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2 SUBSÍDIOS DA TEORIA DEMOCRÁTICA REPRESENTATIVA PARA A

3.2 O SURGIMENTO DA INTERNET

Tem-se o início da Internet na década de 60, onde foi utilizada basicamente em pesquisas militares durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos conectaram dois computadores distantes por linhas telefônicas, um deles na Universidade da

21 “[...] pode-se dizer que se trata de um conjunto de redes interligadas entre si, com alcance global,

onde trafegam dados diversos, de características públicas e privadas” (BARRETO; BRASIL, 2016, p. 12). Ainda pode ser conceituada de acordo com a Lei 12.965/2014, em seu artigo 5º, inciso I, como sendo “o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes” (BRASIL, 2014b).

Califórnia, e o outro em Stanford Research Institute, ambos na cidade de Los Angeles, criando uma malha de comunicação entre os centros de conhecimento daquele país, com o intuito de evitar que alguma cidade fosse atingida por ataques nucleares (BARBOSA, 2005, p. 14).

O avanço tecnológico se fez urgente pelos americanos quando, em comparação com os russos, estavam ultrapassados, tornando-se necessário desencadear “um processo de remobilização da pesquisa norte americana e de suas ligações com a defesa, especialmente na perspectiva de um programa espacial (que acabou sendo atribuída à NASA)” (LOVELUCK, 2018, p. 45). Castells (2004, p. 13) relata também que o surgimento da Internet está diretamente ligado à Arpanet (Advanced Research Projects Agency Network) formada nos anos de 1950 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos que viabilizou pesquisas com o objetivo de alcançar superioridade tecnológica militar em relação a seu rival daquela época, a União Soviética.

Para se ter uma ideia como a progressão foi rápida e colocada como prioridade pelos Estados Unidos, tem-se que nos anos 70, a rede Arpanet suportava 56 mil bits por segundo. Já na década de 80, as linhas da rede que conectava os cientistas americanos podiam transportar 1,5 milhões de bits por segundo. Em 1992, as linhas da mesma rede podiam transmitir 45 milhões de bits por segundo (uma enciclopédia por minuto). Essa evolução não ficou estática, eis que os projetos e pesquisas em desenvolvimento previam a construção de linhas com a capacidade de muitas centenas de milhares de bits por segundo (uma grande biblioteca por minuto) (LÉVY, 1999, p. 34).

Lemos (2002, p. 55-56) aponta as quatro etapas da evolução tecnológica, que culminou com a conexão e interligação das pessoas e computadores:

Os primeiros passos no tratamento automático da informação foram dados entre 1940 e 1960. Aqui os princípios essenciais e as inovações estratégicas são influenciados fortemente pela cibernética. A segunda etapa, de 1960 a 1970, caracteriza-se por sistemas centralizados ligados às universidades e à pesquisa militar. A terceira etapa, de 1970 aos nossos dias, marca o surgimento dos microcomputadores. Proponho uma quarta fase que seria aquela surgida na metade dos anos 80, caracterizada pela popularização do ciberespaço e sua inserção na cultura contemporânea. É a fase do computador em objetos e de tudo em rede. Se a terceira fase foi a do computador pessoal (PC), o milênio que começa será a fase do computador conectado (CC).

A popularização da Internet ganhou maior impulso somente a partir de 1990. A rápida expansão da computação pessoal foi a principal responsável pelo aumento no número de usuários da rede. Além deste fato, a facilidade de navegação auxiliou na difusão desta tecnologia de comunicação e informação (MARQUES, F., 2004, p. 6).

O que tornou possível que a Internet conquistasse a sua abrangência mundial foi a world wide web (www), desenvolvida em 1990, aplicada para partilhar informação e com o objetivo de “ligar entre si diversas fontes de informação através de um sistema interativo de computação” (CASTELLS, 2004, p. 31).

No Brasil, o uso da Internet também é recente, nascendo na mesma época que a Constituição Federal de 1988, quando o Laboratório Nacional de Comunicação Científica do Rio de Janeiro estabeleceu uma ligação com a Universidade de Maryland, no Estado de Washington. No mesmo ano, a FAPESC (Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo) ligava-se a FERMILAND (Laboratório de Física de Altas Energias de Chicago) (SIMAS; SOUZA JUNIOR, 2017, p. 191).

