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Suspensão das Ações e Execuções contra o Devedor.

SUMÁRIO:

3. Efeitos da Recuperação Judicial para os Negócios e Ações do Devedor

3.1 Condução da Atividade Empresária

3.1.2 Suspensão das Ações e Execuções contra o Devedor.

A LRE estabelece o prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da publicação do edital anunciando o deferimento do processamento da recuperação (§ 4º, art. 6º c/c § 1º, do art. 52, LRE), quando então se suspendem as ações e execuções contra o devedor que tiver requerido a Recuperação Judicial, ressalvadas as ações que demandarem quantia ilíquida29, as referentes aos credores elencados nos §§ 3º e 4º do art. 49, da LRE e as execuções fiscais (art. 6º, § 7º30, LRE). Esses credores podem fazer uso de suas ações e execuções para os recebimentos que lhe são devidos.

Ressalta-se que os credores elencados no § 3º, do art. 49, no entanto, durante o período de suspensão, não poderão retirar do devedor os bens objeto dos contratos excepcionados. Essa proibição tem como objetivo manter a atividade produtiva do devedor durante o prazo de suspensão.

Nesse sentido:

Agravo regimental. Liminar. Conflito de competência. Dúvida acerca da competência para o julgamento do pedido de recuperação judicial. Prazo de suspensão de 180 dias excedido. Contrato de compra e venda com reserva de domínio. Manutenção dos bens objeto do contrato na posse do devedor. Excesso de prazo não atribuível ao devedor. 1. Nos termos do art. 49, § 3º, da Lei 11.101/2005, o credor titular da posição de proprietário em contrato de compra e venda com reserva de domínio não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial, sendo vedada, porém, a retirada dos bens objeto do contrato do estabelecimento do devedor, no prazo de 180 dias a que alude o art. 6º, § 4º, da mesma lei. 2. Essa proibição de retirada dos bens do estabelecimento do devedor tem como objetivo manter a atividade produtiva da sociedade ao menos até a votação do plano de recuperação judicial. 3. No caso dos autos, como o processamento da recuperação judicial foi deferido em 14.10.2010, o prazo de 180 dias previsto na Lei de Falências já se esgotou. Cumpre frisar, porém, que o escoamento do prazo sem a apresentação do plano de recuperação judicial não se deveu a negligência da suscitante, mas sim à determinação da suspensão do processo de recuperação em vista de dúvida surgida acerca da competência para o julgamento do feito. 4.

29 Cfr. Gladston Mamede (in Falência e Recuperação de Empresas. São Paulo: Altas, 2006, p.76) as ações que demandarem quantia ilíquida serão atraídas para o juízo da recuperação judicial após a formação do título judicial.

30 Art. 6º, § 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial,

ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.

Diante disso, como não se pode imputar à sociedade recuperanda o descumprimento do prazo de 180 dias, e tendo em conta que o deferimento imediato do pedido de busca e apreensão coloca em risco o funcionamento da sociedade e o futuro plano de recuperação judicial, já que os bens objeto do contrato de compra e venda com reserva de domínio, no caso, são o "coração de uma usina de açúcar e álcool", mostra-se correta a manutenção dos referidos bens na posse da suscitante, até ulterior deliberação. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no CC 119337/MG AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2011/0241236-2; Julgado em 08/02/2012)31. Grifei.

As execuções fiscais também não se sujeitam a essa suspensão, com a previsão de que as Fazendas Públicas e o INSS poderão deferir o parcelamento de seus créditos em sede de Recuperação Judicial. No entanto, o Poder Judiciário tem se posicionado no seguinte sentido:

