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10. METODOLOGIA DE PESQUISA

10.2 Técnicas de pesquisa

Das três técnicas de pesquisa utilizadas para o desenvolvimento da presente pesquisa, a observação é seguramente a mais importante. Ainda que tenha havido um criterioso levantamento da legislação municipal acerca das Salas de Leitura, que, inclusive, nos permitiu compreender qual é o tratamento (ou o não tratamento) dado aos media pelas sucessivas gestões, podemos dizer que esta forma de captação, que exige a apuração especialmente da capacidade auditiva e visual, foi determinante para a condução dos trabalhos e por duas razões principais, que não são necessariamente independentes.

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A primeira delas é o fato de que todo o trabalho teórico conduzido entre a escolha do tema, passando pela revisão bibliográfica, a definição do problema e objetivos de pesquisa parecem de alguma forma ter sinalizado para a utilização deste instrumento. A observação foi, sem dúvida, o principal recurso utilizado para levar a cabo a tentativa de atender às demandas deste projeto. Não é à toa, por conseguinte, que o que se verá ao longo das próximas páginas é uma dedicação maior tanto ao esforço de levantamento quanto da análise das informações geradas por intermédio deste recurso.

Em segundo lugar, pode-se afirmar que as demais técnicas utilizadas serviram como uma espécie de satélite, de apoio, de complemento, por um lado, ao conteúdo obtido por meio da observação, e, por outro, dos dados que ela simplesmente não seria capaz de gerar.

Para alguns autores, como Haguette (2000) e André (1995), a proposta de observação utilizada pode ser chamada de observação participante. Durante dois meses e meio, entre os dias 22 de março e 8 de junho de 2011, participamos de um total de 30 aulas em Sala de Leitura, de três turmas do 8º ano, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Celso Leite Ribeiro Filho.

Fomos apresentados a cada uma das turmas no primeiro encontro como um pesquisador, que participaria das aulas daquela semana em diante e que estaria ali para “observar o comportamento dos alunos, ouvir o que eles falam sobre as mídias e fazer algumas anotações”.9

Apesar de não desempenhar nem o papel de aluno, nem de professor, “ocupando um lugar usualmente inexistente” (2010:72), com certa rapidez fomos absorvidos como integrante “aculturado” do grupo, “participando dele como um membro natural.” (2010:72). Não demorou para que os estudantes se dirigissem a nós, solicitando auxílio na seleção ou pesquisa de um livro, por exemplo, e até o próprio professor, em algumas ocasiões, pediu ajuda na montagem de equipamentos eletrônicos, como datashow, entre outros.

9 Anotação no diário de bordo. A frase foi repetida da mesma maneira, para as três diferentes turmas

por ocasião da apresentação. Evitei prestar maiores esclarecimentos do meu papel, limitando-me a cumprimentar os alunos e agradecer as manifestações de boas vindas.

86 Voltaremos ao tema no capítulo que trata especificamente da descrição e análise dos tópicos observados pela pesquisa. A introdução prévia ao assunto teve o propósito de demonstrar que, na perspectiva das pesquisas que envolvem observação participante, a integração à sociedade existente, com seus hábitos e comportamentos próprios, deu-se com naturalidade e mesmo não pertencendo às classes e atores que normalmente fazem parte do cenário, já no terceiro encontro o observador estava incorporado.

Dadas as características da técnica, que, como afirma André, permitem “documentar o não-documentado” e descrever as vivências “da prática escolar”, uma vez que possibilita que sejam reveladas “as ações e representações dos seus atores sociais, reconstruir sua linguagem, suas formas de comunicação e os significados que são criados e recriados no cotidiano do fazer pedagógico” (1995:41), registramos tais percepções, conforme sugere Winks, com o auxílio de um diário. Ele foi utilizado a partir de suas funções essenciais, como forma de estruturar o estudo em questão. Ora apresentando a face “catártica”, ao fazer valer seu papel de “contratransferência”, de “lugar do corpo-a-corpo (...), ante o mundo social estudado” (1999:138). Ora valorizando aquilo que carrega de empírico, com as anotações de tudo que nos chamou a atenção durante as sessões de observação.

Se, por um lado, comparado a outras técnicas, como o questionário e a entrevista em profundidade, “a observação participante pode ser considerada como a técnica de captação de dados menos estruturada (...)”, já que “não supõe nenhum instrumento específico para direcionar a observação” (2000:77), não deixamos de realizar este trabalho a partir de uma olhar “sistematizável”. Ao recorrer mais uma vez a Wink, tomamos o cuidado de “desenhar topograficamente o lugar”, de maneira que nos fosse permitido “visualizar o mapa das flutuações em termos de uso, em tipos de público, mas também em sonoridade, em luz, em polifonia.” (1999:134)

A soma das justificativas, apoiadas em distintas referências bibliográficas, busca embasar também as outras duas técnicas utilizadas no desenvolvimento desta pesquisa. São eles:

87 a) Entrevistas informais – durante ou ao final de algumas aulas, julgamos oportuno realizar algumas abordagens, quase sempre direcionadas ao professor da Sala de Leitura – mas não apenas a ele. Evitamos transformar estes diálogos em entrevistas formais por duas razões: (1), não queríamos perder a espontaneidade, nem a riqueza de informações permitidas por uma conversa ocorrida ainda sob a influência, in loco, no transcorrer e durante a ocorrência de determinado fato; e (2) entendemos que o eventual caráter formal de uma entrevista poderia direcionar as respostas às expectativas do entrevistador.

b) Levantamento documental – tal captação de informação se dá em dois sentidos: (1) por um lado, ao retomar a história das Salas de Leitura por intermédio das legislações existentes, sempre levando em consideração a inserção dos media neste contexto; (2) como suporte aos fatos observados durante as aulas. Por exemplo, se alguns alunos comentavam a respeito de um vídeo que viram no Youtube, uma pesquisa era realizada com o propósito de resgatar este material.

Cabe destacar que para contextualizar a Escola de Ensino Fundamental Celso Leite Ribeiro e sua respectiva Sala de Leitura foi utilizado também o recurso da fotografia. Não houve um rigor específico ou determinados parâmetros para os registros imagéticos, exceto a intenção de elucidar melhor o entorno e caracterizar certas particularidades.

Maiores esclarecimentos a respeito das especificidades próprias e da utilização de cada uma das técnicas citadas serão feitas no decorrer das descrições/análises que se seguem. Isto porque nos pareceu mais oportuno fornecer maiores detalhes no transcorrer dos diálogos, tendo em vista a possibilidade de melhor elucidação e da maneira devida.

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