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Surgimento do currículo do ensino médio integrado do IFCE: uma

3 O PROEJA

3.1 O desenvolvimento da EJA no Brasil a partir de 1960 e a instituição do

3.1.4 Surgimento do currículo do ensino médio integrado do IFCE: uma

No contexto da experiência do nosso trabalho na coordenação pedagógica da antiga Escola Técnica Federal do Ceará, participamos em 1995, de diversas discussões a respeito do currículo técnico integrado adotado nessa instituição. Dessas discussões surgiu a ideia de se elaborar uma proposta que tinha por objetivo desenvolver um processo de reformulação curricular participativo, que subsidiasse a organização de um novo currículo, superando as inadequações e defasagens no currículo adotado naquela época.

Esta reformulação visualizava a transformação da Escola Técnica Federal em Centro Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (CEFET) a qual se consolidou por meio do Decreto no 2.406/97 27/11/1997 que regulamentou a Lei Federal no 8.948/94 (que tratava da transformação das escolas técnicas e agrotécnicas federais em Centro Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - CEFET) que se caracteriza pela formação de técnico de nível superior (tecnólogo, engenheiro industrial e formação de professor). No Ceará, esta transformação ocorreu em 1999, conforme a Portaria no 845, aprovada pelo ministro de Estado da Educação da época, Paulo Renato Souza.

Essa proposta curricular foi rediscutida em 1999, quando a ETFCE mudou a sua denominação para CEFETCE, conforme o Decreto de 22 de março de 1999, DOU de 23 de março de 1999, tendo sido atualizada no Encontro Pedagógico de 2001 e redefinida nos dias 2 e 3 de março de 2005, no momento da realização do 30o Encontro Pedagógico do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará, cujas concepções de educação e currículo, definidas, após estudos e reflexões em momentos anteriores, ainda hoje, constam do Plano de Desenvolvimento Institucional do atual IFCE.

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No Encontro Pedagógico de 2005, houve um movimento coletivo que envolveu a comunidade docente, técnico-pedagógica, técnico-administrativo e os dirigentes que, na oportunidade, não só referendou a concepção de educação, definindo-a como “Um processo que liberta o homem, o faz sujeito de sua própria aprendizagem e produtor de conhecimento a partir de suas próprias experiências e valores com uma sólida base científica e tecnológica.” (CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO CEARÁ, 2005, p. 22).

O grupo dos docentes e pedagogos do CEFETCE referendaram também a concepção de currículo afirmando que: “Deve ser compreendido como um processo que privilegia a formação do homem em sua totalidade, de forma crítica, reflexiva e integrada no contexto sóciopolítico-econômico e cultural, tornando-o um ser autônomo, empreendedor, capaz de atuar em uma sociedade em constante transformação”, como também se discutiu e se planejou em cada gerência as diretrizes estratégicas com vistas à elaboração do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) para o período de 2005 a 2009 que seria enviada para o Ministério de Educação (MEC), até o dia 31 de março do ano em curso.

Ressalta-se que essas concepções ainda hoje constam do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do IFCE que é revisado de cinco em cinco anos.

Não foi fácil para a Coordenação Pedagógica da antiga Escola Técnica Federal, atual IFCE, desencadear o citado movimento nos Encontros e Semanas Pedagógicas previstas no cronograma de suas atividades, anualmente. Entendíamos que o trabalho de construção coletiva é fundamental para o sucesso de um processo de reorientação curricular. Ficando ainda mais difícil porque lidamos com professores que, no seu cotidiano, reproduzem um trabalho fragmentado, disciplinar, baseados nas concepções mecanicistas e positivistas do conhecimento, cujos desdobramentos pedagógicos são o repasse de conteúdos estruturados em um sistema de ordenamento linear, sequencial, facilmente quantificável, através de uma avaliação tradicional.

Ficávamos sempre na expectativa de que os docentes que participaram daqueles momentos de discussões e reflexões nos encontros pedagógicos realizados, cujo escopo era a reformulação curricular, pelo menos se sensibilizassem e despertassem para a consciência de que deveriam adotar mudanças no nível de ação na sua prática pedagógica; pelo menos era a contribuição que esperávamos com aquelas discussões e reflexões sobre as concepções de currículo e de educação, que os professores adquirissem compreensões mais abrangentes do fenômeno educativo.

Considerando que a reforma da Educação Profissional, iniciada com a Lei 9.394/96 – capítulo III – regulamentada pelo Decreto no 2208/97, que foi revogado pelo

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Decreto no 5154, de 23 de julho de 2004, que propôs que a referida Educação Profissional seja desenvolvida por meio de cursos e programas de:

I - formação inicial e continuada dos trabalhadores; II - educação profissional técnica de nível médio; e

III - educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação.

Procurando atender as necessidades da sociedade e a legislação, o CEFETCE, atualiza por meio de reformulações, a sua proposta pedagógica, redefinindo a sua área de atuação e reconfigurando o currículo a ser adotado nos diversos níveis de ensino.

No Encontro Pedagógico, realizado em março de 2005, foi realizada uma discussão com toda a comunidade do CEFETCE a respeito da possibilidade da volta do Ensino Médio Integrado com a promulgação do citado Decreto 5.154/2004 (BRASIL, 2004) que propõe a integração da educação profissional com a educação de jovens e adultos na perspectiva de elevar o nível de escolaridade dos trabalhadores.

No mesmo Encontro, percebeu-se que a maioria dos docentes estava a favor do retorno dos referidos cursos integrados. Para isso, os professores, coordenadores de curso e gestores adiantaram que havia necessidade de se fazer um estudo criterioso sobre as reais condições da implantação. No mesmo Encontro foi criado um grupo de estudo para discutir sobre este tipo de ensino, tendo em vista a possível oferta de alguns desses cursos, em 2006.

De antemão, existiu, na época, a preocupação de que a formação integral não se restringisse a uma questão de modelo curricular, mas de uma nova concepção pedagógica que conseguisse superar a dicotomia, formação geral e formação profissional voltada para os jovens e adultos trabalhadores.

Desse modo, enfatizamos que o “sucesso” da implantação do Proeja requer a compreensão de que este Programa se constitui como um campo epistemológico novo que integra o Ensino Médio, a Formação Profissional e a Educação de Jovens e Adultos, portanto, possui especificidades próprias que demandam um corpo teórico-metodológico com identidade própria.

Para isso, é necessária uma formação específica para os docentes, preparando-os para lidar com alunos, jovens e adultos trabalhadores, de níveis de idade e de conhecimento heterogêneos, sem esquecer que os jovens e adultos possuem inúmeras potencialidades para aprender e merecem ser estimulados a reconhecerem que têm essa capacidade. Desse modo, contribuirão para elevar a autoestima deles, principalmente se aproveitarem os conhecimentos prévios e as experiências de vida que eles trazem, fatores que, quando bem aproveitados, tendem a favorecer, de forma positiva, à construção da aprendizagem.

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