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3.5 Políticas públicas de turismo

3.5.2 Sustentabilidade e ética em turismo

De acordo com a OMT (2003) a definição de sustentabilidade partiu da preocupação de que os recursos do planeta são limitados, então, devido ao crescimento da população e das indústrias, além das abordagens de desenvolvimento que não estavam voltadas para a redução da pobreza e do aumento dos padrões de vida das pessoas, o homem reconheceu que tais recursos podem um dia acabar se não preservados e usados de forma controlada, correndo o risco das gerações futuras não chegarem a desfrutar deles, daí a necessidade de adotar novas teorias e práticas voltadas para a sustentabilidade. Desenvolver-se sustentavelmente está relacionado à ideia de se ter um crescimento econômico que promova a equidade social e a preservação do patrimônio natural, garantindo que as atuais gerações satisfaçam suas necessidades sem comprometer a satisfação das gerações futuras (VIGNATI, 2008).

Para a OMT (2003) os princípios centrais da sustentabilidade são: a sustentabilidade ecológica (o desenvolvimento está relacionado à manutenção dos processos ecológicos, da diversidade e dos recursos biológicos), a sustentabilidade social e cultural (o desenvolvimento está relacionado ao controle das pessoas em manter a identidade, cultura e valores da comunidade), e a sustentabilidade econômica (o desenvolvimento está relacionado à eficiência econômica e ao gerenciamento dos recursos para que sustente as gerações futuras).

No setor turístico o termo sustentabilidade passou a ganhar forte atenção, visto que as atividades desenvolvidas em alguns casos geram impactos negativos para a comunidade e para o ambiente. Assim, o turismo sustentável pode ser definido como o desenvolvimento e implementação de meios de planejamento

territorial que, ao mesmo tempo em que aumente o potencial ambiental e os benefícios econômicos do turismo, diminua o potencial de agressões ambientais e culturais (PETROCCHI, 2009).

Na concepção da OMT (2003), o turismo sustentável é a capacidade que um destino tem de manter-se competitivo em relação a outros mais novos e menos explorados, de atrair visitantes pela primeira vez ou várias, de ter uma cultura singular e de manter-se em equilíbrio com o meio ambiente. As várias definições da literatura enfatizam três características importantes:

 Qualidade - o turismo sustentável proporciona uma experiência de qualidade para visitantes, melhora a qualidade de vida da comunidade e protege a qualidade do meio ambiente.

 Continuidade - o turismo sustentável promove a continuidade dos recursos naturais e a continuidade da cultura local.

 Equilíbrio - o turismo sustentável gera um equilíbrio das necessidades da indústria turística, dos defensores do meio ambiente e da comunidade local. O turismo sustentável busca o crescimento da atividade sem causar danos ambientais ou socioculturais ao destino. Além disso, procura distribuir os benefícios por toda a comunidade, e garantir a satisfação dos habitantes e dos turistas para assegurar a viabilidade comercial e o prestígio da marca do local. As principais metas e características do turismo sustentável são elencadas pela OMT (2003, p. 173), conforme Quadro 11:

Quadro 11 - Metas e características do turismo sustentável

- Melhorar a qualidade de vida das comunidades anfitriãs. - Preservar a igualdade inter e intrageracional.

- Proteger a qualidade do meio ambiente através da Metasmanutenção da diversidade biológica e dos sistemas ecológicos.

- Garantir a integridade cultural e a coesão social das comunidades.

- Proporcionar uma experiência de alta qualidade aos visitantes

- Preocupado com a qualidade das experiências.

- Dotado de igualdade social e envolvimento comunitário, levando em conta as necessidades dos residentes.

- Emprega a população local e conta com sua participação no planejamento e na tomada de decisões.

- Opera dentro dos limites do recurso - o que inclui a minimização dos impactos e da utilização da energia, e o uso

de técnicas eficazes de gerenciamento e reciclagem de Características dejetos.

- Mantém um amplo leque de oportunidades recreativas, educacionais e culturais para cada geração e entre várias delas.

- Baseia-se em atividades ou projetos que reflitam e respeitem as características da região.

- Permite que os hóspedes obtenham uma compreensão da região visitada e estimula-os a proteger a comunidade e o ambiente anfitriões.

