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A sustentabilidade é uma matéria que começa, hoje em dia, a entrar na atividade empresarial, enquanto fator estratégico, e a suscitar consciencialização e preocupação perante a gestão. No caso do setor bancário esta é uma temática que não fica para trás.

De acordo com Santos (2012), estima-se que, atualmente, cerca de 85% das empresas que pertencem à área de project finance planeiam o seu negócio de acordo com as regras presentes nos Princípios do Equador (PE).

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Os PE foram emitidos em 2003, por 10 dos maiores bancos mundiais – ABN AMRO Bank N.V., Barclays plc, Citigroup Inc., Credit Lyonnais, Credit Suisse First Boston, Hypo Vereinsbank, Rabobank, Royal Bank of Scotland plc, WestLB AG e Westpac Banking Corporation – e « […] constituem um código internacional voluntário que visa promover a responsabilidade social e ambiental em investimentos de project finance […], através da implementação de um conjunto de medidas tendentes a minimizar as externalidades negativas desses projetos» (Santos, 2012).

Os PE espelham a preocupação existente nas entidades bancárias e a sensibilização que as mesmas apresentam quanto às questões dos riscos sociais e ambientais, tendo elaborado um conjunto de práticas e procedimentos com o objetivo de aumentar a transparência e o rigor dos seus negócios, no qual o financiador também assume o risco do negócio (Cruvinel, 2009). As entidades bancárias ao se responsabilizarem com os PE demonstram o seu elevado compromisso e preocupação com a ética dos seus negócios e veem o nível de risco dos seus projetos de financiamento ser diminuído (Santos, 2012).

Neste âmbito, existem ainda outros princípios da área financeira que se destinam a entidades bancárias tais como, o United Nations Environment Programme Finance Iniciative (UNEP FI) e os The

Principles for Responsible Investment (PRI).

Através do UNEP FI, foi publicado o primeiro código voluntário global que tenciona orientar os bancos para o investimento sustentável, incluindo os riscos ambientais no processo normal de avaliação e de gestão bancária. Este código tem que ser assinado por cada banco que pretender torna-se membro do UNEP FI (Santos, 2012).

Os PRI consistem numa iniciativa desenvolvida entre inventores em parceria com o UNEP FI e com o pacto global da ONU. O objetivo destes princípios voluntários passa por articular as questões ambientais, económicas e sociais com «[…] os retornos dos investimentos a longo prazo, e nos quais a inclusão desses aspetos nas decisões de investimento deveria ser considerada como um dever fiduciário» (Santos, 2012). Neste sentido, os PRI pretendem compreender as implicações que estas três questões podem trazer ao investimento, além de fornecerem ações para os signatários integrarem estes temas na tomada de decisão de investimentos e propriedade de ativos (Santos, 2012).

Sendo o setor bancário reconhecido por todos os agentes económicos como a “peça de puzzle” essencial na economia mundial, é, então, indiscutível o papel mobilizador que tem na sociedade global.

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Desta forma, torna-se coerente dizer que o setor bancário representa um ator deveras importante no combate às atuais crises ecológicas, económicas e sociais, com um impacto relevante.

As entidades bancárias devem apresentar uma mentalidade virada para estas questões, com um diálogo aberto e constante que permita o envolvimento de todos os seus stakeholders.

Para além das atividades principais que caracterizam a banca, e, considerando os desafios e oportunidades que a sustentabilidade comporta, é necessário harmonizar as políticas ambientais e sociais numa estratégia que seja transversal a todo o negócio e coerente com os valores e práticas bancárias (Inforbanca, 2014).

Esta temática traz novas responsabilidades que, imbuídas nos modelos de negócio, contribuirão para a criação de novos produtos e serviços, modelos de gestão de risco, e códigos de ética e conduta, onde será estimulada a capacidade de inovação, tanto a nível da conceção, como do controlo de gestão (Inforbanca, 2014).

De acordo com Inforbanca (2014), nesta nova conjuntura económica, deverá ser dada atenção especial aos stakeholders internos, colocando-lhes questões como: «[…] Quais são as suas reais necessidades? Como poderá ser melhorado o seu ambiente de trabalho? Como facilitar a sua atividade? […]». Por conseguinte, irá criar-se uma nova abordagem junto dos colaboradores, que «[…] integrada numa verdadeira estratégia de sustentabilidade, facilitará ao banco a melhoria da performance financeira, ganhos de reputação e criação de valor» (Inforbanca, 2014).

No domínio da sustentabilidade, para Sustentare (2007), as instituições bancárias possuem um papel estruturante pela alocação de recursos na dinamização da atividade económica e do desenvolvimento social preconizados.

Neste sentido, o setor bancário é assumido como a personagem principal para acelerar o ecossistema rumo a uma economia verde e circular, e apoiar projetos deste cariz, através da disponibilização do financiamento em falta ou do desenvolvimento de produtos e serviços adequados (BCSD, n.d.). Consequentemente, o setor bancário conseguirá desenvolver práticas que minimizam o seu risco de crédito e atrair novos investidores, «[…] sendo capaz de induzir os vários agentes económicos em comportamentos mais amigos do ambiente e da sociedade» (Sustentare, 2007).

O The Business Council for Sustainable Development (BCSD) Portugal identifica um conjunto de recomendações dirigidas à banca para se conseguir acelerar o setor empresarial rumo a um futuro sustentável (BCSD, n.d.):

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• Integrar produtos e serviços sustentáveis no portefólio comercial;

• Incluir nos planos de formação as temáticas da economia verde e circular;

• Em parceria com os organismos governamentais, sensibilizar investidores para as oportunidades que advêm duma aposta na economia sustentável;

• Participar em iniciativas, conferências e fóruns dedicados à partilha de experiências nesta área.

Em Portugal, a banca está a assumir uma postura ativa ao acompanhar a tendência mundial quanto ao paradigma da sustentabilidade, sendo que já disponibiliza, por exemplo, fundos de investimento sustentável, cuja carteira é composta maioritariamente por obrigações e ações, cartões de crédito “ambientais”, e empréstimos verdes para aquisição de automóveis com menores emissões de dióxido de carbono (CO2) (Santos, 2012).

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