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Capítulo I Enquadramento teórico

2.5. Técnicas de recolha de informação

Para recolher as informações necessárias ao estudo, escolhi, tendo em vista o próprio estudo e os objetivos deste, a entrevista biográfica. As entrevistas são uma importante técnica de recolha de informações e podem ser definidas como um modo fundamental para comunicar e para interagir. As entrevistas dão a possibilidade de obter informações muito importantes, além de possibilitarem o contacto direto com os sujeitos. Através desse contacto é possível observar as reações dos entrevistados às questões e temas abordados (Quivy & Campenhoudt, 1998).

Depois de construir os objetivos do estudo e após o começo da preparação do campo teórico foi necessário começar a pensar nos procedimentos mais concretos da investigação. Decidi entrevistar duas pessoas, pois penso que fazer mais histórias de vida poderia comprometer o meu trabalho. As histórias de vida têm uma dupla subjetividade, segundo Lalive d’Épinay (Citado em Esteves, 1998) pois, por um lado, o narrador é o próprio “herói” da história e, por outro lado, a história é narrada por uma pessoa e depois (re) construída por

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outra pessoa que a interpreta à sua maneira (Esteves, 1998). Os entrevistados estiveram sempre muito à vontade e falaram abertamente das suas vidas, de si e das suas experiências.

Nas histórias de vida o indivíduo conta a sua história. A base das entrevistas foi a entrevista biográfica, sendo que num dos casos foi feita em 5 momentos diferentes e no outro em 6 momentos. O investigador, juntamente com o entrevistado constrói a sua história de vida, sendo que o investigador/entrevistador é “apenas” o guia deste processo (Atkinson, 2002).

As entrevistas foram não estruturadas pois este grau de estruturação permite uma maior abertura por parte do entrevistado, permite uma liberdade para responder abertamente. Nas entrevistas não estruturadas pretende-se mais compreender a história do que a sua explicação; não se espera uma resposta verdadeiramente objetiva, pois adota-se o formato “estímulo/resposta”, esperando-se assim respostas subjetivamente sinceras. O entrevistador tem naturalmente questões, mas não é feito um esquema fixo, explicando os objetivos e motivações do estudo, mas podendo assim alterar a ordem e a forma das questões (Olabuénaga, 1999).

A entrevista é uma técnica particularmente valiosa, pois relativamente ao conteúdo e aspetos históricos, sociais e culturais, pode-se tornar bastante rica. As entrevistas podem dar informações que não estão em lado algum escritos (Folguera, citado em Monteagudo, 2010). Ao longo do tempo, quanto mais entrevistas vamos fazendo aos nossos sujeitos, mais as questões se tornam profundas (Mendoza & Rojas, 2008).

Quando se faz este tipo de investigação, é importante garantir a confidencialidade dos entrevistados, ou seja, a proteção da sua identidade, o seu anonimato, tal como garantir o consentimento e assegurar que se podem retirar investigação quando pretenderem (Mendoza & Rojas, 2008). Neste caso houve a necessidade de “negociar” com os entrevistados, visto que senti dificuldades e conseguir “contar” a sua história sem que ninguém os identificasse. Numa primeira abordagem expliquei-lhes os meus objetivos e todo o trabalho que pretendia fazer, assim houve um consentimento esclarecido (Fortin, 2009). Mas ao aperceber-me da dificuldade em manter o anonimato consegui chegar a um entendimento com os entrevistados, sendo que cada um consentiu na divulgação do seu nome, assinando uma declaração de consentimento informado e tendo acesso a todo o trabalho, sendo que o mesmo só foi entregue depois de eles concordarem com o seu conteúdo.

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Haver um contacto prévio com os sujeitos da investigação também é importante, numa primeira fase de forma informal. Segundo Monteagudo (2010) o email pode ser uma boa forma de fazer esse contacto, pois é mais acessível. A primeira abordagem foi feita pessoalmente, depois foi enviado um email para “oficializar” o convite, incluindo a problemática, os objetivos e a investigação que quería fazer.

Outro aspeto que se deve ter em conta é também o tempo de cada entrevista. Para que o entrevistado não esteja algo incomodado com o tempo da entrevista, é necessário que se tenha a sensibilidade de, antes da entrevista, informar o entrevistado da duração da mesma (Quivy & Campenhoudt, 1998). Mesmo prevendo o tempo de duração há que ter a perceção de que o tempo é relativo. Segundo Monteagudo (2010), as entrevistas podem durar de 60 ou 90 minutos até a duas horas nas histórias de vida. As entrevistas nunca foram demasiado longas, nem senti por parte dos entrevistados “pressão” para terminar. Apenas num caso o tempo estendeu-se e ultrapassou as três horas, mas mesmo aí não houve nenhum constrangimento, pois o entrevistado estava disposto a falar e fê-lo com bastante à vontade e agrado, após a conclusão da entrevista continuamos a falar e a conviver durante muito tempo.

Numa entrevista é importante que o entrevistador deixe o entrevistado à-vontade e o deixe aprofundar o tema, mas também é necessário que o entrevistador saiba quando tem de ajudar o entrevistado a voltar ao tema a aprofundar, que saiba ser um bom guia quando o entrevistado se desvia da temática (Flick, 2004). Uma boa entrevista resulta do à-vontade quer dos entrevistados, quer do entrevistador, assim como da boa preparação da entrevista e do comportamento do entrevistador (Bogdan & Biklen, 1994). Para isto é importante ter ainda em conta outro fator, o ambiente em que as entrevistas se desenrolam. Se queremos que a entrevista flua com naturalidade e com descontração por parte do entrevistado, é preciso que não decorra na presença de outras pessoas ou mesmo num ambiente de barulho e desconfortável (Quivy & Campenhoudt, 1998).

Os silêncios dos entrevistados (por difícil que se torne) devem ser respeitados. Servem para que os entrevistados tenham oportunidade de “organizarem os seus pensamentos e dirigirem parte da conversa” (Bogdan & Biklen 1994, p. 136). Não é bom que se interrompa e se desvie a conversa durante a entrevista, inoportunamente. Num dos casos existiram alguns silêncios, mas esses foram definitivamente normais, senti-os como momentos de reflexão.

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Outro fator importante a ter sempre em conta é a forma como o entrevistado responde às questões, ou seja, o tom de voz que utiliza, a expressão facial, as hesitações, etc. Estes podem ser fatores informativos “que uma resposta escrita nunca revelaria” (Bell, 2004, p. 137).

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