- Não compromete a capacidade de sustentabilidade de outras indústrias ou atividades.

- É integrado a planos locais, regionais e nacionais. Fonte: OMT (2003, p. 173)

A sustentabilidade turística é de fundamental importância para fortalecer a cultura local, preservar a identidade social, proteger o meio ambiente, além de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Porém, para proporcionar resultados positivos o turismo sustentável deve ser planejado e levar em consideração os aspectos que o sustentam, são eles: ambiental, econômico, sociocultural e político- institucional. O ambiental procura assegurar a compatibilidade do desenvolvimento com a preservação dos recursos naturais, para que as gerações futuras desfrutem de recursos ecológicos que satisfaçam suas necessidades.

O econômico, por sua vez, busca atingir um crescimento turístico eficiente e eficaz, gerando emprego e renda, de uma forma que os recursos não se esgotem para as próximas gerações. O sociocultural visa à melhoria da qualidade de vida e redução dos níveis de exclusão, através de uma distribuição mais justa da renda e dos bens. O político-institucional procura estabelecer e manter parcerias e compromissos entre os diversos agentes e agências governamentais dos três níveis de governo e nas três esferas de poder, assim como daqueles pertencentes à sociedade civil (VIGNATI, 2008).

Um assunto que está sendo bastante relacionado ao turismo é a questão da ética, compreendida por Martins (apud DIAS; CASSAR, 2005) como a “parte da filosofia que estuda a moralidade do fazer humano, classificando os atos dos homens como bons ou maus”. No turismo, a ética tornou-se uma premissa básica na organização desse tipo de atividade, dada a sua importância em termos globais. Diante disso, a Organização Mundial do Turismo (OMT), aprovou, em assembleia

geral, em Santiago do Chile, na data de 1º de outubro de 1999, o Código Mundial de Ética do Turismo.

É um documento que contém os princípios e as normas direcionados para as relações entre os diferentes agentes ligados ao turismo (DIAS; CASSAR, 2005, p. 274). Ou seja, o Código é formado por dez artigos sendo que nove contêm as regras direcionadas aos destinos, governos, operadores turísticos, promotores, agentes de viagens, empregados e para os próprios turistas, enquanto que o décimo se refere à aplicação desses princípios. Os artigos são:

1. Contribuição do turismo para a compreensão e o respeito mútuo entre homens e mulheres;

2. O turismo como instrumento de desenvolvimento individual e coletivo; 3. O turismo como fator de desenvolvimento sustentável;

4. O turismo como fator de aproveitamento e enriquecimento do patrimônio cultural da humanidade;

5. O turismo como atividade benéfica para os países e para as comunidades de destino;

6. Obrigações dos agentes de desenvolvimento turístico; 7. Direito do turismo;

8. Liberdade do deslocamento turístico;

9. Direito dos trabalhadores e dos empresários da indústria turística; 10. Aplicação dos princípios do Código Mundial de Ética do Turismo.

O artigo 3, o turismo como fator de desenvolvimento sustentável, diz que é dever de todos os agentes envolvidos no desenvolvimento turístico proteger o ambiente e os recursos naturais, que todos os tipos de desenvolvimento turístico permitam economizar os recursos naturais raros e preciosos, que a distribuição no tempo e no espaço dos fluxos de turistas e de visitantes devem ser equacionadas, que as infraestruturas devem estar concebidas e as atividades turísticas programadas de forma que seja protegido o patrimônio natural, e que o turismo de natureza e o ecoturismo são reconhecidos como formas de turismo enriquecedoras e valorizadas, na medida em que se respeita o patrimônio natural.

Esse Código Mundial de Ética do Turismo funciona como uma referência para o desenvolvimento responsável e sustentável do turismo seja em nível regional,

nacional ou internacional. De modo geral, “a ética serve para verificar a coerência entre as práticas e os princípios, fundamentando os valores e as normas que compõem a moral. Por meio da ética as ações individuais são controladas” (DIAS; CASSAR, 2005, p. 252). Uma pessoa ética mostra-se consciente das normas e regras morais da sociedade em que vive, sabendo distinguir entre o certo e o errado, mantendo assim, uma postura responsável.