profissional e o aumento dos níveis de participação social (Resolução do Conselho de Ministros n.º 97/2010 de 14 de Dezembro).

Importa também referir a Estratégia Europeia Para a Deficiência 2010-2020: compromisso renovado a favor de uma Europa sem barreiras, da Comissão Europeia. Relativamente à área do emprego, a Comissão Europeia refere que é preciso que mais pessoas com deficiência tenham condições para ter e manter uma actividade remunerada no mercado normal de trabalho, visto que isto contribui para a realização pessoal e constitui uma protecção contra a pobreza (Silva, Teixeira & Jardim, 2011).

Em Portugal, o suporte legislativo que define a aplicação de programas de emprego e apoio à qualificação das pessoas com deficiência e incapacidade está enquadrado no DL n.º290/2009 de 12 de Outubro, que revogou o DL n.º 247/89, de 5 de Agosto, e o DL n.º 40/83, de 25 de Janeiro, que sendo da década de 80 necessitavam de ser ajustados à evolução da política de emprego e qualificação.

Silva, Teixeira e Jardim (2011) afirmam que esta alteração veio retirar medidas que constituíam uma mais-valia para a contratação desta população, nomeadamente, o Subsídio de Compensação, o Subsídio de Acolhimento Personalizado, o Prémio de Integração e o Subsídio para Instalação por Conta Própria, que anteriormente eram atribuídos independentemente do grau de incapacidade da pessoa com deficiência e incapacidade. O DL n.º290/2009, de 12 de Outubro, introduziu a distinção entre

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«Pessoa com deficiência e incapacidade» e «Pessoa com deficiência e incapacidade e capacidade de trabalho reduzida».

Este decreto enquadra o Programa de Emprego e Apoio à Qualificação das Pessoas com Deficiências e Incapacidades em vigor, que define as medidas destinadas especificamente às pessoas com deficiência e incapacidades que apresentam dificuldades no acesso, manutenção e progressão no emprego (o que não significa que esta população não possa beneficiar das medidas gerais de emprego e formação profissional). O programa define o regime de concessão de apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento das políticas de emprego e apoio à qualificação das pessoas com deficiências e incapacidades, que compreende as medidas sistematizadas no quadro que se segue (Quadro 4).

Quadro 4 - Disposições gerais do Programa de Emprego e Apoio à Qualificação das Pessoas com Deficiências e Incapacidades (Decreto-Lei n.º290/2009, de 12 de Outubro)

P ro g rama de E mp rego e Ap o io à Q u ali fic ão d as P es so as com Defic n cia ou Inc apacid ade Apoio à qualificação  Formação profissional  Formação inicial  Formação continua

Apoios à integração, manutenção e reintegração no mercado de trabalho

 Acções de informação, avaliação e orientação para a qualificação e emprego  Apoio à colocação

 Acompanhamento pós-colocação

 Adaptação de postos de trabalho e eliminação de barreiras arquitectónicas  Isenção e redução das contribuições para a segurança social

(As isenções e reduções das contribuições para a segurança social a cargo de entidades empregadoras são reguladas em legislação especial)

Emprego apoiado

 Estágios de inserção

 Contractos emprego-inserção  Centros de emprego protegido

 Contractos de emprego apoiado em entidades empregadoras

Prémio de mérito

Define o regime de concessão de apoio técnico e financeiro aos centros de reabilitação profissional de gestão participada e às entidades de reabilitação

Criação de uma rede de centros de recursos de apoio à intervenção dos Centros de Emprego

Criação de um Fórum para a Integração Profissional

Em Portugal, as medidas activas de emprego dirigidas às pessoas com deficiências ou incapacidade são da responsabilidade do Instituto de Emprego e

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Formação Profissional (IEFP), que trabalha em rede com um conjunto de centros de reabilitação profissional (Gonçalves & Nogueira, 2012).

3.1.1 Formação Profissional

No que diz respeito ao sector da educação, a formação profissional é contemplada na Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro) – com as alterações e aditamentos introduzidos pela Lei n.º 115/97 de 19 de Setembro e pela Lei n.º 49/2005 de 30 de Agosto – referindo que esta, para além de complementar a preparação para a vida activa iniciada no Ensino Básico, visa uma integração dinâmica no mundo do trabalho pela aquisição de conhecimentos e de competências profissionais. O artigo referente à formação profissional (Artigo 22º) refere ainda que esta deve ser estruturada segundo um modelo institucional e pedagógico flexível, de modo a permitir integrar alunos com diferentes características e níveis de formação.

