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Surubim morto encontrado no Rio São Francisco em Três Marias Julho de 2005

Fonte: Projeto Peixes, Pessoas e Água

Foto 44: Surubim morto encontrado no Rio São Francisco em Três Marias. Julho de 2005

Fonte: Projeto Peixes, Pessoas e Água

20 Em Pirapora, conforme resultado enviado por Agostinho da Silva, CETEC, todos os peixes estavam com alterações

anatomo-fisiológicas em seus órgãos decorrentes da contaminação por cobre, zinco e/ou pesticidas, não sendo possível verificar se foi a ação conjunta ou isolada destes elementos que produziram tais alterações nos peixes, pois os seus efeitos são semelhantes no organismo. O histórico de contaminação por Zinco e Cobre no médio São Francisco remonta para grandes empresas localizadas a montante de Pirapora, que anos atrás já causaram a mortandade de vários peixes e problemas de saúde nos pescadores da região. A provável fonte de pesticidas foram as grandes lavouras localizadas próximas às margens do Rio Abaeté, a utilização incorreta destes compostos em um mês caracterizado por elevado índice pluviométrico os levaram a serem carreados para a água, pois os mesmos não tiveram tempo de se fixarem nas plantas e/ou no solo, e nem para diminuir sua toxicidade. Como os metais e os pesticidas são compostos pesados / densos foram se sedimentando no fundo do rio, causando a morte, principalmente, dos peixes que vivem neste habitat, os surubins. Fonte: SAAE. Pirapora

Em Três Marias há de se registrar que o impacto maior se localiza na região de maior proximidade e influência direta do lançamento de efluentes, de descargas de águas subterrâneas contaminadas da barreira velha de contenção de rejeitos e, eventualmente, de resíduos da Companhia Mineira de Metais que tenham sido no passado criminosamente dispostos diretamente nas margens e leito do Rio São Francisco no trecho referido.

A expansão do turismo foi uma das questões mais levantadas pelos pescadores entrevistados, pois a proliferação da pesca amadora e esportiva gerou um problemático crescimento do desenvolvimento urbano no entorno do rio São Francisco, aumentando o número de “ranchos” e o número de pescadores amadores que concorrem com os pescadores artesanais profissionais. Muitos pescadores artesanais relataram que essa concorrência é “desleal”, pois os pescadores amadores e esportistas, devido a sua situação econômica mais privilegiada, usam apetrechos, barcos e motores mais sofisticados que os pescadores artesanais, além do mais, muitos desses acabam, durante a pesca no rio, cortando suas redes e “roubando” o lugar da pesca. De qualquer forma, a pesca no São Francisco certamente ainda é uma das importantes fontes geradoras de recursos para sua população ribeirinha.

Não é possível abordar e discutir neste trabalho as conseqüências que os fatores degradantes trazem para a organização e sobrevivência da população que habita esta extensa área que cobre toda a bacia do rio São Francisco. No entanto, pode-se afirmar que os fatores degradantes apontados como agressores do rio atingem primeiramente e principalmente populações que tradicionalmente praticam a pesca e a agricultura artesanal.

3.3- SUA GENTE E SEUS MODOS DE VIDA

Neste item, relata-se os modos de vida dos pescadores (as) do Alto- Médio Rio São Francisco. Os resultados quantitativos fazem parte da pesquisa censitária - já citada os dados qualitativos fazem parte da pesquisa amostral, ambas realizadas com as famílias de pescadores artesanais de algumas localidades do Alto São Francisco. É necessário ressaltar que, apesar da importância de alguns dados dessa pesquisa, como por exemplo, cor e religião, por não ser o foco desse trabalho, esses dados

não serão aprofundados21. No entanto, no capítulo quatro, será retomado à discussão de alguns dados como as relações de gênero, trabalho e meio ambiente. Portanto, o objetivo é caracterizar as famílias, os indivíduos componentes dessas famílias e seus domicílios.

Segundo dados do Censo de 2000, realizado pelo IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população dos municípios

22

, locais de moradia dos pescadores e família era: 9 Pirapora: 50.269 habitantes

9 Três Marias: 23.539 habitantes 9 Ibiaí: 7.247 habitantes.

9 Várzea da Palma: 31.632 habitantes 9 São Gonçalo do Abaeté:5.430 habitantes

De 1991 para 2000, a população de Pirapora e a de Ibiaí cresceram 0,8% e 0,7% ao ano, respectivamente. A população de Três Marias, ao contrário, esteve em queda de 0,6% ao ano. Esses dados demonstram que os três municípios vêm perdendo população por causa da migração. O crescimento de Ibiaí e de Pirapora é inferior à taxa de natalidade em 2000: 2% para Pirapora e 2,7% para Ibiaí. A taxa de natalidade de 1,8% em Três Marias não foi sequer suficiente para cobrir a perda do saldo migratório negativo. Essa característica de Três Marias pode ser explicada pela maior facilidade de acesso a centros urbanos como Brasília e também pelo melhor nível de escolaridade. Dos 853 municípios do Estado de Minas Gerais, no ranking do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano23, Pirapora ocupa a posição 158a. , Três Marias a 175a; Ibiaí, a 621a; Várzea da Palma, a 498a e São Gonçalo do Abaeté, a 404a.

21 Por se tratar de temas relevantes e complexos, acreditamos que seria oportuno tratá-los em um próximo trabalho. 22 Dados on-line só estão disponíveis agregados por município. Não temos, portanto, informações em separado para

Barra do Guaicuí, Beira Rio e Pontal do Abaeté.

23 O Índice de Desenvolvimento Humano sintetiza, em princípio dado que é um índice m contínua construção, três

indicadores: um indicador de longevidade, em geral expectativa de vida; um indicador sobre informação, em geral escolaridade da população adulta, um indicador da capacidade de compra, em geral renda per capita corrigida pelo poder de compra. Os dados para os municípios minerais estão disponíveis no site oficial do Governo do Estado e têm, como fonte, a Fundação João Pinheiro.

3.3.1 - Famílias e indivíduos

No total, das famílias entrevistadas pelo Censo, foram de 421 famílias e 2.060 indivíduos. Portanto, o tamanho médio de família, no total das famílias pesquisadas é de 4,9 pessoas, porém a freqüência de famílias com 5 membros é bastante alta. O tamanho médio da família é maior nas localidades menos urbanas (São Gonçalo, Guaicuí e Ibiaí) e à medida que se caminha rio abaixo. Em todas as localidades, o grupo de famílias de pescadores apresenta tamanho médio superior ao tamanho médio da família do município. Desses, temos grupos domésticos que transbordam o modelo de família nuclear, por incluir outros parentes e agregados; grupos menores que a família tradicional – famílias apenas com mãe e filhos, por exemplo. Há também famílias com filhos de casamentos anteriores. O que nos dá um quadro não de família, mas de famílias, assim como de casamentos. Casais que se separam e voltam a morar com os pais; filhos que se tornam pais solteiros e recorrem à ajuda dos pais. Muitas são as trocas cotidianas para cumprir a agenda das tarefas domésticas e, como sabe, são mulheres que em geral se organizam em redes de ajuda. São elas também que se encarregam mais de cuidar dos membros dependentes: as crianças, os velhos e os doentes. Nas imagens a seguir, podemos analisar a caracterização de algumas famílias entrevistadas:

Foto 45: Família de pescadores de Ibiaí-MG: pai,