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SUMÁRIO

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2. TÉCNICA DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Toda pesquisa, para oferecer resultados úteis e fidedignos, deve ter seu instrumento de coleta de dados planejado com cuidado (BERVIAN; CERVO; DA SILVA, 2007). Ao realizar um estudo de caso o pesquisador deve, além de registrar as informações, ser capaz de compreendê-las, interpretá-las e avaliá-las durante o período de coleta para, se necessário, buscar dados adicionais que esclareçam contradições ou convergências (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).

Os conceitos de confiabilidade e validade são indicadores da qualidade de uma pesquisa. A confiabilidade de um estudo de caso é a capacidade da pesquisa produzir, ceteris paribus, resultados similares. Validade, por sua vez, caracteriza que a pesquisa obteve conclusões dignas de crédito. Uma pesquisa pode aplicar métodos confiáveis de replicação, contudo, sem obter validade, por não apresentar pertinência ao tema (BELL, 2008). Como providência para garantir a confiabilidade e a validade de uma pesquisa qualitativa, Martins e Theóphilo (2009) sugerem a utilização da técnica de triangulação. Quatro modelos de triangulação podem ser distinguidos: (1) de fontes de dados; (2) de pesquisadores; (3) de teorias; (4) de metodologias (MARTINS; THEÓPHILO, 2009; FLICK, 2009b).

Nesta investigação, empregou-se a triangulação de fontes de dados, de teorias e de metodologias. A primeira diz respeito à coleta de dados por meio de fontes plurais – aplicando-se na participação de representantes das organizações estudadas. A segunda refere-se ao esforço de interpretar os dados com base em mais de uma teoria (FLICK, 2009b) – neste caso, a ECT e a TDP. Por fim, a triangulação metodológica é conduzida por meio de dois instrumentos de coleta de dados, a saber, as entrevistas semiestruturadas e a pesquisa documental.

Os instrumentos de coleta de dados enumerados por Gray (2012) são o questionário, a entrevista, a observação e as medidas não invasivas. O questionário, sem a presença do pesquisador, é preenchido pela pessoa que está sendo estudada (BERVIAN; CERVO; DA SILVA, 2007). Richardson (1999, p. 208, grifos do autor) destaca que "o termo 'entrevista' é construído a partir de duas palavras, entre e vista. Sendo que 'vista' refere-se ao ato de ver, ter preocupação de algo e 'entre' indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas". Assim sendo, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber executado entre duas pessoas.

A entrevista deve ser uma comunicação orientada para um objetivo definido: recolher, por meio do interrogatório feito ao

informante, dados úteis para a pesquisa e convém ouvir mais do que falar, pois o que interessa é o que o informante tem a dizer (BERVIAN; CERVO; DA SILVA, 2007). Cooper e Schindler (2003, p. 249) acrescentam que "uma entrevista pessoal – i.e., face a face – é uma conversação bidirecional iniciada por um entrevistador para obter informações de um respondente". Por fim, a entrevista com questionamentos abertos permite o pesquisador ouvir cuidadosamente o que as pessoas dizem ou observar o que elas fazem em seu ambiente (CRESWELL, 2007).

A linguagem empregada na entrevista deve ser compreensível para os informantes e perguntas indutoras ou presuntivas não devem ser utilizadas (BELL, 2008). Outros critérios para o preparo e a realização da entrevista são: planejar a entrevista dispondo de uma lista de questões e destacando as mais importantes; preparar corretamente a ordem das perguntas; obter conhecimento prévio acerca do entrevistado; criar um ambiente para que a entrevista ocorra de forma discreta e sem transtornos; escolher o entrevistado de acordo com a sua familiaridade ou autoridade sobre o tema; assegurar um número suficiente de entrevistados; explicar o propósito da entrevista; estar preparado para formular novas perguntas sobre assuntos que necessitem ser melhor esclarecidos ou aprofundados; e ouvir, além das palavras, a ênfase e o tom de voz utilizados pelo entrevistado (BERVIAN; CERVO; DA SILVA, 2007; BELL, 2008; GRAY, 2012). Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com diretores das quatro firmas estudadas. As entrevistas foram baseadas na estrutura proposta por Menard et al. (2014), além da adição de outras perguntas ao roteiro28 ou durante a condução da entrevista.

Os dados coletados através da pesquisa documental de acordo com Lakatos e Marconi (2010), também são fontes de dados primários e se caracterizam pela utilização de documentos, escritos ou não, de interesse do estudo, que são coletados no momento em que o fato ocorre ou posteriormente. Roesch (2005) cita alguns exemplos de fontes documentais, tais como: relatórios; materiais de relações públicas; declarações sobre a missão; a política e os recursos humanos da organização; e documentos legais.

A pesquisa documental deve ser utilizada com cautela, visto que os documentos investigados podem apresentar parcialidades e o seu uso deve ser em triangulação com outras fontes, confrontando as diversas evidências (YIN, 2010). A Figura 8 apresenta alguns

exemplos de documentos que podem ser utilizados em uma pesquisa documental.

