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Capítulo II – A Investigação no Contexto da Prática Supervisionada

5. Metodologia

5.2. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Ainda segundo Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa apresenta cinco características: a fonte direta dos dados é o ambiente natural e o investigador é o principal agente na recolha desses mesmos dados; os dados por ele recolhidos são essencialmente de carácter descritivo; os investigadores concentram-se essencialmente no processo; a análise de dados é feita de modo indutivo; o investigador tenta, acima de tudo, descodificar o significado dos dados. Assim, numa investigação qualitativa como esta que levámos a cabo pretendem-se criar dados descritivos, que nos permitam conhecer o modo de pensar dos participantes deste estudo.

Desta forma, e no que concerne à recolha de dados, privilegiámos técnicas baseadas na observação (observação participante, notas de campo e registo fotográfico), na conversação (entrevista semiestruturada à professora cooperante) e na análise de documentos produzidos pelos alunos (textos, desenhos…). Assim, e segundo Larrote (2003), as técnicas de observação são centradas na perspetiva do investigador que observa diretamente o fenómeno em estudo; as técnicas baseadas na conversação são centradas na perspetiva dos participantes e enquadradas na esfera de diálogo e interação; e a análise de documentos é centrada na perspetiva do investigador implicando pesquisa e leitura de elementos escritos como fonte de informação.

5.2.1. Observação participante

Para Máximo-Esteves (2008), “A observação permite o conhecimento direto dos fenómenos tal como eles acontecem num determinado contexto”, permitindo “compreender os contextos, as pessoas que nele se movimentam e as suas interações” (p. 87). Já a observação em educação “destina-se essencialmente a pesquisar problemas, a procurar respostas para questões que se levantem e a ajudar na compreensão do processo pedagógico” (Sousa, 2005, p. 109).

Uma das tipologias observacionais mais utilizada a nível educacional é a observação participante, consistindo “no envolvimento pessoal do observador na vida da comunidade educacional que pretende estudar, como se fosse um dos seus elementos, observando a vida do grupo do seu interior, como seu membro” (ibidem, p. 113). São vários os aspetos que caraterizam a observação participante: o interesse pelo significado e interação humanos; a localização das situações do dia-a-dia no aqui e agora; a valorização da interpretação e da compreensão da natureza humana; o

facto de ser um processo de pesquisa aberto e flexível que exige constante redefinição; a conceção e abordagem qualitativa e em profundidade das situações; a criação e manutenção de relações com os sujeitos da observação graças ao desempenho do papel de participante; a utilização da observação direta em conjunto com outros métodos de recolha de dados (Jorgensen, citado por Flick, 2002).

Neste contexto, é de destacar a utilização da observação participante, sobretudo nas atividades desenvolvidas antes e depois da visita ao Horto de Amato Lusitano, o que nos terá permitido continuar interagir com o grupo de alunos, desafiando-os, estimulando a sua curiosidade e a sua vontade de querer saber mais.

5.2.2. Notas de campo

Para Bogdan e Biklen (1994), as notas de campo são “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (p. 150). Neste sentido, deverão conter ideias, reflexões, sentimentos e dúvidas experimentadas pelo observador/investigador, bem como pelos vários intervenientes. Segundo Máximo-Esteves (2008), as notas de capo podem conter: registos detalhados, descritivos e focalizados do contexto, das pessoas, suas ações e interações; e material reflexivo, ou seja, notas interpretativas, interrogações, sentimentos, ideias, impressões.

As notas de campo podem ser anotadas no momento em que ocorrem as observações (como aconteceu durante a visita ao Horto de Amato Lusitano, em que se pretendia que os alunos desenvolvessem as atividades de forma o mais autónoma possível e em que fomos registando anotações condensadas, nomeadamente pequenas frases ditas pelos alunos) ou no momento após a sua ocorrência (como aconteceu antes e após a visita e em que as nossas notas já puderam ser mais extensas, detalhadas e reflexivas).

