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PARTE II – EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA DIGITAL

1.3 TÉCNICAS E RECURSOS DE ENSINO

A multiplicidade de técnicas empregadas é importante quando o aluno faz parte de um processo contínuo de aprendizado. Mas é preciso entender o que cada uma dessas técnicas pode oferecer em termos de benefícios ou desvantagens.

Há uma variedade expressiva de técnicas e recursos disponíveis no que diz respeito ao processo educacional. O emprego de cada uma dessas técnicas está vinculado ao que se espera do processo de aprendizagem, ao modo do professor e ao conteúdo considerado.

O desenvolvimento cognitivo e o crescimento dos aspectos cultural e social apresentam variantes em cada fase da vida de um indivíduo. Nos aspectos de ordem cognitiva, em sua fase adulta, mais especificamente quando este mesmo

indivíduo decide pela formação universitária jurídica, há que se observar tais características, que diferenciam o ensino a ser aplicado.

Desde os tempos mais longínquos, nomes como Aristóteles, Sócrates e Platão, percebiam a necessidade de desenvolver técnicas diferenciadas de ensino para estes educandos em fase adulta. Tais mestres já compreendiam que aprender é um processo de inquirição mental, e não de captação passiva do conteúdo transmitido. Designa-se como Andragogia a ciência que tem como foco a forma como os adultos aprendem. O pioneiro no uso da expressão foi o educador alemão Alexander Kapp, em 1833, referindo-se ao método empregado por Platão. Tal estudo se tornou mais conhecido nos Estados Unidos, pelas obras de Malcolm Knowles.

Malcolm Knowles deu destaque em seus estudos às teorias andragógicas elaboradas por Eduard Lindeman, em 1926, na obra intitulada The Meaning of Adult

Education.

Lindeman assevera que a educação destinada a adultos deve ser elaborada a partir de circunstâncias e não de disciplinas. A grade curricular deve ser feita a partir das necessidades e interesses dos alunos. Conclui-se que textos e professores assumem papel secundário nesse processo. A experiência de vida acumulada por um indivíduo ao longo de sua vida é a fonte mais importante para a educação. Com base nessa constatação, professores devem ser os facilitadores em um processo de ensino-aprendizagem, e não podem oferecer as respostas para todas as perguntas. Devem antes aprender conjuntamente com seus discípulos, de forma qualitativa e não autoritária.

As principais hipóteses levantadas por Lindeman são resumidas por Knowles (1998) da seguinte forma:

adultos são motivados a aprender à medida que percebem que o aprendizado vai satisfazer suas necessidades e interesses; o centro que deve orientar a aprendizagem deve ser a vida; a experiência é a melhor fonte para adultos aprenderem;

adultos têm uma profunda necessidade de autodirecionamento; as diferenças individuais entre pessoas aumentam com a

idade.

Knowles (1988) acrescenta que o modelo andragógico tem como base propósitos diferentes do modelo pedagógico. O indivíduo na fase adulta questiona o motivo que leva à necessidade de se aprender alguma coisa antes de se propor a estudar o que é oferecido. Também estão mais abertos a aprender temas que tenham um maior significado nas próprias vidas, de forma diferente dos mais jovens, que aprendem com foco em matérias.

Na educação para adultos no Brasil, um nome que se destaca é o de Paulo Freire. O educador descreve as conseqüências de uma ―educação bancária‖34 e analisa o papel da aplicação da educação libertadora, através de uma pedagogia dialética de reflexão e ação transformatória dos homens sobre o mundo.

Neste sentido, aluno e professor são os principais elementos de uma relação que não pode ser baseada na narração de temas imutáveis e compartimentados, por parte do professor, e em uma disposição em só ouvir, memorizar e repetir, sem reflexão sobre o que é dito e sem significado para a realidade, por parte dos alunos. Conforme assevera Paulo Freire (2004, p. 58):

Em lugar de comunicar-se, o educador faz ―comunicados‖ e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção ―bancária‖ da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los.

34 Paulo Freire denominava o modelo tradicional de prática pedagógica de ―educação

bancária‖, pois entendia que ela visava à mera transmissão passiva de conteúdos do professor, assumido como aquele que supostamente tudo sabe, para o aluno, que era assumido como aquele que nada sabe. Era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de seus alunos; depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco.

No modelo pedagógico de educação bancária, o aluno é considerado como uma folha de papel em branco, e sua formação cognitiva é construída pelo empirismo. Tal conjuntura ―configura a reprodução da ideologia, do autoritarismo, da coação, da subserviência, do silêncio, da morte da crítica, da criatividade e da curiosidade‖. O conhecimento é transmitido por um processo onde o professor não ensina e o aluno não aprende. Freire sugere uma educação questionadora, de caráter reflexivo, baseado na realidade e na experiência, para que se alcance uma educação humanizada de indivíduo para indivíduo.

À exemplo do modelo proposto por Paulo Freire, a educação andragógica conjuga a superação deste tipo de interação, de ―tal forma que educação implique na superação da contradição educador educandos, de tal maneira que se façam ambos, simultaneamente, educadores e educandos‖.

Como resultado da aplicação desta metodologia de ensino, há a criação de algo novo, sem simples reproduções do passado, onde o estudante é considerado como um indivíduo transformador.

A sociedade moderna é marcada por constantes transformações econômicas, políticas, culturais, sociais e tecnológicas. O homem toma como base em seus relacionamentos o conhecimento; tal prática, que demanda uma reorganização da própria educação, alcança a relação mantida entre aluno-professor, principais componentes do processo ensino-aprendizagem.

Desde a constituição das primeiras universidades da Europa ocidental, ainda na Idade Média, e durante todo o processo evolutivo dos centros de educação, a realidade crescente observada na sociedade é o ingresso cada vez maior de indivíduos no sistema de ensino superior. Isso se dá em grande parte, em função de uma exigência de qualificação pelo mercado de trabalho e o maior acesso às universidades.

A desenvoltura profissional exigida hoje, tanto para os professores no ensino como para os futuros profissionais que saem das instituições de ensino, vão além do simples conhecimento de conteúdo específico. O modelo presente de exploração da mão de obra exige do indivíduo novas características, como capacidade de seleção e interpretação de informações, comunicação e interatividade, ampla visão, a atenção e a responsabilidade, além das variáveis de tipo comportamental como abertura, criatividade, motivação, empreendimento, curiosidade e vontade de aprender e de buscar soluções.

Diante desta realidade, um planejamento e desenvolvimento de projeto ensino- aprendizagem deve ser ponderado pelos educadores e conduzido por estas transformações sociais. Assim, é essencial a observação dos pressupostos epistemológicos35 da andragogia, pelos quais não se constitui o processo ensino- aprendizagem considerando-se apenas os atos de ensinar e aprender, mas sim em uma troca onde professor e aluno tanto ensinam como aprendem. É essencial um ponto de vista onde ensino e a aprendizagem façam parte de um processo inseparável, tratando-se de verdadeira via de mão dupla.

Para que tal intercâmbio possa acontecer, de forma produtiva, é imprescindível uma elaboração de determinado programa educacional - que pode ser denominado como ―o processo sistematizado - mediante o qual é conferida maior eficácia às atividades educacionais, para que, em certo prazo, venha se alcançar o conjunto das metas instituídas‖.