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PARTE II – Componente Empírica

6. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Na recolha de informação e de dados para um trabalho de investigação são necessárias várias fontes, de que se destacam a pesquisa bibliográfica sobre o tema em estudo, a análise documental, e a construção e a aplicação de instrumentos de recolha de dados, junto de sujeitos considerados informantes privilegiados para o objeto de estudo. No presente estudo, e como já referimos anteriormente, foram aplicados inquéritos por questionário e foram realizadas entrevistas a docentes que lecionam em cursos de alfabetização.

6.1 Análise documental

No que se refere à análise documental, para o presente estudo foram consultados documentos que permitiram o conhecimento na área de alfabetização, como a atual Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86, de 14 de outubro) e a Lei aplicada aos cursos EFA B1 incluindo a área de TIC. Ainda, o Programa do 1º Ciclo de adultos, o número de cursos e formandos de alfabetização existentes na região, de acordo com a DREALG, no final do ano letivo 2009/2010, bem como outros projetos anteriormente realizados relacionados com o tema. Pretendeu-se, portanto, do ponto de vista

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normativo compreender o fenómeno em estudo, mas também conhecer o funcionamento dos cursos de alfabetização e o processo de ensino aprendizagem com o recurso às TIC, e, ainda, recolher informação que ajudasse à interpretação dos dados recolhidos.

6.2 Inquérito por questionário

Para Quivy e Campenhoudt (1992) o inquérito por questionário, que consiste em colocar a um conjunto de inquiridos questões sobre a sua situação social, profissional, familiar, permite recolher opiniões, “atitudes em relação a opções ou as questões humanas e sociais, às expectativas, ao seu nível de conhecimentos ou consciência de um conhecimento ou de um problema, ou ainda sobre qualquer outro ponto que interesse aos investigadores” (p.188). Segundo Fortin (2000) o inquérito “representa toda a atividade de investigação no decurso da qual são colhidos dados junto de uma população ou porções desta a fim de examinar as atitudes, opiniões, crenças ou comportamentos desta população” (p. 168).

Na construção do inquérito que aplicámos tentámos respeitar os procedimentos metodológicos, tais como a relação entre as questões colocadas e os objetivos da investigação, a precisão na formulação das questões e a testagem do inquérito anterior à aplicação definitiva. As questões elaboradas surgiram da pesquisa bibliográfica efetuada e da partilha informal de informações com pessoas que ofereceram uma ajuda importante na construção do instrumento de recolha de dados utilizado.

O instrumento (Anexo 1) depois de elaborado foi analisado por três peritos cuja área de formação se relaciona com o tema em estudo: dois professores da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve e um professor da Universidade Aberta. Foram encontrados erros conceptuais nas questões 10 e 12, sendo, posteriormente, alterada a organização das questões e substituídas algumas palavras. Por exemplo, na questão 10, “Como avalia o seu conhecimento de utilização nos equipamentos seguintes?”, foi questionado se o que se pretendia saber eram os conhecimentos ou, antes, as “competências” na prática de utilização de cada ferramenta, sendo posteriormente substituída pela questão “Como avalia a sua competência de utilização nos equipamentos seguintes?”.

113 Posteriormente, de forma a testar o inquérito, aplicámo-lo a sete docentes do Ensino Básico que no ano anterior tinham lecionado nos cursos de alfabetização (Anexo 2). Alguns inquiridos mostraram dúvidas no preenchimento da questão 15 sendo necessário alterá-la. Como a questão em causa - sobre estratégias de utilização das TIC - iria ser realizada nas entrevistas a efetuar, optámos por retirá-la. A aplicação do pré- teste foi, portanto, fundamental para ajustar o inquérito aos sujeitos a quem se destinava.

Finalmente procedeu-se à recolha efetiva dos dados, aplicando o inquérito que incluímos no Anexo 3, a um universo de 30 docentes de alfabetização da região do Algarve.

6.2.1. Descrição do inquérito por questionário utilizado

Com o objetivo de compreender de que forma as TIC estão a ser utilizadas nos processos de alfabetização de adultos na região do Algarve, o inquérito por questionário aplicado contém dezassete questões, distribuídas por cinco blocos:

 Bloco 1 - Caracterização do docente - questões 1 e 2. Recolhe dados pessoais e inquire sobre a idade e o género;

 Bloco 2 – Situação profissional - questões 3, 4, 5, 6, 7;

Pretende obter informações que possam contribuir para a caracterização profissional e situação profissional do inquirido: na questão 3.1 a formação profissional no 1º ciclo e na questão 3.2 outras formações; na questão 4 o tempo de serviço em dias de serviço, quer na função docente, quer na função docente em alfabetização; na questão 5 (a possibilidade de assinalarem várias respostas), os motivos pelo quais lecionam o curso de alfabetização; na questão 6 (a possibilidade de obter respostas alternativas, numa escala de 5 níveis, desde “Muito mau” a “Muito bom”), o grau de conhecimento que possui em EFA ao nível de políticas educativas e práticas atuais de EFA, em metodologias e estratégias de alfabetização de adultos; na questão 7 (podendo registar mais de que uma resposta), averiguar os aspetos em que o docente sentiu mais dificuldade na primeira vez que lecionou o curso de alfabetização.

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Procura-se saber qual o método de alfabetização utilizado pelos inquiridos dando a possibilidade de mais do que um método, seja ele sintético, analítico, de Paulo Freire ou outro, bem como as estratégias didáticas que permitem desenvolver a autonomia do adulto.

 Bloco 4 - Uso das TIC no seu dia a dia (uso pessoal) - questões 10 e 11.

Saber o grau de competência que os inquiridos consideram possuir no uso de cada equipamento tecnológico e o respetivo nível de conhecimento funcional do uso das TIC no dia a dia.

 Bloco 5 - Uso das TIC na prática docente - questões 12,13,14,15,16 e 17.

Averiguar o uso, ou não, das TIC no respetivo curso de alfabetização, referir as TIC utilizadas na sala de aula, identificar razões para a utilização das TIC e dificuldades sentidas.

6.2.2. Procedimentos de análise dos dados recolhidos

O inquérito por questionário é constituído por questões fechadas, obtendo apenas dados de natureza quantitativa. Os dados obtidos através da aplicação do inquérito por questionário foram tratados com recurso ao programa informático SPSS e posteriormente transportados para o programa do Microsoft Office Excel 2007 para efetuar o procedimento estatístico somente descritivo.

6.3. A entrevista

A entrevista é a técnica de recolha de dados referida por Bogdan & Biklen (1994), como “a técnica dominante para recolher dados” (p.134). Morgan (1998, citado por Bogdan & Biklen, 1994), aponta a entrevista como “uma conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas, dirigida por uma das pessoas, com o objetivo de obter informações sobre a outra” (p.134). Neste estudo foi aplicada a entrevista semidiretiva. De acordo com Ruquoy (2005) é uma modalidade em que “o próprio entrevistado estrutura o seu pensamento em torno do objeto perspetivado” e o qual “se deixa naturalmente arrastar, ao sabor do seu pensamento” (p.87).

115 As entrevistas realizadas aos docentes tiveram o intuito de recolher dados sobre a sua prática docente e o funcionamento dos cursos de alfabetização, além da recolha de opiniões sobre a importância das TIC no processo de ensino e de aprendizagem, a identificação das TIC utilizadas, das metodologias e as estratégias aplicadas com os equipamentos tecnológicos, as condições/ necessidades sentidas pelos docentes de adultos no uso das TIC, e sugestões futuras. Com estes dados de natureza qualitativa pretendeu-se compreender “como” são utilizadas as TIC, constituindo, como referido anteriormente, um complemento aos dados recolhidos pelo inquérito por questionário, de natureza quantitativa.

A partir do guião de entrevista (Tabela 6) foi possível obter informações distribuídas por seis blocos: o primeiro a legitimação da entrevista, o segundo e o terceiro alusivos à perceção sobre os cursos de alfabetização, nomeadamente a caracterização profissional do entrevistado e as preocupações sentidas no que diz respeito ao funcionamento do curso; os blocos quarto, quinto e sexto referentes a perceções sobre a utilização das TIC no curso de alfabetização, a saber: recolha de opiniões sobre a importância do uso das TIC, possibilidades e constrangimentos, e potencialidades na aplicação das TIC nos cursos de alfabetização.

Tabela 6. Guião da entrevista

Blocos Objetivos específicos Questões 1

Legitimação da entrevista e motivação

 Apresentar ao entrevistador, o estudo e motivar para a temática.

 Informar sobre a importância do contributo do entrevistado para a consecução do trabalho.

 Obter a colaboração do entrevistado, assegurar a confidencialidade da sua identidade.

116 2 Caracterização profissional

 Solicitar o fornecimento de alguns dados ao nível

profissional para compreender a experiência profissional do docente:

 Conhecer razões porque está a lecionar;

 Identificar a formação na área;

 Identificar o tempo de serviço em alfabetização de adultos.

 Porque razão está a lecionar o curso de alfabetização?

 Há quanto tempo leciona os cursos de alfabetização?

 Tem formação na área de Educação e Formação de Adultos?

 Quer referir aspetos relativos à sua formação profissional que

considere relevantes? 3 Preocupações sentidas pelos docentes nos cursos

 Recolher opiniões sobre as dificuldades e necessidades, enquanto docente de alfabetização de adultos.

 Quais as principais dificuldades e necessidades que encontra nos cursos de alfabetização, em relação ao processo de ensino e de

aprendizagem?