5.2.3. Registo fotográfico

Pode recorrer-se à sua captura de fotografias como demonstração de emoções, atitudes, participação, interação e cooperação entre os sujeitos de observação. Assim, e como o defende Máximo-Esteves (2008) “os registos fotográficos podem ter como finalidade ilustrar, demonstrar e exibir” (p. 91).

Neste sentido, recorremos ao registo fotográfico tanto durante a visita ao Horto, como no dia que antecedeu e que se seguiu à visita. Estas fotografias permitem-nos, por um lado, analisar o grau de envolvimento, estimulação e interesse dos alunos nas várias atividades desenvolvidas, e por outro avaliar a forma como os alunos interagiram entre si e com o próprio espaço não formal em estudo – o Horto de Amato Lusitano.

5.2.4. Entrevista semiestruturada à professora titular de turma

Segundo Máximo-Esteves (2008), “A entrevista é uma das estratégias mais utilizadas na investigação educacional” (p. 92). O objetivo da mesma é a recolha de dados descritivos e assume-se como uma conversa intencional e orientada entre duas ou mais pessoas, sendo essa conversa conduzida pelo investigador/entrevistador.

A entrevista semiestruturada (também conhecida por semi-diretiva ou semi- aberta) atribui ao entrevistador uma maior liberdade e atitude exploratória, sendo- lhe permitido aclarar respostas, e averiguar razões de modo a obter uma maior profundidade de compreensão (Cohen & Manion, 2000). Para Máximo-Esteves (2008), “A entrevista semiestruturada está orientada para a intervenção mútua. O investigador coloca uma série de questões amplas, na procura de um significado partilhado por ambos” (p. 96). Por sua vez, este tipo de entrevista permite que o entrevistado fale livremente sobre os seus pontos de vista ilustrando o seu discurso com exemplos e riqueza de detalhes (Bogdan & Biklen, 1994). Na entrevista semiestruturada as questões podem não ser colocadas na ordem prevista pelo guião e poderão, inclusivamente, ser colocadas outras questões que não se encontram neste, em função do decorrer da entrevista. Este género de entrevista ocorre numa só sessão, tendo como ponto de partida um guião composto por um conjunto de grandes questões que são colocadas de forma flexível e que visam obter respostas amplas e ricas em pormenores (Máximo-Esteves, 2008).

Finalizada a semana dedicada à nossa investigação, foi realizada uma entrevista semiestruturada à professora titular de turma, cujos objetivos foram os seguintes: recolher dados descritivos sobre a opinião da professora titular de turma acerca do trabalho desenvolvido no âmbito da investigação; e perceber como é que o trabalho desenvolvido antes, durante e após a visita se repercutiu nas aprendizagens dos alunos. O guião da entrevista, bem como as respostas dadas pela professora titular de turma, pode ser consultado em anexo – ver anexo 2.

5.2.5. Registos gráficos produzidos pelos alunos

Citando Máximo-Esteves (2008), “A análise dos artefactos produzidos pelas crianças é indispensável quando o foco da investigação se centra na aprendizagem dos alunos” (p. 92), tal como acontece no âmbito desta nossa investigação.

Estes artefactos incluem textos, desenhos, registos de tarefas etc. realizados pelos alunos antes, durante e após a visita ao Horto e neles está expressa a visão que os mesmos têm das suas experiências e o significado que estas tiveram para si.

No quadro 12 apresentamos uma síntese das técnicas e instrumentos utilizados na recolha de dados.

Quadro 12 – Técnicas e instrumentos utlizados na recolha de dados

Técnicas Instrumentos

Observação

 Observação participante

 Notas de campo

 Registo fotográfico

Conversação  Entrevista semiestruturada à professora titular de turma

Análise documental

 Documentos escritos produzidos

pelos alunos (textos e registos das tarefas)

 Desenhos produzidos pelos alunos