Relativamente ao período pós-escolar, como referido, a formação profissional de pessoas com deficiências e incapacidades está enquadrada no DL n.º290/2009, de 12 de Outubro, que refere esta “deve, sempre que necessário, integrar uma componente de reabilitação funcional e actualização de competências, visando o desenvolvimento da autonomia pessoal, de atitudes profissionais, de comunicação, de reforço da auto- imagem e da auto-estima, da motivação e de condições de empregabilidade, bem como a aprendizagem ou reaprendizagem das condições necessárias à plena participação das pessoas com deficiências e incapacidades.” Refere ainda que as acções de formação especificamente destinadas a esta população devem ser organizadas e desenvolvidas em estreita articulação com o mercado de trabalho, tendo em consideração as exigências do mesmo e as características e necessidades dos indivíduos.

3.1.2 Emprego apoiado

Na integração de pessoas com deficiência e incapacidade, a empregabilidade é um conceito complexo e multifacetado (Fernandes, 2011). Como referido, as pessoas com deficiência constituem um grupo heterogéneo, não só pelas diferentes tipologias existentes, mas também em função das características individuais que determinam vivências, percursos e perfis de competências diversificados. Assim, a integração no mercado normal de trabalho não será a resposta mais adequada em todas as situações, é necessário considerar critérios como severidade e extensão das limitações e o conjunto das capacidades remanescentes, mas também ponderar as

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necessidades e exigências apresentadas pelo mercado. Neste sentido têm sido criadas medidas alternativas ao mercado de trabalho competitivo, com o objectivo de funcionarem como fases intermédias e de preparação para uma eventual integração no mercado competitivo (Fernandes, 2007).

Com a entrada em vigor do Dl n.º290/2009 de 12 de Outubro, (que revogou o DL n.º 40/83 que, similarmente, enquadrava o emprego protegido), considera-se agora emprego apoiado “o exercício de uma actividade profissional ou socialmente útil com enquadramento adequado e com possibilidade de atribuição de apoios especiais por parte do Estado, que visa permitir às pessoas com deficiências e incapacidades o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais que facilitem a sua transição, quando possível, para o regime normal de trabalho”.

O emprego apoiado pode ser desenvolvido nas modalidades estágio de inserção para pessoas com deficiências e incapacidades, contrato emprego-inserção para pessoas com deficiências e incapacidades, centro de emprego protegido ou contrato de emprego apoiado em entidades empregadoras (idem).

3.2 Realidade estatística

Apesar das diversas medidas políticas anti-discriminatórias, ou mesmo de discriminação positiva, implementadas, a realidade estatística demonstra a existência de elevadas taxas de desemprego entre a população com deficiência (Fernandes, 2007). Importa referir que as estatísticas apenas incluem pessoas registadas como desempregadas, mas uma alta percentagem de pessoas com necessidades especiais não está registada – atendendo a que nem tão pouco têm a oportunidade de conseguir o primeiro emprego (Soriano, 2006).

Em Portugal, no que concerne ao exercício de actividade económica, há uma década atrás constatou-se que, no conjunto das pessoas com deficiência activas face ao emprego, 9,5% se encontrava em situação de desemprego, sendo que a taxa homóloga na restante população era de 4%. No que diz respeitos aos restantes inquiridos pelos Censos 2001, 17,5 % encontrava-se permanentemente incapacitado para o trabalho e 67,2% sem actividade económica (estudantes, reformados, domésticos). Constatou-se também que a pensão/reforma era o principal (55,2%) meio de vida, enquanto o rendimento proveniente do trabalho ocupava o segundo lugar (24,8%), o contrário ao observado na restante população (Instituto Nacional de Estatística, 2001).

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A AEDNEE (Soriano, 2006) refere que os encargos com o desemprego das pessoas com deficiência constituem o terceiro item mais elevado da despesa da protecção social, depois das pensões por reforma e das despesas com a saúde.

No entanto, é de salientar que a integração profissional de pessoas com deficiência é uma realidade crescente: de 1998 a 2005 os resultados da integração passaram de 861 a 1327, representando um crescimento de 54%. Este crescimento atesta a maior abertura e confiança da comunidade empresarial face a esta população. No entanto, as integrações profissionais sofrem flutuações decorrentes do próprio mercado de trabalho e da economia nacional (Fernandes, 2007), sendo que na actualidade as essas condições não são as mais favoráveis.

Também é certo que a área de integração é frequentemente condicionada pelo conjunto de oportunidades, académicas e formativas, a que a pessoa com deficiência tem oportunidade de aceder, nem sempre representando a liberdade de escolha, mas sim a escolha face à oferta disponível e acessível (Fernandes, 2007).

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