Em pouco tempo houve a necessidade de reestruturação da Internet, já que em seu contexto inicial era utilizada apenas para fins educacionais e, posteriormente, passou a ser também utilizada de forma pessoal e empresarial. A Internet proporcionou a impressão de onipresença, já que se pode estar em vários locais ao mesmo tempo, o que conferiu um caráter de auto-regulamentação, liberdade de manifestação e diversidade de opiniões (BORGES; BITENCOURT, 2018, p. 82).

Devido a necessidade de aumento da capacidade de navegação tornou-se necessário a intermediação por provedores, com grande capacidade de processamento, que devem preservar a privacidade dos usuários22.

Como a estrutura de acesso da www havia sido projetada inicialmente apenas para atender as universidades, as condições de tráfego na rede passaram a se complicar devido o acesso de milhões de usuários, desde suas casas ou trabalho. Uma nova estrutura tornou-se, assim, necessária. A intermediação e conexão à rede passou a ser atributo dos provedores. Geralmente essas empresas têm uma conexão permanente, de grande capacidade de processamento (MARQUES, F., 2004, p. 71).

22 “Art. 11 [...] § 3º Os provedores de conexão e de aplicações de internet deverão prestar, na forma da

regulamentação, informações que permitam a verificação quanto ao cumprimento da legislação brasileira referente à coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao tratamento de dados, bem como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo de comunicações” (BRASIL, 2014b).

Termos antes inexistentes passaram a fazer parte da vida dos cidadãos de forma natural como e-mail, web, servidor, bytes e, mais atualmente WhatsApp,

streaming de músicas, curtidas e direito digital, o que fez mudar o vocabulário, o

dicionário e a forma de comunicação da sociedade contemporânea (BORGES; BITENCOURT, 2018, p. 83).

O avanço da tecnologia com o surgimento da Internet interferiu diretamente na vida das pessoas, gerando consequências em diversos setores, como no campo do trabalho, com o fechamento de postos (mas também abertura de outros); no campo social, devido às novas formas de sociabilidade e interação, através de salas de conversa e também ao colocar em contato pessoas a quem antes só se tinha acesso remotamente; no campo cultural, com a propagação dos sites pessoais ou o compartilhamento e armazenamento de músicas sem passar pela mesma relação de consumo com a indústria fonográfica (MARQUES, F., 2004, p. 64).

A rapidez da informação e do conhecimento pode causar também uma insegurança e dúvida muito grande na sociedade. Se for procurar na Internet a resposta para uma pergunta, certamente encontrar-se-á mais de uma resposta, e não se está falando ainda das Fake News, mas sim da quantidade ilimitada de conteúdo gerado diariamente na Internet, sem qualquer credibilidade, qualidade ou compromisso com a verdade.

A sociedade que se descortina na atualidade encontra-se marcada por inseguranças e incertezas. A rapidez com que as informações são veiculadas em virtude do avanço tecnológico enseja nas pessoas efeitos de diferentes nuanças. Proliferam-se, no espírito do homem, múltiplas inquietações, levando-os, muitas vezes, a experienciarem uma profunda angústia. Surgem, simultaneamente, questionamentos jurídicos, filosóficos e morais a respeito da vida humana, do meio ambiente e da sociedade na qual se está inserida (MACHADO; MOURA, 2013)

Que a Internet influenciou a vida em sociedade é notório, entretanto, o que ocorreu após a disseminação da Internet para uso pessoal e com o aparecimento de uma nova forma de comunicação entre as pessoas, que são as mídias sociais, como o antigo Fotolog, que consistia em publicações baseadas em fotografias acompanhadas de ideias e sentimentos, é revolucionário. “Esse meio de comunicação e socialização atingiu três milhões de adeptos em apenas três meses – o que significava que 1 a cada 126 internautas da época possuía uma conta nele” (BEZERRA; SOARES, 2017, p. 5).