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Tramitação do Plano de Pagamentos

SUMÁRIO:

6. A responsabilidade pela ação ou culpa in agendo no requerimento do pedido de declaração de insolvência

2.5 Tramitação do Plano de Pagamentos

Neste particular, sempre se deve começar por dizer que o Plano de Pagamentos é tramitado como um incidente processual. Dito isto, sempre é possível suprir alguma lacuna com recurso ao regime dos incidentes do Código de Processo Civil, sendo que é o próprio C.I.R.E que para lá remete.

Apresentado o Plano, é o mesmo sujeito a apreciação liminar por parte do Juiz. Ao juiz cabe tomar uma de duas decisões: não homologar o plano, caso entenda que o mesmo não tem qualquer hipótese de vir a ser aprovado, seguindo-se a sentença de declaração de insolvência; pelo contrário, caso ache que o Plano tem “pernas para andar”, deve suspender o processo de insolvência até que exista uma decisão.

Como no referido processo foi decidido proceder à suspensão do processo, vale a pena seguir o “rasto” da tramitação. Se o processo é sus penso, os credores devem ser devidamente instruídos com a proposta efectuada pelo devedor. Uma vez na sua posse, tem 10 dias para se pronunciarem, sendo que, caso não o façam, fica confirmada a sua adesão ao Plano. No mesmo prazo, deverão corrigir a s informações prestadas relativas aos seus créditos, uma vez que, caso aceitem o que o devedor diz, poderão estar a perdoar alguma dívida.

Numa linguagem processual, o plano é apresentado e os credores poderão contestar, opor-se, responder. Trata-se do mais elementar exercício ao direito do contraditório, basilar em qualquer ordenamento processual.

Apresentado o Plano e seguindo-se alguma contestação ao mesmo, o devedor é notificado para modificar a relação de créditos, isto querendo. Perante a contestação, nesta senda, o devedor faz o seguinte: o modifica a relação de créditos, se a mesma tiver sido impugnada, recusa a modificação ou modifica parcialmente, sendo que só ficam abrangidos pelo plano de pagamentos os créditos cuja existência seja reconhecida pelo devedor.

Supondo que há modificação (uma vez mais, foi o que aconteceu neste caso, neste processo), os credores são novamente notificados para se pronunciarem, sendo que este é um ponto fulcral a que vamos voltar infra.

2.6 Da Aprovação

Artigo 257.º

Aceitação do plano de pagamentos

1 - Se nenhum credor tiver recusado o plano de pagamentos, ou se a aprovação de todos os que se oponham for objecto de suprimento, nos termos do artigo seguinte, o plano é tido por aprovado.

2 - Entende-se que se opõem ao plano de pagamentos: a) Os credores que o tenham recusado expressamente;

b) Os credores que, por forma não aceite pelo devedor, tenham contestado a natu reza, montante ou outros elementos dos seus créditos relacionados pelo devedor, ou invocado a existência de outros créditos.

3 - Não são abrangidos pelo plano de pagamentos os cré ditos que não hajam sido relacionados pelo devedor, ou em relação aos quais não tenha sido possível ouvir os respectivos titulares, por acto que não lhes seja imputável.

Vale a pena decompor o preceito: o Plano é aprovado se nenhum credor se opuser, sendo que opõe-se quem recuse o plano expressamente, ou quem tenha contestado a natureza, montante ou outro elemento do crédito relacionado

A objecção de alguns credores pode ser suprida. De resto, a sentença que foi objecto de recurso também o refere. Atente-se ao disposto no artigo 258.º do C.I.R.E.:

Artigo 258.º Suprimento da aprovação dos credores

1 - Se o plano de pagamentos tiver sido aceite por credores cujos créditos representem mais de dois terços do valor total dos créditos relacionados pelo devedor, pode o tribunal, a requerimento de algum desses credores ou do devedor, suprir a aprovação dos demais credores, desde que:

a) Para nenhum dos oponentes decorra do plano uma desvantagem económica superior à que, mantendo-se idênticas as circunstâncias do devedor, resultaria do prosseguimento do processo de insolvência, com liquidação da massa insolvente e exoneração do passivo restante, caso esta tenha sido solicitada pelo devedor em condições de ser concedida;

b) Os oponentes não sejam objecto de um tratamento discriminatório injustificado;

relação de créditos apresentada pelo devedor, com reflexos na adequação do tratamento que lhes é dispensado.

2 - A apreciação da oposição fundada n a alínea c) do número anterior não envolve decisão sobre a efectiva existência, natureza, montante e demais características dos créditos controvertidos.

3 - Pode ser sempre suprida pelo tribunal a aprovação do credor que se haja limitado a impugnar a identificação do crédito, sem adiantar quaisquer elementos respeitantes à sua configuração.

4 - Não cabe recurso da decisão que indefira o pedido de suprimento da aprovação de qualquer credor.

A este preceito havemos de voltar, igualmente infra.

§ 3 Da (necessária e correta) aprovação do Plano de Pagamentos

Há uma razão para se ter apresentado o referido recurso e agora se sustentar o presente escrito: houve uma errada aplicação do direito. Convencidos de que outra teria de ser a decisão, não podemos olvidar que é da mais antológica teoria geral dos recursos o princípio de conceder a quem saiu derrotado, pelo menos, um segundo grau de jurisdição para o qual possa recorrer e expor a sua s razões de direito, quando não também as de facto.

No presente caso, foi o que sucedeu: uma errada aplicação nas normas jurídicas, com especial enfoque no instituto da tramitação do plano de pagamentos e consequente aprovação.

Há, na sentença sob censura, uma pedra de toque que muda, totalmente, uma decisão que poderia ser conforme o direito e uma que está contra ele. Passa a explicar-se: tendo sido respeitada a tramitação, o Plano de Pagamentos foi tempestivamente apresentado com a Petição Inicial de apresentação à Insolvência do devedor.

Citados todos os credores, dois deles vieram pronunciar-se: por um lado, uma primeira entidade bancária menos significativa na relação de créditos apresentados, que se pronunciou contra e uma outra entidade bancária, bem mais significativa, uma vez que detinha cerca de 90% dos créditos relacionados, que se opôs, alegando que o plano apresentado não contemplava a totalidade dos créditos.

Tirando estes, mais nenhum credor se veio manifestar, o que, nos termos que já tivemos oportunidade de analisar, significa que aprovaram o plano de pagamentos. Porém, como também já se aludiu, o devedor veio, desde logo, sem necessidade de notificação,

apresentar modificações ao Plano apresentado.

Conforme, até, descrito na sentença sob censura, o devedor veio aceitar os valores indicados pela significativa entidade bancária, tendo, inclusivamente, respondido à menos significativa entidade nos seguintes termos, que recordamos: