• Nenhum resultado encontrado

Parte II – Enquadramento metodológico

2. Técnicas de Recolha de Informação

!

A escolha do método ou métodos para a obtenção de dados para posterior análise e interpretação é feita duma forma criteriosa e tendo em conta as variáveis a estudar e a sua operacionalização.

Alguns autores propõem uma categorização dos métodos e das técnicas de recolha de dados utilizadas na investigação das ciências sociais, agrupando-as em três grandes grupos, a saber:

a) inquéritos, que podem tomar a forma oral – entrevista – ou escrita – questionário;

b) observações diretas ou participantes;

c) análise documental (Bruyne et al, 1975, citada por Hébert et al, 1990). De acordo com estes autores, alguns dos fatores a considerar na escolha de um instrumento de recolha de dados, são: os objetivos do estudo, o nível dos conhecimentos que o investigador possui sobre as variáveis, a possibilidade de obter medidas apropriadas às definições conceptuais, a fidelidade e a validade dos instrumentos de medida, assim como a eventual conceção, pelo investigador, dos seus próprios instrumentos de medida (Bruyne et al, 1975, citada por Hébert et al, 1990).

No nosso estudo em concreto, e face às questões que o orientam e ao que pretendemos investigar, optou-se por utilizar como instrumentos de recolha de dados a entrevista semi-estruturada, a observação participante e a análise documental.

A entrevista foi aplicada a cada uma das sete educadoras de infância que exercem as suas funções na instituição em questão. A observação participante teve lugar em dois momentos reflexivos que a equipa protagonizou, sendo que o primeiro teve como objetivo efetuar uma reflexão conjunta sobre a formação em contexto de trabalho que efetuamos anteriormente e o segundo teve como objetivo efetuar uma análise reflexiva a um pequeno filme de vídeo de uma conferência TED, de Ken Robinson, denominada Façamos a revolução da

aprendizagem. Relativamente à análise documental, a mesma debruçou-se sobre

uma avaliação das suas planificações e uma reflexão final acerca do ano de trabalho.

Com o crescente desenvolvimento que se tem verificado no campo das ciências sociais, também o estudo pelo interesse do indivíduo, da sua forma de ver o mundo, das suas crenças, intenções e práticas culturais, sofreu um interesse e estudo redobrado, sendo que a entrevista se tornou um instrumento de eleição para essa abordagem (Abarello, 1997).

Lüdke e André consideram a entrevista como “uma das principais técnicas de trabalho em quase todos os tipos de pesquisa utilizados nas ciências” (1988:33).

Contudo, também destacam e chamam a atenção para a importância de estarmos atentos ao “carater de interação que permeia a entrevista (…), sendo que a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência entre quem pergunta e quem responde” (1988:33).

Conferem-lhe uma grande vantagem pelo fato de a mesma permitir “a captação imediata e corrente da informação desejada” (1988:34).

Na perspetiva de Bogadna e Biklen, a entrevista ”consiste numa conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais (Morgan, 1988), dirigida por uma das pessoas, com o objetivo de obter informações sobre a outra” (1997:134).

Na perspetiva dos mesmos autores, a entrevista tanto pode ser a técnica dominante da recolha de dados numa investigação qualitativa, como pode ser utilizada em conjunto com outras técnicas, nomeadamente a observação participante, a análise de documentos, entre outras.

Quivy (1998) apresenta-nos três tipos de entrevistas, tendo em conta o seu grau de estruturação. Vejamos:

a) entrevista não estruturada, em que as questões são abertas e as entrevistas revestem-se de um carácter informal;

b) entrevista semi-estruturada;

c) entrevista estruturada, em que as questões são fechadas e as entrevistas revestem-se de um carácter formal.

Para este autor, a entrevista semi-estruturada é a “mais utilizada em investigação social (…), onde de uma forma geral o investigador dispõe de uma

série de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação por parte do entrevistado” (1998:192).

Na mesma linha de pensamento de Quivy, Lüdke e Manga referem que a entrevista semi-estruturada “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (1988:34).

Na perspetiva de Sousa, a entrevista, alicerçada na formulação de uma série de questões diretas ao entrevistado, pretende procurar, encontrar e “estudar opiniões, atitudes e pensamentos” dos entrevistados (2009:153).

Por outro lado, a entrevista pode também “contribuir para contrariar determinados resultados obtidos através da observação participante” (Werner e Schoepfle, 1987 in Coutinho, s/d).

É também de extrema pertinência o papel desempenhado pelo entrevistador, que deve colocar o entrevistado num estado de perfeita descontração, permitindo que o mesmo responda abertamente às questões, centrando as suas intervenções, unicamente, no reencaminhamento da entrevista (sempre que ela começar a extrapolar o objetivo da mesma), ou para conseguir uma explicitação e um maior aprofundamento sobre qualquer questão (Quivy, 1998).

As questões devem ser formuladas por forma a evitar que as respostas possam ser dadas através de simples afirmações ou negações – sim ou não – o que obriga o entrevistador a reformular as questões com vista ao seu cabal esclarecimento (Bogdan e Biklen, 1997).

