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2 INSTRUMENTOS ECONÔMICOS DE POLÍTICA AMBIENTAL ENQUANTO

2.2 QUAL SUSTENTABILIDADE? VERTENTES DE VALORAÇÃO ECONÔMICO-

2.2.1 Sustentabilidade versão “forte” e “fraca”

De toda sorte, frente a essa oposição de abordagens em relação a sustentabilidade, os economistas passaram a referir-se nos termos “sustentabilidade forte” e “sustentabilidade fraca”. O primeiro termo (forte) refere-se à ideia de sustentabilidade representada pela economia ecológica, que preza pela manutenção do capital natural. A segunda (fraca) condiz com a ideia dos economistas ambientais de que a sustentabilidade depende da manutenção do capital total, ou seja: o natural mais o artificial (SOUZA, 2000, p. 155).

Para Veiga (2010, p. 18), a colisão entre sustentabilidade “fraca” e “forte” consiste em que a primeira (fraca) toma como condição necessária e suficiente a regra de que “cada geração legue à seguinte o somatório de três tipos de capital, que considera inteiramente intercambiáveis ou intersubstituíveis: o propriamente dito, o natural-ecológico e o humano-social”. Por outro

lado, a sustentabilidade versão25 “forte” destaca a “obrigatoriedade de manter constantes, pelo

menos, os serviços do capital natural”, já que são insubstituíveis e a base do sistema produtivo. A partir dessa dicotomia, pode-se classificar mecanismos reais de política e gestão ambiental, considerando, por exemplo, como de “sustentabilidade fraca” os instrumentos que

25 Autores mencionam ainda uma versão mais radical da sustentabilidade forte, a “super-forte”, que pressupõe que os elementos social e ambiental devem ser mantidos integralmente, “não se admitindo ingerências que venham a comprometer o fluxo natural das sociedades e dos ecossistemas. [...] Na sustentabilidade super-forte não se admite qualquer flexibilização dos capitais natural e humano, devendo o capital econômico submeter-se à necessidade de manutenção do equilíbrio socioambiental” (MAMED, 2016, p. 108).

gerarem as situações como: “transações que incluam direitos de poluir, flexibilizando a variável ambiental” e violações de direitos socioambientais, “flexibilizando a variável social”. Por outro lado, estariam classificados como de sustentabilidade forte os instrumentos que “flexibilizam o elemento econômico”, ou “quando não geram, sob nenhuma circunstância, direitos de poluir” e os que “preconizam o investimento de capital para evitar impactos ambientais ou sociais” (MAMED, 2016, p. 144).

Mas Veiga (2010) refere que, além da economia de base convencional (ambiental) e a ecológica, há uma “terceira via”, cujos adeptos (por considerarem a proposta da economia ambiental inconsistente e a ecológica impraticável), apostam em “progressiva reconfiguração do processo produtivo, na qual a oferta de bens e serviços tenderia a ganhar em ecoeficiência: desmaterializando-se e ficando cada vez menos intensiva em energia”. Com isso, a economia poderia continuar a crescer, “sem que limites ecológicos fossem rompidos, ou que recursos naturais viessem a se esgotar” (VEIGA, 2010, p. 24).

Pelo pragmatismo em relação ao sistema econômico e os conceitos de ecoeficiência, com foco no tripé da sustentabilidade, tal posição poderia ser associada à versão “fraca” da sustentabilidade. Entretanto, a atenção à erradicação da pobreza, à biodiversidade e aos serviços ecossistêmicos, bem como a essencialidade do capital natural, também poderia ligar tal vertente à versão “forte” da sustentabilidade. Pode ser dito que essa terceira via tem sido debatida, no plano das discussões internacionais, em torno da chamada “economia verde”.

Nesse sentido, a programação da “Rio+20”, ocorrida em 2012, adotou a “economia verde” como um tema chave no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza. O PNUMA (2011, p. 01) define economia verde como “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecológica”. Sendo uma espécie de conceito “guarda-chuva” das correntes econômicas em torno da sustentabilidade, uma economia verde pode ser considerada:

[...] como tendo baixa emissão de carbono, é eficiente em seu uso de recursos e socialmente inclusiva. Em uma economia verde, o crescimento de renda e de emprego deve ser impulsionado por investimentos públicos e privados que reduzem as emissões de carbono e poluição e aumentam a eficiência energética e o uso de recursos, e previnem perdas de biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Esses investimentos precisam ser gerados e apoiados por gastos públicos específicos, reformas políticas e mudanças na regulamentação. O caminho do desenvolvimento deve manter, aprimorar e, quando possível, reconstruir capital natural como um bem econômico crítico e como uma fonte de benefícios públicos, principalmente para a população carente cujo sustento e segurança dependem da natureza (PNUMA, 2001, p. 01-02).

Para que surja uma economia verde, defende Veiga (2010, p. 151), “será imprescindível que a responsabilidade pela conservação dos ecossistemas passe realmente a orientar as políticas governamentais, as práticas empresariais, e as escolhas dos consumidores”. Nessa perspectiva, o desafio central da Economia Verde:

[...] seria utilizar o poder da economia para dar centralidade e força às propostas de sustentabilidade com justiça social e ambiental, enquanto, ao mesmo tempo, evitam- se os riscos e “efeitos colaterais” da apropriação distorcida dessas propostas pelo sistema hegemônico. Para isso, o caminho seria construir um sistema de instituições e políticas, com eficaz controle social, voltado a direcionar a atividade econômica no rumo desejado (RADAR RIO +20, 2011, p. 28).

Evidentemente, a economia verde também é muito criticada26, sobretudo pela corrente

da economia ecológica, crítica do “ambientalismo de mercado” ou “capitalismo verde”, que pugna, como visto, por mudanças estruturais profundas no sistema econômico. De qualquer forma, a valoração do ambiente e a necessidade de uma “nova economia” é uma realidade, e diferentes perspectivas podem ser utilizadas, para criticar ou defender, os “Pagamentos por Serviços Ambientais”, a depender da forma em que são/serão propostos os projetos.

Destarte, para os fins aqui propostos, não cabe a adesão irrestrita a uma ou outra corrente, ou a uma ou outra “versão” de sustentabilidade. Entretanto, parecem mais adequadas as proposições do modelo forte da sustentabilidade, por pugnarem pela impossibilidade de perda ou substituição do “capital natural”, dado sua importância biológica e social, coadunando- se assim com o direito das gerações futuras a receberem esse “capital natural” (biodiversidade e serviços ecossistêmicos) na sua integridade, e não substituído ou compensado por “capital artificial”.

Todavia, a preocupação, desde um ponto de vista pragmático, é que os Pagamentos por Serviços Ambientais resguardem os direitos socioambientais, independentemente da vertente em que for categorizada. Em vista disso, mesmo quando sendo apenas “correções de mercado”, alguns instrumentos jurídico-econômicos permitem um avanço rumo a uma economia mais sustentável, cabendo à institucionalidade do direito, por meio do Estado, promover e direcionar as práticas sociais nesse sentido.

A política ambiental, assim, apresenta uma circunstância propícia para o encadeamento dos conceitos de sustentabilidade desde o direito e a economia. Nesse ponto, torna-se pertinente a análise dos fundamentos teóricos e modelos práticos dessa aplicação.

26 Dentre as quais a de que a economia verde seria “a ponta de lança de um novo ciclo do capitalismo, na medida em que transformaria bens comuns (como a água, a atmosfera, as florestas, oceanos e mesmo os seres vivos) em mercadorias propícias à apropriação privada, acumulação e especulação” (RADAR RIO +20, 2011, p. 27).

2.3 PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE: a função promocional do direito e a política