Figura 8 - Tipos de Documentos Fonte: Marconi e Lakatos, 2010, p. 158.

Neste estudo são utilizadas as seguintes fontes de documentos: relatórios divulgados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL), leis, decretos e instruções normativas brasileiras e páginas web das empresas.

Os arranjos institucionais e custos de transação foram objeto de considerável número de estudos empíricos (JOSKOW, 2008). Contudo, a ECT ainda pode se beneficiar de trabalhos empíricos de qualidade e que contribuam para o seu poder de predição (WILLIAMSON, 1998; 2000). Em geral, o modelo utilizado para as pesquisas trata o arranjo institucional como variável dependente, e a especificidade, a incerteza e a frequência como variáveis que representam a presença dos custos de transação e explicam o arranjo escolhido (KLEIN, 2000; 2008).

Destaca-se, sobre a coleta de dados, a dificuldade - e a necessidade de refinamentos - na mensuração do trade-off entre os custos de recorrer diretamente ao mercado e os custos de organização da atividade econômica na firma (KLEIN, 2000; JOSKOW, 2008). Sobretudo, o atributo de incerteza das transações permanece sem variáveis adequadas para a sua mensuração. Os dados coletados para as

demais variáveis são, costumeiramente, os gastos em pesquisa e desenvolvimento e a variância das vendas – representando a especificidade dos ativos e a incerteza, respectivamente (KLEIN, 2008).

A predominância das investigações sobre a decisão de make or

buy é desenvolvida em duas etapas. Inicialmente, os atributos das

transações são relacionados ao arranjo institucional e, posteriormente, usados para explicar a performance das firmas. Para a mensuração da performance são utilizados a rentabilidade ou o valor de mercado. Em alguns casos – aceitando a premissa de seleção natural do mercado – a própria sobrevivência da firma é utilizada como medida de sucesso. Entretanto, por causa da ineficiência dos competidores, da proteção regulatória ou de barreiras legais, empresas de baixo desempenho podem sobreviver, o que indica a sobrevivência como uma variável ineficaz para medir o êxito de um arranjo quando o mercado não apresenta forte concorrência (KLEIN, 2008).

A interpretação é essencial para a pesquisa de abordagem qualitativa (FLICK, 2009a). No entanto, inexiste um procedimento singular para analisar os dados de um estudo de caso qualitativo (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Collis e Hussey (2005) sugerem que a análise de dados qualitativos podem ter dois tipos de métodos: quantitativos e não-quantitativos. Métodos quantitativos são aqueles que transformam os dados qualitativos em informações numéricas (e.g., a repetição de determinadas palavras nas entrevistas). Por sua vez, os métodos de análise não-quantitativos separam, categorizam, priorizam e inter-relacionam os dados sem o auxílio da mensuração numérica.

Neste estudo utiliza-se a técnica de análise qualitativa de conteúdo. Parte-se do reconhecimento de modelos teóricos e, posteriormente, buscam-se evidências empíricas que confirmem, rejeitem ou modifiquem a teoria (FLICK, 2009a). As pesquisas qualitativas, em sua maioria, geram um grande volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. O processo, para tanto, caracteriza-se como um esforço complexo, contínuo e não-linear que procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões e entender seus significados através da redução, organização e interpretação dos dados desde o início da pesquisa (ALVES- MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999).

Flick (2009a) enumera três procedimentos básicos para a análise qualitativa de conteúdo: a síntese da análise de conteúdo; a análise explicativa de conteúdo; e a análise estruturadora de conteúdo. A primeira diz respeito a redução do material coletado por meio da omissão de trechos pouco relevantes e resumo de conteúdos similares.

Em seguida, com base nos dados coletados e no referencial teórico busca-se uma explicação para o fenômeno. Por fim, procura-se estruturar o conteúdo formalmente, por meio de um caráter tipificador e escalonado. Esta técnica permite o exame e categorização de dados, informações e opiniões subjetivas (MARTINS; THEÓPHILO, 2009; FLICK, 2009a).

Por fim, o Quadro 3 apresenta uma síntese dos procedimentos de coleta e análise dos dados do estudo.

Quadro 3 - Procedimentos de Coleta e Análise dos Dados

Objetivos Técnica de Coleta/Análise dos dados Caracterizar e analisar as mudanças

no ambiente institucional do ACL, desde a promulgação da lei 10.848/2004;

Documentos e entrevistas Análise qualitativa de conteúdo

Identificar os arranjos institucionais escolhidos e os critérios utilizados

pelas firmas para a sua escolha; Entrevistas Analisar e discutir os arranjos

institucionais no ACL com base na Economia dos Custos de Transação e na Teoria dos Direitos de Propriedade

Análise qualitativa de conteúdo

Fonte: desenvolvido pelo autor.