As entrevistas realizadas neste nosso estudo, enquadram-se no perfil das entrevistas semi-estruturadas. A aplicação desta técnica de recolha de informação teve em conta os seguintes momentos: construção do guião da entrevista (ver anexo 1), validação do instrumento, pedido de autorização, aplicação da técnica, transcrição das entrevistas (ver anexo 2) e, posteriormente, análise dos dados. Outra técnica de recolha de dados que utilizamos, neste nosso estudo, foi a observação participante que funcionou como corroborante dos dados recolhidos pela entrevista (ver anexos 3 e 4).

Da mesma forma que a entrevista, também a observação tem assumido um papel importante na investigação qualitativa e nas ciências sociais, “possibilitando um controle pessoal e estreito do pesquisador, com o fenómeno

pesquisado” (Lüdke e André, 1988:26), permitindo ainda que “o observador chegue mais perto da perspetiva dos sujeitos” (Idem).

Segundo Sousa, a observação participante visa o “envolvimento pessoal do observador (…) como se fosse um dos seus elementos, observando a vida do grupo a partir do seu interior, como seu membro” (2009:113).

Ainda na perspetiva do mesmo autor, a observação “permite efetuar registos de acontecimentos, comportamentos e atitudes no seu contexto próprio e sem alterar a sua espontaneidade” (Sousa, 2009:109).

Mann refere que a observação participante é uma “tentativa de colocar o observador e o observado do mesmo lado, tornando-se o observador um membro do grupo de modo a vivenciar o que eles vivenciam e a trabalhar dentro do sistema de referência deles” (Mann, 1970, citado por Sousa, 2009:113).

As observações efetuadas no presente estudo enquadram-se no perfil de observações participantes, individuais e em campo.

Como última técnica de recolha de dados, efetuamos uma análise documental de alguns materias de registo das educadoras, nomeadamente avaliações das suas planificações de trabalho e reflexões individuais acerca do trabalho efetuado ao longo do ano letivo.

Muito embora esta técnica tenha tido um desenvolvimento menos acentuado que as anteriores, o certo é que, ultimamente, tem sido alvo de uma maior exploração e de um maior desenvolvimento.

Na perspetiva de Lüdke e André, a análise documental tem-se tornado “numa técnica valiosa de abordagem a dados qualitativos (…) desenvolvendo aspetos novos de um tema ou problema” (1988:38).

São considerados documentos passíveis de análise “quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano” (Phillips citado por Lüdke e André, 1988:38).

Guba e Lincolm (1981) dão-nos conta de algumas vantagens desta técnica, a saber:

a) os documentos constituem uma fonte estável e rica;

b) são fonte de retirada de evidências que corroboram ou fundamentam opiniões e declarações dos sujeitos em estudo;

c) são fonte natural de informações; d) baixo custo;

e)fonte não reativa;

f) fonte de indicação de problemas a serem mais explorados através de outras técnicas (citados por Lüdke e André, 1988:39).

Segundo Holsti, uma das grandes situações básicas onde faz todo o sentida a aplicação desta técnica, é precisamente quando pretendemos “ratificar e validar informações obtidas por outras técnicas de coleta” (citados por Lüdke e André, 1988:39).

Em suma, neste nosso estudo foram utilizadas três técnicas de recolha de dados que nos ajudaram a interpretar e a compreender o nosso objeto de estudo (entrevista semi-estruturada; observação participante, análise documental) e que, numa lógica de complementaridade e entrosamento, se completaram entre si.

O próximo passo neste nosso estudo foi a análise de todos os dados recolhidos através das técnicas anteriormente referidas. Esta análise de dados foi efetuada através da análise de conteúdo.

A análise de conteúdo na investigação social assume, cada vez mais, um lugar de destaque por oferecer a possibilidade de tratar, de uma forma metódica, todas as informações que apresentam determinado grau de profundidade e complexidade (Quivy, 1998).

Na análise de conteúdo, o investigador tenta construir conhecimento útil ao seu estudo, assente em várias fontes de informação, nomeadamente através da escolha dos termos utilizados pelo sujeito, a sua frequência, a construção do discurso, entre outras (Idem).

Bardin define a análise de conteúdo como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens” (2011:44), apostando no rigor deste método como forma de não se perder na heterogeneidade do seu objeto de estudo.

Segundo a mesma autora, a análise de conteúdo passa por três fases diferentes, a saber:

a) a pré-análise, onde se efetua uma primeira leitura que ela designa por

b) a exploração do material que consiste na criação de codificações, decomposições ou enumerações em função do que estiver previamente ajustado;

c) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Independentemente do caminho que o investigador seguir, não se deve esquecer que “se a descrição (a enumeração das caraterísticas do texto, resumida após tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação concedida a estas caraterísticas) é a última fase, a inferência é o procedimento intermédio, que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma à outra” (Bardin, 2011:41).

A análise de conteúdo é detentora dum conjunto de técnicas nomeadamente a análise por competências que, embora seja a mais antiga, é na prática a mais utilizada, funcionando “por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias, segundo reagrupamentos analógicos” (Bardin, 2011:199), permitindo que a investigação temática seja rápida e eficaz desde que se aplique a discursos diretos e simples.

A análise de conteúdo efetuada neste estudo visou descrever, analisar e interpretar as temáticas subjacentes ao mesmo.