 No início da atividade teve

dificuldades em lecionar esta área?

 Teve apoio do órgão de gestão no início da atividade docente?

4 Importância das TIC, nos cursos de alfabetização

 Conhecer de que forma as TIC contribuem para o

funcionamento dos cursos e para a aprendizagem da leitura e escrita.

 Na sua opinião, a utilização das TIC são importantes nos cursos de alfabetização?

 Acha que as TIC facilitam a aprendizagem no processo da leitura e escrita? Porquê? 5

Possibilidades / constrangimentos na aplicação das TIC, nos cursos de alfabetização

 Compreender as atitudes dos docentes face ao uso das TIC: estratégias, aplicação da formação adquirida, adaptação das TIC à realidade da turma;

 Conhecer as dificuldades e necessidades sentidas.

 Tem formação na área de TIC? Quais?

 Utiliza as TIC com os seus alunos? Se utiliza as TIC, quais as que aplica?

 Em que tipo de tarefas?

 Em relação aos seus alunos, o que pretende com a realização dessas atividades?

 Quais as principais dificuldades e necessidades que encontra nos cursos de alfabetização, em relação à utilização das TIC?

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Potencialidades na aplicação das TIC, nos cursos de alfabetização

 Compreender as vantagens do uso das TIC;

 Conhecer os produtos de aprendizagem;

 Recolher propostas futuras relativamente ao uso das TIC.

 Quais as vantagens de utilização das TIC?

 De que forma as TIC interferem na aprendizagem dos alunos?

 Tem sugestões em relação à utilização das TIC na alfabetização de adultos? Deveria fazer parte do programa? Deveria ser uma estratégia obrigatória? Deveria ser utilizada de forma sistemática ou pontual?

6.3.1. Análise das entrevistas

Neste estudo o tratamento dos dados resultantes das entrevistas foi realizado a partir da análise de conteúdo que, segundo Bardin (2005) é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/receção (variáveis inferidas) destas mensagens.” (p.37). Os documentos submetidos a análise são “naturais, produzidos espontaneamente na realidade, através da comunicação dos entrevistados” (p.34). No caso presente a interpretação do que foi dito pela comunicação dos entrevistados, de modo a obter respostas às questões levantadas e assim atingir os objetivos do estudo. O modelo de análise construído refere a importância das TIC na alfabetização, relaciona a existência de iniciativas no uso de TIC, as estratégias aplicadas no processo, as experiências existentes e, em caso de inexistência, as razões para a sua inviabilidade, além das suas limitações.

A análise qualitativa permitiu descobrir categorias, isto é, “classes pertinentes de objetos, de ações, de pessoas ou de acontecimentos” que, por sua vez, possibilitaram a construção de “um sistema ou um conjunto de relações entre classes” (Maroy, 2005, p.118). Para que a análise fosse válida foi necessário realizar as categorias de fragmentação da comunicação, através codificação52. Esta análise categorial é uma técnica que depende da escolha dos critérios de classificação que permite agrupar os elementos comuns em categorias, consistindo “em classificar os diferentes elementos

52

A codificação é “o processo pelo qual os dados em bruto são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo” (Holsti, 1969, citado por Bardin, 2004, p. 97).

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nas diversas gavetas segundo critérios suscetíveis de fazer surgir um sentido capaz de introduzir uma certa ordem na confusão inicial” (Bardin, 2004, p.32). A categorização tem como objetivo fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos, dando a conhecer a partir da análise de conteúdo índices invisíveis, (p.112).

A Tabela 7 representa as categorias de análise e as respetiva s subcategorias. Estas constituem as tabelas de categorização com a elaboração dos respetivos indicadores (Anexo 4) e os excertos obtidos (Anexo 5), a partir da categorização da análise.

Tabela 7. Categorias de análise e subcategorias identificadas nas entrevistas

Categorias Subcategorias

A. Perceções em relação ao curso de alfabetização

1. Razões para lecionar no curso de alfabetização 2. Preocupações para lecionar no curso de alfabetização B. Perceções em relação à

utilização das TIC no curso de alfabetização

1.Importância atribuída à utilização das TIC no curso de alfabetização

2.Possibilidades/constrangimentos na utilização das TIC no curso de alfabetização

3.Potencialidades na utilização das TIC no processo ensino aprendizagem

A primeira categoria de análise refere-se às “Perceções em relação ao curso de alfabetização” e as subcategorias correspondentes são: as razões para lecionar no curso de alfabetização e as preocupações para lecionar no curso de alfabetização. A segunda categoria refere às “Perceções em relação à utilização das TIC no curso de alfabetização”, e dela emergiram três subcategorias: importância atribuída à utilização das TIC no curso de alfabetização; possibilidades/constrangimentos na utilização das TIC no curso de alfabetização; e potencialidades na utilização das TIC no curso de alfabetização.

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