Processual civil. Agravo regimental. Conflito de competência. Execução de custas judiciais no âmbito trabalhista. Natureza fiscal. Deferimento da recuperação judicial. Suspensão da execução fiscal. Não ocorrência. Art. 6º, § 7º, da lei nº 11.101/05, com a ressalva nele prevista. Prática de atos que comprometam o patrimônio do devedor ou excluam parte dele do processo de recuperação judicial. Impossibilidade. Possibilidade de parcelamento. Competência do juízo da recuperação judicial. Precedentes. 1. Em regra, uma vez deferido o processamento ou, a fortiori, aprovado o plano de recuperação judicial, revela-se incabível o prosseguimento automático das execuções individuais, mesmo após decorrido o prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4, da Lei 11.101/2005. Precedentes. (...) 3. O deferimento da recuperação judicial não suspende a execução fiscal, porém não é permitido ao Juízo no qual essa se processa a prática de atos que comprometam o patrimônio do devedor ou excluam parte dele do processo de recuperação judicial. 4. Convém observar que, caso a execução fiscal prossiga, a empresa em recuperação não poderá se valer de importante incentivo da lei, qual seja, o parcelamento, modalidade que suspende a exigibilidade do crédito tributário (art. 151, I do CTN). 5. O artigo 187 do CTN trata da preferência da execução fiscal sobre outros créditos habilitados e inexiste ofensa a esse dispositivo ante a concessão do parcelamento fiscal, visto que o crédito continua com seus privilégios, mas passa a ser recolhido de maneira diferida, justamente para se garantir à empresa em situação de recuperação judicial a possibilidade de adimplir a obrigação tributária de maneira íntegra 6. Agravo regimental não provido.

(AgRg no CC 116594/GO; AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2011/0073401-0; Julgado em 14/03/201232) Grifei.

O legislador se preocupou em suspender as ações que poderiam afetar a manutenção do negócio do devedor, ressalvou outras, mas na prática o judiciário, conforme ementas acima transcritas, tem valorizado o Princípio da Preservação da Empresa, ampliando algumas prerrogativas do devedor em processo de Recuperação Judicial como a manutenção em poder do devedor dos bens indispensáveis às suas atividades além do prazo “improrrogável” de 180 dias, bem como não permitindo nas execuções fiscais a prática de atos que comprometam ou excluam parte do patrimônio do devedor.

Desta forma, poderá o período de 180 dias que a empresa está “blindada” contra uma enxurrada de cobranças, dando-lhe algum fôlego para sobrevivência33 ser prorrogado mediante decisão judicial em determinadas circunstâncias a partir da análise do caso concreto. Esta prerrogativa do devedor visa assegurar que o seu patrimônio fique afastado dos efeitos advindos de processos de execução, bem como dos outros tipos de processos que possam influenciar o desempenho das suas atividades34.

Corroborando as decisões acima que ampliaram o prazo de 180 dias fixado no § 4º do art. 6º, LRE aos créditos excluídos do processo de Recuperação Judicial, transcreve-se a decisão abaixo relacionada a crédito sujeito aos seus efeitos35:

Processual civil. Conflito positivo de competência. Juízo de direito e juízo do trabalho. Recuperação judicial. Processamento deferido. Necessidade de suspensão das ações e execuções. Competência do juízo da recuperação judicial. Precedentes. 1. Uma vez deferido o processamento da recuperação judicial, ao Juízo Laboral compete tão-somente a análise da matéria referente à relação de trabalho, vedada a alienação ou disponibilização do ativo em ação cautelar ou reclamação trabalhista. 2. É que são dois valores a serem ponderados, a manutenção ou tentativa de soerguimento da empresa em recuperação, com todas as conseqüências sociais e econômicas dai decorrentes - como, por exemplo, a preservação de empregos, o giro comercial da recuperanda e o tratamento igual

32 Consultado em 29.09.2014 no endereço: http://www.stj.jus.br.

33 Cfr. Pinheiro, Armando Castelar; Saddi, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 210-211.

34 Cfr. Souza. Marcelo Papaléo. A Lei de Recuperação e Falência e as suas consequências no Direito e no Processo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2009, p. 175.

35 Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que

aos credores da mesma classe, na busca da "melhor solução para todos" -, e, de outro lado, o pagamento dos créditos trabalhistas reconhecidos perante a justiça laboral. 3. Em regra, uma vez deferido o processamento ou, a fortiori, aprovado o plano de recuperação judicial, revela-se incabível o prosseguimento automático das execuções individuais, mesmo após decorrido o prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4, da Lei 11.101/2005. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Distrito Federal. (CC 112799/DF CONFLITO DE COMPETENCIA 2010/0117928-8; Julgado em 14/03/2011)36. Grifei e sublinhe.

Destarte, da análise das decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça verifica-se que o judiciário tem resguardado a tentativa de soerguimento da empresa em recuperação, com todas as conseqüências sociais e econômicas dai decorrentes em relação ao que determina a letra “fria” da LRE.

