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Para que a cadeia produtiva do carvão vegetal mantenha competitividade em relação aos outros setores, produtos naturais ou de origem fóssil, é necessária uma análise ampla da sustentabilidade. Isso é importante para países exportadores de madeira, tal como é o Brasil, pois sem essa análise torna-se difícil a aceitação dos produtos pelos países importadores. A União Europeia, por exemplo, para a importação de bioenergia, estabelece barreiras contra a produção não sustentável (BECKER et al., 2011).

No contexto de sustentabilidade, tem-se o aumento do interesse na substituição de combustíveis fósseis por fontes de energias alternativas e de menor impacto ambiental (SIMIONI; HOEFLICH, 2010). Essa pressão mercadológica crescente leva à procura pelo carvão vegetal, dito sustentável, como fonte de energia renovável (SILVA et al., 2007).

Na siderurgia existe a opção de duas rotas de produção, ambas impactantes: a primeira, ao utilizar o carvão mineral como insumo na produção do ferro gusa; e a segunda, ao inserir o carvão vegetal. A etapa extrativista mineral é mais onerosa e requer desmatamentos de grandes áreas. Geralmente são criados grandes morros esculpidos em forma de escadas – para facilitar a extração e o transporte –, mas há com isso, significativo impacto local (VITAL; PINTO, 2011).

Comparando esses dois tipos de produção, as indústrias que utilizam o carvão vegetal, sem a opção de desmatamentos de florestas nativas, seriam mais ecológicas,

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produzindo menos poluentes e, por isso, podendo ser chamadas de ambientalmente corretas. Entretanto, as siderúrgicas mais eficientes são preparadas para operar apenas com o carvão mineral (VITAL ; PINTO, 2011).

A partir dessa questão, a madeira tem se tornado uma opção para a geração de energia, principalmente a partir da criação de políticas setoriais, para o incentivo ao desenvolvimento de tecnologias mais eficientes na conversão da biomassa em energia (SIMIONI, 2007; SIMIONI; HOEFLICH, 2009).

O processo que transformou plantios de florestas em reserva de carbono para a siderurgia brasileira se estabeleceu em função da falta de suprimento de carvão vegetal nas siderúrgicas em meados do século XX. Então, criou-se uma solução original em relação ao que prevaleceu nos países desenvolvidos para libertar a siderurgia da inexorável finitude do uso das florestas naturais, fez-se o uso de plantios florestais sem, para isso, abrir mão do carbono de origem vegetal (MORELLO, 2009).

Empresas siderúrgicas integradas que utilizam carvão vegetal proporcionam uma redução de carbono lançados na atmosfera, ou seja, são mais sustentáveis, somente quando consomem carvão vegetal oriundo de floresta plantada. Nestas condições há uma redução de 17,98 t de CO2 e 7 kg de SO2 para produção de uma tonelada de aço (FERREIRA, 2000). Essas usinas por meio da comercialização em larga escala de aço proveniente de uma indústria com baixas emissões de CO2 apresentam a possibilidade de influenciar a competitividade brasileira no mercado mundial.

Na produção do ferro-gusa, segundo CGEE (2010) tem-se uma diferença entre os balanços de emissões de CO2 e O2. Via carvão mineral há emissões de 1883 kg de CO2 e remoção de 1274 kg de O2 em todas as fases da cadeia. Enquanto a via de carvão vegetal, na fase da floresta plantada, apresenta captura de 3697 kg de CO2 e emissão de 1789 kg de O2 para cada tonelada de ferro-gusa. No restante da cadeia, assim como a rota do coque de carvão mineral, há emissões de CO2 e remoção de O2, respectivamente, porém, ao contrário da rota do coque, tem-se um total líquido de remoção de CO2 de 1111 kg e emissão de 164 kg de O2 por tonelada de ferro-gusa, no decorrer da cadeia (FIGURA 5).

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Figura 5: Efeito da rota de carvão vegetal e mineral na emissão de gases.

Fonte: Moura (2006).

Em relação ao consumo de energia, quando se compara com o setor de transformação a carvão mineral (coque), observa-se que quanto maior a taxa do carvão vegetal nas siderúrgicas, menor é o consumo total de energia (JUNIOR, 2011).

A história do carvão vegetal está associada à supressão de florestas. Alguns esforços, apostando em uma siderurgia cuja fonte de carbono é oriunda de plantações de florestas e não de matas nativas com alto valor ecológico, vêm sendo realizados por parte de industriais mineiros para romper esse espectro projetado pelo passado (MORELLO, 2009).

Cabe ressaltar que ainda há um déficit anual médio de quase 50% de florestas plantadas (100 mil ha, no mínimo) para suprir toda a demanda das empresas (AMS, 2009 b).

Os fatores que mantiveram a siderurgia mineira a carvão vegetal no século XX, enquanto elemento de pressão sobre florestas nativas foram: a forma com a qual a produção do termorredutor assumia o nível mais baixo da hierarquia; as prioridades de alocação de capital; e a possibilidade da produção independente do termorredutor de ter como concepção o desenvolvimento das atividades siderúrgicas (MORELLO, 2009).

Atualmente o desmatamento ilegal de florestas visa à expansão da fronteira agropecuária, o que faz com que o perfil de emissões do Brasil seja diferente do dos países

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desenvolvidos, nos quais as emissões são provenientes de combustíveis fósseis e representam um desafio às emissões controladas (UHLIG, 2008).

Nesse contexto, o estudo da cadeia produtiva do carvão vegetal deve ser analisado ante um novo prisma que a influência. Seria ele melhor detalhado quando se verifica: a forte pressão sobre as organizações privadas e públicas decorrente da globalização; da super competição; da crescente demanda por responsabilidade social; sustentabilidade ambiental; e do surgimento de novas tecnologias (REZENDE; SANTOS, 2010).

Outro fator para ser analisado são as pressões institucionais por parte de mineradoras e produtores de aço para que os guseiros estejam em conformidade com padrões ambientais, trabalhistas e legais. Somado a isso, também a pressão realizada pela sociedade, representada em debates e legislações que buscam reduções nas emissões de gases de efeito estufa (LOTFI, 2010).

Mesmo diante dessas pressões, a promessa de uma siderurgia a carvão vegetal oriundo de floresta plantada, nos dias atuais, não concebeu tal inovação tecnológica, pois são diversas as razões apontadas na literatura e entre os atores do setor. Algumas apontam para fatores externos e não controlados diretamente pelas empresas entusiastas de tal via (MORELLO, 2009). Outras apresentando falta de compromisso por parte das siderúrgicas.

“Uma situação que parece ter ligação direta com as estratégias das empresas produtoras de ferro-gusa é a de transferirem a responsabilidade da produção do carvão vegetal para uma grande rede de centenas de fornecedores pouco capitalizados e desprovidos de condições de fazerem investimentos em equipamentos de carbonização dotados de tecnologias que permitissem maior eficiência e amplo aproveitamento de todos os produtos advindos da pirólise da

madeira” (MONTEIRO, 2006).