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CAPÍTULO 4 DESENVOLVIMENTO DO LIVRO ILUSTRADO

4.2 DO STORYBOARD E MAQUETE À ILUSTRAÇÃO FINAL

4.2.1 TÉCNICA E COMPOSIÇÃO DAS ILUSTRAÇÕES

Em seguida, e já com esboços dos elementos de arquitetura russa, procurou-se escolher as técnicas para a ilustração. A primeira tentativa foi pintura digital cujo resultado não foi satisfatório (fig.18).

Figura 16 - Construções russas simples e esboços.

Apesar de a técnica não ser a utilizada, o esboço realizado definiu a composição dos elementos das páginas 2 e 3.

Procuraram-se, então, outras técnicas mais familiares, consistentes com as técnicas das ilustrações soviéticas realizadas no período acima apontado. As técnicas incluem aguarela e o recurso a desenho manual, criando-se imagens que oscilam entre a síntese, com poucos pormenores, e outras mais detalhadas.

Na figura 19, podemos ver a segunda técnica abordada que passou por desenhar manualmente, digi-talizar e colocar cada elemento em Photoshop, sendo somente as sombras feitas digitalmente.

Com a técnica encontrada, o próximo passo passou por uma análise de livros infantis e ilustrações de diversos artistas soviéticos antigos e recentes que contribuíram para o livro final para definir a composição dos elementos, combinações de cores e técnicas nas duplas páginas.

Foi nesta fase que a maquete foi criada tendo como principais objetivos tanto a organização do pro-jeto como também a composição dos diversos elementos que fazem parte das diferentes páginas.

Na figura 20 temos a maqueta da página 1 e 2, que são referentes às páginas 2 e 3 no livro final. Pode observar-se nesta imagem um esboço da ilustração final, o texto referente à página e, por fim, uma legenda com as referências que indicam as ilustrações ou livros que contribuiram/influenciaram cada dupla página. Muitos dos livros e obras repetem-se ao longo da maquete, salvo algumas exeções.

Figura 18 - Estudo digital da página 2 e 3.

Figura 22 - Capa big lights (1958)

A composição sofreu, sobretudo, a influência da obra de Maria Menshikova (2016), Sunset, (fig.21) assim como da capa Big lights (1958), (fig.22) que utilizam nas imagens a perspetiva ortogonal.

O uso da perspetiva era comum nos livros infantis soviéticos observados, realizados entre 1920 e 1930 que, por sua vez, foram influenciados pelas vanguardas artísticas, o futurismo e o modernismo, caracte-rizados pela geometrização das formas, movimento e utilização da perspetiva nas imagens, como escrevem Olivia Ahmad (2016) e Stuart Jeffries (2016). Em algumas obras com ilustrações litografadas de Nisson Abramovich Shifrin

,

podemos contemplar a obra de um dos grandes autores russos que representam a ilus-tração soviética influenciada pelo futurismo, como indica Jangfeldt (2014).

Na (fig.23), podemos ver a representação de diversas profissões. A ilustração destas páginas dedica-das à profissão de engenharia permitem à criança entender qual deverá ser o seu contributo para o regime, aprendendo sobre as diferentes profissões, como refere Ruth E. Kot (2011).

Figura 20 - Maquete da página 2 e 3.

A paleta de cores inspira-se na obra de Juliette Oberndorfer (s.d) em que se identifica o contraste entre os tons frios azuis, os tons quentes da magenta e dos amarelos; a inspiração vem também da obra de Gosia Herba (s.d) pelos tons azuis, noturnos, das suas ilustrações, (fig.24).

Ambas foram escolhidas por terem ambientes similares e como local das primeiras páginas do livro, a floresta à noite com animais. A obra de Gozia Herba, serviu também para observar que a utilização única de tons frios não permite destacar diferentes detalhes, como por exemplo, a presença de uma lebre no centro da ilustração. Em contrapartida, na ilustração da Juliette temos diferentes focos nas diferentes áreas da ilus-tração.

Por fim com a ilustração de Laptev, A. (s.d), no livro The Five Year Plan, que apresenta uma técnica feita em aguarela, (fig.25.) podemos ver, em comparação com a figura 23 – ambas são do período soviético atrás referido –, que mostram semelhanças entre si, desde a geometrização das formas até à sobreposição e à composição em perspetiva.

Figura 23 - Whom shall I become? de Mayakovsky (1929),

Depois da maquete concluída foram realizadas as ilustrações finais.

Como se pode ver, a ilustração final das páginas 2 e 3, (fig.26, livro no anexo D) tem uma perspetiva ortogonal; os tons frios e o contraste com tons quentes; a técnica de aguarela com detalhes mais pormenori-zados; outros elementos, de formas mais simplificadas, feitos numa só cor (como por exemplo os troncos magenta, que são feitos numa só pincelada); formas geométricas; formas irregulares; várias intensidades de transparência de aguadas; delimitações da ilustração com o espaço em branco da página; e sobreposição de elementos.

Ao contrário das páginas 2 e 3, as páginas seguintes 4 e 5 (fig,27) são passadas noutra estação. Se nas primeiras tínhamos representado o inverno nas seguintes e até ao final do livro, temos a primavera.

Mantem-se a técnica e a paleta de cor acrescentando-se os tons verdes. Para a composição, inicial-mente, planeou-se rodar o cenário já que a cena passa-se no mesmo local que as páginas anteriores. Contudo, para não se tornar confuso porque é o mesmo cenário das primeiras páginas, houve a repetição de elementos, a casa da lebre, as plantas e a pedra, como também uma inversão do ponto de vista do espaço, (fig.28) ver anexo E.

O livro ilustrado de R. Engel (1927), As folhas de

fig. Ilustração final das paginas 2 e 3.

Figura 27 - Maquete páginas 4 e 5.

Figura 28 - Ilustração final da página 4 e 5. Figura 25 -Ilustração de Laptev The Five Year Plan.

ouro serviu como fonte de inspiração tanto para esta página como para as restantes devido ao movimento que a ilustração contém em cada página, (fig.29). A ilustração deste livro tem características similares às da épo-ca soviétiépo-ca por ter influências futuristas. Apesar da époépo-ca experimental da ilustração soviétiépo-ca ter sido curta, ainda hoje influencia muito os livros ilustrados modernos. Personagens, planos, formas estilizadas, o texto com grafismo expressivo e carregado, texto conciso, relação do texto com a imagem e sobreposição das for-mas são características da ilustração russa de 1917 a 1930, escreve Olivia Ahmad (2016).

Nas obras observadas, podemos ver que a ilustração soviética deste período tem muito espaço em branco, uso contido de cores, escolha também motivada pelas restrições técnicas de impressão da altura. Por exemplo, a técnica de estêncil6 era muito usada, permitindo assim, uma redução nos custos de produção, (Polevoy,1986). As ilustrações ao longo do livro ocupam sempre duas páginas, tornando a composição das ilustrações mais dinâmica, criando diferentes planos que enfatizam aspetos espaços diferentes da floresta, como podemos observar na fig.30, anexo G.

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Esta técnica implica o corte da silhueta das formas que se pretendem transferir para diferentes suportes, como papel, tecido, etc, através de pintura nos cortes. A aplicação da técnica conta muitas vezes, com a sobreposição de diferentes camadas de cortes para obter a obra final.

Figura 29- As folhas de ouro por Engel. (1927).

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