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SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA E

3. POSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE

3.2 SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA E

Como já foi citado no capítulo anterior o princípio da continuidade é usado para alicerçar a corrente que defende a ilegalidade da suspensão do fornecimento de energia elétrica de usuários inadimplentes. Por essa razão, se faz necessário analisar mais especificamente o Código de Defesa do Consumidor.

O diploma consumerista, em seu artigo 22, caput, dispõe que:

“Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou por suas empresas, concessionárias, permissionários ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.” (BRASIL, 2009, p. 803)

Dessa forma nota-se que este artigo não invalida as disposições legais referidas anteriormente, não devendo a exigência da continuidade do serviço público ser vista de forma incondicional, como já mencionado, uma vez que, razões de ordem técnica e de segurança, casos fortuitos e de força maior são excludentes da responsabilidade e podem justificar a interrupção do serviço, do mesmo modo que a falta do pagamento autoriza a suspensão do fornecimento da energia elétrica.

Vale lembrar que as normas federais que autorizam a suspensão do fornecimento de energia elétrica, além de mais recentes que a Lei nº 8.078/90, tratam do assunto de forma específica. Desse modo o conflito existente entre essas normas é solucionado por uma regra básica onde a lei especial derroga a lei geral.

Desse modo verifica-se que o Código de Defesa do Consumidor disciplina todas as relações de consumo indistintamente. Este não é o caso das Leis n° 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão, e n° 9.427/96, que instituiu a ANEEL e disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica, que regulam os serviços públicos e o fornecimento de energia elétrica, de forma específica. Assim quando o assunto é o fornecimento de energia elétrica prevalece aquilo que foi disciplinado pelas leis especiais e não pela legislação consumerista.

Compartilha desse entendimento José dos Santos Carvalho Filho, que faz a seguinte observação:

“É evidente que a continuidade dos serviços públicos não pode ter caráter absoluto, embora deva constituir a regra geral. Existem certas situações específicas que excepcionam o princípio, permitindo a paralisação temporária da atividade, como é o caso da necessidade de proceder a reparos técnicos ou de realizar obras para expansão e melhoria dos serviços. Por outro lado, alguns serviços são remunerados por tarifa, pagamento que se caracteriza como preço público, de caráter tipicamente negocial. Tais serviços, freqüentemente prestados por concessionários e permissionários, admitem suspensão no caso de inadimplemento da tarifa pelo usuário, devendo ser restabelecidos tão logo seja quitado o débito. É o caso, para exemplificar, dos serviços de energia elétrica e o uso de linha telefônica.” (CARVALHO FILHO, 2009, p. 33)

A prestação do serviço de distribuição de energia elétrica pressupõe a remuneração dos usuários, através de tarifa fixada pelo Poder Concedente, que será a garantia do melhoramento e da expansão dos serviços como também do equilíbrio econômico e financeiro do contrato.

Admitir a impossibilidade de suspensão desse serviço no caso de inadimplência, certamente iria privilegiar o enriquecimento ilícito, em prejuízo daqueles que cumprem com as suas obrigações, que desse modo estarão pagando o serviço para os consumidores inadimplentes, além disso ao deixar de pagar por

esse serviço esses usuários inadimplentes acabam por comprometer a própria continuidade do serviço.

Por essas razões, chega-se ao entendimento que a formulação da lei e a sua finalidade são outros, totalmente diferentes das interpretações que levam a entender que os consumidores de boa-fé, que pagam suas contas em dia às empresas concessionárias distribuidoras de energia elétrica, devam pagar pela irresponsabilidade dos consumidores inadimplentes. Ora, o artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor é uma garantia para coletividade de que jamais os serviços qualificados como essenciais deixarão de ser ofertados á comunidade.

Assim a continuidade, prevista no art. 22 do CDC, tem outra acepção, significando que, já havendo a prestação regular do serviço, o Estado ou seu agente delegado - concessionário ou permissionário - não pode interromper sua prestação, sem um motivo justo, a exemplo das excludentes de força maior ou caso fortuito. A mencionada norma sequer obriga o Estado a fornecer o serviço, mas, desde que implementado e iniciada sua prestação, não poderá ser suspenso se o consumidor vem satisfazendo as exigências regulamentares, aí incluído o pagamento das contas de energia.

Tanto é assim que o § 3º do artigo 6º da Lei nº 8.987/95 prescreve que:

“Art. 6° - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§ 3°. Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de em emergência ou após prévio aviso, quando:

I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,

II- por inadimplemento do usuário, considerando o interesse da coletividade.” (grifo nosso)(BRASIL, 2009, p. 1565)

A doutrinadora Maria Sylvia Zanella di Pietro (2009, p. 74), define o Princípio da Continuidade do Serviço Público, da seguinte forma: “[...] por esse princípio entende-se que o serviço público, sendo a forma pela qual o Estado desempenha funções essenciais ou necessárias à coletividade, não pode parar”.

Desse modo, está claro de que a formulação da lei e sua finalidade discorrem no sentido de que o Poder Público não se omita na oferta do serviço.

Na doutrina está pacificado o entendimento de que a gratuidade não se presume e que as concessionárias de serviço público não podem ser forçadas a prestar serviços ininterruptos se o usuário deixa de satisfazer as suas obrigações relacionadas ao pagamento pelo serviço prestado.

Pelo demonstrado, fica evidenciado que, a suspensão do fornecimento de energia elétrica pela concessionária, não caracteriza um ato administrativo arbitrário, pelo contrário, configura-se em exercício regular de um direito reconhecido, não havendo, portanto, que se falar em ilegalidade.

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