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Parte III – Apresentação, análise e interpretação dos dados recolhidos

1. Técnica de análise de dados: análise de conteúdo

No que respeita à análise de dados optámos pela técnica de análise de conteúdo por considerarmos ser a mais adequada, tendo em conta, por um lado, o carácter qualitativo da nossa investigação e, por outro, conforme refere Moraes (1999), o facto

67 desta técnica priorizar cada vez mais as abordagens qualitativas, recorrendo à indução e à intuição como estratégias para atingir níveis de compreensão mais aprofundados dos fenómenos a investigar. O mesmo autor define análise de conteúdo como uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de documentos e textos, conduzindo a descrições sistemáticas e qualitativas que ajudam o investigador a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão dos seus significados num nível que vai além de uma leitura comum (Moraes, 1999).

Outro autor com vários trabalhos desenvolvidos no âmbito da análise de conteúdo é Laurence Bardin, que define análise de conteúdo como “um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» (conteúdos e continentes) extremamente diversificados” (Bardin, 1977, p.9), organizado em redor de um processo de categorização. Bardin (1977) conceptualiza a análise de conteúdo de acordo com três fases definidas por ordem cronológica:

1. Pré-análise

2. Exploração do material

3. Tratamento dos resultados obtidos, inferências e interpretação

No tratamento e análise de dados seguimos as orientações propostas por Bardin (1977). Assim, numa primaira fase, a fase de pré-análise que diz respeito à fase de escolha dos documentos a serem submetidos à análise, escolhemos as fontes principais de análise e que vieram a constituir-se como o nosso “corpus documental”, isto é, as transcrições da entrevista realizada à Orientadora Cooperante e da entrevista realizada aos grupos focais. A segunda fase, fase da exploração do material, correspondeu à fase da análise propriamente dita, já que, como refere Bardin (1977, p.101) esta fase “não é mais do que a administração sistemática das decisões tomadas”. No nosso caso, a leitura atenta do enquadramento teórico conduziu-nos à “codificação”, ou seja, ao “processo pelo qual, os dados brutos são transformados e agregados em unidades que permitem uma descrição exata das características relevantes do conteúdo” (Amado, 2000, p.55) e, deste modo, construímos o nosso sistema de categorias. De acordo com Amado (2000), apoiado em Berelson, a análise de conteúdo consiste numa “técnica que procura «arrumar» num conjunto de categorias de significação o «conteúdo manifesto» dos mais diversos tipos de comunicação […]” (Amado, 2000, p. 53).

Assim, o nosso sistema de categorias foi definido a priori, tendo por base os nossos objetivos de investigação e o enquadramento teórico. Deste modo, considerando

68 a revisão de literatura realizada, definimos como categorias de análise as dimensões destacadas na primeira parte do presente relatório, no ponto 1.3 – Desenvolvimento de projetos com enfoque globalizador - como essenciais num currículo de enfoque globalizador:

• Relações entre conteúdos das diferentes áreas curriculares; • Conhecimento do contexto escolar;

• Valorização das identidades culturais dos alunos; • Envolvimento das famílias;

• Alunos como construtores das suas próprias aprendizagens; • Trabalho colaborativo entre docentes;

• Estabelecimento de relações entre a escola e a comunidade; • Definição de pontos de contacto entre projetos;

Contudo, o sistema de categorias foi sofrendo alterações à medida que fomos realizando leituras sucessivas ao nosso corpus de análise. Neste sentido, optámos por não utilizar uma das dimensões destacadas na primeira parte deste relatório, “Utilização de procedimentos democraticamente contratualizados em contratos didáticos”, por considerarmos não se enquadrar nas nossas unidades de registo. Para além da supressão desta dimensão, alterámos também a nomenclatura da dimensão “relações entre conteúdos das disciplinas que constituem os diferentes níveis de ensino” para “Relações entre conteúdos das diferentes áreas curriculares” adaptando-a ao contexto com o qual estávamos a trabalhar.

No quadro 4 apresentamos as categorias selecionadas e os respetivos indicadores que definem cada uma das categorias.

Quadro 4 – Sistema de categorias

Categorias Indicadores

Relações entre conteúdos das diferentes áreas curriculares

É onde se enquadram as unidades de registo que nos permitem compreender quais as aprendizagens potenciadas pelo projeto nas diferentes áreas curriculares e que evidenciam a interação entre as diferentes áreas curriculares de forma articulada. Conhecimento dos contextos escolares

É onde se enquadram as unidades de registo que evidenciam que o desenvolvimento do projeto implicou o conhecimento dos contextos escolares.

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Valorização das identidades culturais dos alunos

É onde se enquadram as unidades de registo que evidenciem que o projeto desenvolvido valorizou as experiências de vida e as identidades culturais dos alunos.

Envolvimento da família

É onde se enquadram as unidades de registo relacionadas com as aprendizagens dos alunos potenciadas pelo envolvimento das suas famílias no projeto e que evidenciam que as famílias se mostravam interessadas no projeto.

Alunos construtores das suas próprias aprendizagens

É onde se enquadram as unidades de registo que evidenciam a participação ativa dos alunos no projeto e que foram tidasem consideração as ideias dos mesmo no Desenvolvimento das atividades.

Trabalho colaborativo entre docentes

É onde se enquadram as unidades de registo que permitem compreender como é que o projeto desenvolvido implicou a colaboração entre docentes. Estabelecimento de relações entre a

escola e a comunidade

É onde se enquadram as unidades de registo que permitem compreender se o projeto desenvolvido possibilitou o estabelecimento de relações entre a escola e a comunidade.

Definição de pontos de contacto entre projetos

É onde se enquadram as unidades de registo que evidenciam os contactos estabelecidos com outros projetos

Por fim, tratamos os resultados de modo a torná-los significativos tendo em conta as categorias definidas, o que corresponde à terceira fase denominada por Bardin (1977) como tratamento dos resultados obtidos, inferências e interpretação. Deste modo, faremos uma análise de natureza exploratória e descritiva com base no sistema de categorias que foi construído tendo por base o enquadramento teórico e os objetivos de investigação, procurando verificar se o projeto desenvolvido responde ou não às potencialidades de um projeto com enfoque globalizador e procurando, também, refletir sobre o conhecimento profissional que o desenvolvimento do projeto nos permitiu construir.