Entretanto, regra geral, após o decurso do prazo de 180 dias, restabelece-se o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial, salvo se aprovado o Plano de Recuperação situação que implicará novação dos créditos anteriores ao pedido e obrigará o devedor e todos os credores a ele sujeitos37, não havendo assim interesse no prosseguimento de ações e execuções, salvo eventual pedido de desistência deferido pelo Juiz (§ 4º do art. 5238, da LRE).

Mister ressaltar que os efeitos acima trabalhados não se aplicam aos coobrigados, fiadores e obrigados de regresso do devedor, ou seja, os credores do devedor em Recuperação Judicial conservam seus direitos e privilégios contra eles (§ 1º, art. 4939, LRE), tanto na fase de processamento, quanto após concedida a recuperação. Isto significa que os coobrigados, avalistas, fiadores, em regra, não poderão se valer das prerrogativas decorrentes da novação operada a partir da concessão da Recuperação Judicial e irão suportar o sacrifício direto representado pela Recuperação Judicial do devedor.

36 Consultado em 29.09.2014 no endereço: http://www.stj.jus.br. 37 Ver item 4.1.

38 Art. 52, § 4o O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu

processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembleia-geral de credores.

39 § 1o Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso.

Assim, como frequentemente a garantia de terceiro é feita pelo(s) sócio(s) do devedor, este(s) poderá(ão) ser executado(s) após o vencimento normal da dívida. Na hipótese de pagamento, ficará(ão) sujeito(s) ao que vier a ser aprovado no Plano de Recuperação.

Nesse sentido:

Agravo regimental no recurso especial. Recuperação judicial. Novação. Condição resolutiva. Suspensão. Não cabimento. 1. A novação operada pelo plano de recuperação fica sujeita a condição resolutiva, nos termos do art. 61 da Lei n.º 11.101/05. 2. Não se suspendem as execuções individuais direcionadas aos avalistas de título cujo devedor principal é sociedade em recuperação judicial. 3. Precedentes específicos desta Corte. 4. Não apresentação pela parte agravante de argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada. 5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no REsp 1334284/MT; AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2012/0145873- 7; Julgado em 02/09/2014)40. Grifei.

Direito civil e empresarial. Recuperação judicial. Homologação do plano. Novação sui generis. Efeitos sobre terceiros coobrigados. Extinção da execução. Descabimento. Manutenção das garantias. Arts. 49, § 1º e 59, caput, da lei n. 11.101/2005. 1. A novação prevista na lei civil é bem diversa daquela disciplinada na Lei n. 11.101/2005. Se a novação civil faz, como regra, extinguir as garantias da dívida, inclusive as reais prestadas por terceiros estranhos ao pacto (art. 364 do Código Civil), a novação decorrente do plano de recuperação traz como regra, ao reverso, a manutenção das garantias (art. 59, caput, da Lei n. 11.101/2005), sobretudo as reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas "mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia", por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º). Assim, o plano de recuperação judicial opera uma novação sui generis e sempre sujeita a uma condição resolutiva, que é o eventual descumprimento do que ficou acertado no plano (art. 61, § 2º, da Lei n. 11.101/2005). 2. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. 3. Deveras, não haveria lógica no sistema se a conservação dos direitos e privilégios dos credores contra coobrigados, fiadores e obrigados de regresso (art. 49, § 1º, da Lei n. 11.101/2005) dissesse respeito apenas ao interregno temporal que

medeia o deferimento da recuperação e a aprovação do plano, cessando tais direitos após a concessão definitiva com a homologação judicial. 4. Recurso especial não provido. (REsp 1326888/RS; RECURSO ESPECIAL 2012/0116271-2; Julgado em 08/04/2014)41. Grifei e sublinhei.

Desta forma, de acordo com os ensinamentos de Manoel Justino Bezerra Filho42,

se acaso o recuperando pretender a liberação dos coobrigados, deverá fazer constar tal disposição no plano de recuperação. Em tal caso, se aprovado o plano, estarão liberados os coobrigados dos credores constantes do plano, tenham ou não tais credores comparecido à Assembleia Geral de Credores, tenham ou não concordado com tal aspecto do plano, vez que o plano aprovado obriga todos os credores a ele sujeitos. Esta situação não se aplica aos credores com garantia real, pois, neste caso, o legislador estabeleceu no § 1o , do art. 50 que é necessária a sua aprovação expressa.